Bruce Lee era
conhecido pelos seus talentos marciais e também pelo seu método de treinamento
físico revolucionário, inovador e muitas vezes polêmico para a época. Desde
quando retornou à Hong Kong em meados de 1971 para iniciar sua carreira vencedora,
ainda que breve, como o astro maior dos filmes de Kung Fu, ele percebeu que o
tempo destinado ao treinamento pessoal para a manutenção de sua excelente condição
física e técnica, seria drasticamente reduzido em razão dos seus compromissos
com as filmagens, ensaios, estudo de roteiros, compromissos sociais, profissionais,
promocionais e diversos outros fatores que incluíam, inclusive, penalidades
como a perda de privacidade e do anonimato. Apesar dele ser rigoroso e pontual
em seus treinamentos na sua casa em Kowloon, onde montou uma pequena academia
com aparelhos dos mais variados e sofisticados para a época, Bruce Lee
procurava compensar sua ausência eventual
da sala de treinamento com uma alternativa revolucionária e assustadora (para
muitos) em meados dos anos de 1970. Bruce passou a utilizar o método EMS
(Eletrical Muscular Stimulation) ou Estimulação Muscular Elétrica. Seu objetivo
era manter ou mesmo aumentar sua força muscular e velocidade nos golpes com o
método inovador.
No filme "Dragão - A História de Bruce Lee, Jason Scott Lee (Bruce Lee) utiliza um aparelho de EMS enquanto trabalha no roteiro de O Jogo Da Morte. |
No filme, “Dragão
– A História de Bruce Lee” (1994), Bruce
Lee (Jason Scott Lee) é surpreendido por seu amigo (fictício), Bill Krieger
(Robert Wagner), enquanto trabalhava no roteiro de “O Jogo da Morte” em seu
escritório na Golden Harvest, ao mesmo tempo em que recebia estimulação
muscular elétrica através de eletrodos conectados num aparelho. Então, Bruce
Lee (Jason Scott Lee) faz uma observação: “Três minutos disso (EMS) equivale a
200 flexões”. A seguir pergunta ao amigo se ele quer experimentar. O fato encenado
se deu no final de 1972, após as filmagens de O Voo do Dragão.
O clone mais famoso de Bruce Lee, conhecido como Bruce Li utiliza algumas máquinas bizarras para aumentar a potência de seus golpes. |
Num dos vários filmes com algum conteúdo biográfico sobre Bruce Lee, em "Bruce Lee - O Homem, o Mito", o clone Bruce Li busca dolorosamente seus limites no uso do aparelho EMS. |
Alguns filmes
biográficos, de qualidade duvidosa, feitos em Hong Kong expuseram a nova
obsessão de Bruce com o aparelho de EMS. No filme “Bruce Lee - o Homem, o Mito”
(Bruce Lee – The Man, The Mith - 1976), com
“Bruce Li” (Ho Chung-Tao), algumas cenas mostram Bruce (Bruce Li) se submetendo
a um treinamento doloroso e desgastante com o EMS. Outras máquinas bizarras
foram exibidos em diferentes filmes com conteúdo biográfico com o mesmo Bruce
Li. Mas, certamente, a maioria de tais engenhocas eram frutos da imaginação
fértil de algum roteirista.
É sabido que,
em 1972, o fundador da Flextone, James Garvey, vendeu a Bruce Lee o seu
primeiro aparelho de EMS profissional. Vinte e um anos depois, a Flextone
vendeu outros aparelhos para a Valencia Studios, da Califórnia, em 1993, para a
produção do filme Dragão – A História de Bruce Lee, com Jason Scott Lee.
Especialistas afirmam que o EMS usado regularmente por Bruce Lee nos últimos
dois anos de sua vida contribuíram para sua magnífica estrutura e definição
muscular, como também para o aumento da potência
e velocidade de seus golpes.
Então não é
exagero dizer que Bruce Lee foi também o “pai” da tendência moderna do EMS.
Mas o que é
precisamente o EMS, sua finalidade e seus riscos para a saúde humana?
Aparelhos modernos de EMS. Utilizados inclusive pelo jogador de futebol português, Cristiano Ronaldo. |
EMS (Estimulação Muscular Elétrica), o
que é? – O EMS é uma
tecnologia essencialmente simples. Impulsos elétricos que são gerados por uma
unidade EMS são distribuídos através de eletrodos, que aplicados diretamente
sobre o grupo de músculos escolhidos para trabalhar, podem aumentar o seu tônus
e contribuir para a sua melhor definição muscular. Esses impulsos elétricos são
semelhantes aos impulsos nervosos e têm potencial de ação semelhantes aos que
são gerados pelo nosso sistema nervoso central. Nossos músculos reagem a esses
impulsos por meio de contrações ou espasmos. O método EMS já foi conhecido como
“ginástica passiva”. Os impulsos elétricos geram contrações musculares de baixa
frequência, capazes de atingir fibras musculares mais profundas e difíceis de
serem estimuladas nos treinos físicos convencionais.
O EMS produz impulsos elétricos semelhantes aos impulsos nervosos gerados pelo nosso sistema nervoso central. |
Desde quando a medicina utiliza o
estímulo elétrico no homem? –
A eletroterapia ou Faradização, teve seu “aperfeiçoamento” apenas nas últimas
cinco décadas. Mas desde a antiguidade seu uso era empregado para produzir
choques elétricos em pacientes para obter analgesia local. Registros de 500 a.
C. revelam a utilização de peixes elétricos para essa finalidade e há 2.000
anos pelos egípcios para o tratamento da dor e doenças. Posteriormente, a mesma
técnica teria sido utilizada pelos gregos e romanos.
Peixes elétricos já eram utilizados na antiguidade para produzir efeitos terapêuticos e analgésicos em pacientes. |
Consta que em
1745, o médico alemão, Altus Kratzstein, escreveu o primeiro livro sobre a
Terapia Elétrica. Seus experimentos científicos na época serviram de inspiração
para a escritora Mary Shelley lançar o clássico literário Frankenstein”, apesar
de algumas fontes citarem que Shelley se inspirou numa “visão” ou sonho. O
reavivamento da musculatura do corpo através da corrente elétrica gerou a
polêmica sobre o limite do conhecimento humano, sua interferência na criação
divina e a soberania de Deus no que diz respeito ao espírito, alma e corpo
humanos.
A famosa escritora Mary Shelley se baseou nas experiências do médico alemão Altus Kratztein para escrever Frankenstein, segundo algumas fontes. |
Mary Shelley, o monstro de Frankenstein e Altus Kratzstein. |
No século
XVIII, o físico e biólogo italiano Luigi Galvani experimentou conduzir passar
uma corrente elétrica pela espinha de um sapo, o que resultou na contração dos
músculos das pernas do animal e na conclusão de que as contrações musculares
poderiam ser controladas por meio de estimulação elétrica.
Luigi Galvani e a famosa experiência com a condução de corrente elétrica em sapos. |
Em 1831, o
físico e químico inglês, Michael Faraday, estudioso do eletromagnestismo,
desenvolveu a técnica de Faradização, um tratamento eficaz para a paralisia
motora. A aceitação plena deste tratamento se deu por volta de 1840, quando foi
usada a estimulação elétrica de forma rotineira no Guy’s Hospital, em Londres.
Michael Faraday, desenvolveu a Faradização contra a paralisia motora. |
Em 1860, já
se anunciava nos jornais, um Ab Belt, muito semelhante aos cintos modernos de
hoje.
Cintos para estimulação elétrica terapêutica em humanos nos anos de 1860. |
Em 1902,
Ludec da França, projetou uma unidade de corrente contínua intermitente, que se
tornou base para a terapia moderna de corrente contínua de baixa frequência. A
unidade de Ludec era volumosa e difícil de transportar e, além disso, produzia
uma forte e desconfortável estimulação. Mas sua eficácia era reconhecia e seu
uso tornou-se habitual para o tratamento de uma variedade de doenças agudas e
crônicas entre 1920 e 1940, período em que não havia alternativas eficientes
disponíveis.
Com o avanço
da indústria farmacêutica e da farmocoterapia, por volta de 1945, a estimulação
elétrica começou a perder força.
EMS como fisioterapia por volta da década de 1940. |
No ano de
1965, os pesquisadores Melzak e Wall revelaram num conceituado artigo, os
benefícios do uso da eletricidade na terapia moderna.
Melzak e Wall, divulgaram em famoso artigo, o benefício da eletricidade na terapia moderna. |
Nos anos de 1970,
salões com aparelhos EMS se tornaram populares. Ainda não havia regulamentações
para o uso desses aparelhos. Muitas pessoas foram lesionadas por queimaduras,
até que o órgão competente (FDA) entrou em cena para controlar o setor. Um
dispositivo muito popular na época, chamado de Relaxacizor, que vinha num
estojo com cintos, faixas e eletrodos,
teve várias de suas unidades confiscadas pelo governo norte-americano. Atletas
campeões famosos já faziam o uso regular dos aparelhos de EMS na década de
1970, como o boxeador Muhammad Ali e o jogador de futebol Franz Beckembauer.
Bruce Lee foi um dos primeiros a adquirir uma unidade, em Hong Kong, por volta
de 1972.
O invejável físico de Bruce Lee. Graças aos trabalhos físicos convencionais e o uso do EMS. |
O lendário boxeador Muhammad Ali e o alemão, jogador de futebol, Franz Beckembauer. Ambos campeões eram adeptos do EMS já na década de 1970. |
Alguns artigos e propagandas do Relaxcizor, uma febre sem controle e regulamentação em meados dos anos de 1970 |
Em 1976,
durante os jogos olímpicos de Montreal, o russo Dr. Yahov Kots, divulgou seus
estudos sobre o uso da eletroestimulação para treinamento dos atletas da URSS. A
corrente elétrica utilizada é conhecida até hoje como “corrente russa” ou
“corrente kots”. Seus estudos comprovaram
que a corrente elétrica era eficaz na construção de massa muscular e
aumentava consideravelmente a resposta de contração rápida no desenvolvimento
da velocidade. Os ganhos de força dos atletas soviéticos eram de até 40%. Kots
usava uma frequência específica de 2.500 Hz (25KHz), que ficou conhecida como
“Russian Stim”.
A "Corrente Rússia" estourou mundialmente a partir de 1976. |
Os atuais
equipamentos empregam diferentes tipos de correntes onde o aparelho emite a
energia eletromagnética que é então conduzida através de cabos condutores até
os eletrodos que são aderidos à pele do paciente. Existem formas variadas como
a utilização de agulhas no lugar dos eletrodos, estes mais destinados para
terapia estética ou métodos diagnósticos. Em psiquiatria a eletroestimulação da
região front-orbital com frequências específicas é uma das técnicas utilizadas
para indução do sono terapêutico e relaxamento muscular.
Agulhas elétricas no lugar de eletrodos, também utilizados como terapia estética. |
O aparelho de
aplicação de Estimulação Nervosa Transcutânea, por exemplo, utiliza uma
corrente de baixa frequência com efeitos analgésicos que contribuem para
controle da dor aguda e crônica; redução de edema; redução de espasmo muscular;
minimização de atrofia por desuso;
facilitação da reeducação muscular; facilitação da cicatrização tecidual;
facilitação da consolidação de fraturas; fortalecimento muscular e realização
da substituição ortésica.
O EMS pode ser usado para perder peso,
adquirir massa muscular ou substituir os exercícios físicos? - O EMS não é uma ferramenta ideal para
a perda de peso ou um substituto adequado para o treinamento com pesos ou
exercícios físicos tradicionais.
O objetivo original do EMS - O EMS essencialmente é indicado para
a estimulação de músculos que têm dificuldade para se contrair. Sendo
principalmente destinado à pessoas que tiveram acidente vascular cerebral e
sofreram sequelas, ou numa recuperação após uma cirurgia ortopédica. Muitos
destes pacientes têm dificuldades para fazer mover um músculo ou articulação.
Assim, quando o impulso elétrico é
enviado para o tecido muscular pela unidade EMS, o músculo se contrai sem a
ajuda do paciente. Se o paciente conseguir a ativar o músculo lesionado
enquanto está sendo estimulado eletricamente, o cérebro pode reaprender a estimulá-lo sozinho.
O EMS e seu uso para o alívio da dor – Alguns defendem que o EMS pode ser
utilizado para aliviar dores. A teoria do “Controle do Portão” defende que os
sinais de dor são transmitidos para o cérebro através dos nervos ao passarem
pelo “portão”. Alguns defendem que a estimulação elétrica atravessa o portão e
bloqueia os nervos que transmitem essa sensação de dor. Outra teoria é que a
estimulação muscular elétrica faz com que o cérebro libere substâncias
analgésicas naturais do organismo (endorfina e encefalinas), amenizando as
dores.
O EMS destinado ao treinamento
atlético – Seja na
musculação ou no treinamento esportivo, o EMS pode ser utilizado como
fisioterapia para recuperação da musculatura, redução de edemas, aumentar o
tônus muscular, uma maior definição muscular
e ainda melhorar o tempo de reação senso-motora. A estimulação muscular
elétrica pode também proporcionar uma maior contração muscular em até 30% em
comparação a uma contração voluntária normal.
Os riscos no uso do EMS – Em meados dos anos de 1970 a
utilização do EMS causava polêmicas e desconfiança entre os profissionais de
saúde. Muitos cientistas ainda hoje, defendem que o EMS tem em seu uso benefícios limitados, enquanto os
riscos parecem ser bem mais consideráveis.
A desculpa da
“falta de tempo” para fazer atividades físicas pode estimular o uso
indiscriminado do EMS. E não há nada mais saudável do que a atividade física
regular que previnem o surgimento de vários tipos de cânceres, doenças
cardíacas, derrames ou diabetes tipo 2.
O uso do EMS
é muito defendido atualmente com a alegação de que esse método oferece, em
apenas 20 minutos, o equivalente a uma hora ou pouco mais de atividade física. Entretanto, foi comprovado que não basta usar apenas os eletrodos em músculos específicos ou mesmo
o traje de forma mais abrangente. Para obter melhores resultados é necessário
fazer os exercícios convencionais como o agachamento, flexões de braços, abdominais,
corrida, etc., enquanto os eletrodos aplicam pequenos choques. Ademais é
aconselhável apenas duas sessões semanais usando o traje com eletrodos, não
passando de 12 minutos cada aplicação, pois querendo ou não, é um método
agressivo ao corpo humano.
Mas os
choques tornam os exercícios simultâneos ainda mais dolorosos. Ainda que acreditem que o esforço e a
dor podem fazer o exercício mais eficaz.
O estimulo
elétrico tem como objetivo primordial a reabilitação satisfatória de músculos
lesionados e atrofiados por falta de estimulação de nervos danificados. Mas a
questão é: uma pessoa saudável deve se expor aos choques elétricos sem
necessidade? Talvez em músculos específicos (do abdômen, cochas, braços, etc.) e
de forma moderada seja razoável, mas usando os trajes com eletrodos por todo o
corpo seria mesmo seguro?
Há casos
registrados de pacientes reclamando de dores musculares fortes após uma longa
sessão de exercícios físicos com EMS, mesmo supervisionada por profissionais de
fitness. Num destes casos, um jovem abusou das sessões de EMS e desenvolveu a rabdomiólise,
uma patologia responsável pela destruição generalizada das fibras musculares, devido
à liberação da mioglobina no sangue. Essa proteína também pode causar graves
problemas aos rins.
Em relação ao
tonificador muscular, já regulamentado pela ANVISA no Brasil, foi comprovado
pelo órgão através de testes específicos, que não ocorre alterações da pressão
arterial e da frequência cardíaca em decorrência das estimulações do aparelho
em pessoas saudáveis, sejam atletas ou pessoas sedentárias. Mas há
controvérsias, alguns especialistas defendem que só atletas e pessoas com um
bom preparo físico deveriam fazer o uso do EMS. O risco pode estar simplesmente
na qualidade do aparelho. Mas há contraindicações para quem usa marco-passo
(estimulador cardíaco); utilizar o aparelho na região do coração; mulheres
grávidas; epilépticos; colocação dos eletrodos nas partes frontais e laterais
do pescoço; na estimulação da parte inferior da perna em casos de trombose
venosa ou de isquemia (obstrução arterial); portadores de hérnia abdominal ou
inguinal, pessoas que sofrem de artrite, diabetes, circulação, problemas
neurológicos, etc.
Em resumo, os
aparelhos de EMS só deveriam ser usados sob orientação de profissionais de
saúde qualificados, sejam médicos e fisioterapeutas, com o objetivo de
diagnóstico e reabilitação. Tais
aparelhos não deveriam ser usados em academias e muito menos em casa de forma
indiscriminada sem o acompanhamento de um cinesiólogo, pois podem causar sérios
riscos à saúde.
Yang Sze (Bolo Yeung) flagra Bruce Lee
durante experimento científico –
Por volta do final de 1972, após a divulgação e exibição de O Voo do Dragão
(The Way of the Dragon) por toda a Ásia, Yang Sze e Bruce Lee se conheceram e
se tornaram amigos; o que levou à participação do ator, campeão fisiculturista
e também faixa preta de Karate, a participar de Operação Dragão (Enter the
Dragon – 1973) encarnando o musculoso e implacável lutador, “Bolo”. Durante os
intervalos de gravações de Enter the Dragon, no início de 1973, Yang Sze
visitou Bruce na sua casa em Kowloon. Com a palavra, Bolo Yeung:
“Eu costumava
ir a casa de Bruce Lee com frequência. Lá conversávamos sobre muitas coisas
relacionadas às artes marciais. Em algumas oportunidades, eu era sua única
audiência em muitos de seus treinamentos solitários de sua casa em Kowloon.
Notei que ele tinha aparelhos destinados ao treinamento de boxe que eram muitos
diferentes dos tradicionais. Os speedballs, por exemplo variavam de tamanhos,
de pequenos (como uma bola de ping pong) aos grandes. Estes se encontravam
também na sala de estudos ou biblioteca particular. Um dia, quando eu me
aproximava da porta de sua sala de estudos, o vi usando um fone de ouvidos
conectado a uma máquina contendo vários botões e mostradores. Notei que Bruce
também estava suando copiosamente.
Esperei por 5
minutos e lhe pedi uma explicação de tudo aquilo. Ele me disse que estava
treinando a velocidade de entrega do sistema nervoso com o objetivo de melhorar
a agilidade dos membros e a velocidade dos reflexos. Ele completou: ‘E em
outras palavras, quando seus olhos veem o movimento da pessoa, os nervos de
seus olhos dirigem o sistema nervoso central de seu cérebro, que por sua vez,
direciona suas mãos, pernas para interceptar, desviar, chutar ou socar.Tudo isso
leva tempo, suas respostas ou reflexos condicionados, podem se tornar mais
rápidas através do treinamento. É abstrato, assim como o ar, ou praticando o
“ki” na região púbica do corpo. Como
treinar o sistema de transporte nervoso para ser o mais rápido possível? É
realmente abstrato. Para coisas abstratas, precisamos usar métodos muito práticos,
econômicos e científicos para treinar.’ ”
|
Yang Sze e Bruce Lee se aquecendo para as filmagens de Operação Dragão, em 1973. |
Continua Yang
Sze: “Ele disse que pensou nisso por um longo tempo e deu como exemplo os
atletas competindo em uma corrida. Ao ouvir o tiro inicial ecoando no ar, todos
os atletas disparam a correr, alguns respondem mais rapidamente ao ouvir o
estímulo sonoro e outros de forma mais lenta. Por que é assim? É por causa do
transporte do sistema nervoso. Como a velocista Chi Cheng (Ji Zheng), que
ganhou a primeira medalha olímpica de bronze por Taiwan em 1968. Foi o primeiro
recorde de uma atleta asiática. Sua reação ao tiro de partida era extremamente
rápido em comparação aos demais competidores, simplesmente 0.00 segundos. Mas Bruce
disse: ‘Eu sou mais rápido que ela, eu treinei para ser mais rápido do que ela.’
”
Bruce Lee disse a Yang Sze que ele era mais rápido do que a velocista Chi Cheng no que diz respeito à reação muscular a um estímulo sonoro. |
Segundo Bruce Lee, quando o lutador conseguir atingir um estado de relaxamento semelhante a um estado de hipnose, sua velocidade de reação será bem maior. |
Yang Sze:
“Ele disse que passou por muitos testes e experimentos e descobriu que os
reflexos do homem seriam os mais rápidos em certas circunstâncias. Isso é, como
durante o sono. Quanto mais rápido você quiser ser, mais você terá que
relaxar.Quando o homem consegue relaxar interna e externamente sua condição de
transporte nervoso é a mais rápida. Quando o homem se sente tenso, a velocidade
da entrega se torna mais lenta. Quando você entende este ponto, então você tem
que criar o estado de relaxamento. Esse estado de relaxamento também é chamado
de estado de hipnose. Como criar esse estado? Sinta-se como se estivesse
dormindo, depois adormeça, apenas treine dessa maneira.”
Yang Sze:
“Bruce me mostrou um aparelho e me disse: ‘Esta é a chave para ligar o som.
Ligo um dos alto-falantes que gera ruídos como o som de buzinas de carros, de turbinas
de aviões, de percussão, sons pesados e barulhentos. Desligando o interruptor deste,
ligo o outro alto falante que reproduz um som regular, com o batimento de
um metrônomo, gotas de chuva caindo num
lago, um som hipnótico ritmado que, em seguida, desligo também. Agora, ligo os
dois alto-falantes ao mesmo tempo, com o som barulhento e o de hipnose juntos.
Sintonizando o volume de ambos, aumento o som barulhento cada vez mais e o som
hipnótico cada vez mais baixo. Se você continuar ouvindo apenas o som de
hipnose apesar do som barulhento, mesmo com o som de hipnose desligado, você conseguiu
o objetivo. Ou seja, mesmo sob alta tensão você conseguiu se hipnotizar. Você
pode ouvir apenas o som da hipnose, tick...tick...tick... Esse é o estado em
que a velocidade da entrega nervosa é a mais rápida.’ “
"...Mas na rua, posso ser atacado por quatro ou mais pessoas, então eu quero ter os meus sentidos aumentados para ser receptivo ao menor som." - Bruce Lee |
Yang Sze:
“Ele me disse que a luta é principalmente praticada com a atenção em um
oponente. Mas na rua, posso ser atacado por quatro ou mais pessoas, então eu
quero ter os meus sentidos aumentados para ser receptivo ao menor som.”
Alguns
estudiosos sobre a vida de Bruce Lee não descartam a possibilidade de que a
combinação do uso exagerado do EMS, de outros métodos exóticos de treinamento,
com os exercícios convencionais exaustivos, drogas poderosas para amenizar sua
dor crônica nas costas, mais alguns hábitos não muito saudáveis como dormir
pouco, não se alimentar corretamente, consumir algumas ervas como haxixe ou
maconha para relaxar, alto nível de stress e certa paranoia, nos últimos três
anos de sua vida, podem ter contribuído como uma bomba relógio para por fim à
vida de Bruce Lee. Mas qual seria a verdade?
Concluindo,
Bruce provavelmente teria chegado quase ao limite de suas habilidades nas artes
marciais e condição física. Quando dispunha de tempo adequado para os treinos,
se dedicava de tal forma que parecia estar esperando por um combate feroz e
mortal contra um poderoso inimigo a qualquer momento. Ele não queria ser
surpreendido por ninguém e em tempo algum. Mas todos que o conheciam e sabiam
de suas habilidades como lutador pareciam ter certeza que dificilmente alguém
poderia superá-lo num combate corpo a corpo. O maior inimigo de Bruce Lee
certamente era ele mesmo, talvez ele tenha drenado sua própria vida e energia
vital nesta busca incessante pela invencibilidade e superação como lutador e
atleta.
Bruce Lee teria ido além dos seus limites para alcançar a perfeição física e técnica? |
Por Eumário
J. Teixeira.
Extremamente curioso esse artigo sobre o EMS. E ainda mais curioso foi saber acerca da adoção desta tecnologia por Bruce Lee como alternativa de treinamento.
ResponderExcluirEu desconhecia completamente que Bruce Lee havia se utilizado de dispositivos elétricos para estimulação de contrações musculares, pois nunca havia lido nada a respeito. Também ignorava o histórico do desenvolvimento dessa tecnologia baseada em estímulos elétricos para fins terapêuticos. Somente conhecia algo para os mesmos propósitos através da utilização de imãs e dispositivos magnéticos, desde a época de Anton Mesmer - a controvertida magnetoterapia.
Que Bruce Lee sempre enfatizou o uso de aparelhos (muitos deles, pouco convencionais) é algo notório. Mas, disto para a utilização do EMS, numa espécie de transhumanismo para fins de condicionamento físico, é mesmo surpreendente.
As observações acuradas feitas por Yang Sze a respeito do emprego desse tipo de tecnologia por Bruce Lee são muito pertinentes. Prova de que todo grande lutador ou atleta precisa ter um consistente embasamento teórico (e de percepção) que o capacite a desenvolver adequadamente as suas faculdades.
Entretanto, pessoalmente, desconfio um pouco desse expediente representado pelo EMS para os propósitos almejados em termos de potencialização das capacidades físicas. Afinal, o EMS envolve uma atitude passiva por parte de quem se submete à essa aplicação. O corpo fica em um estado de relativo relaxamento a fim de que a corrente elétrica a qual é submetido possa desempenhar seus resultados. Ademais, durante o processo, observa-se a ausência quase total da sinergia encontrada quando realizamos efetivamente uma atividade física dinâmica. Em minha modesta opinião, este é um fator holístico que não pode ser facilmente menosprezado.
Por fim, outro excelente artigo do amigo Eumário, repleto de fotos inéditas que eu desconhecia.
Abraço.
Olá Antonio Jorge, obrigado pelo seu pertinente comentário.
ResponderExcluirDesde que acompanho tudo que envolve Bruce Lee há mais ou menos 4 décadas, sempre li ou ouvi lendas fantásticas sobre suas proezas e possíveis causas de sua morte. Os supostos filmes biográficos e clones de qualidade duvidosa que surgiram logo após a sua morte exploraram em demasia as muitas excentricidades do Pequeno Dragão. Uma delas era o treinamento com o EMS, que teve início a partir de 1972. Temos ainda poucas informações sobre o assunto, mas muitos acreditavam que Bruce não utilizava o aparelho somente de forma passiva, ou seja, enquanto escrevia um roteiro ou lia um livro, mas ao mesmo tempo em que treinava convencionalmente, se movimentando, socando, chutando, etc. Atualmente se utiliza um traje especial justamente para poder conciliar as descargas elétricas estimulantes com o treino convencional. Mas tudo dentro de algumas regras para sua utilização, como no máximo 12 minutos de aplicação diária e 2 dias por semana, o que daria uma boa margem de segurança. Acreditava-se que Bruce extrapolava no uso do EMS. Mas como saber realmente?!? Bolo Yeung foi um dos poucos que teriam presenciado seus treinamentos solitários na sua casa em Kowloon, tendo mencionado inclusive em entrevista sobre aquele outro aparelho sonoro em que Lee desenvolvia a concentração e seu tempo de reação a estímulos sonoros, outra de suas inovações pioneiras. Bruce não era simplesmente um lutador de rua ou um ator de filmes de Kung Fu, era um estudioso sobre o universo das Artes Marciais e como você mencionou, ele era perceptivo e de certa forma holístico, pois procurava em todos os ramos de conhecimento possíveis, qualquer fator que pudesse ajudá-lo a se desenvolver como um verdadeiro artista marcial. Não sei se ele tentou ultrapassar outros limites além dos seus sentidos e capacidades físicas naturais procurando por algo mais sobrenatural, mas aí já é outra história (risos). Abraços e continue participando, amigo. Obrigado!
"Não sei se ele tentou ultrapassar outros limites além dos seus sentidos e capacidades físicas naturais procurando por algo mais sobrenatural, mas aí já é outra história (risos). "
ResponderExcluirTalvez este seja o ponto fundamental em toda essa questão envolvendo o uso do EMS por Bruce Lee - e que você, Eumário, com toda a certeza já conseguiu depreender. Afinal, a busca pela superação dos limites e o objetivo de se atingir níveis superiores de manifestação e expressão das nossas potencialidades inerentes é algo que permeia a mentalidade e o pensamento oriental desde sempre - e é algo que impregnou quase todas as suas filosofias.
Não resta dúvida que as Artes Marciais asiáticas sofreram muita influência dessas filosofias, as quais foram norteadoras de vários dos seus fundamentos, e que Bruce Lee, apesar de ter a mente aberta e deixar-se conduzir também pelos valores da cultura ocidental, possuía uma mentalidade essencialmente oriental. Esse fator ficou evidenciado através de vários aspectos relativos à vida do Pequeno Dragão, e muito destes aspectos pode ser percebido aqui mesmo no blog, através do brilhante artigo dedicado, em parte, ao Krishnamurti.
Sendo assim, não seria de surpreender que Bruce Lee, que sempre buscou superar seus próprios limites, não tenha, durante o seu processo de desenvolvimento físico e filosófico, cogitado acerca da possibilidade de ultrapassar esses limites para além de uma condição que se situaria fora da capacidade de compreensão da grande maioria das pessoas.
Mas, como o amigo Eumário assinalou muito bem, isso já é uma outra história.
Grande abraço.
Bruce fazia uso do EMS que era alguo inovador mas não muito divulgado pois muitos nem mesmo sabiam o que eram aqueles montes de fios ligados ao corpo como eletrodos cardiacos mostrados em a historia de Bruce Lee. E forçadamente mostrados em filmes pastelões baratos do Ho chung tao forçadamente como alguo sobrenatural ao qual Bruce dava boa noite para familia e se tracava em uma sala escura da casa treinando até exaustão. Sobre a parte de hipnose e relaxamento por fones desconhecia.Mais uma boa observaçao interessantissima sobre Bruce. Obrigado amigo Eumário.
ResponderExcluirO Pequeno Dragão estava além do seu tempo e foi o principal personagem do universo das artes marciais no século XX, sem dúvidas. Não tinha para ninguém. E muitos artistas marciais que vieram antes ou depois dele e se tornaram conhecidos ou famosos, devem muito ao lendário Bruce Lee. Seja através de seu reconhecimento ou mesmo de sua influência. Obrigado pelo comentário meu caro amigo, Rodrigo.
ExcluirTienes canal de Youtube? esto es un gran material para videos. Y ganarias algo de plata kkkk
ExcluirLo del aparato sonoro creo que lo escuche por primera vez de Alex Richter, The Kung Fu Genius (canal de Youtube) pero creo que lo explico distinto. Tienes un link a la entrevista de Bolo Yeung donde habla de eso?
Bolo en una entrevista dijo que Jason Scott Lee y los imitadores de Bruce no lo imitaban bien por que Bruce cuando estaba por pelear "es como que quiere dormir" y que eso es dificil de copiar
Hola Noc. Me han dicho eso, sobre el material en youtube, ganar dinero, etc. Siempre hago estas publicaciones por diversión, lleva mucho tiempo investigar, etc. Creo que si empiezas a querer ganar dinero con eso, se convierte en una obligación... jejeje.
ExcluirPero no lo descarto por completo. No recuerdo y no sé del enlace con Bolo, pero cuando lo encuentre, te lo enviaré.
Los imitadores no lograban captar su esencia, su carisma, y eso era la relajación o el “soltar el yo soy” antes del enfrentamiento.
Gracias por el comentario.