Enter the Dragon

sexta-feira, 8 de maio de 2020

BRUCE LEE E O SEU EQUIPAMENTO DE TREINO INCOMUM



Bruce Lee tinha plena consciência do que podia desenvolver em termos de capacidade física e técnica como também de suas limitações quando retornou aos Estados Unidos aos 19 anos de idade para exercer sua cidadania americana. Ele sabia o que enfrentaria naquela “terra de gigantes”, onde seus 1,68m e 62 kg encontrariam sérias dificuldades para se impor ou ao menos estar no mesmo patamar dos melhores, maiores e mais fortes artistas marciais mundiais concentrados na terra do Tio Sam.
Daí a necessidade de aprimorar suas qualidades inerentes, como a velocidade, a potência e contundência de seus  golpes.
Ao contrário de muitos mestres acomodados e charlatões do oriente e mesmo do ocidente, Bruce Lee sempre valorizou o condicionamento físico, seja anaeróbico, aeróbico e muscular. Basta conferir alguns registros fotográficos antigos, ainda dos anos de 1950, onde se vê um jovem adolescente já buscando o desenvolvimento físico e o condicionamento de suas armas naturais para o combate.

O jovem Bruce Lee em Hong Kong, na década de 1950, já se preocupava com o condicionamento
físico, muscular e a estética, antes de mudar-se para os EUA.
No início da década de 1960,  já nos EUA, ele procurou ter em disponibilidade, equipamentos básicos que o permitisse afiar ou condicionar suas ferramentas de trabalho, ou seja, mãos, cotovelos, antebraços, pés, joelhos e pernas.

No Instituto Jun Fan Gung Fu de Los Angeles, os principais alunos de Bruce Lee
exibem alguns materiais de treinamento, na década de 1970,
pouco depois da morte do Pequeno Dragão.
E a partir do momento em que os equipamentos habituais deixaram de ser resistentes ou versáteis suficientes para o seu progresso assustador como artista marcial, ele recorreu a alguns amigos que tinham recursos e conhecimentos para desenvolver equipamentos de treino nunca antes usados no campo das artes marciais, unicamente para saciar sua sede  inesgotável por novos desafios e experimentos.

James Lee, George Lee e Herb Jackson, os principais colaboradores de Bruce Lee
 no que se diz respeito a aparelhos de treino inovadores para artes marciais.
Alguns amigos seletos, capacitados e inventivos, como James Yimm Lee (1920/1972), George Lee (1916/2013) e Herb Jackson (morto em 2007), criaram, desenvolveram e aperfeiçoaram equipamentos únicos a partir das crescentes necessidades de Bruce Lee.

Bruce Lee e seu parceiro George Lee, o mago criador de aparelhos
de treinamento que suportavam os golpes devastadores do Rei do Kung Fu.
Segue parte do depoimento de um dos seus primeiros alunos na Califórnia, George Lee:
“...Enquanto outros profissionais estavam treinando em aparelhos convencionais, Lee estava projetando seu próprio equipamento para lhe dar uma vantagem adicional.”
“...Enquanto eu construía muitos deles, era Bruce quem realmente os projetava. Ele fazia esboços e, em seguida, me entregava para confeccioná-los.”
“ ...Sendo um mecânico  de profissão, eu era capaz de montar os seus aparelhos em minha loja ao norte da Califórnia.”
“...Alguns dos dispositivos mais difíceis a fazer foram a Pedra Tumular; o Agarrador com Pesos; e os Sapatos Especiais, reforçados na parte de frente das solas, com lâminas de alumínio revestidas.”

Bruce, o pequeno Brandon e o Nunchaku de três segmentos feito por George Lee
 de acordo com as especificações e pedidos de seu amigo vindo de Hong Kong.


Os sapatos plataforma, com a parte da frente das  solas reforçadas 
com lâminas de alumínio revestidas, usados por Bruce Lee para 
afastar repórteres indesejados e fãs exaltados ou inconvenientes. 
Segundo George Lee, Bruce preferia investir no reforço de um  par
 de sapatos, do que comprar novas camisas para substituir
 as peças rasgadas  pelos fãs descontrolados.
“...O nunchaku de três sessões, o rolo de pulso, e os dispositivos para treinamentos isométricos para fortalecer os antebraços, foram alguns dispositivos que desenvolvi para Bruce Lee.”
“...Todos os escudos de chutes e sacos de pancada que fiz, levou algum tempo. Eu fiz três escudos de chutes para ele, o primeiro redondo, outro que parecia um sapato, e um quadrilongo.”

Aparelhos desenvolvidos por George Lee para Bruce Lee realizar
exercícios isométricos específicos.

O treinamento nos diversos tipos de sacos de pancadas, era uma prioridade para Bruce Lee.


“...Outro dispositivo favorito de Bruce era a Bolsa para estocadas de dedos. Ele a enchia com arroz, areia e pedras, então a golpeava com a ponta dos dedos. Ele usou bastante os sacos de pancada também. Havia cerca de sete ou oito sacos diferentes para treino em seus Institutos.”

A Pedra Tumular feita por George Lee, onde se lia: "Em memória ao homem uma vez fluído,
afogado e deformado pela Confusão Clássica."
George Lee fez a famosa Pedra Tumular ou a ‘Tumba do Artista Marcial Clássico’ idealizada por Bruce Lee, onde estava escrito no seu epitáfio:
“Em Memória ao Homem uma vez fluído, afogado e deformado pela Confusão Clássica.”

Herb Jackson com o rolo de pulso e outros materiais de
treinamento usado por Bruce Lee e alunos.
Herb Jackson, um dos alunos pioneiros de Bruce Lee, também chegou a contribuir na confecção ou aperfeiçoamento de alguns equipamentos de treino para o Pequeno Dragão.  

Jhoon Rhee, mestre introdutor do Taekwondo nos EUA e amigo de Bruce Lee,
 lançou uma série de materiais para treino e competição,
 visando principalmente o Contato Total.
Jhoon Rhee, mestre introdutor do Taekwondo nos EUA, amigo e parceiro de treinos de Bruce Lee, também tinha a aptidão para criar equipamentos de treino e proteção que se tornaram convencionais nas décadas seguintes principalmente para competição. Alguns destes para treino também foram utilizados pelo Pequeno Dragão; mas nada em comparação a alguns criados pela equipe inventiva de Bruce Lee, que tentarei detalhar a seguir.
Tais equipamentos foram feitos para suportar o poder devastador dos golpes de Lee, que segundo testemunhos dos que estiveram ao seu lado em treinamento, era acima do normal para um homem de seu tamanho e peso.
A principal exigência de Lee na confecção de tais equipamentos é que além de serem ultra resistentes, eles teriam que “reagir” aos golpes recebidos como se fossem um oponente vivo.
Seria impossível listar aqui os inúmeros equipamentos de treinamento de Bruce, mesmo porque muitos eram até desconhecidos pelo público ou se perderam com o tempo.
Bruce Lee diferenciava coisas do tipo, “levantar pesos” ou “treinar com pesos”, pois ele sabia que o excesso de massa muscular poderia prejudicar a velocidade dos seus golpes, só para se ter uma ideia de sua visão prática.

Pular corda era essencial para o jogo de pernas, uma prática valorizada
por boxeadores campeões como Sugar Ray Robinson e Muhammad Ali.

A Medicine Ball, uma peça essencial para o condicionamento abdominal
dos boxers ocidentais, adotada também por Bruce Lee.

A luva de foco, outro material utilizado pelos boxeadores e
absorvido por Bruce Lee.

Com o Saco teto-chão, desenvolve-se o reflexo, o tempo certo,
a rapidez e a precisão no golpear.
Dentre os seus equipamentos para treino convencionais podemos citar a corda de pular; a medicine ball; sacos de pancada padrões e de diversos tamanhos e pesos; a pera; e o saco teto-chão, todos esses equipamentos habituais de treino do boxe ocidental.

Escudos de ar com diversos formatos foram desenvolvidos por George Lee
para absorver os chutes poderosos de Bruce.
O escudo pesado e o almofadão de ar, para absorver chutes e socos, estes equipamentos originais para o treino do Futebol Americano ou Rugby, eram alguns dos seus favoritos.

Aquelas bolsas quadradas fixadas nas paredes, recheadas de areia, limalhas de ferro, feijões e
até pedregulhos, serviam para calejar os punhos devastadores de Bruce Lee.
Mas também haviam aquelas bolsas quadradas fixadas nas paredes, preenchidas com areia, limalhas de ferro e pedregulhos para condicionar e calejar seus punhos; como também uma simples folha de papel suspensa por um fio a qual ele ultrapassava com seus dedos ou socava e chutava para desenvolver rapidez, precisão e penetração.
Alguns destes equipamentos mencionados e alguns que irei descrever já foram assunto na série de posts deste blog intitulada, “Bruce Lee e sua Rotina Diária de Treinamento” (partes de I a IV), confira nos links abaixo: 
https://bruceleeinfocus.blogspot.com/2015/02/bruce-lee-e-sua-rotina-diaria-de.html
https://bruceleeinfocus.blogspot.com/2015/03/bruce-lee-e-sua-rotina-diaria-de.html
https://bruceleeinfocus.blogspot.com/2015/05/bruce-lee-e-sua-rotina-diaria-de.html

Vamos então conhecer ou relembrar um pouco mais sobre os equipamentos ímpares e exóticos feitos exclusivamente para suportar o poder dos golpes do inesquecível Pequeno Dragão.

O Boneco de Madeira "modelo Bruce Lee", construído por James Yimm Lee,
 era diferenciado do tradicional chinês.
Mudjong, o Boneco de Madeira O boneco de madeira é um aparelho tradicional principalmente para os treinos dos estilos Wing Chun Kune e Praying Mantis (Louva-A-Deus) do Kung Fu chinês. Bruce Lee utilizou o mudjong tradicional enquanto treinou em Hong Kong sob a supervisão do mestre Ip Man, e ensino direto do então jovem instrutor, Wong Shun Leung. Quando Bruce Lee já tinha se estabelecido nos Estados Unidos, no início da década de 1960, ele importou um mudjong tradicional feito em Hong Kong. 

O jovem Bruce Lee em Hong Kong, à esquerda; e em San Francisco,
Califórnia, à direita, com um Mudjong modelo tradicional, importado de Hong Kong.
Mas ao dispor de locais de treinamento adequados para o ensino e para os seus treinos particulares em sua casa, ele começou a praticar as técnicas tradicionais de Wing Chun em bonecos de madeira adaptados para as suas necessidades, visando principalmente o condicionamento dos antebraços, pulsos e punhos, como também o aperfeiçoamento das técnicas de bloqueios, agarres, chutes baixos, socos e estocadas com os dedos. O boneco de madeira consistia num grosso tronco de madeira com três braços também de madeira que podiam ser parcialmente “puxados” de seu corpo e uma “perna” de aço dobrada para baixo simulando a perna frontal do adversário, que poderia ser chutada. 

Para suportar os golpes de punhos e pés de Bruce Lee, o
Mudjong foi adaptado com molas e amortecedores de carro.


O mudjong também possibilitava o desenvolvimento do poder e energia de impacto de seus punhos; a fluidez deslizante nos bloqueios, nos agarres para torções e arremesso; e a imobilização (apresamento) dos braços do oponente. Era ainda um excelente aparelho para o aprimoramento da velocidade, sincronia e coordenação ao desferir bloqueios e contra-ataques simultâneos. Bruce Lee tinha projetado um boneco de madeira com algumas adaptações e incumbiu a seu aluno, James Yimm Lee, que era soldador, que o confeccionasse. Esse mudjong especial, que ele tinha em sua sala particular de treinamento, era escorado por um suporte de molas e amortecedores de carro; tinha cerca de 1,90 de altura e 30 cm de diâmetro; possuía molas nos três braços de madeira, dois paralelos abaixo do “pescoço” do boneco e um terceiro na altura de “cintura” (de 66cm de extensão cada); contava também com duas “pernas” laterais prolongando-se como pés que estabilizavam o mudjong e uma terceira “perna” de metal ao centro, esta também com um amortecedor, já que Bruce Queria que as “reações” do boneco fossem as mais reais possíveis, quando Lee desferisse seus golpes com a máxima potência, sem se preocupar em ferir alguém.
Segundo  seu aluno, Herb Jackson, Lee praticava inúmeras formas diferentes de socar e chutar o mudjong, partindo de qualquer ângulo  e em  qualquer direção, sem a menor alusão de que um chute ou soco iria ser desferido.

Richard Bustillo, aluno de Bruce Lee, testando o Braço com Mola.
O Braço com Mola Esse aparelho era usado para a prática de puxões (Lap Sao) do Wing Chun Kune. Era um braço de madeira semelhante ao do boneco de madeira que era adaptado à uma parede ou a um pedestal de aço. Esse braço era preso à uma base por uma mola que o fazia “resistir”  quando puxado  em direção ao praticante. O mecanismo permitia que esse braço de madeira fosse movido ou desviado para qualquer direção, tal qual um braço humano. Esse aparelho possibilitava o desenvolvimento da rapidez, coordenação no uso dos braços e antebraços, ao exercitar puxões (pulling hands), apresamentos (trapping hands) e bloqueios com as mãos. Considerados excelentes exercícios de resistência, desenvolviam poder e força de uma maneira mais prática e eficiente do que o simples levantamento de pesos. Daí tais exercícios serem assíduos na rotina de treinamento de Bruce Lee. Segundo Richard Bustillo, um dos primeiros e tradicionais alunos de Bruce Lee, esse treinamento específico dava um poder considerável aos ombros do praticante, e era preciso cuidado na prática quando se transferia tais técnicas do aparelho para um companheiro de treino, com o risco de deslocamento de ombros, já que geralmente estariam relaxados.

Bruce Lee treinando no Cabeça de Boneco.
Cabeça de Boneco – Outro aparelho projetado por Bruce Lee e confeccionado pelo seu aluno e parceiro, James Yimm Lee. Um a estrutura de aço que podia ser adaptada em qualquer lugar ou instalada a uma parede. Esse aparelho tinha uma “cabeça” sem rosto, feita de uma borracha negra que reagia como uma cabeça humana ao receber os golpes, graças às molas de sustentação. Na base do aparelho, como no tradicional mudjong, tinha uma perna frontal de aço adaptada a uma mola, que era utilizada para a prática de varreduras com os pés e técnicas de obstrução de pernas utilizando os chutes barreiras. A cabeça de borracha atuava como um oponente que recebia estocadas de dedos nos olhos e poderosos socos diretos no rosto. Bruce Lee o utilizava este aparelho para aprimorar  a precisão e velocidade de seus golpes. Era muito útil também para condicionar a ponta de seus dedos para as temíveis estocadas.

O Obstrutor de Pé Outro aparelho que teria sido construído por James Yimm Lee sob a orientação de Bruce Lee. Era destinado exclusivamente ao treinamento e aperfeiçoamento das varreduras e bloqueios com os pés e aplicações de chutes baixos. Era um aparelho fixo, semelhante a uma perna humana, mas feita de madeira. Sua base vertical em aço, era fixada em uma parede sustentada por grossas molas nos lados e na parte de trás da “perna”, possibilitando mais realismo no alcance e na movimentação. Era um excelente aparelho para desenvolver técnicas de ataques com chutes baixos e chutes interceptadores nos joelhos e nas canelas.

O Saco Super Pesado que Bruce Lee ganhou do amigo Bob Wall.
O Saco Super Pesado – Esse era um saco de pancadas especial e nada convencional, porque pesava cerca de 136 kg, com 1,35m de largura e 1,65m de altura. Eram precisos dois homens com os braços esticados para abraçar o saco monstruoso. Bruce tinha facilidade para “estourar” ou fazer “voar” qualquer tipo de saco de pancada, mas seu amigo, o karateca profissional Robert (Bob) Wall, o presenteou com aquele saco gigantesco, duvidando que Bruce pudesse aos menos movê-lo levemente com seu poderoso chute lateral direto tão famoso. Bruce realmente foi pego de surpresa. O super saco foi então sustentado por uma corrente reforçada e uma viga de aço, ocupando uma boa parte da varanda na área de treinamento. Por ser um equipamento enorme, mas macio, era preciso desferir o golpe com todo poder para conseguir um mínimo de impacto, pois seu tamanho absorvia o poder e força de qualquer um que o golpeava. Era como golpear um tronco de árvore. Se isso fosse possível, apenas Bruce Lee podia tirá-lo notadamente do seu eixo com seu poderoso chute lateral. Bob Wall o teria dado à Bruce Lee por não acreditar que ele pudesse fazê-lo, pois ele sabia que Lee tinha, no máximo, por volta de 62 kg e, pela lógica, não teria potência suficiente para isso. 
Richard Bustillo, experimenta o Saco Gigante feito especialmente para Bruce Lee.
Quando Bruce Lee testou o saco pela primeira vez com seu chute lateral, se desequilibrou e caiu, para a satisfação de Bob Wall. Bruce então pediu a Wall que lhe desse um tempo para adaptação com o saco gigante. Quando Bob Wall retornou à casa de Bruce, em uma semana, constatou o que a determinação pode produzir. Bruce saltou em direção ao saco gigante e desferiu seu melhor chute lateral, fazendo com parte da estrutura do teto da varanda se abalasse e em seguida desabasse junto com o gigantesco saco de pancadas. A lenda diz que só Bruce Lee conseguia movê-lo com seu chute lateral naqueles bons tempos na sua casa em Bel Air, Los Angeles. Howard Williams (falecido em 2012), um dos primeiros alunos afro-americanos de Bruce, se gabava de ser o único, além de Bruce, a conseguir fazer o saco gigante se mover com um chute lateral. Muitos não acreditam nessa história, mas o testemunho de lutadores profissionais respeitáveis como Bob Wall, Joe Lewis e outros, que presenciaram várias vezes Bruce golpeando o equipamento gigantesco, seria suficiente para dar credibilidade à história.

Bruce Lee com seu Agarrador com Pesos.
Agarrador com PesosAs mãos e os antebraços de Bruce Lee eram tidos com de ferro. Quem conheceu Bruce Lee de perto, testemunhava que quando ele apertava suas mãos a impressão que dava é que ele poderia esmagá-las se quisesse, ao mesmo tempo em que não se notava um mínimo esforço de sua parte, enquanto ele sorria para você. Essa experiência desconcertante foi vivida certa vez pelo ator e artista marcial japonês, Yasuaki Kurata, quando se encontrou com Bruce Lee pela primeira vez, por volta de 1972, nos estúdios da Golden Harvest, em Hong Kong. Da mesma forma, os antebraços de Bruce Lee relaxados, aparentemente pareciam normais, mas na verdade eram como se fossem forjados no aço de tão rígidos.  O agarrador de pesos certamente contribuiu para o desenvolvimento da força de seu agarre e para a rigidez muscular de seus antebraços. O aparelho era uma plataforma de canos de aço com meia base construída de modo a subir e descer quando agarrada pelas duas barras de cima. Essa base comportava tantos discos de peso quanto se pudesse levantar. O peso era levantado ao se agarrar as barras de cima com uma das mãos fechando-a tanto quanto possível. A utilização deste aparelho exige muito esforço e persistência, apesar do movimento aparentar ser muito simples para quem apenas observa. Seus benefícios serão o fortalecimento gradual dos dedos e mãos; a força no agarre; e o enrijecimento dos antebraços, tão necessários para a prática com sucesso dos bloqueios no Boneco de Madeira.
O Matador, para treinar chutes baixos nos joelhos e canelas.
O Matador Um aparelho simples, mas eficiente. Era utilizado para treinar a interceptação com os pés, de possíveis chutes frontais desferidos pelo oponente ou, ao contrário, para simular um ataque ao adversário. Essa peça de treinamento era composta  de uma “armação” de madeira (com rodas) e fixada com parafusos, que era manipulada por um companheiro de treino que avançava em sua direção, simulando um ataque com os pés do adversário que deveria ser neutralizado num contra ataque rápido aplicando chutes bloqueios. Em contrapartida, o “matador” era muito eficiente para o desenvolvimento da rapidez no desferir chutes baixos contra os joelhos e canelas do oponente. Quando o companheiro recuava com o aparelho, revertia a situação, pois nesse caso, você buscava o alvo baixo (joelhos e canelas) em ataque ao adversário. Bruce Lee ao utilizar esse aparelho desenvolvia mais velocidade nos chutes, eficiência e rapidez no jogo de pernas, exigidas numa situação de combate real, onde também são importantes o foco, a precisão e uma boa coordenação motora.
O Boneco Absorvedor de Pancadas, construído e sendo testado
por James Yimm Lee.
Richard Bustillo explora outra variação do Boneco de Madeira
desenvolvido por James Yimm Lee. Notem  as molas e amortecedores
do aparelho.

James Yimm Lee, o mestre fabricante de aparatos não convencionais
criados por Bruce Lee.
O Boneco Absorvedor de Pancadas Este outro aparelho, mais complexo, idealizado por Bruce Lee e construído por James Yimm Lee, era uma espécie de Mudjong incrementado com multi alvos em seu corpo. Chamado também de “o homem barulhento”, era composto de molas diversas, amortecedores de carro, canos de aço e peças semelhantes com um revestimento especial. Esse aparelho era utilizado por Bruce Lee para desenvolver a resistência física, fôlego, rapidez e impacto no desferir dos golpes. O aparelho foi adaptado para suportar os golpes potentes de Lee, sejam estocadas com os dedos, socos diretos, cotoveladas, chutes laterais, joelhadas, chutes baixos, bloqueios, etc. A reação do “homem barulhento” era satisfatória graças às molas e amortecedores. Só mesmo um aparato desses para resistir à saraivada de golpes desferidos por Bruce Lee, normalmente numa sequência avassaladora.

Bruce Lee reconhecia os benefícios do treinamento com o Alvo de Papel.

O Alvo de Papel - Era simplesmente uma folha de papel com as medidas (em média) de 18 x 25 cm, suspensa por uma corrente ou corda na altura do rosto. A ação de golpear a folha ajudava a Bruce Lee desenvolver o movimento de rotação dos quadris para adquirir ímpeto e velocidade na utilização dos braços e pernas, o que acrescentava mais potência aos golpes de forma considerável. Além disso, ajudava no desenvolvimento do equilíbrio do corpo, na fluidez dos movimentos, na coordenação e controle do peso corporal durante o deslocamento. A folha de papel era usada para desferir  jabs com os dedos, socos em gancho, chutes laterais, chutes em gancho, etc. Era um ótimo treino para o aprimoramento da velocidade e do posicionamento correto do corpo, para gerar o máximo de potência e a capacidade de calcular a distância correta para a aplicação exata do poder desferido contra um alvo. 

Desferindo chutes, socos ou estocadas no alvo de papel para
o aprimoramento do posicionamento, equilíbrio, fluidez, coordenação
e velocidade dos golpes.
Em suma, o treino com o alvo de papel lhe proporcionava uma crescente precisão e explosão para ataque. Bruce declarou certa vez sobre esse treinamento: “A teoria é que se você disser a alguém para desferir 100 socos no alvo de papel, com tudo que tem, a pessoa desferirá 100 socos com tudo o que tiver. Mas não o fará no boneco de madeira, pois depois de 20 socos, seus punhos estarão machucados. A razão pela qual treino os alunos a atingirem a folha de papel é diminuir-lhes o temor de atingir algo. Depois, ao praticar na madeira, basta pensar que se trata da folha de papel e fazer do mesmo modo: a coisa se tornará uma reação natural. O praticante conseguirá mais explosividade nos socos e mais penetração (ao treinar com a folha de papel) do que se treinar na madeira.”

O Almofadão de ar,  de suma importância para o treinamento da
precisão e profundidade dos chutes, ficou bastante popular depois
das famosas demonstrações de Bruce Lee.

O Escudo Pesado, usado para o treino dos jogadores de Futebol Americano,
foi adaptado para o exercício dos chutes no Jeet Kune Do.

O Almofadão de Ar e o Escudo Pesado O almofadão era usado para desenvolver a distância apropriada e penetração contra um alvo móvel ou estático. Assim, o parceiro de treino poderia recuar ao perceber o disparo do golpe ou permanecer parado segurando o almofadão que absorvia a pancada. Com o alvo estático procurava-se desenvolver o modo correto de desferir o chute e, com o alvo em movimento, procurava-se desenvolver a penetração. Tal treinamento era precioso para ambos parceiros, para quem golpeava e para quem segurava o almofadão. O que chutava aprendia a não telegrafar sua intenção de golpear e, quem recebia o chute, aprendia a antecipar o ataque do parceiro recuando.
O Escudo Pesado era uma variante do almofadão de ar que servia para o mesmo propósito. Podia ser utilizado como alvo estático ou móvel da mesma forma. A diferença entre os dois equipamentos era que o escudo era uma peça compacta, enquanto o almofadão tinha que ser preenchido com o ar. O escudo pesado não podia absorver totalmente o golpe como o almofadão de ar, obrigando a quem o segurasse mover-se para trás para facilitar o amortecimento da pancada. Mas graças à maior mobilidade proporcionada com o escudo pesado, podia-se desferir o golpe mais potente sem o receio de ferir o parceiro de treino.

Espero que os amigos de Bruce Lee In Focus tenham apreciado mais esta postagem. Até a próxima.

Por Eumário J. Teixeira.