Enter the Dragon

quarta-feira, 22 de julho de 2020

BRUCE LEE E SEUS CLONES, IMITADORES E DUBLÊS


Que saudades do verdadeiro e único Rei das Artes Marciais. Em 20 de julho de 2020, fez 47 anos da morte de Bruce Lee, o Pequeno Dragão. Quando foi anunciada oficialmente sua surpreendente e misteriosa morte, em 1973,  abriu-se uma enorme lacuna que, até hoje, não foi preenchida. Foi uma enorme perda para a indústria cinematográfica de Hong Kong na época e principalmente para o gênero de Artes Marciais que crescia assustadoramente, sem mencionar o doloroso impacto sentido pelos fãs de Bruce Lee por toda a Ásia e, em pouco tempo, por todo o planeta que viria a conhecer o seu enorme talento, ironicamente, após o lançamento quase simultâneo com sua a morte de sua obra definitiva, Operação Dragão (Enter the Dragon – 1973). E, lamentavelmente, Bruce Lee não viveu para ter consciência de seu estrondoso sucesso a nível mundial.
Mas a vida seguiu o seu curso e a indústria cinematográfica de Hong Kong não deixaria de obter algum lucro, mesmo que fosse para explorar sua curta, mas consagrada carreira, assim como sua memória e morte trágica. Seguiu-se então uma caça à atores/lutadores que tinham alguma semelhança física com Lee e que poderiam imitar os seus gestos, movimentos, golpes e expressões faciais característicos que o tornaram tão querido pelos fãs dos filmes de Kung Fu por todo o planeta.
Num misto de tributos honestos e duvidosos, comédias e até deboches, foram lançados inúmeros filmes com os mais variados e bizarros clones ou imitadores do Pequeno Dragão que suaram para chegar próximo ao que Lee demonstrou nas telas com tanta naturalidade, competência, paixão e honestidade, por breves, mas intensos três anos.
Alguns poucos filmes biográficos foram feitos seguindo um roteiro que tentava reproduzir a trajetória meteórica de Bruce Lee. Um ou outro ainda realizado na década de 1970, tentou ser na medida do possível fiel aos fatos, ainda que enxertando muitos elementos fictícios.
Outras películas deixavam a realidade de lado e apostavam na fantasia, fazendo de Brue Lee algo próximo de um super-herói justiceiro. Não satisfeitos, alguns produtores ainda debochavam de sua memória fazendo-o ressuscitar da morte para enfrentar seres sobrenaturais vindo do inferno, uma amostra dos muitos roteiros oportunistas e de mal gosto, dignos de repulsa.
Outros cineastas de Hong Kong jogavam ainda mais baixo, explorando em suas versões pseudo biográficas os casos amorosos e extra conjugais de Bruce Lee, dando ênfase ao seu relacionamento com a atriz Betty Ting-Pei e com as drogas ilícitas. A atriz por sua vez, que sempre negou, mas acabou por confessar seu envolvimento amoroso com Bruce Lee poucos anos atrás, chegou a trabalhar em alguns destes filmes biográficos representando ela mesmo. No final o dinheiro sempre favorece sobre a ética e o amor, não é mesmo?
Nas décadas mais recentes surgiram algumas produções que se propunham resgatar verdadeiramente a memória do Rei das Artes Marciais. Mas mesmo com algumas produções de boa qualidade e contando com bons atores sob direção competente, ainda que sob a supervisão de parentes e amigos próximos à Bruce Lee, a maioria deixou a desejar. O erro fatal em quase todas obras eram as narrativas que fugiam dos fatos, da veracidade e realidade da vida de Bruce Lee e, em alguns roteiros maldosos, chegaram a retratá-lo como uma pessoa arrogante e imatura. Era como se a vida do Pequeno Dragão precisasse de adições de elementos fictícios, dramáticos e até sobrenaturais para enriquecer sua rica e inspiradora história, o que é um absurdo e um desrespeito, a meu ver.
Mas, de qualquer maneira, me proponho aqui a fazer uma amostragem de alguns filmes e dos mais conhecidos atores/lutadores (clones, imitadores e dublês) que surgiram no rastro do maior astro de filmes de artes marciais que passou por esse planeta, o inimitável e insuperável, Bruce Lee! Espero que aprovem mais esse trabalho de pesquisa.

- Os 17 Clones, Imitadores e Dublês de Bruce Lee – Uma galeria bizarra de clones que tentaram se promover no rastro do Pequeno Dragão e algumas amostras das “obras duvidosas” que oscilavam entre um humilde, mas honesto tributo, a um deboche de mal gosto, exibidos nas últimas décadas a partir da morte do Rei das Artes Marciais em 1973.


01 – DANNY LEE - Nascido em 06 de agosto de 1952, em Xangai, na China Continental Comunista. Seu nome de batismo é Lee Sau-Yin (ou Li Hsiu-Hsien).  Danny Lee tinha leve semelhança com Bruce Lee, reforçada pelo corte de cabelo e os óculos escuros. Não tinha o porte físico atlético mas era ágil, apesar de não ter conseguido “captar” os movimentos e trejeitos de Bruce Lee com sucesso. Mas ele foi o escolhido para protagonizar o filme “Bruce Lee And I” (ou “Bruce Lee – His Last Days, His Last Nights”) de 1975, dois anos após a morte de Bruce Lee, contando ainda com a participação da atriz Betty Ting-Pei que representou ela mesma, num testemunho cinematográfico de suas confidências, romance e sexo com Bruce Lee. O filme logo no início passa apresentar Betty Ting-Pei como a autêntica “viúva” de Lee remoendo as dores à beira-mar, para logo em seguida mostrar Bruce Lee consumindo marijuana e outras drogas durante os encontros amorosos e sexuais com Betty Ting-Pei.


A versão polêmica com Betty Ting-Pei tinha sexo, drogas e Kung Fu.
A narrativa mostra a vida noturna de Lee por conta de eventos promocionais e uma constante importunação por membros da máfia chinesa. Betty Tin-Pei tenta se representar como uma verdadeira “vítima” de perseguições durante a estória contada no filme, antes, durante e após a morte de Bruce Lee. É sabido que a ex atriz de filmes picantes foi acusada pela imprensa marrom e fãs de ter relações com a máfia Triad e participado ou conspirado para a morte misteriosa de Lee. Em nenhum momento no filme há alguma referência sobre a família de Bruce, ou seja, sua esposa Linda e os filhos Brandon e Shannon. Um verdadeiro golpe baixo por parte da produtora Shaw Brothers, rival da Golden Harvest de Raymond Chow, que apostou no talento de Lee. Parece ser este o único filme de “bruceploitation” de Danny Lee que se saiu bem nas cenas de lutas dirigidas com competência.


02 – BRUCE LI – Nascido em 05 de junho de 1950, em Ping Tung, Taiwan. Seu nome de batismo é Ho Chung-Tao ou Ho Chung-Dao. Apesar de não parecer com Bruce Lee fisionomicamente e não ter o mesmo tipo físico, Bruce Li parecia ser o mais esforçado e honesto em seu trabalho de imitação, sem exageros nos trejeitos e expressões faciais. Fez inúmeros filmes que de certa forma retratavam a imagem de Bruce Lee e alguns poucos que foram de cunho biográfico. Sua melhor performance está no seu melhor filme que foi intitulado “Bruce Lee – The Man The Mith”, de 1976, conhecido também como “Bruce Lee – True Story”, com participação de Unicorn Chan (amigo de infância de Bruce Lee). 


Bruce Li fez uma razoável versão biográfica de Bruce Lee em "Bruce Lee - The Man The Myth".
Outro filme assistível é “The Chinese Stunt Man, de 1981, com a surpreendente participação do aluno de Bruce Lee e instrutor de Jeet Kune Do e artes marciais filipinas, Dan Inosanto. Outros filmes de Bruce Li são: “New Game of Death” (ou “Goodbye Bruce Lee”), de 1975; “Exit The Dragon, Enter The Tiger”, de 1976; e “Fist Of Fury Part 2”, de 1977. Depois de muito imitar Bruce Lee, o ator largou a carreira de protagonista de filmes de kung Fu, preferindo ser reconhecido apenas pelo seu verdadeiro nome. Ho Chung-Tao parece ser o mais respeitado dos imitadores de Bruce Lee surgidos na década de 1970. Aos 40 anos idade, ele se aposentou dos filmes de kung fu, decepcionado com suas imitações de Bruce Lee. Ele declarou: “Eu poderia agir como ele, mas nunca poderia ser ele”.


03 – BRUCE LE – Nascido em 10 de março de 1956, na Birmânia, no Sudeste Asiático. Seu nome de batismo é Wong Kin-Lung ou Huang Jian-Long. Além de ser considerado um dos mais famosos clones de Bruce Lee made in Hong Kong, sendo superado apenas por “Bruce Li”, fazia de sua imitação exagerada e caricatural uma atração à parte. Sua melhor performance talvez esteja em “Bruce’s Deadly Fingers”, de 1976, no qual teve a participação, inesperada por muitos, do mestre Wong Shun Leung, que foi o aluno avançado de Ip Man e instrutor particular de Wing Chun Kung Fu de Bruce Lee. O interessante é que Bruce Lee em vida e há poucos meses de sua morte, havia convidado Wong para participar de seu filme “O Jogo da Morte” como um dos mestres lutadores guardiões do pagode que ele enfrentaria. Mas Wong se recusou, dizendo na época, que nunca participaria de filmes de artes marciais. Wong mudou de ideia três anos depois. 

O Mestre Wong Shun Leung recusou convite de Bruce Lee para filmar The Game of Death,
mas aceitou participar de uma "sátira" com "Bruce Le", três anos depois da morte do amigo.


Em “Bruce’s Deadly Fingers”, de 1976, Bruce Lee é retratado com imaturo e inconsequente ator/lutador de filmes de artes marciais famoso que vai em busca dos conselhos e instruções de seu mestre, no caso, Wong. Outros filmes “apreciados” de Bruce Le são: “Return Of Bruce Lee”, 1977; “My Name Called Bruce”, de 1978; “Enter The Game Of Death”, de 1978; e “The Clones Of Bruce Lee”, de 1979, onde reúnem-se num só filme quatro clones do Pequeno Dragão, a saber: Bruce Le, Bruce Lai, Bruce Thai e Dragon Lee. Contando ainda com a participação de Bolo Yeung (ou Yang Sze).


04 – DRAGON LEE (ou Bruce Lei) – Nascido em 12 de agosto de 1958, em Seosan, na Coréia do Sul. Seu nome de batismo é Moon Kyong-Seok. Faixa preta de Taekwondo (e aluno do mestre coreano, também ator, Hwang Jang-Lee), ele pode ser considerando o terceiro mais popular clone de Bruce Lee da Era de Ouro de Hong Kong, depois de “Bruce Li” e “Bruce Le”, é claro. O que chamava a atenção de Dragon Lee não eram o seu físico avantajado ou os golpes estilosos que desferia, mas as caretas que fazia. 

Um dos mais queridos clones de Bruce Lee foi Dragon Lee, pois apesar
das caretas e exageros nas performances, ele era bom de briga.


Esse imitador de Bruce Lee reproduzia todas aquelas expressões de Bruce Lee com alto grau de exagero, ou seja, dizer que eram caricaturais ainda é pouco, era cômico mesmo. De seus filmes mais famosos, se destacam: “The Clones Of  Bruce Lee”, de 1979, um clássico do “bruceploitation”, onde dividiu o protagonismo com “Bruce Le”, “Bruce Lai” e “Bruce Thai”. Outros filmes cotados de Dragon Lee são: “The Real Bruce Lee”, de 1977;  “The Last Fist Of Fury”, de 1977; “Enter Three Dragons, de 1978”, onde dividiu o protagonismo com “Bruce Lai”; “Kung Fu Fever”, de 1979; e “The Big Boss 2”, de 1981. O karateca negro e campeão norte-americano, Ron Van Clief, participou como vilão em “Kung Fu Fever”.


05 – BRUCE LAI – Nascido em 05 de maio de 1950, na Coréia do Sul. Seu nome de Batismo é Chang Yi-Tao ou Chang Il-Do (em coreano). O que se sabe sobre Bruce Lai é que era faixa preta de Tang Soo Do (o mesmo estilo de Chuck Norris) e que faleceu de câncer em em 31 de dezembro de 2014, aos 64 anos. Seus filmes de destaques imitando Bruce Lee são apenas “Enter Three Dragons”, 1978, protagonizando junto com “Dragon Lee”; e “The Clones Of Bruce Lee”, de 1979, no qual  dividiu o protagonismo com “Bruce Le”, “Bruce Thai” e “Dragon Lee”. 

Bruce Lai, mais discreto, não teve o reconhecimento merecido como um dos melhores clones de
Bruce Lee. Era muito técnico e lembrava de certa forma o Pequeno Dragão em ação.


Bruce Lai chamava a atenção na sua imitação de Bruce Lee, pois tinha um tipo físico parecido, era ágil e desferia os chutes com facilidade, rapidez e com muita técnica. Em certos momentos poder-se-ia até lembrar do Pequeno Dragão em ação.  Sem dúvidas, Chang Yi-Tao foi um dos que mais se destacaram no universo do bruceploitation. Ironicamente, seu talento só seria reconhecido mais tarde em filmes que não exploravam a memória de Bruce Lee.


06 – BRUCE THAI – Nascido em data desconhecida, mas provavelmente na Tailândia. Seu nome de Batismo é também desconhecido. Estima-se que poderia ser de origem tailandesa devido ao sobrenome artístico “Thai”. 

Bruce Thai, não se sabe até hoje porque foi considerado o Bruce Lee da Tailândia.
Seu único filme de “relevância” e que é conhecido, é justamente “The Clones Of Bruce Lee”, de 1979, onde protagoniza junto com “Bruce Le”, “Bruce Lai” e “Dragon Lee”. No filme, os clones chineses (Le e Lai) vão à Tailândia dar uma ajuda ao clone nativo (Thai).


07 – BRUCE LEUNG – Nascido em 28 de abril de 1948, na Hong Kong britânica. Seu nome de Batismo é Leung Choi-Sang ou Leung Siu Long. Esse ator/lutador em particular não tem semelhança alguma com Bruce Lee e muito menos lembrava seus movimentos, trejeitos e expressões faciais característicos. No entanto, ele foi protagonista de um dos filmes mais bizarros e de extremo mal gosto que exploravam a popularidade e a morte de Bruce Lee. A “obra” foi denominada “The Dragon Lives Again”, de 1977. 

Bruce Leung só tinha mesmo no nome alguma coisa que lembrava
Bruce Lee. Quanto ao resto, é melhor esquecer...
No enredo, Bruce Lee levantava-se de seu túmulo para enfrentar uma série de inimigos famosos e sobrenaturais, como um pistoleiro que lembrava Clint Eastwood, James Bond, Drácula, múmias, Popeye, Kwai Chang Caine e até anões. Uma das piores películas já produzidas em Hong Kong, sem dúvidas. Se você considerar “aquilo” como filme C, trash e cômico, dá até para assistir, desde que você não tenha nada melhor para ver ou fazer. Bruce Leung não se atreveu a fazer alguma outra coisa que ultrajasse o nome de Bruce Lee.


08 – CHEN YAO PO – Nascido em data e locais desconhecidos, provavelmente na Hong Kong britânica. Seu Nome de Batismo é mesmo Chen Yao Po, porém é também conhecido pelo nome artístico, Albert Sham. Pelo que consta é apenas um ator dramático, não é lutador ou teve algum treinamento específico em artes marciais. 

Chen Yao Po sendo maquiado para parecer Bruce Lee, nem
que fosse de longe...

Chen Yao Po foi um dos três dublês que se passaram por Bruce Lee
em The Game of Death, de 1978.

Sua contratação foi especificamente para as cenas com diálogo em “The Game Of Death”, de 1978, nas quais usava óculos escuros semelhantes ao que Bruce Lee tinha. Tinha o mesmo corte de cabelo, mas uma semelhança mínima com Bruce Lee mesmo se filmando de longe e com pouca iluminação. Ele foi um dos três “sósias” usados neste filme.


09 – KIM TAI CHUNG (Kim Tai Jong) - Nascido em 05 de junho de 1957, em Pusan, na Coréia do Sul. Seu nome coreano de Batismo é Kim Tae-Jong e é chamado também pelo nome artístico, Tong Lung. Era faixa preta de Taekwondo. Faleceu em 27 de agosto de 2011, em Seul, na Coréia do Sul, em decorrência de Hemorragia Estomacal, aos 57 anos. Participou de “The Game Of Death”, de 1978, como um dos três “sósias” usados para complementar as cenas do filme inacabado de Bruce Lee. 
Kim Tai Chung (Billy Lo) enfrenta o vilão interpretado por Hugh O'Brian em
The Game Of Death, de 1978.

O coreano Kim Tai Chung foi o "espírito" de Bruce Lee em "No Retreat, No
Surrender", de 1986.

Kim Tai Chung foi um dos três dublês de Bruce Lee em "The Game of Death", de 1978; e
foi o irmão de Billy Lo (Bruce Lee) em "The Game of Death II", de 1981.

Kim Tai Chung fez algumas cenas de luta (com óculos e barba postiça) em ambientes abertos e outras vestindo um macacão amarelo semelhante ao usado por Bruce Lee nas cenas originais. Outros filmes de destaque dele foram “The Game Of Death II” (Tower Of Death), de 1981, no qual ele se passava pelo irmão de Billy Lo (Bruce Lee) assassinado; e “No Retreat, No Surrender”, de 1986, onde Kim representava o “espírito” de Bruce Lee que ensinava seu estilo de luta para um jovem artista marcial que teria que enfrentar um campeão russo, no caso, Jean Claude Van Damme. Kim Tai Chung se entregava com muito dinamismo em suas atuações e exibia grande técnica nos seus chutes laterais, diretos, circulares e em gancho, exibidos principalmente em The Game of Death II.


10 – YUEN BIAO – Nascido em 26 de julho de 1957, na Hong Kong Britânica. Seu nome de Batismo é Ha Ling Chun. Antes de ser um ator/lutador, Yuen era um acrobata. Foi por isso que ele foi chamado para fazer as cenas com saltos acrobáticos que Kim Tai Chung, vestido com o macacão amarelo, não poderia realizar nas lutas do pagode, em “The Game Of Death”, de 1978. 


Yuen Biao (Billy Lo) se virando para escapar dos golpes da lâmina do
ator Hugh O'Brian em The Game Of Death (1978).


Yuen Biao foi um dos três dublês de Bruce Lee no filme "The Game of Death",
de 1978. Ele fazia as acrobacias que Kim Tai Chung (outro dublê) não podia realizar.
Um filme relativamente conhecido que Yuen Biao protagonizou, foi “My Lucky Stars”, de 1985, ao lado de Jackie Chan e Sammo Hung. Eles já eram um trio pioneiro e consagrado de dublês revelado pela indústria cinematográfica de Hong Kong na década de 1960/70.


11 – SAMMO HUNG -  Nascido em 07 de janeiro de 1952, na Hong Kong Britânica. Seu nome de Batismo é Hung Kam-Bo. Antes de se tornar ator/lutador, coreógrafo de lutas, coordenador de dublês, diretor e produtor de filmes de artes marciais, Hung iniciou sua carreira como dublê. Sua participação em Enter The Dragon, de 1973, o deixou famoso. Logo na cena de abertura do filme, Hung enfrenta Bruce Lee. A cena foi incluída no filme posteriormente às filmagens terminadas, à pedido de Lee. 

Sammo Hung certamente não poderia ser o "novo" Bruce Lee com seu físico parrudo,
mas ele esbanjava muito talento e carisma.

O que chamava a atenção em Sammo Hung é que demonstrava bastante agilidade em suas lutas, apesar do evidente excesso de peso que não parecia dificultar suas performances. Suas atuações inclinavam-se para a sátira e comédia, foi o que o fez em “Enter The Fat Dragon”, de 1978, se fazendo passar por um fã alucinado de Bruce Lee que imitava todos os trejeitos e golpes de seu ídolo do kung fu. Outro filme popular de Hung é “My Lucky Stars”, de 1985, no qual divide o protagonismo com Jackie Chan e Yuen Biao. Estes dois também começaram suas respectivas carreiras como dublês.


12 – YUEN WAH – Nascido em 02 de setembro de 1950, na Hong Kong Britânica. Seu nome de Batismo é Ha Ling Chun. Como Sammo Hung, o dublê e acrobata, Yuen Wah, desenvolveu suas habilidades acrobáticas ainda quando adolescente quando se matriculou na Escola de Ópera Chinesa de Hong Kong, para em seguida se tornar dublê para o cinema e posteriormente ator/lutador, coreógrafo, coordenador de dublês e diretor de filmes de artes marciais.  Yuen Wah participou como dublê em inúmeros filmes no final dos anos de 1960 e na primeira metade da década de 1970, tendo o seu trabalho reconhecido por Bruce Lee que planejava montar o seu próprio grupo de dublês; incluindo na sua sonhada equipe, o próprio Yuen Wah, Sammo Hung e Jackie Chan. Bruce Lee contracena com Yuen Wah em Fist Of Fury, de 1972, onde Yuen se passa por um japonês invasor insolente, que é abatido junto com seus parceiros a socos e chutes pelo enfurecido Chen-je (Bruce Lee), na entrada do cemitério público de Xangai. Porém, o que deu mais notoriedade a Yuen Wah foi a descoberta de seu trabalho até então em descrédito em Enter the Dragon, de 1973. 

Muitos fãs ainda não se conformam, mas Yuen Wah era o cara do "back flip"
em "Enter The Dragon".

Yuen Wah teve uma participação produtiva em "Enter The Dragon".

Yuen Wah é o dublê de Bruce Lee por três vezes no filme, além de participar como extra nas lutas de Lee contra os guardas de Han. Na primeira cena de luta do filme entre Bruce Lee e Sammo Hung, o dublê acrobático intervém em dois saltos que se destacam durante e após a luta. Na primeira intervenção, Sammo Hung avança sobre Lee (Yuen Wah) com uma sequência de chutes, Yuen Wah se joga para trás em salto e, apoiando-se com as mãos, toma impulso contrário para a frente socando o rosto de Hung de volta em contra ataque. Na segunda ação de Yuen Wah substituindo Lee, foi no salto acrobático sobre alguns monges enfileirados com os braços levantados, após a luta de Lee com Sammo Hung. Mas o que deixou Yuen Wah mais  famoso, ainda que posteriormente, foi aquele “back flip” contra o vilão O’Hara (Bob Wall). Na cena, Lee é seguro pelos dois pés pelo vilão e antes de ser puxado ao chão, ele (aqui dublado por Yuen Wah) se lança no ar dando salto mortal para trás ao mesmo tempo em que chuta o rosto de O’Hara (Bob Wall). Muitos fãs ardorosos do Pequeno Dragão ainda se recusam a aceitar que aquele famoso “back flip” foi realizado por Yuen Wah e não por Bruce Lee, em Enter The Dragon.


13 – JASON SCOTT LEE – Nascido em 19 de novembro de 1966, em Los Angeles, Califórnia. Seu nome de Batismo é Jason Scott Lee. Apesar do “Lee” em seu nome, Jason não tem parentesco nem de longe com Bruce Lee. De porte físico bem avantajado e com seus 1,76 metros de altura, Jason não lembra em nada Bruce Lee, além dos olhos puxados. Mas foi ele o escolhido para representar Bruce Lee no primeiro filme biográfico de produção norte-americana intitulado, “Dragon: The Bruce Lee Story”, de 1993. Jason Scott Lee foi treinado intensivamente para as cenas de luta por Jerry Poteet (1936/2012), ex-aluno de Bruce Lee desde o final dos anos de  1960, e um dos pioneiros da escola original de Jeet Kune Do. 

Jason Scott Lee, uma versão mais "desajeitada" de Bruce Lee.


A perfomance de Jason no filme não compromete, já que a princípio tratava-se de uma homenagem sincera ao Pequeno Dragão, baseando-se nas memórias e consultoria de Linda Emery, viúva de Lee. Mas ao rever o filme, percebe-se que Jason não tinha a leveza e agilidade necessárias para o papel, sem contar que em certas cenas de luta, a dramaturgia e o exagero fictício se sobrepõe ao que realmente aconteceu. Mas no balanço geral o saldo, por pouco, ainda é positivo.


14 – DANNY CHAN – Nascido em 01 de agosto de 1975, na Hong Kong britânica. Seu nome de Batismo é Chan Kwok Kwan. Dependendo do ângulo de filmagem, o rosto, o físico e os movimentos de Danny Chan lembram muito a Bruce Lee, apesar de Chan dispor de um físico mais franzino e não ter, obviamente, o espetacular condicionamento físico ostentado pelo Pequeno Dragão. Danny Chan já se apresentava em propagandas esportivas na TV de Hong Kong explorando sua semelhança com Bruce Lee, mas ele se destacou internacionalmente a partir da série de TV (com 50 episódios) de 2008 Lançada em Hong Kong, intitulada “The Legend Of Bruce Lee”, que contou com a co produção de Shannon Lee, filha de Bruce Lee. 

Danny Chan tem uma incrível semelhança com Bruce Lee. E suas atuações
não comprometem, além de serem respeitosas.
A série é de boa qualidade, sem dúvida alguma, mas peca por inserir elementos fantasiosos e fictícios que chegam ao sobrenatural e, portanto, em muito foge da realidade dos fatos.  Danny Chan também participa  da cena final de “Ip Man 3”, quando o jovem Bruce Lee tem a primeira audiência com o mestre Ip Man; e tem uma participação maior em “Ip Man 4”, onde representa Bruce Lee estabelecido nos EUA em meados da década de 1960. De todos os clones de Bruce Lee já surgidos, Danny Chan está, sem contestação, entre melhores, se não for o melhor. Sua representação não é apelativa ou exagerada e ele é realmente um bom ator.


15 – AARIF LEE (ou Lee Chi Ting) – Nascido em 26 de fevereiro de 1987, na Hong Kong Britânica. Seu nome de Batismo é Aarif Rahman. De descendência árabe, malaia e chinesa, Aarif começou sua carreira artística como cantor, até que foi escolhido por Robert Lee, o irmão caçula de Bruce Lee, para ser o protagonista de “Bruce Lee, My Brother”, de 2010. O filme produzido por Robert, aborda a fase adolescente de Bruce Lee, meses antes dele ser mandado às pressas, pelo pai, para os EUA para exercer sua cidadania americana, já que ele estava correndo certos riscos em Hong Kong, por se envolver regularmente em brigas de gangs e ter espancado o filho de um membro da Triad. 

Aarif Lee se saiu bem e não ficando devendo em "Bruce Lee, My Brother",
apesar de não ser parecido com Lee.
Aarif Lee é antes de mais nada, um ator, mas não se compromete nas cenas de luta que não exige muito dele como um artista marcial que nunca foi. É um bom filme que traz uma ideia das tristezas e alegrias da família Lee antes, durante e depois do nascimento do Pequeno Dragão.


16 – PHILIP NG – Nascido em 16 de setembro de 1977, na Hong Kong Britânica e naturalizado cidadão norte-americano. Seu nome de Batismo é Ng Wan Lung. Ele foi convocado para encarnar Bruce Lee no filme “Birth Of The Dragon”, de 2016. O filme trata essencialmente do desafio lendário ocorrido em 1964, na cidade de Oakland, entre o jovem Bruce Lee e lutador chinês de Kung Fu recém chegado a San Francisco, Wong Jack Man, que supostamente defendia os interesses das escolas de Kung Fu tradicionais da Chinatown de San Francisco que não aceitavam a visão liberal de Bruce Lee no ensino das artes marciais chinesas em Oakland e região. Esse é um daqueles filmes que se traveste de homenagem, mas que na realidade deixa uma mensagem depreciativa subentendida. 

Philip Ng, um ator e lutador competente, mas foi envolvido
num filme mal intencionado.
Bruce Lee é representado aos 24 anos de idade, totalmente imaturo, arrogante e senhor de si em contraste com o desafiante, da mesma idade, com alto grau de maturidade e sabedoria, apesar de estar fugindo de um suposto assassinato numa disputa de artes marciais na China continental. Muita fantasia e inverdades cercam o filme, que claramente tentam promover a imagem obscura de Wong Jack Man (que morreu pouco depois da exibição da película) em detrimento da imagem de ídolo conquistada por Bruce Lee, por quase 50 anos. Philip Ng, treinado em Wing Chun, Hung Gar Kung Fu e Taekwondo, faz seu papel com competência, atuando e lutando  muito bem, mas ficou difícil engolir a imagem negativa que tentaram impor de Bruce Lee nas telas. Não vou mencionar as inverdades e fantasias exibidas no filme, porque seria chover no molhado.

Mike Moh, numa interpretação caricata que deixou milhares de fãs
pelo mundo muito irritados com a direção de Quentin Tarantino.
17 – MIKE MOH – Nascido em 19 de agosto de 1983, em Atlanta, na Georgia, EUA. Seu nome de Batismo é Mike Moh. Foi ele quem aceitou o desafio de representar Bruce Lee, na visão polêmica do diretor Quentin Tarantino, em “Once Upon A Time In Hollywood” , de 2019. De descendência coreana, Mike Moh é faixa preta de Taekwondo. Como seus antecessores e pioneiros de Hong Kong que também imitaram Bruce Lee, na sua curta e decepcionante participação no filme de Tarantino, Moh faz uma interpretação caricatural, quase cômica e nada agradável de Bruce Lee. Sob a direção do controverso cineasta, Mike Moh apresenta um Bruce Lee falastrão e arrogante até ser atirado contra um carro por um dublê que não aprovou suas palavras desmerecendo o boxeador e campeão mundial do pesos pesados, Muhammad Ali. 


Os poucos minutos da cena polêmica foi o suficiente para despertar a ira de milhões de fãs por todo o mundo, assim como a desaprovação de ex-alunos de JKD e da família de Lee. Quentin Tarantino sofreu uma enxurrada de críticas e mesmo assim não se desculpou claramente, apenas se justificou que sua versão de Bruce Lee foi baseado em relatos de pessoas que eram próximas à ele. Quando foi perguntado certa vez em entrevista sobre o que pensava sobre os filmes de Bruce Lee, o polêmico teria declarado que preferia as versões dos clones imitadores do que os filmes originais do Pequeno Dragão. E, pasmem, Tarantino se declara um “fã” de Bruce Lee...


Espero que tenham gostado desta postagem sobre os clones, imitadores e dublês de Bruce Lee. Se tivesse mais espaço e tempo, poderia ter conseguido incluir mais quatro ou cinco clones, como o Bruce K. L. Lea (Jun Chong), outro sul coreano faixa preta de Taekwondo e Hapkido, que protagonizou o infame “Bruce Lee Fights Back From The Grave”, de 1976; mais um em que “Bruce Lee” sai do túmulo para uma vingança. Temos também uma versão japonesa,  Bruce Bronson ou Bronson Lee (Tadashi Yamashita), faixa preta de Shorin-Ryu Karate, que era uma espécie de mistura de Bruce Lee e Charles Bronson. Mas acho que já está de bom tamanho. Vale lembrar novamente que neste mês de julho de 2020, fez 47 anos da morte do Pequeno Dragão, que foi clonado, copiado e imitado, mas nunca superado. Abraços à todos e Walk On!

Eumário J. Teixeira.