Que saudades
do verdadeiro e único Rei das Artes Marciais. Em 20 de julho de 2020, fez 47
anos da morte de Bruce Lee, o Pequeno Dragão. Quando foi anunciada oficialmente
sua surpreendente e misteriosa morte, em 1973,
abriu-se uma enorme lacuna que, até hoje, não foi preenchida. Foi uma
enorme perda para a indústria cinematográfica de Hong Kong na época e
principalmente para o gênero de Artes Marciais que crescia assustadoramente,
sem mencionar o doloroso impacto sentido pelos fãs de Bruce Lee por toda a Ásia
e, em pouco tempo, por todo o planeta que viria a conhecer o seu enorme talento,
ironicamente, após o lançamento quase simultâneo com sua a morte de sua obra
definitiva, Operação Dragão (Enter the Dragon – 1973). E, lamentavelmente,
Bruce Lee não viveu para ter consciência de seu estrondoso sucesso a nível
mundial.
Mas a vida
seguiu o seu curso e a indústria cinematográfica de Hong Kong não deixaria de
obter algum lucro, mesmo que fosse para explorar sua curta, mas consagrada
carreira, assim como sua memória e morte trágica. Seguiu-se então uma caça à
atores/lutadores que tinham alguma semelhança física com Lee e que poderiam
imitar os seus gestos, movimentos, golpes e expressões faciais característicos
que o tornaram tão querido pelos fãs dos filmes de Kung Fu por todo o planeta.
Num misto de
tributos honestos e duvidosos, comédias e até deboches, foram lançados inúmeros
filmes com os mais variados e bizarros clones ou imitadores do Pequeno Dragão que
suaram para chegar próximo ao que Lee demonstrou nas telas com tanta
naturalidade, competência, paixão e honestidade, por breves, mas intensos três
anos.
Alguns
poucos filmes biográficos foram feitos seguindo um roteiro que tentava
reproduzir a trajetória meteórica de Bruce Lee. Um ou outro ainda realizado na
década de 1970, tentou ser na medida do possível fiel aos fatos, ainda que
enxertando muitos elementos fictícios.
Outras
películas deixavam a realidade de lado e apostavam na fantasia, fazendo de Brue
Lee algo próximo de um super-herói justiceiro. Não satisfeitos, alguns
produtores ainda debochavam de sua memória fazendo-o ressuscitar da morte para
enfrentar seres sobrenaturais vindo do inferno, uma amostra dos muitos roteiros
oportunistas e de mal gosto, dignos de repulsa.
Outros
cineastas de Hong Kong jogavam ainda mais baixo, explorando em suas versões pseudo
biográficas os casos amorosos e extra conjugais de Bruce Lee, dando ênfase ao
seu relacionamento com a atriz Betty Ting-Pei e com as drogas ilícitas. A atriz
por sua vez, que sempre negou, mas acabou por confessar seu envolvimento
amoroso com Bruce Lee poucos anos atrás, chegou a trabalhar em alguns destes filmes
biográficos representando ela mesmo. No final o dinheiro sempre favorece sobre
a ética e o amor, não é mesmo?
Nas décadas
mais recentes surgiram algumas produções que se propunham resgatar verdadeiramente
a memória do Rei das Artes Marciais. Mas mesmo com algumas produções de boa
qualidade e contando com bons atores sob direção competente, ainda que sob a
supervisão de parentes e amigos próximos à Bruce Lee, a maioria deixou a
desejar. O erro fatal em quase todas obras eram as narrativas que fugiam dos
fatos, da veracidade e realidade da vida de Bruce Lee e, em alguns roteiros
maldosos, chegaram a retratá-lo como uma pessoa arrogante e imatura. Era como
se a vida do Pequeno Dragão precisasse de adições de elementos fictícios,
dramáticos e até sobrenaturais para enriquecer sua rica e inspiradora história,
o que é um absurdo e um desrespeito, a meu ver.
Mas, de
qualquer maneira, me proponho aqui a fazer uma amostragem de alguns filmes e dos
mais conhecidos atores/lutadores (clones, imitadores e dublês) que surgiram no
rastro do maior astro de filmes de artes marciais que passou por esse planeta,
o inimitável e insuperável, Bruce Lee! Espero que aprovem mais esse trabalho de
pesquisa.
- Os 17
Clones, Imitadores e Dublês de Bruce Lee – Uma galeria bizarra de clones que
tentaram se promover no rastro do Pequeno Dragão e algumas amostras das “obras
duvidosas” que oscilavam entre um humilde, mas honesto tributo, a um deboche de
mal gosto, exibidos nas últimas décadas a partir da morte do Rei das Artes
Marciais em 1973.
01 – DANNY
LEE - Nascido em 06 de agosto de 1952, em Xangai, na China Continental
Comunista. Seu nome de batismo é Lee Sau-Yin (ou Li Hsiu-Hsien). Danny Lee tinha leve semelhança com Bruce
Lee, reforçada pelo corte de cabelo e os óculos escuros. Não tinha o porte
físico atlético mas era ágil, apesar de não ter conseguido “captar” os
movimentos e trejeitos de Bruce Lee com sucesso. Mas ele foi o escolhido para
protagonizar o filme “Bruce Lee And I” (ou “Bruce Lee – His Last Days, His Last
Nights”) de 1975, dois anos após a morte de Bruce Lee, contando ainda com a
participação da atriz Betty Ting-Pei que representou ela mesma, num testemunho
cinematográfico de suas confidências, romance e sexo com Bruce Lee. O filme logo
no início passa apresentar Betty Ting-Pei como a autêntica “viúva” de Lee
remoendo as dores à beira-mar, para logo em seguida mostrar Bruce Lee
consumindo marijuana e outras drogas durante os encontros amorosos e sexuais
com Betty Ting-Pei.
A versão polêmica com Betty Ting-Pei tinha sexo, drogas e Kung Fu. |
A narrativa mostra a vida noturna de Lee por conta de
eventos promocionais e uma constante importunação por membros da máfia chinesa.
Betty Tin-Pei tenta se representar como uma verdadeira “vítima” de perseguições
durante a estória contada no filme, antes, durante e após a morte de Bruce Lee.
É sabido que a ex atriz de filmes picantes foi acusada pela imprensa marrom e
fãs de ter relações com a máfia Triad e participado ou conspirado para a morte
misteriosa de Lee. Em nenhum momento no filme há alguma referência sobre a
família de Bruce, ou seja, sua esposa Linda e os filhos Brandon e Shannon. Um
verdadeiro golpe baixo por parte da produtora Shaw Brothers, rival da Golden
Harvest de Raymond Chow, que apostou no talento de Lee. Parece ser este o único
filme de “bruceploitation” de Danny Lee que se saiu bem nas cenas de lutas
dirigidas com competência.
02 – BRUCE
LI – Nascido em 05 de junho de 1950, em Ping Tung, Taiwan. Seu nome de batismo
é Ho Chung-Tao ou Ho Chung-Dao. Apesar de não parecer com Bruce Lee
fisionomicamente e não ter o mesmo tipo físico, Bruce Li parecia ser o mais
esforçado e honesto em seu trabalho de imitação, sem exageros nos trejeitos e
expressões faciais. Fez inúmeros filmes que de certa forma retratavam a imagem
de Bruce Lee e alguns poucos que foram de cunho biográfico. Sua melhor
performance está no seu melhor filme que foi intitulado “Bruce Lee – The Man
The Mith”, de 1976, conhecido também como “Bruce Lee – True Story”, com
participação de Unicorn Chan (amigo de infância de Bruce Lee).
Bruce Li fez uma razoável versão biográfica de Bruce Lee em "Bruce Lee - The Man The Myth". |
Outro filme
assistível é “The Chinese Stunt Man, de 1981, com a surpreendente participação
do aluno de Bruce Lee e instrutor de Jeet Kune Do e artes marciais filipinas,
Dan Inosanto. Outros filmes de
Bruce Li são: “New Game of Death” (ou “Goodbye Bruce Lee”), de 1975; “Exit The
Dragon, Enter The Tiger”, de 1976; e “Fist Of Fury Part 2”, de 1977. Depois
de muito imitar Bruce Lee, o ator largou a carreira de protagonista de filmes
de kung Fu, preferindo ser reconhecido apenas pelo seu verdadeiro nome. Ho
Chung-Tao parece ser o mais respeitado dos imitadores de Bruce Lee surgidos na
década de 1970. Aos 40 anos idade, ele se aposentou dos filmes de kung fu,
decepcionado com suas imitações de Bruce Lee. Ele declarou: “Eu poderia agir
como ele, mas nunca poderia ser ele”.
03 – BRUCE
LE – Nascido em 10 de março de 1956, na Birmânia, no Sudeste Asiático. Seu nome
de batismo é Wong Kin-Lung ou Huang Jian-Long. Além de ser considerado um dos
mais famosos clones de Bruce Lee made in Hong Kong, sendo superado apenas por “Bruce
Li”, fazia de sua imitação exagerada e caricatural uma atração à parte. Sua
melhor performance talvez esteja em “Bruce’s Deadly Fingers”, de 1976, no qual
teve a participação, inesperada por muitos, do mestre Wong Shun Leung, que foi
o aluno avançado de Ip Man e instrutor particular de Wing Chun Kung Fu de Bruce
Lee. O interessante é que Bruce Lee em vida e há poucos meses de sua morte,
havia convidado Wong para participar de seu filme “O Jogo da Morte” como um dos
mestres lutadores guardiões do pagode que ele enfrentaria. Mas Wong se recusou,
dizendo na época, que nunca participaria de filmes de artes marciais. Wong
mudou de ideia três anos depois.
O Mestre Wong Shun Leung recusou convite de Bruce Lee para filmar The Game of Death, mas aceitou participar de uma "sátira" com "Bruce Le", três anos depois da morte do amigo. |
Em “Bruce’s Deadly Fingers”, de 1976, Bruce
Lee é retratado com imaturo e inconsequente ator/lutador de filmes de artes
marciais famoso que vai em busca dos conselhos e instruções de seu mestre, no
caso, Wong. Outros filmes “apreciados” de Bruce Le são: “Return Of Bruce Lee”,
1977; “My Name Called Bruce”, de 1978; “Enter The Game Of Death”, de 1978; e
“The Clones Of Bruce Lee”, de 1979, onde reúnem-se num só filme quatro clones
do Pequeno Dragão, a saber: Bruce Le, Bruce Lai, Bruce Thai e Dragon Lee.
Contando ainda com a participação de Bolo Yeung (ou Yang Sze).
04 – DRAGON
LEE (ou Bruce Lei) – Nascido em 12 de agosto de 1958, em Seosan, na Coréia do
Sul. Seu nome de batismo é Moon Kyong-Seok. Faixa preta de Taekwondo (e aluno
do mestre coreano, também ator, Hwang Jang-Lee), ele pode ser considerando o
terceiro mais popular clone de Bruce Lee da Era de Ouro de Hong Kong, depois de
“Bruce Li” e “Bruce Le”, é claro. O que chamava a atenção de Dragon Lee não
eram o seu físico avantajado ou os golpes estilosos que desferia, mas as
caretas que fazia.
Um dos mais queridos clones de Bruce Lee foi Dragon Lee, pois apesar das caretas e exageros nas performances, ele era bom de briga. |
Esse imitador de Bruce Lee reproduzia todas aquelas
expressões de Bruce Lee com alto grau de exagero, ou seja, dizer que eram
caricaturais ainda é pouco, era cômico mesmo. De seus filmes mais famosos, se
destacam: “The Clones Of Bruce Lee”, de
1979, um clássico do “bruceploitation”, onde dividiu o protagonismo com “Bruce
Le”, “Bruce Lai” e “Bruce Thai”. Outros filmes cotados de Dragon Lee são: “The
Real Bruce Lee”, de 1977; “The Last Fist
Of Fury”, de 1977; “Enter Three Dragons, de 1978”, onde dividiu o protagonismo
com “Bruce Lai”; “Kung Fu Fever”, de 1979; e “The Big Boss 2”, de 1981. O
karateca negro e campeão norte-americano, Ron Van Clief, participou como vilão
em “Kung Fu Fever”.
05 – BRUCE
LAI – Nascido em 05 de maio de 1950, na Coréia do Sul. Seu nome de Batismo é
Chang Yi-Tao ou Chang Il-Do (em coreano). O que se sabe sobre Bruce Lai é que era
faixa preta de Tang Soo Do (o mesmo estilo de Chuck Norris) e que faleceu de
câncer em em 31 de dezembro de 2014, aos 64 anos. Seus filmes de destaques imitando
Bruce Lee são apenas “Enter Three Dragons”, 1978, protagonizando junto com
“Dragon Lee”; e “The Clones Of Bruce Lee”, de 1979, no qual dividiu o protagonismo com “Bruce Le”, “Bruce
Thai” e “Dragon Lee”.
Bruce Lai, mais discreto, não teve o reconhecimento merecido como um dos melhores clones de Bruce Lee. Era muito técnico e lembrava de certa forma o Pequeno Dragão em ação. |
Bruce Lai chamava a atenção na sua imitação de Bruce Lee,
pois tinha um tipo físico parecido, era ágil e desferia os chutes com
facilidade, rapidez e com muita técnica. Em certos momentos poder-se-ia até
lembrar do Pequeno Dragão em ação. Sem
dúvidas, Chang Yi-Tao foi um dos que mais se destacaram no universo do
bruceploitation. Ironicamente, seu talento só seria reconhecido mais tarde em
filmes que não exploravam a memória de Bruce Lee.
06 – BRUCE
THAI – Nascido em data desconhecida, mas provavelmente na Tailândia. Seu nome
de Batismo é também desconhecido. Estima-se que poderia ser de origem tailandesa
devido ao sobrenome artístico “Thai”.
Bruce Thai, não se sabe até hoje porque foi considerado o Bruce Lee da Tailândia. |
Seu único filme de “relevância” e que é
conhecido, é justamente “The Clones Of Bruce Lee”, de 1979, onde protagoniza
junto com “Bruce Le”, “Bruce Lai” e “Dragon Lee”. No filme, os clones chineses
(Le e Lai) vão à Tailândia dar uma ajuda ao clone nativo (Thai).
07 – BRUCE
LEUNG – Nascido em 28 de abril de 1948, na Hong Kong britânica. Seu nome de
Batismo é Leung Choi-Sang ou Leung Siu Long. Esse ator/lutador em particular
não tem semelhança alguma com Bruce Lee e muito menos lembrava seus movimentos,
trejeitos e expressões faciais característicos. No entanto, ele foi
protagonista de um dos filmes mais bizarros e de extremo mal gosto que
exploravam a popularidade e a morte de Bruce Lee. A “obra” foi denominada “The
Dragon Lives Again”, de 1977.
Bruce Leung só tinha mesmo no nome alguma coisa que lembrava Bruce Lee. Quanto ao resto, é melhor esquecer... |
No enredo, Bruce Lee levantava-se de seu túmulo
para enfrentar uma série de inimigos famosos e sobrenaturais, como um pistoleiro
que lembrava Clint Eastwood, James Bond, Drácula, múmias, Popeye, Kwai Chang
Caine e até anões. Uma das piores películas já produzidas em Hong Kong, sem
dúvidas. Se você considerar “aquilo” como filme C, trash e cômico, dá até para
assistir, desde que você não tenha nada melhor para ver ou fazer. Bruce Leung
não se atreveu a fazer alguma outra coisa que ultrajasse o nome de Bruce Lee.
08 – CHEN
YAO PO – Nascido em data e locais desconhecidos, provavelmente na Hong Kong
britânica. Seu Nome de Batismo é mesmo Chen Yao Po, porém é também conhecido pelo
nome artístico, Albert Sham. Pelo que consta é apenas um ator dramático, não é
lutador ou teve algum treinamento específico em artes marciais.
Chen Yao Po sendo maquiado para parecer Bruce Lee, nem que fosse de longe... |
Chen Yao Po foi um dos três dublês que se passaram por Bruce Lee em The Game of Death, de 1978. |
Sua contratação
foi especificamente para as cenas com diálogo em “The Game Of Death”, de 1978,
nas quais usava óculos escuros semelhantes ao que Bruce Lee tinha. Tinha o
mesmo corte de cabelo, mas uma semelhança mínima com Bruce Lee mesmo se
filmando de longe e com pouca iluminação. Ele foi um dos três “sósias” usados neste
filme.
09 – KIM TAI
CHUNG (Kim Tai Jong) - Nascido em 05 de junho de 1957, em Pusan, na Coréia do
Sul. Seu nome coreano de Batismo é Kim Tae-Jong e é chamado também pelo nome
artístico, Tong Lung. Era faixa preta de Taekwondo. Faleceu em 27 de agosto de
2011, em Seul, na Coréia do Sul, em decorrência de Hemorragia Estomacal, aos 57 anos. Participou de “The Game Of
Death”, de 1978, como um dos três “sósias” usados para complementar as cenas do
filme inacabado de Bruce Lee.
Kim Tai Chung (Billy Lo) enfrenta o vilão interpretado por Hugh O'Brian em The Game Of Death, de 1978. |
O coreano Kim Tai Chung foi o "espírito" de Bruce Lee em "No Retreat, No Surrender", de 1986. |
Kim Tai Chung foi um dos três dublês de Bruce Lee em "The Game of Death", de 1978; e foi o irmão de Billy Lo (Bruce Lee) em "The Game of Death II", de 1981. |
Kim Tai Chung fez algumas cenas de luta (com
óculos e barba postiça) em ambientes abertos e outras vestindo um macacão
amarelo semelhante ao usado por Bruce Lee nas cenas originais. Outros filmes de
destaque dele foram “The Game Of Death II” (Tower Of Death), de 1981, no qual
ele se passava pelo irmão de Billy Lo (Bruce Lee) assassinado; e “No Retreat,
No Surrender”, de 1986, onde Kim representava o “espírito” de Bruce Lee que
ensinava seu estilo de luta para um jovem artista marcial que teria que
enfrentar um campeão russo, no caso, Jean Claude Van Damme. Kim Tai Chung se entregava com muito dinamismo em suas atuações e exibia grande técnica nos seus chutes laterais, diretos, circulares e em gancho, exibidos principalmente em The Game of Death II.
10 – YUEN
BIAO – Nascido em 26 de julho de 1957, na Hong Kong Britânica. Seu nome de
Batismo é Ha Ling Chun. Antes de ser um ator/lutador, Yuen era um acrobata. Foi
por isso que ele foi chamado para fazer as cenas com saltos acrobáticos que Kim
Tai Chung, vestido com o macacão amarelo, não poderia realizar nas lutas do pagode,
em “The Game Of Death”, de 1978.
Yuen Biao (Billy Lo) se virando para escapar dos golpes da lâmina do ator Hugh O'Brian em The Game Of Death (1978). |
Yuen Biao foi um dos três dublês de Bruce Lee no filme "The Game of Death", de 1978. Ele fazia as acrobacias que Kim Tai Chung (outro dublê) não podia realizar. |
Um filme relativamente conhecido que Yuen Biao
protagonizou, foi “My Lucky Stars”, de 1985, ao lado de Jackie Chan e Sammo
Hung. Eles já eram um trio pioneiro e consagrado de dublês revelado pela
indústria cinematográfica de Hong Kong na década de 1960/70.
11 – SAMMO
HUNG - Nascido em 07 de janeiro de 1952,
na Hong Kong Britânica. Seu nome de Batismo é Hung Kam-Bo. Antes de se tornar
ator/lutador, coreógrafo de lutas, coordenador de dublês, diretor e produtor de
filmes de artes marciais, Hung iniciou sua carreira como dublê. Sua
participação em Enter The Dragon, de 1973, o deixou famoso. Logo na cena de
abertura do filme, Hung enfrenta Bruce Lee. A cena foi incluída no filme posteriormente
às filmagens terminadas, à pedido de Lee.
Sammo Hung certamente não poderia ser o "novo" Bruce Lee com seu físico parrudo, mas ele esbanjava muito talento e carisma. |
O que chamava a atenção em Sammo Hung
é que demonstrava bastante agilidade em suas lutas, apesar do evidente excesso
de peso que não parecia dificultar suas performances. Suas atuações
inclinavam-se para a sátira e comédia, foi o que o fez em “Enter The Fat
Dragon”, de 1978, se fazendo passar por um fã alucinado de Bruce Lee que
imitava todos os trejeitos e golpes de seu ídolo do kung fu. Outro filme
popular de Hung é “My Lucky Stars”, de 1985, no qual divide o protagonismo com
Jackie Chan e Yuen Biao. Estes dois também começaram suas respectivas carreiras
como dublês.
12 – YUEN
WAH – Nascido em 02 de setembro de 1950, na Hong Kong Britânica. Seu nome de
Batismo é Ha Ling Chun. Como Sammo Hung, o dublê e acrobata, Yuen Wah,
desenvolveu suas habilidades acrobáticas ainda quando adolescente quando se
matriculou na Escola de Ópera Chinesa de Hong Kong, para em seguida se tornar
dublê para o cinema e posteriormente ator/lutador, coreógrafo, coordenador de
dublês e diretor de filmes de artes marciais.
Yuen Wah participou como dublê em inúmeros filmes no final dos anos de
1960 e na primeira metade da década de 1970, tendo o seu trabalho reconhecido
por Bruce Lee que planejava montar o seu próprio grupo de dublês; incluindo na
sua sonhada equipe, o próprio Yuen Wah, Sammo Hung e Jackie Chan. Bruce Lee contracena
com Yuen Wah em Fist Of Fury, de 1972, onde Yuen se passa por um japonês
invasor insolente, que é abatido junto com seus parceiros a socos e chutes pelo
enfurecido Chen-je (Bruce Lee), na entrada do cemitério público de Xangai. Porém,
o que deu mais notoriedade a Yuen Wah foi a descoberta de seu trabalho até
então em descrédito em Enter the Dragon, de 1973.
Muitos fãs ainda não se conformam, mas Yuen Wah era o cara do "back flip" em "Enter The Dragon". |
Yuen Wah teve uma participação produtiva em "Enter The Dragon". |
Yuen Wah é o dublê de Bruce
Lee por três vezes no filme, além de participar como extra nas lutas de Lee
contra os guardas de Han. Na primeira cena de luta do filme entre Bruce Lee e
Sammo Hung, o dublê acrobático intervém em dois saltos que se destacam durante
e após a luta. Na primeira intervenção, Sammo Hung avança sobre Lee (Yuen Wah)
com uma sequência de chutes, Yuen Wah se joga para trás em salto e, apoiando-se
com as mãos, toma impulso contrário para a frente socando o rosto de Hung de
volta em contra ataque. Na segunda ação de Yuen Wah substituindo Lee, foi no
salto acrobático sobre alguns monges enfileirados com os braços levantados,
após a luta de Lee com Sammo Hung. Mas o que deixou Yuen Wah mais famoso, ainda que posteriormente, foi aquele
“back flip” contra o vilão O’Hara (Bob Wall). Na cena, Lee é seguro pelos dois
pés pelo vilão e antes de ser puxado ao chão, ele (aqui dublado por Yuen Wah)
se lança no ar dando salto mortal para trás ao mesmo tempo em que chuta o rosto
de O’Hara (Bob Wall). Muitos fãs ardorosos do Pequeno Dragão ainda se recusam a
aceitar que aquele famoso “back flip” foi realizado por Yuen Wah e não por
Bruce Lee, em Enter The Dragon.
13 – JASON
SCOTT LEE – Nascido em 19 de novembro de 1966, em Los Angeles, Califórnia. Seu
nome de Batismo é Jason Scott Lee. Apesar do “Lee” em seu nome, Jason não tem
parentesco nem de longe com Bruce Lee. De porte físico bem avantajado e com
seus 1,76 metros de altura, Jason não lembra em nada Bruce Lee, além dos olhos
puxados. Mas foi ele o escolhido para representar Bruce Lee no primeiro filme biográfico
de produção norte-americana intitulado, “Dragon: The Bruce Lee Story”, de 1993.
Jason Scott Lee foi treinado intensivamente para as cenas de luta por Jerry
Poteet (1936/2012), ex-aluno de Bruce Lee desde o final dos anos de 1960, e um dos pioneiros da escola original
de Jeet Kune Do.
Jason Scott Lee, uma versão mais "desajeitada" de Bruce Lee. |
A perfomance de Jason no filme não compromete, já que a
princípio tratava-se de uma homenagem sincera ao Pequeno Dragão, baseando-se
nas memórias e consultoria de Linda Emery, viúva de Lee. Mas ao rever o filme,
percebe-se que Jason não tinha a leveza e agilidade necessárias para o papel,
sem contar que em certas cenas de luta, a dramaturgia e o exagero fictício se
sobrepõe ao que realmente aconteceu. Mas no balanço geral o saldo, por pouco, ainda
é positivo.
14 – DANNY
CHAN – Nascido em 01 de agosto de 1975, na Hong Kong britânica. Seu nome de
Batismo é Chan Kwok Kwan. Dependendo do ângulo de filmagem, o rosto, o físico e
os movimentos de Danny Chan lembram muito a Bruce Lee, apesar de Chan dispor de
um físico mais franzino e não ter, obviamente, o espetacular condicionamento
físico ostentado pelo Pequeno Dragão. Danny Chan já se apresentava em
propagandas esportivas na TV de Hong Kong explorando sua semelhança com Bruce
Lee, mas ele se destacou internacionalmente a partir da série de TV (com 50
episódios) de 2008 Lançada em Hong Kong, intitulada “The Legend Of Bruce Lee”,
que contou com a co produção de Shannon Lee, filha de Bruce Lee.
Danny Chan tem uma incrível semelhança com Bruce Lee. E suas atuações não comprometem, além de serem respeitosas. |
A série é de
boa qualidade, sem dúvida alguma, mas peca por inserir elementos fantasiosos e
fictícios que chegam ao sobrenatural e, portanto, em muito foge da realidade
dos fatos. Danny Chan também
participa da cena final de “Ip Man 3”,
quando o jovem Bruce Lee tem a primeira audiência com o mestre Ip Man; e tem
uma participação maior em “Ip Man 4”, onde representa Bruce Lee estabelecido
nos EUA em meados da década de 1960. De todos os clones de Bruce Lee já
surgidos, Danny Chan está, sem contestação, entre melhores, se não for o
melhor. Sua representação não é apelativa ou exagerada e ele é realmente um bom
ator.
15 – AARIF
LEE (ou Lee Chi Ting) – Nascido em 26 de fevereiro de 1987, na Hong Kong
Britânica. Seu nome de Batismo é Aarif Rahman. De descendência árabe, malaia e
chinesa, Aarif começou sua carreira artística como cantor, até que foi
escolhido por Robert Lee, o irmão caçula de Bruce Lee, para ser o protagonista
de “Bruce Lee, My Brother”, de 2010. O filme produzido por Robert, aborda a
fase adolescente de Bruce Lee, meses antes dele ser mandado às pressas, pelo
pai, para os EUA para exercer sua cidadania americana, já que ele estava
correndo certos riscos em Hong Kong, por se envolver regularmente em brigas de
gangs e ter espancado o filho de um membro da Triad.
Aarif Lee se saiu bem e não ficando devendo em "Bruce Lee, My Brother", apesar de não ser parecido com Lee. |
Aarif Lee é antes de mais
nada, um ator, mas não se compromete nas cenas de luta que não exige muito dele
como um artista marcial que nunca foi. É um bom filme que traz uma ideia das
tristezas e alegrias da família Lee antes, durante e depois do nascimento do
Pequeno Dragão.
16 – PHILIP
NG – Nascido em 16 de setembro de 1977, na Hong Kong Britânica e naturalizado
cidadão norte-americano. Seu nome de Batismo é Ng Wan Lung. Ele foi convocado
para encarnar Bruce Lee no filme “Birth Of The Dragon”, de 2016. O filme trata
essencialmente do desafio lendário ocorrido em 1964, na cidade de Oakland,
entre o jovem Bruce Lee e lutador chinês de Kung Fu recém chegado a San
Francisco, Wong Jack Man, que supostamente defendia os interesses das escolas de
Kung Fu tradicionais da Chinatown de San Francisco que não aceitavam a visão
liberal de Bruce Lee no ensino das artes marciais chinesas em Oakland e região.
Esse é um daqueles filmes que se traveste de homenagem, mas que na realidade
deixa uma mensagem depreciativa subentendida.
Philip Ng, um ator e lutador competente, mas foi envolvido num filme mal intencionado. |
Bruce Lee é representado aos 24
anos de idade, totalmente imaturo, arrogante e senhor de si em contraste com o
desafiante, da mesma idade, com alto grau de maturidade e sabedoria, apesar de
estar fugindo de um suposto assassinato numa disputa de artes marciais na China
continental. Muita fantasia e inverdades cercam o filme, que claramente tentam
promover a imagem obscura de Wong Jack Man (que morreu pouco depois da exibição
da película) em detrimento da imagem de ídolo conquistada por Bruce Lee, por
quase 50 anos. Philip Ng, treinado em Wing Chun, Hung Gar Kung Fu e Taekwondo,
faz seu papel com competência, atuando e lutando muito bem, mas ficou difícil engolir a imagem
negativa que tentaram impor de Bruce Lee nas telas. Não vou mencionar as
inverdades e fantasias exibidas no filme, porque seria chover no molhado.
Mike Moh, numa interpretação caricata que deixou milhares de fãs pelo mundo muito irritados com a direção de Quentin Tarantino. |
17 – MIKE
MOH – Nascido em 19 de agosto de 1983, em Atlanta, na Georgia, EUA. Seu nome de
Batismo é Mike Moh. Foi ele quem aceitou o desafio de representar Bruce Lee, na
visão polêmica do diretor Quentin Tarantino, em “Once Upon A Time In Hollywood”
, de 2019. De descendência coreana, Mike Moh é faixa preta de Taekwondo. Como
seus antecessores e pioneiros de Hong Kong que também imitaram Bruce Lee, na
sua curta e decepcionante participação no filme de Tarantino, Moh faz uma
interpretação caricatural, quase cômica e nada agradável de Bruce Lee. Sob a
direção do controverso cineasta, Mike Moh apresenta um Bruce Lee falastrão e
arrogante até ser atirado contra um carro por um dublê que não aprovou suas
palavras desmerecendo o boxeador e campeão mundial do pesos pesados, Muhammad
Ali.
Os poucos minutos da cena polêmica foi o suficiente para despertar a ira
de milhões de fãs por todo o mundo, assim como a desaprovação de ex-alunos de
JKD e da família de Lee. Quentin Tarantino sofreu uma enxurrada de críticas e
mesmo assim não se desculpou claramente, apenas se justificou que sua versão de
Bruce Lee foi baseado em relatos de pessoas que eram próximas à ele. Quando foi
perguntado certa vez em entrevista sobre o que pensava sobre os filmes de Bruce
Lee, o polêmico teria declarado que preferia as versões dos clones imitadores
do que os filmes originais do Pequeno Dragão. E, pasmem, Tarantino se declara
um “fã” de Bruce Lee...
Espero que
tenham gostado desta postagem sobre os clones, imitadores e dublês de Bruce Lee.
Se tivesse mais espaço e tempo, poderia ter conseguido incluir mais quatro ou
cinco clones, como o Bruce K. L. Lea (Jun Chong), outro sul coreano faixa preta
de Taekwondo e Hapkido, que protagonizou o infame “Bruce Lee Fights Back From
The Grave”, de 1976; mais um em que “Bruce Lee” sai do túmulo para uma
vingança. Temos também uma versão japonesa,
Bruce Bronson ou Bronson Lee (Tadashi Yamashita), faixa preta de
Shorin-Ryu Karate, que era uma espécie de mistura de Bruce Lee e Charles
Bronson. Mas acho que já está de bom tamanho. Vale lembrar novamente que neste
mês de julho de 2020, fez 47 anos da morte do Pequeno Dragão, que foi clonado,
copiado e imitado, mas nunca superado. Abraços à todos e Walk On!
Eumário J.
Teixeira.