Enter the Dragon

domingo, 9 de setembro de 2018

BRUCE LEE, O USO DO EMS (ESTIMULADOR MUSCULAR ELÉTRICO) E OUTROS EXPERIMENTOS CIENTÍFICOS.



Bruce Lee era conhecido pelos seus talentos marciais e também pelo seu método de treinamento físico revolucionário, inovador e muitas vezes polêmico para a época. Desde quando retornou à Hong Kong em meados de 1971 para iniciar sua carreira vencedora, ainda que breve, como o astro maior dos filmes de Kung Fu, ele percebeu que o tempo destinado ao treinamento pessoal para a manutenção de sua excelente condição física e técnica, seria drasticamente reduzido em razão dos seus compromissos com as filmagens, ensaios, estudo de roteiros, compromissos sociais, profissionais, promocionais e diversos outros fatores que incluíam, inclusive, penalidades como a perda de privacidade e do anonimato. Apesar dele ser rigoroso e pontual em seus treinamentos na sua casa em Kowloon, onde montou uma pequena academia com aparelhos dos mais variados e sofisticados para a época, Bruce Lee procurava compensar  sua ausência eventual da sala de treinamento com uma alternativa revolucionária e assustadora (para muitos) em meados dos anos de 1970. Bruce passou a utilizar o método EMS (Eletrical Muscular Stimulation) ou Estimulação Muscular Elétrica. Seu objetivo era manter ou mesmo aumentar sua força muscular e velocidade nos golpes com o método inovador.

No filme "Dragão - A História de Bruce Lee, Jason Scott Lee (Bruce Lee) utiliza um
aparelho de EMS enquanto trabalha no roteiro de O Jogo Da Morte.
No filme, “Dragão – A História de Bruce Lee” (1994),  Bruce Lee (Jason Scott Lee) é surpreendido por seu amigo (fictício), Bill Krieger (Robert Wagner), enquanto trabalhava no roteiro de “O Jogo da Morte” em seu escritório na Golden Harvest, ao mesmo tempo em que recebia estimulação muscular elétrica através de eletrodos conectados num aparelho. Então, Bruce Lee (Jason Scott Lee) faz uma observação: “Três minutos disso (EMS) equivale a 200 flexões”. A seguir pergunta ao amigo se ele quer experimentar. O fato encenado se deu no final de 1972, após as filmagens de O Voo do Dragão.

O clone mais famoso de Bruce Lee, conhecido como Bruce Li utiliza algumas
máquinas bizarras para aumentar a potência de seus golpes.
Num dos vários filmes com algum conteúdo biográfico sobre Bruce Lee,
em "Bruce Lee - O Homem, o Mito", o clone Bruce Li busca dolorosamente
seus limites no uso do aparelho EMS.
Alguns filmes biográficos, de qualidade duvidosa, feitos em Hong Kong expuseram a nova obsessão de Bruce com o aparelho de EMS. No filme “Bruce Lee - o Homem, o Mito” (Bruce Lee – The Man, The Mith - 1976),  com “Bruce Li” (Ho Chung-Tao), algumas cenas mostram Bruce (Bruce Li) se submetendo a um treinamento doloroso e desgastante com o EMS. Outras máquinas bizarras foram exibidos em diferentes filmes com conteúdo biográfico com o mesmo Bruce Li. Mas, certamente, a maioria de tais engenhocas eram frutos da imaginação fértil de algum roteirista.

Bruce Lee atuando em O Voo do Dragão em 1972. Apesar de ter perdido muito peso
desde as filmagens de O Dragão Chinês em 1971, Bruce exibia um físico invejável.
Segundo consta nesta época ele já era adepto do EMS.
É sabido que, em 1972, o fundador da Flextone, James Garvey, vendeu a Bruce Lee o seu primeiro aparelho de EMS profissional. Vinte e um anos depois, a Flextone vendeu outros aparelhos para a Valencia Studios, da Califórnia, em 1993, para a produção do filme Dragão – A História de Bruce Lee, com Jason Scott Lee. Especialistas afirmam que o EMS usado regularmente por Bruce Lee nos últimos dois anos de sua vida contribuíram para sua magnífica estrutura e definição muscular, como também  para o aumento da potência e velocidade de seus golpes.
Então não é exagero dizer que Bruce Lee foi também o “pai” da tendência moderna do EMS.
Mas o que é precisamente o EMS, sua finalidade e seus riscos para a saúde humana?

Aparelhos modernos de EMS. Utilizados inclusive pelo jogador de futebol português,
Cristiano Ronaldo.
EMS (Estimulação Muscular Elétrica), o que é? – O EMS é uma tecnologia essencialmente simples. Impulsos elétricos que são gerados por uma unidade EMS são distribuídos através de eletrodos, que aplicados diretamente sobre o grupo de músculos escolhidos para trabalhar, podem aumentar o seu tônus e contribuir para a sua melhor definição muscular. Esses impulsos elétricos são semelhantes aos impulsos nervosos e têm potencial de ação semelhantes aos que são gerados pelo nosso sistema nervoso central. Nossos músculos reagem a esses impulsos por meio de contrações ou espasmos. O método EMS já foi conhecido como “ginástica passiva”. Os impulsos elétricos geram contrações musculares de baixa frequência, capazes de atingir fibras musculares mais profundas e difíceis de serem estimuladas nos treinos físicos convencionais.

O EMS produz impulsos elétricos semelhantes aos impulsos nervosos gerados
pelo nosso sistema nervoso central.
Desde quando a medicina utiliza o estímulo elétrico no homem? – A eletroterapia ou Faradização, teve seu “aperfeiçoamento” apenas nas últimas cinco décadas. Mas desde a antiguidade seu uso era empregado para produzir choques elétricos em pacientes para obter analgesia local. Registros de 500 a. C. revelam a utilização de peixes elétricos para essa finalidade e há 2.000 anos pelos egípcios para o tratamento da dor e doenças. Posteriormente, a mesma técnica teria sido utilizada pelos gregos e romanos.

Peixes elétricos já eram utilizados na antiguidade para produzir efeitos
terapêuticos e analgésicos em pacientes.
Consta que em 1745, o médico alemão, Altus Kratzstein, escreveu o primeiro livro sobre a Terapia Elétrica. Seus experimentos científicos na época serviram de inspiração para a escritora Mary Shelley lançar o clássico literário Frankenstein”, apesar de algumas fontes citarem que Shelley se inspirou numa “visão” ou sonho. O reavivamento da musculatura do corpo através da corrente elétrica gerou a polêmica sobre o limite do conhecimento humano, sua interferência na criação divina e a soberania de Deus no que diz respeito ao espírito, alma e corpo humanos.

A famosa escritora Mary Shelley se baseou nas experiências do médico
alemão Altus Kratztein para escrever Frankenstein, segundo algumas fontes.
Mary Shelley, o monstro de Frankenstein e Altus Kratzstein.
No século XVIII, o físico e biólogo italiano Luigi Galvani experimentou conduzir passar uma corrente elétrica pela espinha de um sapo, o que resultou na contração dos músculos das pernas do animal e na conclusão de que as contrações musculares poderiam ser controladas por meio de estimulação elétrica.

Luigi Galvani e a famosa experiência com a condução de corrente elétrica em sapos.
Em 1831, o físico e químico inglês, Michael Faraday, estudioso do eletromagnestismo, desenvolveu a técnica de Faradização, um tratamento eficaz para a paralisia motora. A aceitação plena deste tratamento se deu por volta de 1840, quando foi usada a estimulação elétrica de forma rotineira no Guy’s Hospital, em Londres.

Michael Faraday, desenvolveu a Faradização contra a paralisia motora.
Em 1860, já se anunciava nos jornais, um Ab Belt, muito semelhante aos cintos modernos de hoje.

Cintos para estimulação elétrica terapêutica em humanos nos anos de 1860.


Em 1902, Ludec da França, projetou uma unidade de corrente contínua intermitente, que se tornou base para a terapia moderna de corrente contínua de baixa frequência. A unidade de Ludec era volumosa e difícil de transportar e, além disso, produzia uma forte e desconfortável estimulação. Mas sua eficácia era reconhecia e seu uso tornou-se habitual para o tratamento de uma variedade de doenças agudas e crônicas entre 1920 e 1940, período em que não havia alternativas eficientes disponíveis.


Com o avanço da indústria farmacêutica e da farmocoterapia, por volta de 1945, a estimulação elétrica começou a perder força.

EMS como fisioterapia por volta da década de 1940.
No ano de 1965, os pesquisadores Melzak e Wall revelaram num conceituado artigo, os benefícios do uso da eletricidade na terapia moderna.

Melzak e Wall, divulgaram em famoso artigo, o benefício da eletricidade na terapia moderna.
Nos anos de 1970, salões com aparelhos EMS se tornaram populares. Ainda não havia regulamentações para o uso desses aparelhos. Muitas pessoas foram lesionadas por queimaduras, até que o órgão competente (FDA) entrou em cena para controlar o setor. Um dispositivo muito popular na época, chamado de Relaxacizor, que vinha num estojo com cintos, faixas  e eletrodos, teve várias de suas unidades confiscadas pelo governo norte-americano. Atletas campeões famosos já faziam o uso regular dos aparelhos de EMS na década de 1970, como o boxeador Muhammad Ali e o jogador de futebol Franz Beckembauer. Bruce Lee foi um dos primeiros a adquirir uma unidade, em Hong Kong, por volta de 1972.

O invejável físico de Bruce Lee. Graças aos trabalhos físicos convencionais
e o uso do EMS.

O lendário boxeador Muhammad Ali e o alemão, jogador de futebol, Franz Beckembauer.
Ambos campeões eram adeptos do EMS já na década de 1970.

Alguns artigos e propagandas do Relaxcizor, uma febre sem controle
e regulamentação em meados dos anos de 1970
Em 1976, durante os jogos olímpicos de Montreal, o russo Dr. Yahov Kots, divulgou seus estudos sobre o uso da eletroestimulação para treinamento dos atletas da URSS. A corrente elétrica utilizada é conhecida até hoje como “corrente russa” ou “corrente kots”. Seus estudos comprovaram  que a corrente elétrica era eficaz na construção de massa muscular e aumentava consideravelmente a resposta de contração rápida no desenvolvimento da velocidade. Os ganhos de força dos atletas soviéticos eram de até 40%. Kots usava uma frequência específica de 2.500 Hz (25KHz), que ficou conhecida como “Russian Stim”.

A "Corrente Rússia" estourou mundialmente a partir de 1976.
Os atuais equipamentos empregam diferentes tipos de correntes onde o aparelho emite a energia eletromagnética que é então conduzida através de cabos condutores até os eletrodos que são aderidos à pele do paciente. Existem formas variadas como a utilização de agulhas no lugar dos eletrodos, estes mais destinados para terapia estética ou métodos diagnósticos. Em psiquiatria a eletroestimulação da região front-orbital com frequências específicas é uma das técnicas utilizadas para indução do sono terapêutico e relaxamento muscular.

Agulhas elétricas no lugar de eletrodos, também utilizados como terapia estética.
O aparelho de aplicação de Estimulação Nervosa Transcutânea, por exemplo, utiliza uma corrente de baixa frequência com efeitos analgésicos que contribuem para controle da dor aguda e crônica; redução de edema; redução de espasmo muscular; minimização  de atrofia por desuso; facilitação da reeducação muscular; facilitação da cicatrização tecidual; facilitação da consolidação de fraturas; fortalecimento muscular e realização da substituição ortésica.

O EMS pode ser usado para perder peso, adquirir massa muscular ou substituir os exercícios físicos? - O EMS não é uma ferramenta ideal para a perda de peso ou um substituto adequado para o treinamento com pesos ou exercícios físicos tradicionais.

O objetivo original do EMS - O EMS essencialmente é indicado para a estimulação de músculos que têm dificuldade para se contrair. Sendo principalmente destinado à pessoas que tiveram acidente vascular cerebral e sofreram sequelas, ou numa recuperação após uma cirurgia ortopédica. Muitos destes pacientes têm dificuldades para fazer mover um músculo ou articulação. Assim, quando o impulso elétrico  é enviado para o tecido muscular pela unidade EMS, o músculo se contrai sem a ajuda do paciente. Se o paciente conseguir a ativar o músculo lesionado enquanto está sendo estimulado eletricamente, o cérebro pode  reaprender a estimulá-lo sozinho.   
                                                         
O EMS e seu uso para o alívio da dor – Alguns defendem que o EMS pode ser utilizado para aliviar dores. A teoria do “Controle do Portão” defende que os sinais de dor são transmitidos para o cérebro através dos nervos ao passarem pelo “portão”. Alguns defendem que a estimulação elétrica atravessa o portão e bloqueia os nervos que transmitem essa sensação de dor. Outra teoria é que a estimulação muscular elétrica faz com que o cérebro libere substâncias analgésicas naturais do organismo (endorfina e encefalinas), amenizando as dores.

O EMS destinado ao treinamento atlético – Seja na musculação ou no treinamento esportivo, o EMS pode ser utilizado como fisioterapia para recuperação da musculatura, redução de edemas, aumentar o tônus muscular,  uma maior definição muscular e ainda melhorar o tempo de reação senso-motora. A estimulação muscular elétrica pode também proporcionar uma maior contração muscular em até 30% em comparação a uma contração voluntária normal.

Os riscos no uso do EMS – Em meados dos anos de 1970 a utilização do EMS causava polêmicas e desconfiança entre os profissionais de saúde. Muitos cientistas ainda hoje, defendem que o EMS tem  em seu uso benefícios limitados, enquanto os riscos parecem ser bem mais consideráveis.
A desculpa da “falta de tempo” para fazer atividades físicas pode estimular o uso indiscriminado do EMS. E não há nada mais saudável do que a atividade física regular que previnem o surgimento de vários tipos de cânceres, doenças cardíacas, derrames ou diabetes tipo 2.
O uso do EMS é muito defendido atualmente com a alegação de que esse método oferece, em apenas 20 minutos, o equivalente a uma hora ou pouco mais de atividade física. Entretanto,  foi comprovado que não basta usar apenas  os eletrodos em músculos específicos ou mesmo o traje de forma mais abrangente. Para obter melhores resultados é necessário fazer os exercícios convencionais como o agachamento, flexões de braços, abdominais, corrida, etc., enquanto os eletrodos aplicam pequenos choques. Ademais é aconselhável apenas duas sessões semanais usando o traje com eletrodos, não passando de 12 minutos cada aplicação, pois querendo ou não, é um método agressivo ao corpo humano.
Mas os choques tornam os exercícios simultâneos ainda mais dolorosos.  Ainda que acreditem que o esforço e a dor  podem fazer o exercício mais eficaz.
O estimulo elétrico tem como objetivo primordial a reabilitação satisfatória de músculos lesionados e atrofiados por falta de estimulação de nervos danificados. Mas a questão é: uma pessoa saudável deve se expor aos choques elétricos sem necessidade? Talvez em músculos específicos (do abdômen, cochas, braços, etc.) e de forma moderada seja razoável, mas usando os trajes com eletrodos por todo o corpo seria mesmo seguro?
Há casos registrados de pacientes reclamando de dores musculares fortes após uma longa sessão de exercícios físicos com EMS, mesmo supervisionada por profissionais de fitness. Num destes casos, um jovem abusou das sessões de EMS e desenvolveu a rabdomiólise, uma patologia responsável pela destruição generalizada das fibras musculares, devido à liberação da mioglobina no sangue. Essa proteína também pode causar graves problemas aos rins.
Em relação ao tonificador muscular, já regulamentado pela ANVISA no Brasil, foi comprovado pelo órgão através de testes específicos, que não ocorre alterações da pressão arterial e da frequência cardíaca em decorrência das estimulações do aparelho em pessoas saudáveis, sejam atletas ou pessoas sedentárias. Mas há controvérsias, alguns especialistas defendem que só atletas e pessoas com um bom preparo físico deveriam fazer o uso do EMS. O risco pode estar simplesmente na qualidade do aparelho. Mas há contraindicações para quem usa marco-passo (estimulador cardíaco); utilizar o aparelho na região do coração; mulheres grávidas; epilépticos; colocação dos eletrodos nas partes frontais e laterais do pescoço; na estimulação da parte inferior da perna em casos de trombose venosa ou de isquemia (obstrução arterial); portadores de hérnia abdominal ou inguinal, pessoas que sofrem de artrite, diabetes, circulação, problemas neurológicos, etc.
Em resumo, os aparelhos de EMS só deveriam ser usados sob orientação de profissionais de saúde qualificados, sejam médicos e fisioterapeutas, com o objetivo de diagnóstico e reabilitação.  Tais aparelhos não deveriam ser usados em academias e muito menos em casa de forma indiscriminada sem o acompanhamento de um cinesiólogo, pois podem causar sérios riscos à saúde.


Yang Sze (Bolo Yeung) flagra Bruce Lee durante experimento científico – Por volta do final de 1972, após a divulgação e exibição de O Voo do Dragão (The Way of the Dragon) por toda a Ásia, Yang Sze e Bruce Lee se conheceram e se tornaram amigos; o que levou à participação do ator, campeão fisiculturista e também faixa preta de Karate, a participar de Operação Dragão (Enter the Dragon – 1973) encarnando o musculoso e implacável lutador, “Bolo”. Durante os intervalos de gravações de Enter the Dragon, no início de 1973, Yang Sze visitou Bruce na sua casa em Kowloon. Com a palavra, Bolo Yeung:
“Eu costumava ir a casa de Bruce Lee com frequência. Lá conversávamos sobre muitas coisas relacionadas às artes marciais. Em algumas oportunidades, eu era sua única audiência em muitos de seus treinamentos solitários de sua casa em Kowloon. Notei que ele tinha aparelhos destinados ao treinamento de boxe que eram muitos diferentes dos tradicionais. Os speedballs, por exemplo variavam de tamanhos, de pequenos (como uma bola de ping pong) aos grandes. Estes se encontravam também na sala de estudos ou biblioteca particular. Um dia, quando eu me aproximava da porta de sua sala de estudos, o vi usando um fone de ouvidos conectado a uma máquina contendo vários botões e mostradores. Notei que Bruce também estava suando copiosamente.


Yang Sze: "... o vi usando um fone de ouvidos conectado a uma máquina contendo
vários botões e mostradores."
Esperei por 5 minutos e lhe pedi uma explicação de tudo aquilo. Ele me disse que estava treinando a velocidade de entrega do sistema nervoso com o objetivo de melhorar a agilidade dos membros e a velocidade dos reflexos. Ele completou: ‘E em outras palavras, quando seus olhos veem o movimento da pessoa, os nervos de seus olhos dirigem o sistema nervoso central de seu cérebro, que por sua vez, direciona suas mãos, pernas para interceptar, desviar, chutar ou socar.Tudo isso leva tempo, suas respostas ou reflexos condicionados, podem se tornar mais rápidas através do treinamento. É abstrato, assim como o ar, ou praticando o “ki” na região púbica  do corpo. Como treinar o sistema de transporte nervoso para ser o mais rápido possível? É realmente abstrato. Para coisas abstratas, precisamos usar métodos muito práticos, econômicos e científicos para treinar.’ ”

Yang Sze e Bruce Lee se aquecendo para as filmagens de Operação Dragão, em 1973.
Continua Yang Sze: “Ele disse que pensou nisso por um longo tempo e deu como exemplo os atletas competindo em uma corrida. Ao ouvir o tiro inicial ecoando no ar, todos os atletas disparam a correr, alguns respondem mais rapidamente ao ouvir o estímulo sonoro e outros de forma mais lenta. Por que é assim? É por causa do transporte do sistema nervoso. Como a velocista Chi Cheng (Ji Zheng), que ganhou a primeira medalha olímpica de bronze por Taiwan em 1968. Foi o primeiro recorde de uma atleta asiática. Sua reação ao tiro de partida era extremamente rápido em comparação aos demais competidores, simplesmente 0.00 segundos. Mas Bruce disse: ‘Eu sou mais rápido que ela, eu treinei para ser mais rápido do que ela.’ ”

Bruce Lee disse a Yang Sze que ele era mais rápido do que a velocista Chi Cheng
no que diz respeito à reação muscular a um estímulo sonoro.

Segundo Bruce Lee, quando o lutador conseguir atingir um estado de relaxamento
semelhante a um estado de hipnose, sua velocidade de reação será bem maior.
Yang Sze: “Ele disse que passou por muitos testes e experimentos e descobriu que os reflexos do homem seriam os mais rápidos em certas circunstâncias. Isso é, como durante o sono. Quanto mais rápido você quiser ser, mais você terá que relaxar.Quando o homem consegue relaxar interna e externamente sua condição de transporte nervoso é a mais rápida. Quando o homem se sente tenso, a velocidade da entrega se torna mais lenta. Quando você entende este ponto, então você tem que criar o estado de relaxamento. Esse estado de relaxamento também é chamado de estado de hipnose. Como criar esse estado? Sinta-se como se estivesse dormindo, depois adormeça, apenas treine dessa maneira.”
Yang Sze: “Bruce me mostrou um aparelho e me disse: ‘Esta é a chave para ligar o som. Ligo um dos alto-falantes que gera ruídos como o som de buzinas de carros, de turbinas de aviões, de percussão, sons pesados e barulhentos. Desligando o interruptor deste, ligo o outro alto falante que reproduz um som regular, com o batimento de um  metrônomo, gotas de chuva caindo num lago, um som hipnótico ritmado que, em seguida, desligo também. Agora, ligo os dois alto-falantes ao mesmo tempo, com o som barulhento e o de hipnose juntos. Sintonizando o volume de ambos, aumento o som barulhento cada vez mais e o som hipnótico cada vez mais baixo. Se você continuar ouvindo apenas o som de hipnose apesar do som barulhento, mesmo com o som de hipnose desligado, você conseguiu o objetivo. Ou seja, mesmo sob alta tensão você conseguiu se hipnotizar. Você pode ouvir apenas o som da hipnose, tick...tick...tick... Esse é o estado em que a velocidade da entrega nervosa é a mais rápida.’ “

"...Mas na rua, posso ser atacado por quatro ou mais pessoas, então eu quero
ter os meus sentidos aumentados para ser receptivo ao menor som." - Bruce Lee
Yang Sze: “Ele me disse que a luta é principalmente praticada com a atenção em um oponente. Mas na rua, posso ser atacado por quatro ou mais pessoas, então eu quero ter os meus sentidos aumentados para ser receptivo ao menor som.”
Alguns estudiosos sobre a vida de Bruce Lee não descartam a possibilidade de que a combinação do uso exagerado do EMS, de outros métodos exóticos de treinamento, com os exercícios convencionais exaustivos, drogas poderosas para amenizar sua dor crônica nas costas, mais alguns hábitos não muito saudáveis como dormir pouco, não se alimentar corretamente, consumir algumas ervas como haxixe ou maconha para relaxar, alto nível de stress e certa paranoia, nos últimos três anos de sua vida, podem ter contribuído como uma bomba relógio para por fim à vida de Bruce Lee. Mas qual seria a verdade?


Bruce Lee teria ido além dos seus limites para alcançar a perfeição física e técnica?
Concluindo, Bruce provavelmente teria chegado quase ao limite de suas habilidades nas artes marciais e condição física. Quando dispunha de tempo adequado para os treinos, se dedicava de tal forma que parecia estar esperando por um combate feroz e mortal contra um poderoso inimigo a qualquer momento. Ele não queria ser surpreendido por ninguém e em tempo algum. Mas todos que o conheciam e sabiam de suas habilidades como lutador pareciam ter certeza que dificilmente alguém poderia superá-lo num combate corpo a corpo. O maior inimigo de Bruce Lee certamente era ele mesmo, talvez ele tenha drenado sua própria vida e energia vital nesta busca incessante pela invencibilidade e superação como lutador e atleta.

Por Eumário J. Teixeira.