A primeira sede do Jun Fan Gung Fu Institute, na garagem da casa de James Lee, em Oakland. |
Howard Williams é um daqueles homens discretos e de forte caráter que preferiu o anonimato durante todos esses anos, desde a morte de Bruce Lee, em 1973. Williams ficaria muito abalado com as mortes, praticamente seguidas, dos seus dois mestres. James Yimm Lee faleceria em dezembro de 1972, em decorrência de câncer nos pulmões e, Bruce Lee, que morreria poucos meses depois, em julho de 1973.
Howard Williams (de camiseta vermelha) e o respeitado Ted Wong (de camiseta Branca) num evento de JKD na década de 1990. |
Williams pensou em desistir, mas se apoiou nos alunos veteranos como Ted Wong e Jerry Poteet para continuar seu aprendizado, já que ele era um dos poucos (se não o único) a não ter qualquer outra experiência em artes marciais. O Jeet Kune Do seria sua primeira e única via. Howard Williams após alguns anos de reclusão, durante as décadas de 1970 e 1980, reaparece no cenário do Jeet Kune Do em 1990, incomodado com o rumo que o ensino do JKD tomou nos EUA e em todo o mundo.
Howard Williams e George Tan na Convenção Bruce Lee realizada em Birmingham, na Inglaterra, em 1990. |
Juntos, Bob Baker, John Saxon e Howard Williams na Convenção Bruce Lee promovida por George Tan, em Birmingham. |
Bob Baker, Howard Williams e George Tan em outro momento da Convenção Bruce Lee, em solo inglês. |
Jerry Beasley, estudioso de Jeet Kune Do e grande fã de Bruce Lee. |
Segundo Beasley, William falava suavemente e era sempre propenso a sorrisos, mas sob aquele exterior gentil, estava um homem capaz de movimentos explosivos e velocidade fenomenal com as mãos. Observou Dr. Beasley: “Howard poderia ter sido um instrutor de JKD popular, muitos o consideravam um dos melhores da primeira geração, mas ele (como Bob Baker) preferiu ficar longe dos holofotes. Ele era muito simpático e as pessoas sempre lembraram dele com muito carinho. É muito triste saber de sua morte.” Howard Williams faleceu em 02 de abril de 2012, aos 62 anos, vítima de um ataque cardíaco.
Howard Williams, na posição de guarda adotada para o Jeet Kune Do. |
O Início de tudo com o Jun Fan Gung Fu – No verão de 1965, o jovem Howard Williams, de 15 anos, passeava de ônibus por Oakland com a mãe e o padrasto que lhe reservavam uma grata surpresa. Sem Williams saber até o momento, eles estavam em busca de uma academia de artes marciais para matricular o jovem inquieto. Williams estava procurando ansiosamente por uma academia de Karate, já que essa arte marcial japonesa, além do judô, era uma das mais aceitas na América. Na verdade, o padrasto de Williams já havia escolhido algo especial para o seu enteado. Era uma academia de Gung Fu (ou Kung Fu) comandada por um atlético jovem chinês de vinte e quatro anos conhecido como Bruce Lee. O padrasto de Williams lhe diria finalmente que “achou algo mais rápido que o Karate”.
Bruce Lee ao fundo (à esquerda) e James Yimm Lee mais à frente diante da entrada do Jun Fan Gung Fu Institute na Broadway, em Oakland, onde iniciaria a transição para o JKD. |
O jovem Howard foi admitido na academia de Gung Fu e iniciou seus treinamentos em 1966, sob a direção de James Yimm Lee. Bruce Lee já não podia estar regularmente presente para lecionar por conta de seus compromissos com as filmagens da série de TV “O Besouro Verde” (The Green Hornet 1966-1967) em Los Angeles, mas ele se esforçava para estar presente ao menos uma vez por semana para supervisionar e atualizar suas descobertas. Howard Williams se lembrava, três décadas depois, daquela primeira aula que começou com uma rotina de chutes. Ele lembrou que não havia aula especial para iniciantes que eram jogados de imediatos no meio dos veteranos. Entre os mais experientes estavam pessoas como Bob Baker e Gray Gugganan, que lhe deram muita atenção e incentivo. Relatou Williams: “Naturalmente, eu era muito desajeitado e senti que nunca aprenderia, mas eventualmente depois de um ano e meio, percebi que meus movimentos haviam se tornado automáticos, que não precisava mais pensar para executá-los. Eu estava reprogramando meu cérebro para responder instantaneamente. Visto que estávamos em um sistema estruturalmente rápido, tínhamos que ser mentalmente rápidos também.”
Jogo de pernas (footwork), socos, chutes, chi são (mãos pegajosas) e exercícios para desenvolver energia ou potência eram práticas usuais. Howard Williams ainda lembrou que Bruce e James queriam seus alunos eliminassem o bloqueio, enquanto aperfeiçoavam a técnica de esquiva e contra ataque simultâneos com soco nas costelas ou chute barreira na canela ou joelho do adversário. Desferiam socos diretos triplos, sempre procurando quebrar o ritmo e não sendo previsíveis, usando por vezes golpes com a palma da mão e estocadas com os dedos. Howard lembrou que eram “incentivados por Bruce e James a tornar nossos movimentos mais curtos e rápidos. Não deveríamos ao menos perder o tempo de uma expiração para estarmos penetrando em nosso oponente.”
James Yimm Lee, um excelente instrutor que era paciente e cuidadoso com seus alunos, segundo o próprio Howard Williams. |
O aprendizado com James Lee - Howard Williams fez questão de enaltecer o sifu James Yimm Lee como um excelente professor, muito paciente e cuidadoso que garantia que seus alunos absorvessem todos os aspectos do treinamento. Howard detalhou em entrevistas em meados de 1990, alguns pontos do ensino de James Lee: “Por exemplo, quando praticávamos o ‘chi sao’, ou mãos pegajosas, James nos fazia imaginar que estávamos dirigindo um carro, com as duas mãos no volante, mas usando apenas os pulsos, sobrepondo os braços em um pequeno arco. Ele enfatizava também o que chamava ‘da teoria para aplicação’. Devíamos observar atentamente o movimento de nosso oponente e, assim que ele movimentasse um músculo, deveríamos chutá-lo, socá-lo ou estocá-lo (nos olhos). Ele (James) dizia que assim que seu pé saísse do chão, seu equilíbrio ficaria prejudicado, de forma que, embora a mobilidade fosse fundamental, tínhamos que utilizar chutes e golpes em geral que nos permitisse manter uma rápida recuperação e o equilíbrio.”
Howard se manteve neste treinamentos por cinco anos, e presenciou a
transição do que inicialmente era Jun Fan Gung Fu (ou Kung Fu de Lee Jun Fan)
para Jeet Kune Do (Caminho do Punho Interceptador).
Bruce Lee e James Franciscus no set de filmagem da série televisiva Longstreet, em 1971. |
Ainda sobre James Yimm Lee e a filosofia do JKD exposta nos dois primeiros capítulos da série de TV “Longstreet” (1971): “Sim, porque a filosofia neste programa (de TV) era a que ele ensinou em casa. Não é difícil de conceber, porque Jimmy era um homem forte, mas por causa de sua idade, você sabe, ele estava chegando lá. Bruce sendo 20 anos mais novo do que ele, era mais físico do que Jimmy, mas Jimmy era um ótimo praticante também, e não me interpretem mal, era um professor melhor para mim do que Bruce, porque ele nos dedicou algum tempo e garantiu que aprendêssemos a técnica, fazendo de novo, de novo e de novo. Os que cansaram foram embora e nunca mais voltaram. Aqueles que ficaram, aprenderam. E eu fui um dos que ficaram e aprenderam.”
O simpático Howard Williams em entrevista na década de 1990. |
Sobre as descobertas de Bruce Lee em relação às limitações do estilo Wing Chun, que era uma das bases fortes do JKD, observou Williams: “Quando ele percebeu que o Wing Chun tinha suas limitações, sendo que o poder (potência) era uma delas, ele começou a explorar meios que lhe dariam poder, mas basicamente ele modificou essa arte para que fosse mais adaptável a ele mesmo como artista marcial. Ele usou o Wing Chun como trampolim para alcançar outras coisas.” Conclui Howard Williams sobre a ação de interceptação do movimento de um oponente: “Na verdade, significa que quando um homem se move em sua direção, ele faz um certo gesto direcionado a você, seja um piscar de olhos, coçar o próprio nariz ou qualquer movimento. Seja o que for, você intercepta sua intenção emocional. Você já sabe que ele quer lutar, portanto você não precisa esperar por mais nada. Se ele fizer algum movimento, você reage. Você intercepta, destrói, assim como também poderá destruí-lo antes que ele faça qualquer movimento.”
Williams ainda fala sobre a capacidade de Bruce Lee não “telegrafar” seus movimentos: “Esse foi um de seus pontos fortes, uma das suas especialidades. É como se você quase pudesse ler a intenção e o motivo do outro lutador, embora não possamos ler mentes. Ele tinha movimentos ‘não telegráficos’ perfeitos que lhe permitiam interceptar sua intenção emocional.” Sobre como conseguir tal habilidade, explica Williams: “A forma é muito importante, não a forma clássica como no Kung Fu tradicional, mas a forma como na aplicação adequada da arte. Ser capaz de interceptar e pesquisar o movimento do corpo, o corpo em movimento, e quando você faz isso, você é capaz de saber e determinar as coisas que emite ‘sinais’. E assim que o sinal for dado... bum! Acabou!
Perguntado se Bruce Lee aprovaria o "JKD" que era ensinado nos anos de 1990, Howard Williams foi direto: “Não, de forma alguma." |
Perguntado se Bruce Lee aprovaria o que é ensinado nos anos de 1990, Howard Williams foi direto: “Não, de forma alguma. Ele não aprovaria isso, porque não era isso que ele estaria tentando transmitir às pessoas atualmente ou naquela época também. Na verdade, ele provavelmente ficaria tão perturbado com toda essa coisa que fecharia tudo!” Acrescenta Williams: “Porque estão ensinando desespero organizado. Então vocês instrutores, é melhor vocês prestarem atenção no que estão fazendo (risos...). Os alunos, agora instrutores, devem aos seus alunos (atuais) a verdade. Essa é, mais uma vez, a principal razão pela qual saí do anonimato, porque quero ter certeza de que eles tenham, pelo menos, uma escolha inteligente a fazer entre o que está sendo ensinado e o que é a verdade. Então eles próprios podem decidir o que desejam.”
Obs.: Essa entrevista de Howard Williams foi concedida em 1990, será que as coisas melhoraram atualmente, em pleno 2021?
Prossegue, Williams: “Não é como se eu estivesse tentando dominar alguma coisa. Eu já tenho! Quero dar às pessoas a chance de escolher entre o que está acontecendo agora e o que Bruce, por seu legado, queria que nós soubéssemos. E de acordo com ele, todas as coisas surgem antes de tudo de dentro. Eles agora estão aprendendo coisas que vêm de fora e nem mesmo entendem quem são. Como você sabe o que está procurando se primeiro não entende quem você é? Descubra a causa da ignorância dentro de você e a batalha estará vencida pela metade. Então você tem que estar disposto a aprender, trabalhar duro e se aplicar para obter as habilidades que Bruce queria que aprendêssemos.”
Imagens de Howard Williams ensinando algumas técnicas de JKD. |
Williams acrescenta: “Bem, em 1966, quando entrei na escola, ela
estava em plena transição. Acho que ele (Bruce) entendeu as limitações do que
tinha e teve que dar um passo adiante. E quando o fez, mudou a postura de
combate de Wing Chun para a nova postura de combate de JKD. Então, isso era
mais econômico também. Foi muito mais suave a transição, com mais mobilidade e James
cuidou que isso se encaixasse em nós. Ele (James) nos mostraria a versão
clássica para em seguida nos apresentar a versão revisada, para que pudéssemos
apreciar a diferença entre os dois estilos.”
Bruce Lee e James Lee em um momento de descontração no final da década de 1960. A transição do Jun Fan Gung Fu para o Jeet Kune Do já havia iniciado. |
Finaliza Williams: “Não usávamos equipamento de proteção naquela época
(em Oakland). A única forma de nos protegermos, na maioria das vezes, era
apenas a mão sobre o rosto. Estávamos sempre à mercê do nosso oponente o tempo
todo.”
O primeiro contato físico de Howard Williams com Bruce Lee – Williams: “Foi uma experiência incrível, realmente foi. Nunca me esqueço da vez em que ele nos mostrou seu mais novo degrau de desenvolvimento. Eu estava na frente daquele chute, porque eu era chamado por ele de ‘Robusto’. Mas eu estava na frente daquele chute e ele disse que iria me chutar. E eu fiquei lá e ele me disse para tentar sair do caminho assim que percebesse que o chute fosse desferido. E fiz o melhor que podia para escapar e acredite, era uma situação desesperadora. No momento em que o chute me alcançou ele parou no meu peito e eu não pude me mover mais para trás, era tarde demais para sequer pensar em me mover, ele já estava lá. E eu senti o poder incrível, e passei a ter um respeito maior por Bruce Lee daquele momento em diante, porque percebi o poder que vinha daquele chute. E foi realmente uma sensação incrível ver algo assim em primeira mão, pois estávamos todos ansiosos. A partir daí fiquei determinado a desenvolver o poder dos meus chutes para ser como os de Bruce Lee.”
Flagrante de uma festa de aniversário surpresa para James Yimm Lee, em Oakland. |
Ainda sobre Bruce Lee: “Bruce gostava de brincar, ele era um brincalhão muito prático. Ele tinha um temperamento explosivo também, mas basicamente quase nunca vinha à tona, a menos que ele sentisse que estava sendo excluído de algo, ou quando sabia que um aluno tinha algo (a mostrar) e se recusava a se soltar, relaxar e seguir em frente; então você podia ver um pouco daquela raiva saindo, mas era principalmente frustação, porque ele queria tanto ver aquela pessoa ter um preparo de luta decente dentro de si e desenvolvê-lo ...). Já o vi levantar a voz e o vi descontar nos alunos às vezes, mas nunca o vi ficar realmente irado para querer socar alguém. Não, nunca vi isso. Acho que tudo isso pode ter acontecido nos bastidores de seus filmes quando ele teve que fazer isso para sobreviver, porque existem tantas personalidades diferentes para lidar, e é muito diferente de ensinar artes marciais a alguém.
Armas Brancas e a Real Aplicação do JKD - Perguntado se a utilização de nunchaku, bastões curtos e longos (bo), vistos nos filmes de Bruce Lee, faziam parte do programa de treinamento do JKD, Williams respondeu: “Não, não utilizávamos armas, porque Jimmy (James Lee) costumava dizer: ‘Quantas vezes você poderá andar pela rua com varas e facas na mão? Você só irá usar o que tem disponível para se defender. Você não poderá dizer ‘ei, espere um minuto! Tenho que ir pegar meu taco, já volto, não se mexa, estou voltando!’ - Não! Você vai dizer: ‘Ok! É assim que as coisas são!’ – Socos, estocadas e está tudo acabado, tira a faca dele e segue com tua vida. Assim, tivemos que aprender tudo com nossa a matéria-prima, as mãos e os pés.” Segue Williams: “Bem, vamos colocar da seguinte maneira: eu posso pegar dois bastões e aplicar JKD com eles e você vai jurar que aquilo foi ‘Kali’ porque os movimentos foram naturais. Mas tudo é apenas uma extensão da minha mão. Simples assim. Nada de especial, nada para tentar aprender a fazer, é só pegar as varas e usá-las. Você pergunta como seria possível sem um treinamento prévio? Simples, o que você faz com as mãos, você pode fazer com bastões, simples assim.”
A Ausência de Competições no JKD – Explica Howard Williams: “Bem, em primeiro lugar, a razão de nunca termos dessas coisas foi que James e Bruce não acreditavam em divulgar a arte e colocar regras e regulamentos restritivos que regem os lutadores de torneio e lutadores de contato, porque o JKD é estritamente uma ‘Arte de Luta de Rua’ onde não existem regras aplicáveis. Vale tudo e a atitude é ‘faça ou morra, mova-se ou você perde’. Você será desqualificado com essa atitude (num torneio com regras).”
A Razão de nunca se ver Professores e Alunos com as Habilidades de Bruce Lee – Reponde Williams: “Isso é porque os professores não têm habilidades como as de Bruce. Você não pode culpar os alunos. Porque eles vêm às academias para aprender, e quando o professor não tem (habilidades), os alunos também não terão, e você continua obtendo uma versão mais diluída da verdade.” Perguntado sobre qual é essa verdade, Williams responde: “Bem, a verdade em relação ao JKD é que ele está sempre mudando. O fato é: está sempre mudando, a verdade em JKD está sempre mudando, onde em outras artes é estilizado, limitado e cristalizado na abordagem ‘isto e aquilo’. Sendo uma abordagem não natural. É como tentar ensinar um canhoto a ser destro e vice-versa. Você não pode fazer isso. Ensine a pessoa como lutar de onde ela está. Descubra a causa da ignorância, isso também é parte da verdade. Antes de poder ensinar a verdade, você deve entender de onde ela vem em relação a você. Não de Bruce Lee, não de James Lee, ou qualquer outra pessoa, mas de você. Então, JKD, quando se trata de verdade, só se aplica a nós mesmos e à descoberta da causa de sua própria ignorância.”
A Semelhança entre Howard e Bruce Lee no Modo (quase arrogante) de Ser – Diz, Howard: “Oh, é confiança, ninguém pode ter mais confiança em você do que você mesmo. Se você continuar com a atitude derrotista de ‘não posso fazer isso’ ou ‘não consigo’, para mim ‘não posso’ significa ‘não vou’. Se você treinou para algo por tempo suficiente, e treina da maneira certa na verdade, então você não terá problemas em concentrar sua confiança quando se trata de lidar com outras pessoas e outras suas artes marciais; e os outros também podem ver isso. Não é ser arrogante, é apenas ser capaz de entender quem você, é ser capaz de vivê-lo. Se alguém me perguntar o meu nome, não preciso dar de ombros, digo ‘Howard’, com orgulho e confiança.”
Obs.: - Jesse Glover era afro-americano como Williams e foi o primeiro aluno de Bruce Lee nos EUA, assim que ele se estabeleceu em Seattle. Entretanto, após Bruce Lee iniciar a transição do Wing Chun para o Jun Fan Gung Fu e posteriormente para o Jeet Kune Do, Glover preferiu se manter no ensino inicial, preservando o que Bruce Lee lhe passou e que era baseado no ensinamento do Wing Chun tradicional, desenvolvendo posteriormente seu próprio caminho com essa base.
O seu Jeito de Ser e Habilidades do próprio Howard Williams – Assim se define o próprio Williams: “Eu me lembro, às vezes Jimmy costumava nos contar algumas das coisas que aconteceram no passado, sobre o seu treinamento da ‘Palma de Ferro’ e porque era inútil, ao invés de apenas tentar desenvolver força, profundidade e penetração. Agora, não tenho mais calos nas mãos, mas tenho marcas nos nós dos dedos de onde pratiquei em diferentes superfícies, mas não há mais calosidades. É apenas descoloração dos nós dos dedos por causa do meu treinamento, você pode ver. Não é difícil, mas o poder que está por trás disso é difícil (de se obter). Isso vem de dentro de você e, em seguida, projeta-se para fora, mas você só obtém de algo o que colocou neles. Eu coloquei muitas horas em treinamento e ainda estou desenvolvendo também.”
Sobre sua rapidez, dizia Howard: “São apenas movimentos não telegrafados que possuo." |
Ainda sobre sua rapidez, complementa, Howard: “São apenas movimentos não telegrafados que possuo. Eu não telegrafo meus movimentos. Eu pessoalmente sinto que posso desenvolver minha velocidade a ponto de parecer que não estou me movendo e eles (oponentes) não vão me ver mover muito antes de eu chegar ao ponto. Me perguntaram se é necessário toda essa velocidade, então eu disse que não queremos perder tempo. Quanto mais você envelhece, as leis da física vão contra você, e você tem que se tornar mais sábio, tem que chegar lá mais rápido, você não pode perder tempo pulando como um coelho ou um boxeador estiloso. Na minha idade ainda tenho um pouco de poder e velocidade para desenvolver, mas algumas pessoas acham que sou rápido agora, mas em alguns meses ou um ano, eles verão algo mais. E eu digo isso de coração, não estou dizendo algo que apenas me vem à cabeça. A economia de movimentos se torna muito importante. Você deve se colocar em uma posição em relação ao lutador onde você estará seguro, mas ele não. Qualquer coisa que ele fizer, você poderá pegá-lo, mas ele não poderá te pegar. Você não precisa ficar dançando como um boxeador estiloso, tentando provar alguma coisa, você não quer ser outro Muhammad Ali. Não quero imitar nenhuma dessas coisas, isso custa tempo e movimento, e pode custar sua vida. Ainda estou desenvolvendo e aprimorando minhas próprias habilidades e posso me tornar mais rápido e poderoso do que sou agora, mesmo nesta idade. Não há limite para o condicionamento físico, exceto quando você morre.”
Obs.: Howard Williams estava com 39 anos, quando concedeu essa entrevista.
A Seriedade na Direção dos Treinos nos tempos de Bruce e James Lee - Lembrou Howard Williams: “Jimmy fez! James fez isso com certeza. Bruce, tenho certeza que ele levou seus alunos a sério também, mas basicamente eles (os alunos) não conseguiam acompanhar o ritmo verdadeiro do JKD. É por isso que as aulas oscilaram tanto, porque eles não conseguiam acompanhar o ritmo do treinamento.”
Bruce Lee efetuando quebramento de tábuas (seguras por James Lee) com seu lendário chute lateral. |
James Lee (perito soldador) foi quem confeccionou a "prancha" de 300 libras para o treinamento do chute lateral. |
E ainda sobre o aparelho desenvolvido por James Lee, completou Howard: “Bem, Greg (filho de James Lee) costumava mencionar que ouvia seu pai e Bruce falando sobre mim e o desenvolvimento de minhas habilidades, e especialmente sobre eu conseguir balançar a mesma máquina de chutes (criada por James) da mesma forma e com o mesmo poder de Bruce Lee. Um dia estava na presença de Bruce e ele me chamou de ‘robusto’, por causa da minha habilidade e tamanho. Ele sentiu que eu tinha algo com que trabalhar. Ele poderia me moldar e esculpir todas as minhas coisas não essenciais para me tornar o que sou hoje. E ele e James se saíram muito bem. Eu tinha 19 para 20 anos.” Perguntado sobre sua velocidade em comparação à de Bruce Lee, responde Williams: “Bem, de acordo com James, eu era natural no que diz respeito às minhas habilidades. E eu não tive que trabalhar tanto quanto Bruce Lee, mas não me comparo com meu Sifu dessa maneira. Ele viu o que eu tinha, pegou e transformou no que tenho hoje. Não gosto de comparar minha velocidade com a velocidade dele (Bruce Lee). Não gosto destas coisas, é desrespeito. Eu respeito meu Sifu. Eles eram meu Sifu. E quando você trabalha duro em algo, é orgulho e alegria deles ver você desenvolver e até superá-los, pois assim puderam ver os frutos do seu trabalho, que não foi em vão. Então, se ele estivesse vivo hoje, provavelmente ficaria muito satisfeito, eu acho, e provavelmente gostaria de experimentar mais coisas comigo. Então, neste aspecto, eu diria: Minha velocidade em relação à dele? Quem sabe aonde isso poderia ter me levado? Ainda não terminei com o desenvolvimento de minha velocidade.”
Howard Williams: “JKD é o que é, natural. É só isso. Não é um estilo." |
A Concepção de um Verdadeiro Lutador – Assim respondeu Howard Williams: “Em minhas palavras, um verdadeiro lutador dever primeiro ser fisicamente apto, forte e capaz. Esses são apenas os atributos externos. Mas existem algumas pessoas que não possuem essas habilidades físicas, mas têm o coração e a verdadeira maneira de pensar. Para mim, eles podem ser tão bons, porque todo lutador, todo ser humano tem algo que pode desenvolver para usar e se defender e poder aumentar sua habilidade de luta; agora, eu pessoalmente diria que você pode ter todas as habilidades de luta que deseja.”
Flagrante de Howard Williams aplicando o "Soco de Uma Polegada" em um aluno. |
"Bruce Lee era, antes de tudo, um ser humano..." |
"Ele era o seu maior amigo e o seu pior inimigo. Ele estava competindo consigo mesmo." - Williams, sobre Bruce Lee. |
E disso veio o conhecimento do que temos hoje, e isso continuou a crescer. Mas isso não foi o suficiente para ele; ele ainda tinha o ímpeto de querer ser o melhor, mesmo dentro de suas próprias fileiras. Ele era o seu maior amigo e o seu pior inimigo. Ele estava competindo consigo mesmo. Se ele não estava satisfeito com o progresso que tinha feito, então não descansava até descobrir a causa daquela ignorância e continuava a desenvolver, e a desenvolver. Quanto mais velho ficava, mais sábio ficava, melhor se tornava e mais determinado era para obter sucesso. Esses são os atributos que estavam nele e em todos que ele ensinou ao longo do caminho, naqueles que participaram da primeira geração do JKD. Tive a sorte de estar lá para ver muito dessa transição, e estar envolvido em muitas dessas mudanças, e no nascimento de um novo sistema, uma nova maneira de pensar, uma nova maneira de lutar. E então, a filosofia que se seguiu, era realmente para não chamá-la de nada, mas uma expressão de quem você é. Descubra a causa da ignorância, então você descobrirá quem você é. Quando você descobrir quem você é, poderá aplicá-lo à sua arte. Excelência gera excelência, sucesso gera sucesso, fracassos geram fracassos. Mas nada supera o fracasso, exceto uma tentativa, e não importa o que você tem, quem você é, de qual sistema você vem; você sempre pode aprender algo com o JKD e aplicá-lo. Veja, o meu trabalho não é pegar você e mudar quem você é. Mas para o que você tem, e fazê-lo concentrar-se apenas no natural, seja um soco direto, chute, qualquer coisa. Pegue-o torne-o melhor para você, Isso é o que Bruce se esforçou para nos dar hoje, o legado que temos hoje. E não está sendo ensinado, não está sendo transmitido adequadamente; então é aí que eu entro, para ajudá-lo a descobrir a causa da sua ignorância. Não ser como Bruce Lee, mas ser como você, ser o melhor que você pode ser; é disso que se trata!”
Howard Williams - 1950/2012 |