Enter the Dragon

domingo, 28 de setembro de 2014

BRANDON BRUCE LEE - O Legítimo Herdeiro do Pequeno Dragão.


Brandon Lee (Brandon Bruce Lee) Nascido em 1º de janeiro de 1965, na cidade de Oakland, California, EUA, era filho de Bruce Lee e Linda Lee Cadwell. O avô de Brandon, Lee Hoi-Chuen (pai de Bruce), morreu uma semana após o seu nascimento. Desde criança Brandon teve o incentivo do pai para treinar artes marciais. Infelizmente Bruce Lee faleceu em 1973 aos 32 anos (oficialmente, de edema celebral) quando Brandon estava com apenas oito anos de idade. Sob os cuidados do pai Brandon teria tudo para ser um grande artista marcial, verdadeiramente o sucessor do Rei do Kung Fu; mas não foi assim que aconteceu. Brandon cresceu sem a presença física do pai, mas dele o menino tinha muitas recordações, sem contar com os filmes e as histórias que sua mãe e amigos da família partilhavam entre si. 
Bruce e Brandon numa demonstração para a TV em Hong Kong
Surpreendentemente os interesses do jovem Brandon se voltaram mais para o teatro e a arte de interpretar do que precisamente para o Kung Fu, apesar de nunca ter conseguido se livrar do legado que, querendo ou não, Bruce Lee lhe deixou, que era a tendência natural para as artes marciais, embora nunca pretendesse ocupar ou superar o próprio pai. 
Brandon e Bruce
Brandon, aliás, detestava as inevitáveis comparações. O próprio Brandon declarou certa vez que seria impossível surgir outro Bruce Lee, já que para sê-lo alguém teria que passar pelas suas mesmas experiências. Brandon por exemplo teve uma criação totalmente diferente de seu pai, pois foi criando sob cultura e ambientes diferenciados do padrão chinês. Bruce Lee era filho de uma família tradicional de classe média chinesa, seu pai era um tradicional e respeitado ator de teatro e viciado em ópio (o que era comum entre os atores chineses renomados) tinha quatro irmãos e constantemente se envolvia em brigas de rua com deliquentes, gangs e até contra pequenos traficantes nos tempos de adolescente, correndo risco de morte real. Apesar de não lhe faltar nada, constantemente dava trabalho aos pais no que se refere à disciplina. Sua aparência de bom moço enganava a todos, pois sempre estava disposto a uma boa luta. Seus confrontos precoces o levaram desde cedo a questionar sobre as melhores técnicas para se usar efetivamente nas ruas, pois ainda jovem já duvidava de certos estilos de Kung Fu e sua eficácia em confrontos reais. E ele progrediu marcialmente dando a cara à tapa, literalmente. No caso de Brandon, as coisas não aconteceram assim sempre foi protegido e acompanhado pela mãe, familiares e amigos íntimos de Bruce, apesar ter tido alguns problemas de indisciplina na escola devido à cobranças e comparações feitas pelos colegas, e boatos sobre a morte misteriosa de seu pai. Teve apenas uma irmã (Shannon), gostava de motocicletas, música e de teatro, mas as artes marciais nunca estiveram em primeiro plano para ele, apesar de sempre praticar sem alarde. No início dos anos de 1970 a família Lee se viu obrigada a sair dos EUA para Hong Kong quando Bruce foi convidado a fazer a série de filmes que o deixaria famoso, mas após a sua morte prematura, Linda e seus filhos Brandon e Shannon retornam para os EUA. 
Shannon, Linda e Brandon
Na América, após concluir seus estudos regulares aos 18 anos em 1983, o jovem Brandon se matricula com o apoio de Linda na Escola de cinema Emerson College, em Boston, Massachussets, que deixou após um ano e meio para continuar na arte dramática cursando no Lee Straberg Theatre And Film Institute de New York. Mas Brandon retorna aos seus treinos de Kung Fu, mais precisamente o Jeet Kune Do (arte marcial criada por Lee), conciliando com seus trabalhos teatrais. Começa a treinar na academia de Dan Inosanto e Ted Wong interagindo com antigos alunos e amigos de seu pai como Richard Bustillo e Jerry Poteet. Inevitavelmente ele é pressionado por inúmeros convites para filmar e iniciar sua carreira cinematográfica. Em 1986 participou do longa para TV “Kung Fu - The Movie” (baseado na série de TV dos anos de 1970), contracenando com David Carradine; ainda em 1986, aos 21 anos fez “Legacy Of Rage” produzido em Hong Kong, onde contracena num combate com o veterano Bolo Yeung, as lutas com muito realismo foram coreografadas por Tom Blauer, praticante de Full Contact e instrutor do Ecletic Martial Arts Center de Montreal, Canadá; em 1987 participou do que seria um piloto para refilmagem da antiga série de TV “Kung Fu”, intitulada “Kung Fu: The Next Generation”, onde fez o papel de filho do monge rebelde Kwai Chang Caine (interpretado desta vez por David Darlow), personagem central na série original. Em 1990 fez Missão Resgate (Laser Mission) ao lado do consagrado Ernest Borgnine, uma produção australiana sem muita repercussão. Finalmente em 1991 co-estrelou com Dolph Lundgren o filme “Massacre no Bairro Japonês” (Showdown In Little Tokyo), onde roubou a cena, pois Lundgren nunca foi um ator e como artista marcial apesar de ser faixa prêta em Kyokushin Karatê, é totalmente inexpressivo. Brandon por mais que tentasse disfarçar não poderia negar que tinha alguns trejeitos do pai e o filme vale a pena ser visto por isso, de alguma forma ele lembrava Bruce Lee em alguns movimentos que fazia, as lutas foram coreografas por Pat Johnson, norte americano lutador veterano de Tang Soo Doo coreano. No ano seguinte Brandon é o ator principal de “Rajada de Fogo” (Rapid Fire), nesse trabalho ele estava ainda mais solto e usou visivelmente técnicas de Jeet Kune Do, sendo que boa parte das coreografias de luta foi desenvolvida com o auxílio do experiente double e amigo, Jeff Imada. Brandon esteve no Brasil em 1992 para a divulgação e lançamento de “Rapid Fire” . Tudo indicava que ele iria aos poucos se desenvolver como ator e artista marcial. Como Bruce Lee, ele tinha forte personalidade, era politizado, tinha carisma e inteligência, e sabia muito bem o que queria alcançar, era só uma questão de tempo. Então surgiu uma grande oportunidade, um projeto mais ambicioso que daria a Brandon um destaque no mundo do cinema. 
Brandon caracterizado para seu personagem em O Corvo
O filme denominado “O Corvo” (The Crow, de 1993); algum supersticioso não poderia imaginar um título mais apropriado. O personagem principal do filme, Eric Draven (Brandon Lee), é um músico de rock que é assassinado juntamente com sua namorada violentada pelos marginais. Graças ao sobrenatural e a um corvo misterioso, Draven volta da morte para se vingar da gang. As filmagens estavam indo bem com grande atuação de Brandon até que o pior aconteceu. Ele gravava uma cena em que chegava em casa com algumas compras de supermercado num saco e surpreendia a ação dos bandidos. Nesta cena Brandon teria que ser baleado no abdome mortalmente. A sacola de papel que carregava continha uma bolsa de sangue artificial que explodiria simulando o ferimento. O técnico em efeitos especiais (ausente) responsável pela munição de festim usada na arma, inexplicavelmente deixou o seu auxiliar com a responsabilidade de preparar a falsa munição e misteriosamente um projétil de verdade foi deixado no cano da arma que perfurou a sacola e atingiu os orgãos internos de Brandon, chegando a partir sua coluna vertebral causando sua morte por hemorragia interna. O filme que registrou tal cena de horror, foi destruído (dizem...); mas de qualquer forma foi mais uma vez uma morte estúpida, precoce e muito mal esclarecida tal como foi a de seu pai. Brandon faleceu em 31 de março de 1993, na Carolina do Norte, com apenas 28 anos de idade. 
Os túmulos de Bruce e Brandon em Seattle
Como fizeram em O Jogo da Morte (The Game Of Death) com Bruce Lee, o filme foi concluído com a ajuda de sósias, doublês e montagens. No remake de “O Jogo da Morte” (1978), há uma cena em que o personagem Billy Lo (que seria Bruce Lee), um ator de filmes de Kung Fu, é ferido propositalmente nas filmagens de um filme e é dado como morto; foi a profecia de uma tragédia que ocorreria em 1993. A realidade copiou a fantasia, foi mesmo assassinato, uma trágica coincidência, ou maldição? Só Deus pode responder tais questões. O lançamento do filme foi um sucesso de público, e ainda que a trágica morte de Brandon ter sido um chamariz para a promoção de “O Corvo”, ironicamente foi o melhor trabalho dele que prometia ser a mais nova sensação de Hollywood. Brandon nunca pretendeu o trono do pai, mas tinha orgulho de ser seu filho, ele apenas queria conquistar o seu próprio reino em outras esferas.  

Brandon estava noivo de Eliza Hutton e se casariam em 17 de abril de 1993 no México, só que a fatalidade ocorreu duas semanas antes. Ele foi enterrado em Lakeview Cemetery em Seattle ao lado do túmulo do pai. Que Deus tenha misericórdia de Brandon e de Bruce, e abençoe Linda e Shannon.

Link com homenagem a Brandon Lee: 
http://youtu.be/DszDGEFpJ8c

Por Eumário José Teixeira. 

BRUCE LEE - O REI DAS ARTES MARCIAIS NÃO DEIXOU SUCESSORES



O que seria dos filmes de artes marciais sem o surgimento de Bruce Lee? Certamente o gênero não teria tamanha longevidade e sucesso de público. Talvez o que manteve o gênero ainda vivo nas telinhas foi justamente a expectativa do surgimento do sucessor de Bruce Lee, morto em 1973. Mas estamos em 2011, e a meu ver até hoje, ninguém esteve à altura do pequeno dragão. Alguns chegaram perto de ter um reconhecimento semelhante, mas não souberam se manter no topo e se perderam. A maioria dos candidatos à sucessão fizeram mais de uma dezena de filmes e não conseguiram convencer o público ávido por outro ídolo nas artes marciais. Se bem que quem foi fã de Bruce Lee e acompanhou sua curta carreira, jamais iria admitir que alguém pudesse destroná-lo.
Bruce Lee deixou apenas quatro filmes de artes marciais concluídos e um inacabado. Anteriormente aos filmes produzidos em Hong Kong, ele foi protagonista da série de TV norte-americana “O Besouro Verde” (The Green Hornet) no final dos anos de 1960, fazendo o papel de Kato, o ágil e saltitante parceiro do Besouro Verde (Van Williams). Só para comentar, a nova versão para o cinema de “O Besouro Verde” (2011) foi um lástima, aliás Hollywood ultimamente faz questão de destruir os clássicos dos quadrinhos e das telinhas.
Após Bruce Lee ter co-estrelado com sucesso em “O Besouro Verde” e em outra série de TV chamada “Longstreet” (com James Franciscus) e na qual teve ótimas participações apenas nos dois primeiros capítulos, ele foi simplesmente vetado para o principal de “Kung Fu”, uma série para TV famosa e idealizada inicialmente para o próprio Lee, que foi substituído pelo canastrão David Carradine, que além de ser um ator medíocre usaria suas habilidades de ‘dançarino’ para enganar nas cenas de lutas nos episódios com uma discreta ajuda de dublês. Ficou evidente que era um típico caso de discriminação racial por parte dos produtores norte-americanos.
O primeiro filme de Bruce Lee produzido pelos estúdios de Hong Kong foi “O Dragão Chinês” (The Big Boss) de 1971. O filme foi filmado sob condições precárias numa vila na Tailândia. Com uma produção barata, a película só se salva pela performance de Bruce Lee. Sua técnica, explosão e velocidade nos golpes eram inéditos para um público acostumado com um cinema ‘pastelão’ de Kung Fu onde as lutas pareciam intermináveis e sem definição. Foi um enorme sucesso de público em Hong Kong.
O segundo filme, “A Fúria do Dragão” (Fist Of Fury) iniciado em 1971 e concluído em 1972, foi filmado em Hong Kong com uma produção melhor. Bruce (com moral) pôde interferir nas coreografias das lutas e contou com a participação de seu amigo e karateca Bob Baker, que interpretou um famoso lutador russo. Lee demonstra sua perícia com o nunchaku pela primeira vez nas telonas. Foi outro estrondoso sucesso em toda a Ásia. O personagem de Lee está furioso e obcecado para vingar o assassinato de seu mestre, sua fúria é transmitida ao público a cada golpe desferido contra os alunos de academia japonesa.
O terceiro filme, “O Vôo do Dragão” (The Way Of The Dragon) de 1972, Bruce Lee foi o responsável pelo roteiro, direção e coreografia das cenas de luta, além de ser o protogonista. Um dos trunfos do filme foi a participação de dois lutadores de artes marciais campeões dos EUA, Bob Wall e Chuck Norris, assim como da participação do coreano Wang Ing Sik (em coreano Hwang In-Sik), mestre de Tang Soo Doo. Neste filme Bruce protagoniza uma cena clássica utilizando dois nunchakus ao mesmo tempo. O clímax de “O Vôo do Dragão” é sem dúvida o duelo final entre Lee e Chuck Norris no coliseu em Roma, a coreografia da luta é tida como uma das mais belas já feitas no cinema. O filme é temperado com cenas de humor com as quais Bruce queria direcionar diretamente ao público asiático.
O quarto filme seria “O Jogo da Morte” (The Game Of Death), que foi começado a ser filmado ainda em 1972; era um projeto pessoal de Bruce Lee. A idéia central do enredo era demonstrar que todo artista marcial deveria se adaptar às circunstâncias mesmo que muito desfavoráveis. No filme o personagem de Lee teria que invadir um pagode de estilo coreano, e enfrentar em cada pavimento um adversário com um estilo de luta diferente. No esboço original Whang Ing Sik (mestre coreano Tang Soo Doo e de Hapkidô) guardaria o primeiro andar; Taki Kimura (amigo e aluno de Lee) guardaria o 2º andar; Dan Inosanto (mestre das armas brancas filipinas e amigo de Lee) ficaria com o 3º andar; Ji Han Jae (mestre introdutor do Hapkidô nos Eua) estaria no 4º andar; e finalmente o gigante Karren Abdul Jabbar (profissional de basquete e ex-aluno de Lee) seria o último adversário no 5º andar. Ele chegou a deixar gravados alguns ensaios de lutas ainda não definitivos para o filme. Um dos confrontos que chegou às telas foi o que Bruce enfrenta seu parceiro filipino Danny Inosanto, que representava um mestre no nunchaku e bastões duplos. O duelo entre os dois com nunchakus é um clássico do gênero. O outro duelo exibido foi contra mais um amigo de treinamento, Han Jae Ji, mestre de Hapkidô responsável pela divulgação do estilo nos EUA. E para finalizar Lee enfrenta literalmente um grande obstáculo, o gigante Kareen Abdul Jabbar, de mais de 2 metros de altura. Jabbar foi aluno de Bruce Lee em Seattle e era campeão de basquete pelos Lakers nos EUA. A luta foi outra aula de técnica e criatividade de Bruce Lee. Mas Bruce não concluiu as filmagens, foi chamado às pressas para os EUA por Hollywood que acabou por se render ao talento do “pequeno dragão”, eles tinham um projeto mais ambicioso para Bruce Lee. ‘O Jogo da Morte” seria lançado oficialmente em 1978, com montagens absurdas, tais como closes de Lee em filmes anteriores, dublês e sósias de Bruce filmados com enormes óculos escuros encobrindo o rosto, filmagens em ângulos que dificultassem o close dos sósias, e atores que chegaram a contracenar com Bruce em outros trabalhos como Dan Inosanto e Bob Wall. Mas vale a pena ver pelas cenas finais originais com Lee trajando seu lendário macacão amarelo e enfrentado Dan Inosanto, Han Jae Ji e Kareen Abdul Jabbar. Anos mais tarde foi lançado um documentário chamado “A Jornada de um Guerreiro” (Warrior’s Journey) que trata justamente deste projeto inacabado por Bruce Lee, com suas idéias e esboços para o filme, cenas inéditas de ensaios de lutas com outros participantes para “O Jogo da Morte”.
Mas foi “Operação Dragão” (Enter The Dragon) de 1973, que se tornou o quarto e definitivo filme de Bruce Lee. É até hoje considerado o clássico insuperável dos filmes de artes marciais. Bruce Lee era o protagonista mas teve que dividir o estrelato com os norte-americanos John Saxon e Jim Kelly. As cenas de luta foram todas coreografadas por Lee. John Saxon não se comprometeu, teve boa participação dentro de suas limitações como artista marcial; Jim Kelly com sua cabeleira black power, se destacou com seu karate nada ortodoxo, mas certamente graças à supervisão de Lee. No filme Bruce Lee dá uma demonstração jamais vista nas telas de manuseio de armas brancas, nunchaku, bastões filipinos, e bastão longo (bo). Outros participantes ilustres do filme como vilões, foram Bolo Yeung (como Bolo), praticante de Karatê; Sammo Hung (que fez a primeira cena de luta do filme contra Lee), o experiente em filmes de Kung Fu; Shih Kien (como Mr. Han), um ator veterano de Hong Kong e praticante de estilo tradicional de Kung Fu; e novamente Bob Wall (como O’Hara). Operação foi um sucesso sem igual, na Ásia, Europa e EUA, Bruce Lee estava consagrado. Mas Deus não permitiu que ele usufruísse desse sucesso em vida. Pouco antes do lançamento do filme, Lee falecia em 20 de julho de 1973, deixando um público enorme de fãs espalhados no mundo inteiro. Quem poderia imaginar que Bruce Lee era um mero mortal?
Começou-se então a procura do sucessor do Rei do Kung Fu, vários surgiram de todos os cantos, a maioria tentando imitá-lo em vão. Até hoje se tenta achar alguém. É como tentar achar o novo Pelé, o novo Muhammad Ali, o novo Jimi Hendrix, etc. Bruce sempre vai ser a referência para se julgar algum artista marcial.
A seguir alguns candidatos que já tentaram (em vão) tomar o trono do inimitável, invencível, tranqüilo e infalível Bruce Lee.
1 - Jackie Chan (Chan Kong-Sang) – Chinês de Hong Kong e nascido em 1954, Jackie inicialmente se preparou para a carreira artística na Ópera de Pequim, onde desenvolveu seus dotes para acrobacia principalmente. Estudou os estilos de Kung Fu tradicionais como Shaolin do Norte, Punho do Bêbado, Estilo do Macaco e Wing Chun e formas do Wu Shu (Kung Fu) moderno. Começou a trabalhar no cinema como dublê, inclusive em dois filmes de Bruce Lee, “A Fúria do Dragão” e “Operação Dragão”. Após a morte de Bruce Lee chegou a ser apontado como seu provável sucessor, apesar de Jackie sempre desconversar sobre isso dizendo que sua proposta para os filmes de artes marciais era o oposto ao de Lee, já que ele (Jackie) tendia mais para a comédia. E dentre quase duas dezenas de filmes realizados por Jackie Chan, poucos merecem ser lembrados em se tratando de artes marciais, como “O Mestre Invencível” (The Drunken Boxer). Jackie tinha carisma e talento, mas não tinha em seu íntimo o desejo de se aperfeiçoar como lutador, valorizava mais o seu lado acrobata e cômico; ele, a meu ver, pecou por isso. E mesmo após mudar-se para os EUA onde teve todo o aparato de Hollywood a seu favor, não conseguiu realizar nada que causasse impacto no mundo dos filmes de Artes Marciais.
2 - Yazuaki Kurata – Também conhecido como David Kurata, é japonês e nascido em 20 de março de 1946, sendo mestre em Karate (5º dan), Judô (3º dan) e Aikidô (2º dan), um autêntico artista marcial. Estudou a arte de representar na Universidade de Nihon e Escola de Teatro Toei. Seu primeiro trabalho como ator foi em 1960, mas como participante de filmes de artes marciais foi em 1971 em Hong Kong, pela Shaw Brothers. Inicialmente fazia os papéis como vilão (japonês de preferência), e aos poucos estreou como protagonista em outras películas, já que ninguém podia negar sua capacidade técnica como lutador e seu rosto de galã (uma espécie de Alain Delon Japonês). É difícil se lembrar de algum filme de Kurata como protagonista que valha a pena, mas nos que trabalhou como ator coadjuvante representando um expert em artes marciais japonesas ele realmente se destacou; como "The Mad, The Mean, and the Deadly", "A Vingança Final" (Blood Fight) e em “Matar ou morrer” (Fist of Legend) estrelado por Jet Li, que foi um remake de “A fúria do Dragão” de Bruce Lee. Outro filme no qual ele se destacou como um mestre japonês de artes marciais foi no filme “Heróis do Oriente” (Heroes Of The East) que teve como protagonista o ator chinês Gordon Liu. Talvez a formação ortodoxa que obteve no budô japonês prejudicasse à Kurata na sua busca para alcançar o posto vago de Bruce Lee que era dono de uma condição técnica e criativa surpreendentes, como renováveis e independentes de qualquer estilo tradicional.
3 - Sonny Chiba (Sadaho Maeda) – Nascido em 2 de janeiro de 1939 em Fukuoka, no Japão. Talvez a melhor resposta japonesa ao fenômeno Bruce Lee. Seu estilo de lutar nas telas era baseado no Karatê Kyokushin de seu mestre Masutatsu Oyama. Chiba não tinha em seus movimentos a plasticidade e elegância de Bruce lee mas tinha intensidade, fúria e explosão. Ele realmente era adorado pelos fãs japoneses e alcançou o reconhecimento fora do seu país. Ao contrário dos outros pretendentes, ele realizou filmes memoráveis pela Toei Film Studio, vale destacar “Street Fighter” e “O Retorno de Street Fighter” em 1974, e a trilogia que fez sobre a vida e obra de Mas Oyama, “Karate Bullfighter” (O Campeão da Morte); “Karate Bearfighter” em 1975 e “Karate for Life” em 1977. Seus filmes são cult em todo mundo, principalmente para praticantes de Karatê japonês, principalmente do estilo Kyokushin. Além disso Chiba é realmente formado em Karate Kyokushin (4º dan), Ninjitsu (4º dan); Karate Goju-Ryu (2º dan); Judô (2º dan); Kendo (1º dan) e Shorinji Kempo (1º dan). Ele teve uma participação especial no filme “Kill Bill” de Quentin Tarantino, no qual representa um mestre fabricante de katana (espada de samurai). Aliás tanto Bruce Lee como Sonny Chiba foram referências para a formação de cineasta de Tarantino. Creio que Sonny Chiba nunca cobiçou o trono de Lee, pois ele conquistou seu próprio espaço com carisma, garra, talento e personalidade.
4 - Alexander Fu Sheng (Chan Fu-Sheng) – Nascido em Hong Kong no dia 20 de outubro de 1954. Foi um dos maiores ídolos de filmes de Artes Marciais produzidos pela Shaw Brothers de Hong Kong, principalmente os da série de Shaolin. Fu Sheng fazia parte de uma equipe de ouro de atores e artistas marciais inesquecíveis como Chen Kuan-Tai, David Chiang, Ti Lung e Chi Kuan-Chun. Talvez pudesse se rivalizar com Bruce Lee em Hong Kong no que se diz respeito à sua popularidade. Fu Sheng, era jovem, charmoso e carismático e fazia sucesso com as garotas. Curiosamente como Bruce Lee em sua adolescência, Sheng era inquieto, ia mal na escola e participava frequentemente de brigas de rua. Nesse período em que vivia no Hawai com seus pais aprendeu inicialmente Judô e Karatê japoneses. Anos mais tarde de volta à Hong Kong, sua desenvoltura chamou a atenção de um diretor de filmes. Este o levou a treinar Kung Fu tradicional com Lau Kar-Ling por 6 meses e logo Sheng começaria a se destacar dos demais. Seus filmes mais famosos e que o levaram ao estrelado são “Heroes Two” (Dois Heróis de Shaolin), “Shaolin Matial Arts” (Artes Marciais de Shaolin) e “Five Shaolin Masters” (Cinco Mestres de Shaolin) todos de 1974; “Disciples Of Shaolin” (Discípulos de Shaolin) de 1975; “The Shaolin Avengers” (A Vingança de Shaolin) e “Shaolin Temple” (Templo de Shaollin) de 1976. Ironicamente após comprar a casa onde Bruce Lee morou em Kowlon, um bairro de Hong Kong, Fu Sheng é vítima de um acidente numa curva em seu Porsche 911 Targa dirigido por seu irmão. Era 7 de julho de 1983, Sheng tinha apenas 28 anos. Praticamente 10 anos após a morte de Bruce Lee que ocorreu em 20 de julho de 1973. Seus personagens nos filmes eram sempre brincalhões, imaturos e rebeldes, mas tremendamente ágeis e mortais quando provocados.
5 - Sammo Hung (Sammo Hung Kam-Bo) – Nasceu em Hong Kong em 07 de janeiro de 1952, atualmente é além de ator, diretor e produtor de filmes de artes marciais. Sammo é um dos artistas mais populares de Hong Kong devido à sua imensa filmografia. Sammo trabalhou em quase uma centena de filmes como dublê, ator coadjuvante e protagonista, nos quais interpretou vilões e mocinhos atrapalhados, mas bons de briga. Sua agilidade impressiona considerando que sempre ostentou uns quilos à mais, contrastando com os demais concorrentes ao estrelato em Hong Kong. Seu excesso de peso não comprometia sua performance, o que não pode se dizer de Steve Seagal. Mas sua simpatia, carisma e bom humor cativaram seu público fiel. Seus incontáveis filmes infelizmente não merecem ser lembrados, apenas algumas de suas participações como coadjuvante como em “Operação Dragão” no qual enfrenta Bruce Lee na primeira cena de luta do filme, o que o tornou mais conhecido. Participou também da montagem que realizaram com as cenas deixadas por Lee e que culminou no “Jogo da Morte” em 1978. Sammo Hung enfrenta e é derrotado por um lutador profissional representado por Bob Wall. No mesmo ano ele faria uma paródia de “Operação Dragão”, que foi “Operação Dragão Gordo” (Enter The Fat Dragon) de 1978, nada que se pudesse levar à sério, apesar de boas lutas. Conquistou o público norte-americano pouco exigente numa série policial para a TV, no qual faz o papel de um detetive de origem chinesa. Recentemente teve ótima participação em “Yip Man-2” (2010), filme estrelado por Donnie Yen (sobre o mestre de Wing Chun e instrutor de Bruce Lee na adolescência). E se Jackie Chan não levou à sério a conquista do trono vago por Bruce Lee, por que Sammo Hung o Faria?
6 – Jim Kelly (James M. Kelly) – Um legítimo representante do movimento black power nos anos de 1970, pelo menos no visual. Nasceu em Paris, mas não na França, mas no estado de Kentucky nos EUA em 05 de maio de 1946. Cheio da ginga negra tal como Muhammad Ali, adotou o karate japonês, precisamente o estilo Shorin-Ryu, como sua arte marcial preferida e foi campeão internacional em torneio de Karate (pesos-médios) realizado em Long Beach, na Califórnia, em 1971. Ficou conhecido após sua muito boa participação no filme “Operação Dragão” de 1973 com o personagem Mr. Williams. Tem um carisma natural, é elegante e foi muito bem dirigido por Bruce Lee nas cenas de luta. Tanto é que após tentar a sorte como protagonista em “The Black Belt Jones” (O Faixa Prêta Jones) pode-se notar que ele não era aquilo tudo que deixou transparecer em “Operação Dragão”, apesar de Black Belt Jones ser um bom filme de ação e com boas lutas até em slow motion. Jim Kelly até que se saiu bem na sua estréia como o blackman do karate, mas a sua seqüência de filmes caiu assustadoramente principalmente na qualidade e credibilidade nas cenas de combate. O fantasma de Bruce Lee ainda o assustava.
7 – Chuck Norris (Carlos Ray Norris, Jr.) – Nascido em 10 de março de 1940 na cidade de Ryan no estado de Oklahoma. Com seus 1,78m, Chuck treinou até atingir o grau máximo na arte marcial coreana Tang Soo Doo. Chegou a criar um estilo próprio de arte marcial o Chun Kuk Do. Adquiriu certa fama no circuito das artes marciais nos anos de 1960 devido aos seus chutes circulares. Chuck Norris gaba-se de ter “passado” algumas de suas técnicas de chutes para Bruce Lee, se for verdade ele não contava que Bruce o superasse posteriormente na técnica e velocidade ao desferir tais golpes com os pés. Norris adquiriu popularidade internacional ao participar do filme “O Vôo do Dragão” de Lee, onde os dois travam um combate sensacional no coliseu de Roma numa coreografia clássica de mais ou menos 10 minutos. No confronto que foi dirigido pelo próprio Bruce Lee, fica claro a diferença técnica entre os dois. Apesar de Norris ser um campeão consecutivo em torneios de artes marciais (sem contato) nos EUA, sua técnica fica a desejar ao compará-lo com o Pequeno Dragão. Bruce demonstra uma graça e leveza técnicas aliados a uma velocidade incrível ao desferir seus golpes, que deixa Norris pasmado como um amador. Com a morte de Lee, Norris que já tinha alguma experiência como “ator” foi outro que se aventurou a fazer filmes de artes marciais. A culpa foi de Bruce, foi ele quem criou o “monstro”. Os filmes de Norris eram claramente dirigidos ao público americano patriota, geralmente seus personagens eram veteranos de guerra que adentravam sozinhos nas sombrias selvas vietnamitas para salvar prisioneiros de guerra norte-americanos dos terríveis comunas vietcongs, era o nascimento de “Braddock”, uma espécie de Rambo numa embalagem menor. Posso citar como bons filmes de Norris, “Lobo Solitário Mcquade” (Lone Wolf Mcquade) de 1983 e “O Código do Silêncio” (Code Of Silence) de 1985. Um outro personagem de Chuck que fez sucesso por lá foi do “Texas Ranger” chamado Walker que rendeu uma longa série para TV nos anos de 1990, e dá-lhe muitos tiros mesclados com alguns chutes e saltos sensacionais. E apesar de parecer repetitivo às vezes com seu arsenal limitado de golpes, Norris tinha valor para os fãs norte-americanos, apesar de ainda ser um péssimo ator. A meu ver Norris foi um dos maiores “canastrões” dos filmes de artes marciais, sem querer ofender a pessoa, é claro. Mas ainda assim Chuck Norris virou "febre" na internet graças a um site conhecido como “Chuck Norris Facts”, que documenta e divulga fatos e características fictícias sobre o artista marcial, e que começou a circular em 2005. O website já conta com aproximadamente 8.000 verdades sobre Chuck Norris". Aqui no Brasil, uma lista desse site traduzida para o português foi divulgada com o título de "Lista das 100 verdades sobre Chuck Norris" e desde então é atualizada em um website intitulado ‘As verdades sobre Chuck Norris’. A partir disso uma onda fez o nome Chuck Norris se tornar folclore popular em toda mídia mundial com várias “tiradas” sensacionais. Na série do Disney Channel, Wizards of Waverly Place, a personagem Alex diz que não quer trocar de corpo com Justin, pois faz mais flexões do que ele, então Justin diz: "Eu prefiro ser Chuck Norris, que faz mais flexões que você, explode meio mundo e não leva um tapa"; no site de humor Desciclopédia, Chuck Norris é retratado como um deus, ou como uma pessoa capaz de realizar o impossível, um ser imortal, invencível e incrivelmente poderoso. São frequentes as referências ao golpe Roundhouse Kick; ao digitar no Google "Find Chuck Norris" e clicar em ‘Estou com Sorte’ aparece a seguinte frase em vermelho: Google won't search for Chuck Norris because it knows you don't find Chuck Norris, he finds you. (Google não pode procurar por Chuck Norris, porque sabe que você não achará Chuck Norris, ele acha você.). Isso se deve ao fato do Google abrir como primeiro site o http://www.nochucknorris.com/ e mostrar a mensagem como se fosse do site de buscas. Chuck sempre levou seus personagens a sério, mas o público não, assim sendo ele nunca poderia ocupar o trono vago de Bruce Lee. I’m sorry, Chuck!
8 - Jean Claude Van Damme (Jean-Claude Camille François Van Varenberg) - Nascido em 18 de outubro de 1960 em Berchem-Sainte-Agathe, Bruxelas, na Bélgica. Medindo 1,77 m (me parece que é mais baixo), é conhecido em seu país natal como “Os Músculos de Bruxelas” por ter ganhado um campeonato de fisiculturismo por lá, e “El loco” devido ao seus filmes de artes marciais. Aos 11 anos começou a treinar karatê japonês e logo depois passou a praticar balé (eu hein?!) por seis anos. Aos 16 anos, mesmo com, ou devido ao balé, conquistou o European Pro Karate Association (por pontos). Seu estilo (no cinema) é uma combinação de karatê Shotokan, Kickboxing, Muay Thai e Taekwondo. Jean Claude adora exibir em seus filmes sua famosa elasticidade e volta e meia acha um pretexto para fazer aberturas de pernas. Seu golpe mais famoso é um chute em salto com o calcanhar num giro de 180º; e esta facilidade para aplicar tal golpe se deve com certeza à sua experiência com o (arghhh!) balé. Van Damme migrou para os EUA em 1982 para tentar a sorte no cinema e foi figurante em “Braddock”, uma das “obras-primas” de Chuck Norris. Trabalhou também numa pequena produção francesa, “Mônaco Forever” (1984), no qual interpretava um lutador de karatê gay (tudo pela fama!). Em 1985 se destacou como vilão no filme “Retroceder Nunca, Render-se Jamais”, sob o espectro de Bruce Lee, pois o filme contava a história de um jovem lutador que recebia instruções do espírito de Lee. Jean Claude roubou a cena devido a sua técnica de chutes e elasticidade. Em seguida ele estreou como protagonista em “O Grande Dragão Branco”, que teve a participação, como vilão, de Bolo Yeung, o “Hércules Chinês” (o mesmo que trabalhou com Lee em “Enter The Dragon”). A partir desse filme, que foi uma cópia discreta de “Operação Dragão”, Jean Claude nunca mais parou de filmar. A maioria de sua filmografia é medíocre; enfadonha e repetitiva, marcialmente falando. E ele ainda teimou em acumular as funções de escritor, roteirista, produtor, diretor e coreógrafo das cenas de lutas em muitos de seus filmes. Sua atuação como ator era sofrível, apesar dele transmitir um bom senso de humor. Bruce Lee não era um grande ator mas não comprometia, mas Van Damme e Chuck Norris numa avaliação de ambos como atores...dá empate na canastrice! Jean Claude Van Damme, que realizou duas dezenas de filmes, é fã declarado de Bruce Lee que realizou apenas 4 filmes completos e que inspirou várias gerações de jovens que se tornaram artistas marciais ou mesmo atores do gênero; mas parece-me que Jean Claude não absorveu nada dos ensinamentos do mestre, limitou-se a copiá-lo sofrivelmente. Tanto pior para ele que não conseguiu ocupar o posto vago deixado pela morte prematura do Pequeno Dragão em 1973 aos 32 anos.
9 - Steven Seagal (Steven Frederic Seagal) – Nasceu em 10 de abril de 1952 em Lasing, no estado de Michigan, EUA. Começou a treinar Aikidô no Japão com Harry Ishisaka e conseguiu o 1º dan de faixa prêta sob a supervisão do Mestre Koichi Tohei. Atualmente detém o 7º dan em Aikidô. Poucos ocidentais alcançaram tal façanha. Steven se impôs em pleno Japão com seus mais de 1,90 m de altura em meados da década de 1970 quando de sua formatura. Nessa época ele ainda não ostentava a fanfarrice, a pança e o excesso de gordura de hoje. O que mais chama a atenção em seu estilo de Aikidô é a agressividade, ao contrário da suavidade que se prega nas academias convencionais. Dizem que o próprio fundador da arte marcial japonesa, Morihei Ueshiba, quando jovem era muito impetuoso e com o passar do tempo devido à maturidade e aperfeiçoamento técnico, ele deixou a agressividade de lado e tornou-se mais maleável e praticamente intocável. Creio que como artista marcial Steven Seagal tem seus méritos, mas em relação a sua carreira como ator de filmes de artes marciais, aí é outra estória. Ao meu ver seu melhor filme foi o primeiro, Nico, Acima da Lei (Above The Law) de 1988. Ele está em plena forma (ou magro) demonstra técnicas até então inéditas de Aikidô (bastante agressivo) no cinema e não chega a se comprometer como ator, pois seu papel não exigiu tanto. O filme seguinte, Difícil de Matar (Hard To Kill) de 1990, foi razoável, mas ele começava a se achar o máximo e também começava “a pegar” mais corpo (engordar). A partir daí os próximos filmes começaram a ficar enfadonhos, diálogos filosóficos de cunho existenciais, ambientais, e muita pancada e balas para todo lado; alguns até mais balas do que técnicas de artes marciais. E na proporção em que seus filmes decepcionavam ele engordava cada vez mais. Steven sempre foi um autêntico canastrão como ator, em cenas que teria que demonstrar afetividade, satisfação, surprêsa, apreensão ou ódio, ele tinha a mesma expressão facial, ficava impassível e com os braços cruzados na altura da pança prontos para agarrar, torcer e quebrar a qualquer instante. Nos filmes mais recentes mal consegue chutar frontalmente acima da cintura (a pança não permite) e se a cena assim o exigir, ou seja, chutar acima da cintura ou na cabeça, nada como um dublê à disposição. Steven está em evidência atualmente não pelos seus filmes, mas por supostamente ter treinado os lutadores de MMA brasileiros, Anderson Silva e Lyoto Machida, que por coincidência ou eficiência do treinador (Seagal) ganharam suas lutas aplicando o chute frontal (mae-geri e tobi mae-geri) nos respectivos queixos de seus adversários. Golpe que é bastante usado por Seagal em seus filmes, mas nunca acima da cintura, é claro. Steven Seagal fez mais de duas dezenas de filmes, mas destaco apenas os dois primeiros. E um dos critérios mais importantes para conquistar o trono de Bruce Lee é manter-se sempre em forma, o que infelizmente o nosso herói do Aikidô não conseguiu ao longo desses anos.

10 - Jet Li (Li Liajie) – Nascido em Pequim, China, em 1963. Praticamente tinha a mesma altura de Bruce Lee, 1,67 m (apesar de parecer ser ainda menor e mais franzino). Treina Kung Fu tradicional (Wu Shu) desde os 8 anos de idade. Praticando desde criança, a partir dos 11 anos ganhou 5 vezes o título de campeão nacional chinês de artes marciais (entre 1974 e 1979). Suas conquistas impressionantes levou a República Popular da China a declará-lo um “Tesouro Nacional”. Começou a despertar o interesse do público internacional, em meados da década de 1990, ao interpretar no cinema uma série de filmes sobre o lendário mestre chinês Wong-Fei Hung, herói popular da China. Durante anos, Li encarnou heróis lendários do folclore chinês, do revolucionário que luta contra a dinastia Manchu em "Fong say yuk", ao monge caído em desgraça à procura de redenção em "Tai Chi Master", para o vingador do mestre Huo Yuanjia contra seus assassinos e invasores japoneses em "Fist of Legend", um "remake" de "Fist of Fury" (A Fúria do Dragão), estrelado por Bruce Lee. Apesar de apresentar em seus filmes boas coreografias de luta, a direção e produção geralmente pecavam em abusar de efeitos especiais que fugiam de uma realidade aceitável mesmo para um confronto fictício de artes marciais. Para consolidar seu passaporte para Hollywood, Jet Li participou com boa atuação (como vilão) de “Máquina Mortífera 4” (Lethal Weapon 4) de 1998, com Mel Gibson e Danny Glover. A seguir atuou como protagonista em seu primeiro filme nos EUA, em “Romeu Tem Que Morrer”(Romeu Must Die) de 2000. Vieram outros trabalhos onde Jet Li contracenou com artistas norte-americanos famosos, mas ainda estava faltando algo em seus filmes, apesar da alta produção e efeitos especiais fantásticos que faziam dele uma espécie de ‘herói de kung fu ala Matrix”. Neste ínterim Jet Li recebeu o convite do produtor e diretor Ang Lee para encarnar o papel de Li Mu Bai no fabuloso épico de artes marciais "O Tigre e o Dragão" (Crouching Tiger, Hidden Dragon) de 2000. Li recusou a proposta pois tinha prometido à esposa que não trabalharia durante a gravidez desta. O ator Chow Yun Fat foi o substituto de Li para interpretar o personagem Li Mu Bai, que mesmo não tendo a habilidade de Jet Li nas artes marciais chinesas mas contando com a ajuda de dublês, se saiu bem. Coisas do destino. Jet Li, o “baixinho atrevido”, fez aproximadamente duas dezenas de filmes sofríveis e alguns poucos se salvam, não por seu carisma (ausente ao meu ver), nem por sua capacidade de interpretação (que deixava a desejar), mas por sua real habilidade no Kung Fu. O que na minha humilde opinião salvou sua carreira e acho que ele deveria ter se aposentado com chave de ouro na ocasião, foi a belíssima produção de “O Mestre Das Armas” (Huo Yuan Jia) de 2006, o filme sobre a vida de outro lendário mestre de Kung Fu (que realmente existiu), o invencível Huo Yuan Jia, que supostamente teria sido assassinado por japoneses durante a ocupação da China; neste filme Jet Li atuou muito bem como lutador e ator. Li tentou ocupar o lugar vago de Bruce Lee sem êxito, e convenhamos, se não fosse o surgimento do “pequeno dragão” talvez nem ouvíssemos faltar de Jet Li algum dia. Valeu a tentativa Li.
11 - Tony Jaa (Tatchakorn Yeerun) – Nascido em 05 de fevereiro de 1976 em Isaan, na província de Surin, na Tailândia, seu nome artístico na Tailândia é Jaa Panon Yeerun, mas no ocidente é popularmente conhecido como Tony Jaa, um jovem dublê de filmes de ação com 1,68 m (parece até maior), dedicado praticante de Muay Thai e que posteriormente assumiu também as funções de coreógrafo, diretor e ator. Tony Jaa cresceu na zona rural assistindo filmes de Bruce Lee, Jackie Chan e Jet Li e decidiu que queria fazer o mesmo quando crescesse. Aos quinze anos Jaa foi “adotado” pelo diretor de doublês e filmes de ação Panna Rittkirai que o recomendou frequentar o Colégio de Educação Física Maha Sarakham. Incialmente Jaa treinou Taekwondo, mas não se sabe se treinou formalmente ou se apenas absorveu algumas técnicas como complemento para sua formação como doublê; posteriormente voltou-se para o Muay Thai, mas não se confirmou se apenas recebeu um treinamento formal e tradicional da arte marcial tailandesa ou se realmente chegou a desenvolver uma carreira competitiva. Jaa e Panna se interesseram pelo estilo antigo de Muay Thai, o Muay Boran, e trabalharam juntos por um ano para adaptá-lo às cenas de luta dos filmes em que Tony Jaa atuaria. Na preparação contaram com a colaboração do grão mestre Mark Harris. Seu filme de estréia foi “Ong Bak - Cabeça de Buda” (Ong-Bak:Muay Thai Warrior) de 2003, foi um sucesso, desde Bruce Lee não se tinha visto coreografias de lutas tão reais e empolgantes. Jaa parecia que veio para arrebentar, literalmente falando. Sua fúria e explosão ao partir para cima dos adversários é realmente algo de se admirar, os saltos acrobáticos, os golpes improváveis, o contato real dos lutadores, tudo muito impressionante, Jaa em fúria é uma máquina descontrolada de socar, chutar, dar cotoveladas e joelhadas em salto. O Muay Thai finalmente ganhou seu espaço nas telas tal como o Kung Fu e o Karatê. O seu segundo filme, “O Protetor” (The Protector) de 2005, ele continua surpreendendo e promete cada vez mais. Seu personagem lembra aquele caipira interpretado por Bruce Lee em “O Dragão Chinês” (The Big Boss) que foi filmado na Tailândia, um sujeito ingênuo e tímido até que pisem no seu calo e despertem sua ira. O problema com Jaa e seus filmes é a ênfase que se dá à adoração e ao culto a Buda e aos elefantes (animais sagrados para eles). Seu último projeto ambicioso, “Ong Bak 2” (2008) e sua continuação “Ong Bak 3” (2010), é um filme de época que foi dividido em duas partes, tudo ia bem principalmente com a primeira parte, “Ong Bak 2’, com lutas sensacionais e de tirar o fôlego onde Tony Jaa e os dublês que contracenavam com ele deram um show de agilidade, preparo físico e técnica nos mais variados estilos de artes marciais existentes e com a perícia nas mais diversas armas brancas. Tudo dava entender que a segunda parte seria melhor ainda, o que seria impossível de se acontecer pois o nível de “Ong Bak 2” parecia insuperável. E não aconteceu mesmo...após dois anos de espera a queda de intensidade na continuação (Ong Bak 3) foi evidente, o misticismo tomou conta da película que parecia um mesclado de Dragon Ball e O Exorcista. Foi uma pena, Tony Jaa se perdeu no auge, mas ainda pode se recuperar, ainda é jovem, carismático e tem tudo para se manter o topo dos artistas de filmes de artes marciais. Bruce Lee certamente o teria convidado para contracenar em seus filmes e seria enorme a expectativa para ver os dois se enfrentando. Mas ainda falta alguma coisa para Tony Jaa destronar o pequeno dragão. Reaja Jaa, se Bruce Lee pudesse ter um sucessor, atualmente teria que ser você!
12 - Donnie Yen – Nasceu em 27 de julho de 1963 em Guangdong, na China. Atualmente é considerado a maior estrela dos filmes de artes marciais feitos em Hong Kong. Além de ator, acumula também funções de coreógrafo, diretor e produtor. A mãe de Yen, Bow-Sim Mark, é mestra em escolas de Wu Shu (de linha interna) enquanto seu pai é editor de um jornal. Com dois anos a família de Yen se mudou para Hong Kong e mais tarde quando estava com 11 anos de idade, Donnie mudou-se com os pais para Boston, Massachussets, nos Estados Unidos da América. Sua irmã, Chris Yen, também é artista marcial e atriz. Graças à influência de sua mãe, Yen começou a praticar artes marciais chinesas, como o Tai Chi Chuan, ainda jovem. Com seu interesse e desenvolvimento em alta Yen retorna a Hong Kong e se integra e treina por dois anos na Equipe de Wu Shu de Pequim. Em seguida retorna aos EUA, e de passagem por Hong Kong conhece o coreógrafo de filmes de artes marciais Yuen Woo-Ping. A partir desse encontro começou a entrar no circuito de filmes de artes marciais como dublê. Foi coadjuvante em filmes de Jackie Chan e Jet Li nas décadas de 1980 e 1990. Fez mais de uma dezena de filmes como protagonista sem muita repercussão mundial, apenas em Hong Kong e países asiáticos; até que surgiu um projeto em homenagem ao mestre de Wing Chun Kung Fu, Ip Man, o primeiro e único mestre de Bruce Lee. “Ip Man” - O filme”, de 2008 foi um sucesso internacional com um desempenho convincente e maduro de Donnie Yen, que o impulsionou naturalmente a filmar uma sequência, “Ip Man 2” em 2010, que não decepcionou e manteve o nível e contando ainda com a brilhante participação do veterano Sammo Hung. Ainda em 2010 Yen realizou “Legend Of The Fist:The Return of Chen Zhen” (A Legenda de um punho: O Retorno de Chen Zhen), um tributo a Bruce Lee onde Yen teria dado sequência a história do personagem (Chen Zhen) interpretado por Bruce Lee em “A Fúria do Dragão” (Fist Of Fury, de 1972). Num enredo de época, o personagem Chen usaria até o uniforme de Kato, o parceiro do Besouro Verde (Green Hornet) que foi uma série para o cinema nos anos de 1930, antes da mesmo de Bruce Lee e Van Williams nos anos de 1960. Neste filme Yen usa também como homenagem à Lee, técnicas de Jeet Kune Do. Apesar da rica produção o filme é maçante e confuso, e como nas artes marciais, às vezes a simplicidade é o caminho mais certo e direto para o sucesso. Mas Donnie Yen está sempre atualizado e costuma incorporar em suas sequências de lutas elementos do MMA, incluindo o Wing Chun, Jiu-Jitsu brasileiro, Judô, Karatê, Boxe, Kick-boxing e Wrestling. Yen reconhece que a concepção libertária de Bruce Lee em relação às artes marciais se concretizou no MMA, onde se comprovou que um lutador não pode se limitar apenas a um único estilo, ele tem que ter a mente aberta para absorver tudo de positivo e prático de qualquer arte marcial e adaptar tais técnicas para não ser surpreendido num confronto. Yen tem carisma, capacidade técnica e criatividade para se manter no topo, mas em relação a Bruce Lee ele deve reconhecer que ainda não está apto para reivindicar seu trono e o tempo está passando.

Em resumo, nenhum destes candidatos preencheu todos os requisitos, alguns perderam a oportunidade, outros nem sequer tentaram realmente e os demais ainda tem alguma chance, será?! Como eu vi escrito em um poster antigo de Bruce Lee certa vez: “Os heróis nunca morrem!”, assim, presume-se que ele nunca será sobrepujado.

Por Eumário José Teixeira

YIP MAN & BRUCE LEE - O MESTRE DESPRETENSIOSO E O REI DO KUNG FU



Eu poderia perguntar se Yip Man seria reconhecido como é atualmente, se Bruce Lee não divulgasse algumas técnicas de Wing Chun em seus filmes; como poderia perguntar também se Bruce Lee seria aclamado algum dia como “rei do kung fu” caso não fosse um discípulo do lendário mestre de Wing Chun. Yip Man, apesar  de ter tido uma criação segura, confortável e acima da média em comparação aos seus compatriotas chineses em Foshan, na China, viveu de forma penosa a partir de sua idade adulta, tanto em relação à sua saúde quanto ao seu conforto material devido à invasão japonesa. Em contrapartida, à medida em que sofria com a saúde e as economias, sua humildade e simplicidade se desenvolviam de tal forma que cativava um número cada vez maior de discípulos fiéis. Bruce Lee, por sua fez, nasceu também em berço esplêndido, pois sua família era de classe média alta e seu pai um respeitado ator de teatro em Hong Kong, sendo que o próprio Bruce Lee se tornaria anos mais tarde o mais famoso artista marcial do cinema de toda Ásia. Só que ao contrário de Yip Man, a fama lhe trouxe possibilidades materiais nunca antes sonhadas, mas também a instabilidade emocional, desconfianças, decepções e todo tipo de pressão inerente  à  condição de superstar. O advento da Segunda Grande Guerra Mundial e a invasão da China pelos japoneses, foi determinante para a vida de Yip Man, ainda um jovem mestre, e para o menino inquieto e indisciplinado, Lee Jung Fan (Bruce Lee), sendo que suas trajetórias se cruzariam em algum ponto no futuro. Ironicamente e lamentavelmente tanto a morte de Yip Man como a de Bruce Lee ocorreria num espaço de pouco menos de um ano, apesar da grande diferença de idade entre os dois. A seguir faço um resumo da vida do grão-mestre de Wing Chun com observação sobre seu relacionamento como o “pequeno dragão”, Bruce Lee. 


A ORIGEM DO ESTILO WING CHUN CHUAN

Monges treinando Kung Fu no interior do templo e a destruição de Shaolin


A Destruição de Shaolin – O templo Shaolin situado na montanha de Hao-Shan próximo a Loyang onde atualmente é a província de Honan, foi destruído em 1733 D. C. pelos invasores Manchus com a ajuda de um monge traidor que teria envenenado a água, incendiado o templo e aberto os portões para os soldados invasores que surpreenderam os monges na madrugada. Mesmo sob o efeito da água envenenada os monges resistiram bravamente, mas o número expressivo de invasores e o ataque surpresa foi determinante para o extermínio da maioria deles. Segundo consta, os seguintes monges e  mestres de Kung Fu pereceram na destruição: Hung Hee Kung e Luk Ah Choy do estilo Hung Gar de Kung Fu; Fok Sai Yuk, do estilo dos Cinco Animais de Shaolin; Tse Ah Fook, Fong Weng Chun e Tung Chin Kun que eram grandes lutadores e têm seus feitos heróicos imortalizados no folclore chinês. Os cinco mestres que escaparam foram Pak Mey, Cheen Sin, Miu Hin, Ng 'Mui e Fung To Tak. 
Ng' Mui observa o duelo entre a serpente e a garça

Ng 'Mui – A jovem monja foi a única mulher a escapar do templo incendiado, profundamente religiosa vagou pela China até ingressar-se no templo da Garça Branca na montanha de Tai Leung na fronteira entre as províncias de Szechwan e Yunnan. Conta a lenda que ela teria desenvolvido um estilo próprio baseado numa observação de uma luta entre uma serpente e uma garça, descartando movimentos considerados desnecessários dos outros estilos de Shaolin que tinha aprendido de outros monges.
Ng 'Mui ensina em secreto sua técnica a Yim Wing Chun

Yim Yee – Ele foi um dos 15 discípulos a escapar à destruição do Templo. Yim Yee tinha uma filha chamada Yim Wing Chun, que já era prometida em casamento para um comerciante de sal da província de Fukien, conforme os costumes da época.  Com algum conhecimento de kung fu, Yim Yee se envolvia em algumas encrencas e se viu obrigado a se retirar com sua filha para o sopé da Montanha Tai Leung onde passou a comercializar vagens. Um marginal chamado Wong, famoso por ser um forte e habilidoso lutador, engraçou-se pela linda Yim Wing Chun, ameaçando a tomá-la à força em data determinada caso ela se recusasse a casar-se com ele.

Yim Wing Chun – A monja Ng 'Mui que estava hospedada no templo da Garça Branca, tinha o hábito de descer à vila, no sopé da montanha, para comprar provisões. Certo dia, ao comprar vagens de Yim Yee, ele ficou sabendo da história do velho monge shaolin que se sentia impotente para defender sua jovem filha. A Monja então decidiu a ensinar em secreto técnicas efetivas de auto-defesa à Yim Wing Chun, para que assim ela expulsasse Wong da aldeia de vez. Após três anos de treinamento, Yim Wing Chun se tornou apta e finalmente surpreendeu a Wong ao desafiá-lo para um combate, com a condição que ele se retiraria da aldeia permanentemente caso perdesse. O arrogante Wong foi vencido pela técnica eficiente de Yim Wing Chun e teve que cumprir sua promessa humilhado.

Obs.: As histórias da monja Ng 'Mui e Yim Wing Chun seriam na verdade folclore segundo alguns historiadores chineses, lendas inventadas para protegerem a verdadeira identidade do criador do estilo Wing Chun, um dos sobreviventes da destruição do templo Shaolin. Tratarei da versão oficial chinesa sobre a história do Wing Chun numa próxima postagem.
Representação do confronto entre Wong e Yim Wing Chun

Leung Bok Chau – Ele era o noivo prometido à Yim Wing Chun ainda criança, finalmente se casaram como era previsto. Leung Bok Chau já praticava artes marciais e ambos se habituaram a trocar idéias e aperfeiçoar o conhecimentos sobre as técnicas que conheciam. Com o tempo Leung Bok Chau teve que admitir que as técnicas de sua esposa, aparentemente frágil, eram extremamente efetivas e superiores às suas.  Assim ele passou a chamar aquele estilo feio e sem floreios estéticos de Wing Chun Chuan (ou Ving Tsun Chuan), que quer dizer, “arte dos punhos de Wing Chun”.

O caminho do Wing Chun Chuan – Leung Bok Chau após absorver o estilo efetivo da esposa o transmitiu a um médico herbalista chamado Leung Lan Kwai. Este por sua vez o transmitiu a Wong Wah Bo, um ator de ópera chinesa. Wong Wah Bo o transmitiu a Leung Yee Tei (ou Leung Ye Tay), bastoneiro do lendário junco vermelho responsável por levar ópera às cidades e que conhecia a técnica do bastão longo como poucos, que lhe teria sido ensinada por um velho monge chamado Gee Shin. Leung Yee Tei em troca da técnica dos punhos de Wing Chun, passou a Wong Wah Bo a técnica de bastão (chi Kwun) que foi agregado ao estilo Wing Chun Chuan.

Obs.: A história oficial conta que o junco vermelho que transportava artistas de ópera também treinados em artes marciais, era na verdade um movimento aliciador de rebeldes contra o governo opressor vigente. Tratarei desse assunto numa próxima postagem.
O junco vermelho com artistas de ópera chinesa e Leung Yee Tei ensinando a técnica do bastão à Wong Wah Bo
Já idoso, Leung Yee Tei transmitiu seu conhecimento a Leung Jan, um médico erudito e perito em ervas medicinais bem conceituado da cidade de Fatshan na província de Kwangtung, mesma província onde tinha nascido Yim Wing Chun. 
Leung Jan (à esquerda) e Leung Bik (à direita)

Leung Jan, também conhecido como “O rei do kung fu de Wing Chun” transmitiu o estilo aos seus dois filhos Leung Chun e Leung Bik, e finalmente a Chan Wah Shun, também conhecido como “Wah, o trocador de dinheiro”, um cambista que tinha um posto de troca de moedas para facilitar o comércio na região.
Chan Wah Shun, conhecido como "Wah, o trocador de dinheiro"

YIP MAN  - UMA BREVE BIOGRAFIA

Mestre Chan Wah Shun teria ensinado Wing Chun por trinta e seis anos, conta-se que teve apenas 16 discípulos selecionados, dentre os quais seu filho e sua nora. Quando estava com mais de 70 anos foi gentilmente convidado a ensinar a sua arte no templo ancestral da família Yip, que era uma das mais tradicionais e ricas de Fatshan (ou Foshan), na província de Guangdong (ou Kwangtung). Lá ele lecionou até a sua morte. Um franzino garoto de 13 anos, chamado Yip Kai-Man, filho do proprietário do templo, se apresentou com suas economias ao mestre Wah implorando para ser aceito como discípulo. 
Grão Mestre de Wing Chun Chuan, Yip Man
Yip Man (ou Ip Man) nasceu em 01 de outubro de 1893, filho de Yip Dor Mai (pai) e Ng Shui (mãe), sendo o terceiro de quatro filhos, teve também um alto padrão educacional. Sendo aceito pelo mestre Wah, Yip Man treinou sobre a orientação dele até aos 15 anos, quando ocorreu a morte de seu mestre. Yip Man se dedicou com muita disposição aos treinamentos, surpreendendo o mestre Wah que não esperava tanta garra de um jovem mimado. Com a ausência do mestre Wah os ensinamentos a Yip Man  foram administrados por um dos discípulos mais experientes da escola, Ng Chung-sok.  Aos 16 anos, Yip Man foi matriculado no Colégio St. Stephen que adotava métodos de ensino ingleses. As brigas entre alunos chineses e ingleses eram frequentes e Yip Man valeu-se de seu conhecimento de Wing Chun para sobressair-se sobre os demais e liderar sua turma, apesar de sua baixa estatura e físico franzino. Yip Man se tornou arrogante e orgulhoso por isso até que foi incentivado pelos colegas a enfrentar um veterano mestre de kung fu de 50 anos. O mestre cinquentenário que se apresentou como Leung, ficou admirado com a petulância do jovem Yip, discípulo do mestre Wah, que só queria o confronto e não prestou a atenção nas observações dele sobre as formas (katis) Sil Lim Tao e Chun Kiu executadas por Yip Man. Ao ser corrigido pelo mestre Leung, o jovem obstinado partiu para cima deste, mas Yip foi derrubado com facilidade.  Humilhado, Yip Man veio a saber pouco depois que o homem que o derrotara não era ninguém menos que Leung Bik, o filho mais novo do grão-mestre Leung Jan.  Yip Man arrependido por ter insultado o mestre, voltou a procurar por Leung e lhe implorou para ser seu discípulo. E assim aconteceu, treinado por Leung Bik, Yip Man desenvolveu sua técnica de forma espantosa e aos 24 anos voltou para Fatshan. Entre os anos de 1937 e 1941 Yip Man serviu ao exército chinês numa tentativa em vão de deter a invasão japonesa. Derrotado, Yip Man retornou a Fatshan. Mas com o fim da segunda grande guerra mundial em  1945, as coisas não melhoraram para a China devastada e humilhada. Logo ocorreu uma guerra civil entre os nacionalistas e os comunistas. Yip Man serviu do lado nacionalista como capitão de patrulha no condado de Namhoi. Nessa época, a primeira esposa de Yip Man adoece gravemente e falece. Como os comunistas venceram em 1949, Yip Man como Capitão da polícia nacionalista se vê obrigado a fugir para Hong Kong, na época colônia britânica. Aos 51 anos de idade Yip Man recomeça sua vida do nada, auxiliado pelo amigo Lee Man, um empregado da Associação dos Trabalhadores de Restaurante de Hong Kong, que lhe cede o terraço do edifício para que ele ministrasse aultas de Wing Chun para tentar sobreviver. Com muitas dificuldades abre sua própria escola dois anos depois, na rua Lei Dat, no distrito de Yaumatei em Kowloon. 
Yip Man e díscípulos em Hong Kong
Em 1954 se casa novamente, sua academia começa a prosperar pois seus alunos começam a provar a eficiência do Wing Chun nas ruas e em competições divulgando positivamente o nome da academia de mestre Yip e do estilo efetivo e prático do estilo Wing Chun Chuan. Em 1967 foi fundada a Associação Atlética Wing Chun de Hong Kong e franqueia seus cursos a preços mais populares, aumentando sua rede de academias. Em 1970, aos 72 anos de idade, Yip Man decide não mais lecionar. Sua saúde estava bastante fragilizada e ainda descobre que estava com câncer na garganta, talvez graças ao seu hábito de fumar cigarros, seguido até por seu filho Yip Ching. 
Yip Man e seus dois filhos, Ip Ching e Ip Chun
Yip Man também era usuário de ópio, um hábito ainda que nocivo,  adquirido para amenizar as dores causadas por uma úlcera estomacal que o atormentou por boa parte de sua vida, mas há o lado social que ele poderia ter herdado de sua família em que, tradicionalmente, era um hábito comum entre os senhores da elite chinesa fumarem ópio em reuniões sociais ou de negócios ou mesmo usar a droga como relaxante após uma noite de apresentação no teatro, tal como fazia o ator Lee Hoi Chuen, pai de Bruce Lee. 
O velório do mestre Yip Man
O pior acontece em 02 de dezembro de 1972,  Yip Man falece poucos meses antes de seu mais famoso discípulo, Bruce Lee. Poucas semanas antes de morrer, Yip Man solicita a seu filho Yip Chun e seu discípulo Leung que filmem ele praticando os dois katis de Wing Chun e as técnicas do Mudjong (boneco de madeira) já que temia que após seu falecimento, seu ensino fosse modificado ou deturpado. As filmagens foram feitas e nelas pode se perceber em alguns momentos Yip Man exitando durante alguns movimentos em virtude das dores que o incomodavam. Mas imagens do grão-mestre de Wing Chun foram preservadas para a prosperidade. 

Filmes produzidos sobre a saga de Yip Man – De 2008 a 2013 foram produzidos cinco filmes sobre a vida de Yip Man que avaliei, na média, como bons. São eles:
Os quatro melhores filmes sobre Yip Man

- O Grande Mestre (Ip Man, 2008), com Donnie Yen interpretando Yip Man, avaliado como muito bom;

- O Grande Mestre 2 (Ip Man 2, 2010) ainda com Donnie Yen Interpretando Yip Man, avaliado como muito bom;

- O Grande Mestre 3 – A Lenda Nasce (Ip Man 3 – The Legend is Born, 2010) com Dennis To interpretando Yip Man, contando a participação de Yip Chun (filho de Yip Man) e Sammo Hung, avaliado como bom;

- O Grande Mestre 4 – A Luta Final (Ip Man 4 – The Final Fight, 2013) com Anthony Wong interpretando Yip Man e com outra participação de Yip Chun. Este quarto filme fecha a série sobre a vida de Yip Man e foi avaliado como muito bom;

- O Grande Mestre (The Grandmaster, 2013) com Tony Leung e (a belíssima) Zhang Ziyi. O filme de outra produção e direção não segue a sequência dos quatro anteriores e a história não é totalmente fiel à biografia de Yip Man, avaliado como regular para bom.

O MESTRE E O DISCÍPULO
Mestre Yip Man e o jovem Bruce Lee

Há muitas especulações sobre como era o relacionamento de mestre e discípulo entre Yip Man e Bruce Lee antes e, principalmente, durante da fama do “rei do kung fu”. Bruce Lee desde criança era inquieto, um estudante medíocre e sempre foi atraído para as brigas de gangs nas ruas de Hong Kong, apesar de ser filho de um renomado ator de teatro de classe média alta. Pelas muitas confusões em que se metia, seu pai o encaminhou aos 13 anos (em 1953) à academia de Wing Chun do mestre Yip Man, na qual treinou por mais ou menos quatro anos com a esperança que o filho adquirisse senso de responsabilidade e disciplina.
Yip Man e Bruce Lee numa sequência de técnicas de Wing Chun
Tudo indica que Bruce Lee se adaptou perfeitamente àquele estilo diferente e feio de Kung Fu, mas que porém era muito efetivo e prático. Mas não foi o suficiente para lhe afastar das confusões, e assim temendo pela integridade física do filho, Lee Hoi Chuen aguardou que Bruce Lee completasse dezoito anos de idade e o embarcou no final do ano de 1958 para os Estados Unidos para que ele exercesse sua cidadania americana, levando na bagagem além de alguma dezena de dólares, um conhecimento considerável de Wing Chun Chuan e briga de rua. A principio ele trabalhou num restaurante chinês em San Francisco, na California, onde começou a dar aulas de Wing Chun Kung Fu para amigos e pessoas selecionadas; formou-se em filosofia e casou-se com a norte-americana Linda Lee. Em 1964 , Bruce Lee foi descoberto numa impressionante exibição no torneio Internacional de Karate em Long Beach, California, que lhe valeu a convocação para estrelar o papel de Kato na série de TV “O Besouro Verde” (The Green Hornet) poucos anos depois. O resto é história. Em 1º de fevereiro de 1965 nasce Brandon Bruce Lee, em Oakland, na California; quase uma semana depois, no dia 07 de fevereiro, falece Lee Hoi-Chuen o pai de Bruce Lee em Hong Kong, aos 64 anos.  No mesmo ano, numa viagem a passeio em Hong Kong, Bruce Lee apresentaria seu filho Brandon Lee, com poucos meses de nascido, ao velho mestre Yip Man. 
Yip Man e Brandon Bruce Lee
Há também outros registros fotográficos de Yip Man ao lado de Brandon, quando este aparentava ter mais ou menos 5 anos de idade, ou seja, por volta de 1971, no mesmo ano em que Bruce Lee já estava de volta com a família para morar em Hong Kong e era lançado com estrondoso sucesso seu primeiro filme de artes marciais, “O Dragão Chinês” (The Big Boss). Bruce teria prometido recompensar Yip Man de alguma forma após ter o retorno financeiro com seus filmes. Ele tinha consciência das dificuldades materiais e dos problemas de saúde do mestre, apesar dos cuidados e serviços notórios prestados pelos filhos deste, Yip Chun e Yip Ching, e demais discípulos. O fato é que Bruce Lee se sentia em dívida com Yip Man. 
Bruce Lee e grão mestre Yip Man em Hong Kong, por volta de 1971

Infelizmente, em  02 de dezembro de 1972, Yip Man falece vitimado por um câncer de garganta aos 79 anos bem vividos. Era o ano em Bruce teria protagonizado seu terceiro filme, “O Vôo do Dragão” (The Way of the Dragon) com algumas cenas filmadas em Roma, e que teve a participação especial dos campeões Chuck Norris (faixa prêta de Tang Soo Do) e Bob Wall (faixa prêta de Karatê). Não há registro oficial de algum encontro entre Bruce Lee e Yip Man no ano do falecimento do mestre de Wing Chun e nada que possa comprovar que Bruce Lee tivesse comparecido ao seu velório. Apesar de terem sido divulgadas algumas fotos de Bruce Lee numa cerimônia fúnebre ou memorial, mas que não comprova que seja realmente do velório de Yip Man. Algumas fontes afirmam que ele não apareceu temendo causar um tumulto durante a cerimônia, o que poderia realmente ter acontecido, pois Bruce Lee já era um superstar em toda a Ásia. Mas Deus permitiu que Bruce Lee morresse subitamente meses após o falecimento de Yip Man, em 20 de julho de 1973, aos 32 anos, vitima de um edema cerebral. No filme de 2013, “ O Grande Mestre 4” (Ip Man 4 – The Final Fight) com Anthony Wong no papel de Yip Man, exibe-se uma cena de cunho difamatório a Bruce Lee onde um ator (sempre de costas) que em nada lembrava o “rei do Kung fu” encontra casualmente com o mestre Yip em Hong Kong e o assedia tentando impressioná-lo com seu status de estrela de cinema, prometendo-lhe ajuda e um apartamento novo,  cigarros americanos e uma carona na sua limusine nova, ao que o mestre gentilmente recusa continuando sua peregrinação diária pelas ruas de Hong Kong, para a decepção do “astro das artes marciais” .  Como já foi dito, não era necessário difamar um para enaltecer o outro.
O mestre despretensioso e o futuro rei do kung fu
Creio que Bruce Lee tinha grande gratidão e elevada consideração por Yip Man, infelizmente ele não teve a oportunidade adequada para demonstrar devidamente todo esse respeito, de forma pública e apropriada, esperado de um discipulo leal ao único mestre de artes marciais que teve em vida.

Por Eumário J. Teixeira.