Bruce Lee

Bruce Lee
The Game of Death - JKD

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

HOWARD WILLIAMS – TRIBUTO AO PIONEIRO DO “JEET KUNE DO” ORIGINAL DE OAKLAND


Existia no final da década de 1960, um pequeno grupo selecionado de alunos que pertenciam aos institutos Jun Fan Gung Fu, que mais tarde se tornaria os únicos três centros de instrução de Jeet Kune Do (O Caminho do Punho Interceptador) nos EUA, distribuídos em sedes localizadas nas cidades de Seattle, Oakland e Los Angeles.
Bruce Lee, entre os trabalhos participativos como coadjuvante em séries de TV, filmes, instruções de JKD para celebridades de Hollywood e demonstrações em torneios diversos de artes marciais, supervisionava também as três escolas que regularmente estavam sob a direção e comando de seus alunos mais experientes como Taky Kimura (em Seattle); James Yimm Lee (em Oakland); e Dan Inosanto (em Los Angeles). 
Ao mesmo tempo em que procurava sustentar sua família gerenciando todas essas atividades, Bruce Lee procurava promover sua concepção revolucionária para as artes marciais que se cristalizava numa visão renovadora que batizou de Jeet Kune Do. Uma arte marcial que não tinha uma forma definida ou acabada e que absorvia todos os caminhos a disposição, mas sem se prender a nenhum, estando em contínua evolução, aprendizado e adaptação sem se apegar a uma verdade definitiva, aproveitando tudo o que era útil, prático e efetivo e rejeitando tudo o que fosse excessivo, ilusório e fora da dura realidade das ruas. 
Esse tipo de visão também foi bem absorvido pelos principais alunos de Oakland que eram liderados por James Yimm Lee. Dentre os alunos mais proeminentes de Oakland podemos destacar Bob Baker, aquele que participou do filme “A Fúria do Dragão” (Fist of Fury – 1972) representando o lutador russo Petrov que enfrenta Chen (Bruce Lee) no final; e um jovem afro-americano chamado Howard Williams, o caçula daquela saudosa e pioneira turma de Oakland.

A primeira sede do Jun Fan Gung Fu Institute, na garagem da 
casa de James Lee, em Oakland.

Howard Williams é um daqueles homens discretos e de forte caráter que preferiu o anonimato durante todos esses anos, desde a morte de Bruce Lee, em 1973. Williams ficaria muito abalado com as mortes, praticamente seguidas, dos seus dois mestres. James Yimm Lee faleceria em dezembro de 1972, em decorrência de câncer nos pulmões e, Bruce Lee, que morreria poucos meses depois, em julho de 1973.

Howard Williams (de camiseta vermelha) e o respeitado Ted Wong
(de camiseta Branca) num evento de JKD na década de 1990.

Williams pensou em desistir, mas se apoiou nos alunos veteranos como Ted Wong e Jerry Poteet para continuar seu aprendizado, já que ele era um dos poucos (se não o único) a não ter qualquer outra experiência em artes marciais. O Jeet Kune Do seria sua primeira e única via. Howard Williams após alguns anos de reclusão, durante as décadas de 1970 e 1980, reaparece no cenário do Jeet Kune Do em 1990, incomodado com o rumo que o ensino do JKD tomou nos EUA e em todo o mundo. 

Howard Williams e George Tan na Convenção Bruce Lee realizada
em Birmingham, na Inglaterra, em 1990.

Juntos, Bob Baker, John Saxon e Howard Williams na Convenção
Bruce Lee promovida por George Tan, em Birmingham.

Em 1990, foi realizada uma convenção em Birminghan, na Inglaterra, sobre Bruce Lee, comemorando o cinquentenário de seu nascimento. A solenidade foi promovida por George Tan, um dos maiores estudiosos da vida de Bruce Lee. Os convidados ilustres foram o ator John Saxon (Roper, de Operação Dragão, 1973), Bob Baker e Howard Williams, que responderam diversas perguntas sobre suas experiências com o Pequeno Dragão.

Bob Baker, Howard Williams e George Tan em outro
momento da Convenção Bruce Lee, em solo inglês.

Três anos depois, o Dr. Jerry Beasley, estudioso de artes marciais e JKD, notou um interesse crescente no “JKD original” e promoveu um campo de treinamento de Jeet Kune Do em Radford, Virgínia, em 1993. O programa foi formado em torno do conhecimento e experiência de dois praticantes da primeira geração: Ted Wong e Howard Williams.   

Jerry Beasley, estudioso de Jeet Kune Do e grande fã de Bruce Lee.

Segundo Beasley, William falava suavemente e era sempre propenso a sorrisos, mas sob aquele exterior gentil, estava um homem capaz de movimentos explosivos e velocidade fenomenal com as mãos. Observou Dr. Beasley: “Howard poderia ter sido um instrutor de JKD popular, muitos o consideravam um dos melhores da primeira geração, mas ele (como Bob Baker) preferiu ficar longe dos holofotes. Ele era muito simpático e as pessoas sempre lembraram dele com muito carinho. É muito triste saber de sua morte.” Howard Williams faleceu em 02 de abril de 2012, aos 62 anos, vítima de um ataque cardíaco. 

Howard Williams, na posição de guarda adotada para o Jeet Kune Do.

Vamos então conhecer um pouco da história de Howard Williams e do seu pensamento sobre o verdadeiro conceito do “Caminho do Punho Interceptor”, nos deixado por Bruce Lee. Fiz uma coletânea de trechos importantes das poucas entrevistas que Howard concedeu na década de 1990, que pode nos dar um ideia de quem era o respeitado, temido e discreto representante do verdadeiro e original JKD, Howard Williams.

O Início de tudo com o Jun Fan Gung Fu – No verão de 1965, o jovem Howard Williams, de 15 anos, passeava de ônibus por Oakland com a mãe e o padrasto que lhe reservavam uma grata surpresa. Sem Williams saber até o momento, eles estavam em busca de uma academia de artes marciais para matricular o jovem inquieto. Williams estava procurando ansiosamente por uma academia de Karate, já que essa arte marcial japonesa, além do judô, era uma das mais aceitas na América. Na verdade, o padrasto de Williams já havia escolhido algo especial para o seu enteado. Era uma academia de Gung Fu (ou Kung Fu) comandada por um atlético jovem chinês de vinte e quatro anos conhecido como Bruce Lee. O padrasto de Williams lhe diria finalmente que “achou algo mais rápido que o Karate”.

Bruce Lee ao fundo (à esquerda) e James Yimm Lee mais à frente
diante da entrada do Jun Fan Gung Fu Institute na Broadway,
em Oakland, onde iniciaria a transição para o JKD.

O jovem Howard foi admitido na academia de Gung Fu e iniciou seus treinamentos em 1966, sob a direção de James Yimm Lee. Bruce Lee já não podia estar regularmente presente para lecionar por conta de seus compromissos com as filmagens da série de TV “O Besouro Verde” (The Green Hornet 1966-1967) em Los Angeles, mas ele se esforçava para estar presente ao menos uma vez por semana para supervisionar e atualizar suas descobertas. Howard Williams se lembrava, três décadas depois, daquela primeira aula que começou com uma rotina de chutes. Ele lembrou que não havia aula especial para iniciantes que eram jogados de imediatos no meio dos veteranos. Entre os mais experientes estavam pessoas como Bob Baker e Gray Gugganan, que lhe deram muita atenção e incentivo. Relatou Williams: “Naturalmente, eu era muito desajeitado e senti que nunca aprenderia, mas eventualmente depois de um ano e meio, percebi que meus movimentos haviam se tornado automáticos, que não precisava mais pensar para executá-los. Eu estava reprogramando meu cérebro para responder instantaneamente. Visto que estávamos em um sistema estruturalmente rápido, tínhamos que ser mentalmente rápidos também.”

Jogo de pernas (footwork), socos, chutes, chi são (mãos pegajosas) e exercícios para desenvolver energia ou potência eram práticas usuais. Howard Williams ainda lembrou que Bruce e James queriam seus alunos eliminassem o bloqueio, enquanto aperfeiçoavam a técnica de esquiva e contra ataque simultâneos com soco nas costelas ou chute barreira na canela ou joelho do adversário. Desferiam socos diretos triplos, sempre procurando quebrar o ritmo e não sendo previsíveis, usando por vezes golpes com a palma da mão e estocadas com os dedos. Howard lembrou que eram “incentivados por Bruce e James a tornar nossos movimentos mais curtos e rápidos. Não deveríamos ao menos perder o tempo de uma expiração para estarmos penetrando em nosso oponente.”

James Yimm Lee, um excelente instrutor que era paciente e cuidadoso com
 seus alunos, segundo o próprio Howard Williams.

O aprendizado com James Lee - Howard Williams fez questão de enaltecer o sifu James Yimm Lee como um excelente professor, muito paciente e cuidadoso que garantia que seus alunos absorvessem todos os aspectos do treinamento. Howard detalhou em entrevistas em meados de 1990, alguns pontos do ensino de James Lee: “Por exemplo, quando praticávamos o ‘chi sao’, ou mãos pegajosas, James nos fazia imaginar que estávamos dirigindo um carro, com as duas mãos no volante, mas usando apenas os pulsos, sobrepondo os braços em um pequeno arco. Ele enfatizava também o que chamava ‘da teoria para aplicação’. Devíamos observar atentamente o movimento de nosso oponente e, assim que ele movimentasse um músculo, deveríamos chutá-lo, socá-lo ou estocá-lo (nos olhos). Ele (James) dizia que assim que seu pé saísse do chão, seu equilíbrio ficaria prejudicado, de forma que, embora a mobilidade fosse fundamental, tínhamos que utilizar chutes e golpes em geral que nos permitisse manter uma rápida recuperação e o equilíbrio.”

Howard se manteve neste treinamentos por cinco anos, e presenciou a transição do que inicialmente era Jun Fan Gung Fu (ou Kung Fu de Lee Jun Fan) para Jeet Kune Do (Caminho do Punho Interceptador).

Bruce Lee e James Franciscus no set de filmagem da série televisiva
Longstreet, em 1971.

Ainda sobre James Yimm Lee e a filosofia do JKD exposta nos dois primeiros capítulos da série de TV “Longstreet” (1971): “Sim, porque a filosofia neste programa (de TV) era a que ele ensinou em casa. Não é difícil de conceber, porque Jimmy era um homem forte, mas por causa de sua idade, você sabe, ele estava chegando lá.  Bruce sendo 20 anos mais novo do que ele, era mais físico do que Jimmy, mas Jimmy era um ótimo praticante também, e não me interpretem mal, era um professor melhor para mim do que Bruce, porque ele nos dedicou algum tempo e garantiu que aprendêssemos a técnica, fazendo de novo, de novo e de novo. Os que cansaram foram embora e nunca mais voltaram. Aqueles que ficaram, aprenderam. E eu fui um dos que ficaram e aprenderam.”

 Obs.: O primeiro episódio da série “Longstreet”, estrelado por James Franciscus, foi justamente denominado “The Way of The Intercepting Fist” (O Caminho do Punho Interceptador). Bruce Lee era ator coadjuvante convidado e pôde expor seu conceito revolucionário em relação às artes marciais. Uma pequena ajuda do seu amigo e discípulo, o produtor, escritor e roteirista, Stirling Silliphant. Bruce participou de mais três episódios da série.

O simpático Howard Williams em entrevista na década de 1990.

A Essência do Caminho do Punho Interceptador - Howard Williams definiu o JKD certa vez em entrevista como “uma combinação de tudo e qualquer coisa que funcionasse e que você poderia agregar para chegar a algo funcional e prático, e que qualquer pessoa pudesse aprender e utilizar.” Sobre o que Bruce Lee queria expressar com o termo “Caminho do Punho Interceptador” disse Williams: “Bem, é interceptar a intenção emocional, ou seja, atingi-lo em seu primeiro movimento. Ele (Bruce Lee) era bom nisso, e essa era a principal coisa que ele queria que aprendêssemos a fazer. Intercepte, destrua e então você fará o que quer que seja de forma natural. Muito disso era criatividade também, mas sempre dentro das estruturas que nos passaram.”

Sobre as descobertas de Bruce Lee em relação às limitações do estilo Wing Chun, que era uma das bases fortes do JKD, observou Williams: “Quando ele percebeu que o Wing Chun tinha suas limitações, sendo que o poder (potência) era uma delas, ele começou a explorar meios que lhe dariam poder, mas basicamente ele modificou essa arte para que fosse mais adaptável a ele mesmo como artista marcial. Ele usou o Wing Chun como trampolim para alcançar outras coisas.” Conclui Howard Williams sobre a ação de interceptação do movimento de um oponente: “Na verdade, significa que quando um homem se move em sua direção, ele faz um certo gesto direcionado a você, seja um piscar de olhos, coçar o próprio nariz ou qualquer movimento. Seja o que for, você intercepta sua intenção emocional. Você já sabe que ele quer lutar, portanto você não precisa esperar por mais nada. Se ele fizer algum movimento, você reage. Você intercepta, destrói, assim como também poderá destruí-lo antes que ele faça qualquer movimento.”

Williams ainda fala sobre a capacidade de Bruce Lee não “telegrafar” seus movimentos: “Esse foi um de seus pontos fortes, uma das suas especialidades. É como se você quase pudesse ler a intenção e o motivo do outro lutador, embora não possamos ler mentes. Ele tinha movimentos ‘não telegráficos’ perfeitos que lhe permitiam interceptar sua intenção emocional.” Sobre como conseguir tal habilidade, explica Williams: “A forma é muito importante, não a forma clássica como no Kung Fu tradicional, mas a forma como na aplicação adequada da arte. Ser capaz de interceptar e pesquisar o movimento do corpo, o corpo em movimento, e quando você faz isso, você é capaz de saber e determinar as coisas que emite ‘sinais’. E assim que o sinal for dado... bum! Acabou!

Perguntado se Bruce Lee aprovaria o "JKD" que era ensinado nos anos de 1990,
Howard Williams foi direto: “Não, de forma alguma."

O Ensino do Jeet Kune Do nos dias atuais – Em meados da década de 1990, pediram a Howard Williams, em entrevista, uma avaliação sobre do ensino do Jeet Kune Do que era disponível pelo mundo naquela época, praticamente vinte anos após a morte de Bruce Lee, e se o JKD ensinado era o mesmo que Bruce Lee ensinou. A resposta foi essa: “Não, não, não, não! De longe não se parece ou se assemelha com o que Bruce estava tentando transmitir aos seus alunos da primeira geração. A maior diferença é que os movimentos são ‘telegrafados’ de forma grosseira, há muitos movimentos de ‘armadilha’ desnecessários e o jogo com as pernas é ruim. Assim como o tempo real de luta, não há ‘sparring’. Muitas coisas foram diluídas. É como ter um bom vinho diluído n’água, faltará o sabor."

Perguntado se Bruce Lee aprovaria o que é ensinado nos anos de 1990, Howard Williams foi direto: “Não, de forma alguma. Ele não aprovaria isso, porque não era isso que ele estaria tentando transmitir às pessoas atualmente ou naquela época também. Na verdade, ele provavelmente ficaria tão perturbado com toda essa coisa que fecharia tudo!” Acrescenta Williams: “Porque estão ensinando desespero organizado. Então vocês instrutores, é melhor vocês prestarem atenção no que estão fazendo (risos...). Os alunos, agora instrutores, devem aos seus alunos (atuais) a verdade. Essa é, mais uma vez, a principal razão pela qual saí do anonimato, porque quero ter certeza de que eles tenham, pelo menos, uma escolha inteligente a fazer entre o que está sendo ensinado e o que é a verdade. Então eles próprios podem decidir o que desejam.”

Obs.: Essa entrevista de Howard Williams foi concedida em 1990, será que as coisas melhoraram atualmente, em pleno 2021?

Prossegue, Williams: “Não é como se eu estivesse tentando dominar alguma coisa. Eu já tenho! Quero dar às pessoas a chance de escolher entre o que está acontecendo agora e o que Bruce, por seu legado, queria que nós soubéssemos. E de acordo com ele, todas as coisas surgem antes de tudo de dentro. Eles agora estão aprendendo coisas que vêm de fora e nem mesmo entendem quem são. Como você sabe o que está procurando se primeiro não entende quem você é? Descubra a causa da ignorância dentro de você e a batalha estará vencida pela metade. Então você tem que estar disposto a aprender, trabalhar duro e se aplicar para obter as habilidades que Bruce queria que aprendêssemos.”

Imagens de Howard Williams ensinando algumas técnicas de JKD.

A Transição do Jun Fan Gung Fu para Jeet Kune Do -  Lembrou Williams que no início, nos primeiros anos em Seattle, Bruce ensinava ‘Wing Chun’. Então quando ele veio (para Oakland) passou a ensinar o 'Jun Fan Gung Fu’, com elementos de Wing Chun, boxe e outras artes marciais que se adequavam à nova proposta. Assim, com o desenvolvimento dessa nova concepção ele mudou o termo para ‘Jeet Kune Do’, ou Caminho do Punho Interceptador. Segue Williams: “Sim, Jun Fan Gung Fu era na verdade o estilo de Bruce, ele apenas usou seu nome para ensinar outra forma de Kung Fu. Isso é tudo. Não é nada de especial, já era feito sob medida para Bruce, mas ele reconheceu as limitações dessa forma de ensinar e foi mais além.”

Williams acrescenta: “Bem, em 1966, quando entrei na escola, ela estava em plena transição. Acho que ele (Bruce) entendeu as limitações do que tinha e teve que dar um passo adiante. E quando o fez, mudou a postura de combate de Wing Chun para a nova postura de combate de JKD. Então, isso era mais econômico também. Foi muito mais suave a transição, com mais mobilidade e James cuidou que isso se encaixasse em nós. Ele (James) nos mostraria a versão clássica para em seguida nos apresentar a versão revisada, para que pudéssemos apreciar a diferença entre os dois estilos.”

Bruce Lee e James Lee em um momento de descontração 
no final da década de 1960. A transição do Jun Fan Gung Fu
para o Jeet Kune Do já havia iniciado.



Continua, Williams: “Bem, James de repente disse: ‘Bem, pessoal, vamos mudar agora, então. Ouçam! Bruce desenvolveu algo novo.’ E nós perguntamos: ‘O que poderia ser isso?’ Olhamos um para o outro e de repente ele nos mostrou essa nova postura, e todos pensamos que era boxe, sabe. E me lembro que inicialmente foi classificado como “kick boxing’, mas finalmente foi denominado ‘Jeet Kune Do’. As primeiras raízes foram implantadas ali mesmo, e com a mudança comecei a me sentir em casa, porque conhecia um pouco de boxe, pois havia mais mobilidade agora, armadilhas e outras coisas que foram acrescentadas. Havia ainda alguma semelhança com o antigo sistema, mas a velocidade e o poder eram agora maiores do que os anteriores.”

Finaliza Williams: “Não usávamos equipamento de proteção naquela época (em Oakland). A única forma de nos protegermos, na maioria das vezes, era apenas a mão sobre o rosto. Estávamos sempre à mercê do nosso oponente o tempo todo.”

O primeiro contato físico de Howard Williams com Bruce Lee – Williams: “Foi uma experiência incrível, realmente foi. Nunca me esqueço da vez em que ele nos mostrou seu mais novo degrau de desenvolvimento. Eu estava na frente daquele chute, porque eu era chamado por ele de ‘Robusto’.  Mas eu estava na frente daquele chute e ele disse que iria me chutar. E eu fiquei lá e ele me disse para tentar sair do caminho assim que percebesse que o chute fosse desferido. E fiz o melhor que podia para escapar e acredite, era uma situação desesperadora. No momento em que o chute me alcançou ele parou no meu peito e eu não pude me mover mais para trás, era tarde demais para sequer pensar em me mover, ele já estava lá. E eu senti o poder incrível, e passei a ter um respeito maior por Bruce Lee daquele momento em diante, porque percebi o poder que vinha daquele chute. E foi realmente uma sensação incrível ver algo assim em primeira mão, pois estávamos todos ansiosos. A partir daí fiquei determinado a desenvolver o poder dos meus chutes para ser como os de Bruce Lee.”

Flagrante de uma festa de aniversário surpresa para
James Yimm Lee, em Oakland.

Ainda sobre Bruce Lee: “Bruce gostava de brincar, ele era um brincalhão muito prático. Ele tinha um temperamento explosivo também, mas basicamente quase nunca vinha à tona, a menos que ele sentisse que estava sendo excluído de algo, ou quando sabia que um aluno tinha algo (a mostrar) e se recusava a se soltar, relaxar e seguir em frente; então você podia ver um pouco daquela raiva saindo, mas era principalmente frustação, porque ele queria tanto ver aquela pessoa ter um preparo de luta decente dentro de si e desenvolvê-lo ...). Já o vi levantar a voz e o vi descontar nos alunos às vezes, mas nunca o vi ficar realmente irado para querer socar alguém. Não, nunca vi isso. Acho que tudo isso pode ter acontecido nos bastidores de seus filmes quando ele teve que fazer isso para sobreviver, porque existem tantas personalidades diferentes para lidar, e é muito diferente de ensinar artes marciais a alguém.  

Armas Brancas e a Real Aplicação do JKD -  Perguntado se a utilização de nunchaku, bastões curtos e longos (bo), vistos nos filmes de Bruce Lee, faziam parte do programa de treinamento do JKD, Williams respondeu: “Não, não utilizávamos armas, porque Jimmy (James Lee) costumava dizer: ‘Quantas vezes você poderá andar pela rua com varas e facas na mão? Você só irá usar o que tem disponível para se defender. Você não poderá dizer ‘ei, espere um minuto! Tenho que ir pegar meu taco, já volto, não se mexa, estou voltando!’ - Não! Você vai dizer: ‘Ok! É assim que as coisas são!’ – Socos, estocadas e está tudo acabado, tira a faca dele e segue com tua vida.  Assim, tivemos que aprender tudo com nossa a matéria-prima, as mãos e os pés.” Segue Williams: “Bem, vamos colocar da seguinte maneira: eu posso pegar dois bastões e aplicar JKD com eles e você vai jurar que aquilo foi ‘Kali’ porque os movimentos foram naturais. Mas tudo é apenas uma extensão da minha mão. Simples assim. Nada de especial, nada para tentar aprender a fazer, é só pegar as varas e usá-las. Você pergunta como seria possível sem um treinamento prévio? Simples, o que você faz com as mãos, você pode fazer com bastões, simples assim.”

A Ausência de Competições no JKD – Explica Howard Williams: “Bem, em primeiro lugar, a razão de nunca termos dessas coisas foi que James e Bruce não acreditavam em divulgar a arte e colocar regras e regulamentos restritivos que regem os lutadores de torneio e lutadores de contato, porque o JKD é estritamente uma ‘Arte de Luta de Rua’ onde não existem regras aplicáveis. Vale tudo e a atitude é ‘faça ou morra, mova-se ou você perde’. Você será desqualificado com essa atitude (num torneio com regras).”

A Razão de nunca se ver Professores e Alunos com as Habilidades de Bruce Lee – Reponde Williams: “Isso é porque os professores não têm habilidades como as de Bruce. Você não pode culpar os alunos. Porque eles vêm às academias para aprender, e quando o professor não tem (habilidades), os alunos também não terão, e você continua obtendo uma versão mais diluída da verdade.” Perguntado sobre qual é essa verdade, Williams responde: “Bem, a verdade em relação ao JKD é que ele está sempre mudando. O fato é: está sempre mudando, a verdade em JKD está sempre mudando, onde em outras artes é estilizado, limitado e cristalizado na abordagem ‘isto e aquilo’. Sendo uma abordagem não natural. É como tentar ensinar um canhoto a ser destro e vice-versa. Você não pode fazer isso. Ensine a pessoa como lutar de onde ela está. Descubra a causa da ignorância, isso também é parte da verdade. Antes de poder ensinar a verdade, você deve entender de onde ela vem em relação a você. Não de Bruce Lee, não de James Lee, ou qualquer outra pessoa, mas de você. Então, JKD, quando se trata de verdade, só se aplica a nós mesmos e à descoberta da causa de sua própria ignorância.”

A Semelhança entre Howard e Bruce Lee no Modo (quase arrogante) de Ser – Diz, Howard: “Oh, é confiança, ninguém pode ter mais confiança em você do que você mesmo. Se você continuar com a atitude derrotista de ‘não posso fazer isso’ ou ‘não consigo’, para mim ‘não posso’ significa ‘não vou’. Se você treinou para algo por tempo suficiente, e treina da maneira certa na verdade, então você não terá problemas em concentrar sua confiança quando se trata de lidar com outras pessoas e outras suas artes marciais; e os outros também podem ver isso. Não é ser arrogante, é apenas ser capaz de entender quem você, é ser capaz de vivê-lo. Se alguém me perguntar o meu nome, não preciso dar de ombros, digo ‘Howard’, com orgulho e confiança.”

Jesse Glover, foi o primeiro aluno de Bruce Lee em território americano.
Mais precisamente, em Seattle, Bruce ensinou  Wing Chun  tradicional
para os seus primeiros alunos. Glover preferiu não acompanhar a transição
para o Jun Fan Gung Fu, posteriormente chamado de JKD.

O Apelido “Flaspoint” e a Relação com Jesse Glover – Explica, Howard: “Bem esse apelido me foi dado por causa da minhas habilidades naturais e por passar a meus alunos um treinamento adequado que lhes ajudariam escapar naturalmente dos problemas que poderiam enfrentar nas ruas.” Perguntado sobre sua relação com Jesse Glover, o primeiro aluno de Bruce Lee nos EUA, respondeu Williams: “Bem, não somos bons amigos, mas nos conhecemos e nos falamos. Ele conhecia meu padrasto e minha mãe. Eu era tão jovem, o mais jovem de todos, e todo mundo era 10 ,15 ou 20 anos mais velho do que eu, mas com o passar do tempo, descobrimos que, não importa como Bruce se desenvolveu, a verdade ainda permanecia a mesma: é poder, velocidade e franqueza. E o que realmente importa não é tanto o quão forte você é, o quão rápido você é, mas quem pode chegar lá primeiro, determinará o resultado do combate. E a velocidade tem o seu lugar no JKD, acredite em mim. Poder! Já vi pessoas que acertam com uma velocidade estonteante, mas é como jogar um ovo em um pedra, simplesmente bateu. Nada! Já vi gente que tem a força de um rinoceronte, mas demorou dez anos para chegar lá, aí o oponente já cortou as fatias e foi embora (risos...). Portanto você precisa ter uma combinação de ambos para ser eficaz.” Respondendo se ele e Jesse Glover, apesar de serem de tempos e períodos diferentes, acharam a mesma ‘verdade’, esclarece Howard: “Porque os princípios eram os mesmos. Só que a forma de aplicá-los era um pouco diferente. Princípios e verdade..., você não muda princípios por uma causa. Só porque você desenvolveu uma maneira diferente de aplicar suas habilidades, não significa que você mudou seus princípios, que são velocidade e força, golpe e mais golpe.”

Obs.: - Jesse Glover era afro-americano como Williams e foi o primeiro aluno de Bruce Lee nos EUA, assim que ele se estabeleceu em Seattle. Entretanto, após Bruce Lee iniciar a transição do Wing Chun para o Jun Fan Gung Fu e posteriormente para o Jeet Kune Do, Glover preferiu se manter no ensino inicial, preservando o que Bruce Lee lhe passou e que era baseado no ensinamento do Wing Chun tradicional, desenvolvendo posteriormente seu próprio caminho com essa base.

O seu Jeito de Ser e Habilidades do próprio Howard Williams – Assim se define o próprio Williams: “Eu me lembro, às vezes Jimmy costumava nos contar algumas das coisas que aconteceram no passado, sobre o seu treinamento da ‘Palma de Ferro’ e porque era inútil, ao invés de apenas tentar desenvolver força, profundidade e penetração. Agora, não tenho mais calos nas mãos, mas tenho marcas nos nós dos dedos de onde pratiquei em diferentes superfícies, mas não há mais calosidades. É apenas descoloração dos nós dos dedos por causa do meu treinamento, você pode ver. Não é difícil, mas o poder que está por trás disso é difícil (de se obter). Isso vem de dentro de você e, em seguida, projeta-se para fora, mas você só obtém de algo o que colocou neles. Eu coloquei muitas horas em treinamento e ainda estou desenvolvendo também.”

Sobre sua rapidez, dizia Howard: “São apenas movimentos
não telegrafados que possuo." 

Ainda sobre sua rapidez, complementa, Howard: “São apenas movimentos não telegrafados que possuo. Eu não telegrafo meus movimentos. Eu pessoalmente sinto que posso desenvolver minha velocidade a ponto de parecer que não estou me movendo e eles (oponentes) não vão me ver mover muito antes de eu chegar ao ponto. Me perguntaram se é necessário toda essa velocidade, então eu disse que não queremos perder tempo. Quanto mais você envelhece, as leis da física vão contra você, e você tem que se tornar mais sábio, tem que chegar lá mais rápido, você não pode perder tempo pulando como um coelho ou um boxeador estiloso. Na minha idade ainda tenho um pouco de poder e velocidade para desenvolver, mas algumas pessoas acham que sou rápido agora, mas em alguns meses ou um ano, eles verão algo mais. E eu digo isso de coração, não estou dizendo algo que apenas me vem à cabeça. A economia de movimentos se torna muito importante. Você deve se colocar em uma posição em relação ao lutador onde você estará seguro, mas ele não.  Qualquer coisa que ele fizer, você poderá pegá-lo, mas ele não poderá te pegar.  Você não precisa ficar dançando como um boxeador estiloso, tentando provar alguma coisa, você não quer ser outro Muhammad Ali. Não quero imitar nenhuma dessas coisas, isso custa tempo e movimento, e pode custar sua vida. Ainda estou desenvolvendo e aprimorando minhas próprias habilidades e posso me tornar mais rápido e poderoso do que sou agora, mesmo nesta idade. Não há limite para o condicionamento físico, exceto quando você morre.”

Obs.: Howard Williams estava com 39 anos, quando concedeu essa entrevista.

A Seriedade na Direção dos Treinos nos tempos de Bruce e James Lee -  Lembrou Howard Williams: “Jimmy fez! James fez isso com certeza. Bruce, tenho certeza que ele levou seus alunos a sério também, mas basicamente eles (os alunos) não conseguiam acompanhar o ritmo verdadeiro do JKD. É por isso que as aulas oscilaram tanto, porque eles não conseguiam acompanhar o ritmo do treinamento.”

Bruce Lee efetuando quebramento de tábuas (seguras por James Lee)
com seu lendário chute lateral.

O Chute Lateral de Howard Williams comparado ao de Bruce Lee e o Aparelho de Chutes de 300 libras -  Explica Howard que, como se sabe, evitava utilizar seu chute lateral com a perna direita em exibições, por ser muito poderoso: “Não era um saco de pancadas ou uma bolsa, era um aparelho de chute tipo prancha, adaptado com molas de amortecedores de carro e que pesava 136 quilos. Treinávamos chutando aquela coisa para conseguir perfurar nossos companheiros de treino. Se você conseguisse um bom chute, esmagaria tudo que estivesse no caminho. A prancha iria voltar para trás ao ser chutada, se não fosse um bom chute, ela o chutaria de volta. Faria um pouco de barulho, mas ela não se moveria. Então foi assim que ele (Bruce) desenvolveu e controlou seu chute lateral.  E ele nos mostrou muitos exercícios para desenvolvermos nossos chutes. Ele (Bruce) foi capaz de empurrar aquela prancha e abalar as fundações, assim como eu. Eu e o Bruce.”   

James Lee (perito soldador) foi quem confeccionou a "prancha"
de 300 libras para o treinamento do chute lateral.

E ainda sobre o aparelho desenvolvido por James Lee, completou Howard: “Bem, Greg (filho de James Lee) costumava mencionar que ouvia seu pai e Bruce falando sobre mim e o desenvolvimento de minhas habilidades, e especialmente sobre eu conseguir balançar a mesma máquina de chutes (criada por James) da mesma forma e com o mesmo poder de Bruce Lee. Um dia estava na presença de Bruce e ele me chamou de ‘robusto’, por causa da minha habilidade e tamanho.  Ele sentiu que eu tinha algo com que trabalhar. Ele poderia me moldar e esculpir todas as minhas coisas não essenciais para me tornar o que sou hoje. E ele e James se saíram muito bem. Eu tinha 19 para 20 anos.” Perguntado sobre sua velocidade em comparação à de Bruce Lee, responde Williams: “Bem, de acordo com James, eu era natural no que diz respeito às minhas habilidades. E eu não tive que trabalhar tanto quanto Bruce Lee, mas não me comparo com meu Sifu dessa maneira. Ele viu o que eu tinha, pegou e transformou no que tenho hoje. Não gosto de comparar minha velocidade com a velocidade dele (Bruce Lee). Não gosto destas coisas, é desrespeito. Eu respeito meu Sifu. Eles eram meu Sifu. E quando você trabalha duro em algo, é orgulho e alegria deles ver você desenvolver e até superá-los, pois assim puderam ver os frutos do seu trabalho, que não foi em vão. Então, se ele estivesse vivo hoje, provavelmente ficaria muito satisfeito, eu acho, e provavelmente gostaria de experimentar mais coisas comigo. Então, neste aspecto, eu diria: Minha velocidade em relação à dele? Quem sabe aonde isso poderia ter me levado? Ainda não terminei com o desenvolvimento de minha velocidade.”

Howard Williams: “JKD é o que é, natural. É só isso. Não é um estilo." 

O Significado do Termo e Filosofia do Jeet Kune Do – Explicou Williams: “Bem, Bruce realmente não queria chamá-lo (de método, sistema ou caminho) de nada. Vou te dizer porquê: ‘quando você é criança ou adolescente, não sei, há um momento na sua vida que talvez tenha começado uma briga e você teve que se defender. E aquele cara estava realmente tentando arrancar sua cabeça. Como você chamaria isso que usou para se defender? Pense nisso por um segundo. Ok, o tempo acabou. Nada! Você não pode chamá-lo de nada. Por que? Porque realmente aquilo foi você! Você não pode chamá-lo além de ‘você mesmo’, a expressão de você próprio. Não é ‘Jeet Kune Do”, que eu chamo de ‘Caminho do Punho Interceptador’. Na verdade, não é nome algum. Você pode olhar para uma garrafa de suco de laranja sem nomeá-la, você pode olhar para qualquer coisa sem nomeá-la, você pode olhar para si mesmo sem nomear-se. Nomear o que você é? Você é apenas um ser humano, você é um artista marcial, qualquer coisa que você queira ser. Então, quando se trata de se defender na rua, você usa o que lhe é natural na hora.” Prossegue, Howard: “JKD é o que é, natural. É só isso. Não é um estilo. É por isso que muitas pessoas não aderem muito bem a ela (arte), porque estão procurando por essa gloriosa expressão em forma de flor, e ela não está lá. É pow! Direto ao ponto. E está tudo acabado.”

A  Concepção de um Verdadeiro Lutador – Assim respondeu Howard Williams: “Em minhas palavras, um verdadeiro lutador dever primeiro ser fisicamente apto, forte e capaz. Esses são apenas os atributos externos. Mas existem algumas pessoas que não possuem essas habilidades físicas, mas têm o coração e a verdadeira maneira de pensar. Para mim, eles podem ser tão bons, porque todo lutador, todo ser humano tem algo que pode desenvolver para usar e se defender e poder aumentar sua habilidade de luta; agora, eu pessoalmente diria que você pode ter todas as habilidades de luta que deseja.”

Flagrante de Howard Williams aplicando o "Soco de Uma Polegada"
em um aluno.

O Soco de Uma Polegada – Relata Williams: “Sim, me foi ensinado e gera muito poder. Na verdade foi feito para demonstrar a eficácia da posição de guarda (do JKD) de onde teria que recuar. Na verdade o ‘Soco de uma ou duas polegadas tem muito mais poder do que a maioria dos socos. Se você tem o verdadeiro poder, comece a 20 cm de distância e não se preocupe com nada. Mas a verdadeira capacidade de dar o soco de uma polegada reside na química simples de estar focado. Reunindo todos os elementos em um e concentrando sobre eles, e quando você o faz, você percebe que tem algo em você que nunca imaginou ser possível. É uma coisa perigosa ter contato com o verdadeiro ‘soco de uma ou duas polegadas’. E eu demonstrei isso para várias pessoas aqui onde estou agora, e elas nunca viram nada parecido. Agora eu me lembro que para aprender o soco de uma ou duas polegadas, eu tive que praticar, praticar e praticar. E fiquei tão frustrado que voltei para Bruce e pedi-lhe para que me mostrasse como era feito. E ele me disse para assistir. E quando ele fez isso, eu prestei muita atenção, e você pode imaginar a concentração que tive naquele momento tentando aprender como ele fazia. Ele disse: ‘É isso!’ Esse era o segredo: Foco! Limpando sua mente de todas as obstruções que existem nela. Ser capaz de colocar em foco toda a formação que lhe foi ensinada ao longo dos anos e meses que pôs em prática, e simplesmente fazê-la sem pensar. Não me dei conta, eu estava lutando para tentar fazer algo que fosse natural. Esse é todo segredo de todo o legado do ‘Caminho do Punho Interceptador’: fazer o que é natural. Conheço algumas pessoas que olham para uma arte e dizem: ‘bem, quanto mais complexo for, melhor deve funcionar’. Não, pelo contrário!”

"Bruce Lee era, antes de tudo, um ser humano..."

Bruce Lee por Howard Williams – “Bruce Lee, como eu conhecia, é o que gostaria de mencionar brevemente agora. Você sabe, há muitos mitos em cima de muitas coisas que aconteceram, mas o que é real deve ser mencionado, e isso é que Bruce Lee era, antes de tudo, um ser humano que se tornou um artista marcial. Qualquer coisa que ele desenvolveu veio desses dois elementos, o ser humano e o homem. E muitas pessoas me perguntaram: ‘E os métodos de treinamento de Bruce Lee?’ Bem, há muitos boxeadores que treinam duro, muitos esquiadores que treinam duro, mas o que diferencia aqueles que são apenas medíocres dos que se tornam campeões e seguem para se destacar além do que é necessário deles? É a sua capacidade física? Não! É outra coisa? Claro! Então o que é? Em primeiro lugar, Bruce estava preso em um espécime físico. Nascido em San Francisco, foi criado em Hong Kong. Agora, quando criança, era magro, franzino e não tinha muito o que esperar. Mas quando ficou mais velho, começou a se preocupar com isso, e se perguntou como se sairia sem seus amigos quando estivesse sozinho num beco precisando se defender. Então ele começou a aprender e estudar Wing Chun. Seu pai foi o seu primeiro professor (de Tai Chi Chuan) e é claro, isso não era o suficiente para ele. Ele começou a montar os alicerces de um campeão a partir daí, porque não bastava ter apenas um, ele queria saber de tudo e queria ser bom nisso. Ok, então ele persistiu e continuou, e eventualmente, aos 18 anos, tornou um homem que decidiu voltar às suas raízes em San Francisco. Na época era bastante fiel ao Wing Chun quando se mudou para Seattle. E ele abriu uma pequena escola e começou a fazer suas coisas lá. E ele percebeu que o Wing Chun era rápido, mas faltava poder. E essa foi sua primeira descoberta das limitações de sua arte, e cada limitação importunou Bruce Lee imensamente, mas ele estava determinado a querer superar essa fraqueza, qualquer fraqueza. Então ele persiste, continua e se torna louco pelo poder. Então ele consegue ‘turbinar’ o Wing Chun, o Wing Chun turbinado, e o poder que deveria ter. Então ele pensou que era o máximo, até que viajou para Hong Kong, e adivinhe o que ele descobriu? Que ele não era tão bom quanto pensava que era, entende? Os alunos que estavam sob o ensino de Ip Man também estavam se desenvolvendo e eram capazes de pegá-lo tantas vezes quanto ele também conseguia, se não mais. Mais uma vez, provando que Bruce era mortal, humano e falível. Então tudo aquilo o perturbou tanto, mesmo depois de desenvolver aquele poder, que ele quase desistiu completamente das artes marciais quando voltou para Seattle. Mas ele pensou sobre isso e começou a perceber que havia uma limitação com a qual ele não poderia viver, e ele não poderia simplesmente desistir. Então ele começou a aumentar o calibre e perseguir a causa de sua ignorância. Foi aí que ele deu o primeiro passo em uma longa jornada: descobrir quais eram suas fraquezas e limitações e tentar compensar humanamente isso da melhor maneira possível. Descobrir a verdade não é fácil, e uma vez que a descubra, dói. Então ser capaz de se sobrepor e se elevar exige um pouco mais aqui do que a maioria das pessoas está disposta a oferecer. Apenas ser porque você é bom em pular corda, no saco de pancadas e tudo isso, não significa nada! É o que está dentro de você, é a essência de ‘você’, o verdadeiro ‘você’ surge então. Você está disposto a fazer o que for preciso para se tornar um campeão? Em vida, Bruce era! Ele estava determinado a fazer com que funcionasse e descobrir o que poderia fazer para melhorá-lo. Então ele começou a modificar, a cultivar e a ler livros e tudo o que havia sobre lutas e diferentes estilos de combate. Estava nascendo o Jeet Kune Do. Mas nem mesmo ele sabia disso. 



"Ele era o seu maior amigo e o seu pior inimigo. Ele estava competindo
consigo mesmo." -  Williams, sobre Bruce Lee.

E disso veio o conhecimento do que temos hoje, e isso continuou a crescer. Mas isso não foi o suficiente para ele; ele ainda tinha o ímpeto de querer ser o melhor, mesmo dentro de suas próprias fileiras. Ele era o seu maior amigo e o seu pior inimigo. Ele estava competindo consigo mesmo. Se ele não estava satisfeito com o progresso que tinha feito, então não descansava até descobrir a causa daquela ignorância e continuava a desenvolver, e a desenvolver. Quanto mais velho ficava, mais sábio ficava, melhor se tornava e mais determinado era para obter sucesso. Esses são os atributos que estavam nele e em todos que ele ensinou ao longo do caminho, naqueles que participaram da primeira geração do JKD. Tive a sorte de estar lá para ver muito dessa transição, e estar envolvido em muitas dessas mudanças, e no nascimento de um novo sistema, uma nova maneira de pensar, uma nova maneira de lutar. E então, a filosofia que se seguiu, era realmente para não chamá-la de nada, mas uma expressão de quem você é. Descubra a causa da ignorância, então você descobrirá quem você é. Quando você descobrir quem você é, poderá aplicá-lo à sua arte. Excelência gera excelência, sucesso gera sucesso, fracassos geram fracassos. Mas nada supera o fracasso, exceto uma tentativa, e não importa o que você tem, quem você é, de qual sistema você vem; você sempre pode aprender algo com o JKD e aplicá-lo. Veja, o meu trabalho não é pegar você e mudar quem você é. Mas para o que você tem, e fazê-lo concentrar-se apenas no natural, seja um soco direto, chute, qualquer coisa. Pegue-o torne-o melhor para você, Isso é o que Bruce se esforçou para nos dar hoje, o legado que temos hoje. E não está sendo ensinado, não está sendo transmitido adequadamente; então é aí que eu entro, para ajudá-lo a descobrir a causa da sua ignorância. Não ser como Bruce Lee, mas ser como você, ser o melhor que você pode ser; é disso que se trata!”

Howard Williams - 1950/2012

Por Eumário J. Teixeira.

21 comentários:

  1. ótimo texto
    realmente parece que o JKD é uma arte q se perdeu

    abs!

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    1. Obrigado pela aprovação, Scant. Pois, é... Se por um milagre, Bruce voltasse aos tempos atuais, com certeza ele fecharia a maioria das supostas academias de JKD espalhadas por todo o mundo, se não todas. Cada vez mais entendo as posições de seus primeiros alunos como Jesse Glover, Bob Baker e Howard Williams que preferiram não compactuar com essa institucionalização do JKD se mantendo afastados dessa "onda". Com o recente falecimento de Taky Kimura, creio que o JKD original irá se perder ainda mais. Instrutores reconhecidos e autorizados pelo próprio Bruce Lee, como o lendário James Yimm Lee, eram respeitados como autoridades nesta arte, que não poderia ser classificada ou rotulada como um sistema acabado ou definido. Com a morte de James Lee e em seguida a morte de Bruce, nos anos de 1970, o JKD perdeu seus fortes pilares e começou a ruir. Salvo por esforços de alguns alunos fiéis remanescentes tornados instrutores, como Dan Inosanto (ainda vivo) que agora não se concentra apenas em JKD, explorando também outras as artes marciais tradicionais como o Kali filipino; e o já citado Taky Kimura, que tentou ser fiel até quando sua saúde o permitiu estar à frente do ensino. Outros não autorizados por Bruce Lee, mas que se tornaram instrutores posteriormente como Ted Wong, James De Mille, Jerry Poteet, tentaram manter o ensino original do JKD, mas como você frisou, algo se perdeu neste caminho com a morte destes também. O próprio Howard Williams falou sobre isso. E entendo que o Jeet Kune Do acabou se tornando o que Bruce Lee mais temia, um negócio. Mas é apenas a minha opinião. Abraço, amigo.

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    2. a morte precoce de Bruce inviabilizou o JKD
      pelo q vi, o JKD ainda estava em desenvolvimento
      essa morte também impediu a criação de alguma forma de "sucessão" planejada
      parece que o JKD morreu na infância

      abs!

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    3. Sim. Como citei, ele deixou apenas três instrutores autorizados nos EUA, James Lee (falecido), Dan Inosanto (ainda vivo) e Taky Kimura (falecido). Estes geraram outros instrutores que geraram mais outros instrutores que substituíram os que se foram; e a essência da verdade, buscada no início e frisada por Howard Williams, acabou se perdendo. Bruce com certeza não iria permitir essa proliferação descontrolada de academias e instrutores de JKD pelo mundo. O JKD é um aprendizado pessoal, individual e. por isso, não pode ser tratado com uma arte marcial comerciável e padronizada.

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  2. Muito obrigado a você, Ronald. Sempre foi minha intenção trazer boas informações e abordar de forma honesta e, por vezes, inédita pontos não tão divulgados do universo que abrange a vida e trajetória de Bruce Lee. E sobretudo com qualidade e respeito aos amigos do blog, principalmente no Brasil. Abraço.

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  3. Lançada a "Biografia Definitiva" de Bruce Lee:

    https://www.amazon.com.br/gp/product/6587143121?ie=UTF8&linkCode=li2&tag=veja02-20&linkId=8b6a6c769658b109291524b10bed3ca3&language=pt_BR&ref_=as_li_ss_il

    Um resumo da vida do Mestre:

    https://veja.abril.com.br/cultura/biografia-joga-luz-sobre-o-notavel-legado-de-bruce-lee-para-o-cinema/

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    1. Recomendo esse livro para os que conhecem superficialmente a Bruce Lee. Vou adquirir o meu em breve, para reforçar o meu conhecimento sobre o Pequeno Dragão.

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  4. Olá, grande Eumário!

    Percebe-se claramente que Howard Williams foi um aluno extremamente interessado e dedicado à arte do Jeet Kune-Do, e que tinha muitíssimo a dizer e a ensinar a respeito dessa Arte - assim como também sobre o seu fundador, o fenomenal Bruce Lee.

    O relato de Williams é extremamente rico em informações (que a matéria soube muito bem apresentar) e, no seu conjunto, mostra uma peculiaridade observada em praticamente todas as disciplinas e filosofias que foram desenvolvidas ao longo da História humana, qual seja: a perda de grande parte da essência original assim como a inexorável deturpação dos verdadeiros princípios.

    Uma pena que Howard Williams não tenha deixado nenhuma obra escrita a respeito da sua formação no Jeet Kune-Do.
    O legado de Bruce Lee, com certeza, hoje não estaria tão órfão dos ensinamentos fundamentais ou não estaria tão sujeito às inúmeras adulterações vergonhosas das quais se tornou mais uma vítima.

    Outra excelente matéria aqui do blog - para ler, reler e aprender!

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  5. Olá, honorável amigo Antonio Jorge. Vejo da mesma forma, Howard Williams fez parte do núcleo que originou o conceito verdadeiro do Jeet Kune Do e, portanto, ele tinha autoridade para falar. O que sempre achei e acabei por concluir é que sem Bruce Lee no comando, o Jeet Kune Do não teria mais sentido e se perderia com o tempo, já que dependeria totalmente da progressão e experiência individual e pessoal de Bruce Lee. Aliás, a maioria das técnicas que são hoje apresentadas e conhecidas do JKD só seriam efetivas com o próprio criador do JKD que era um artista marcial revolucionário e um atleta excepcional. Abraço e obrigado pelo comentário.

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  6. Eumario, gostaria de uma opinião sua sobre a " bomba " recente noticiada, as cartas de Bruce e Linda para Bob Baker, em meados de 71/72 , parabéns pelo excelente trabalho, abraço.

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    1. Bom dia, Luciano. Mandei essa resposta em outra postagem que você comentou, mas te respondo com as mesmas palavras usadas para atender a outro amigo que fez o mesmo questionamento e acho que vou usar essa reposta como padrão caso haja mais indagações sobre o assunto (risos). Estou ciente dessa bomba que estourou na internet, chocando os amantes das artes marciais e fãs de Bruce Lee. A ironia ou mesmo maldade, foi que essa notícia foi divulgada semanas antes da data do 48º ano de sua morte. Fiquei surpreso que a filha do falecido Bob Baker, aluno de Lee que fez participação em A Fúria do Dragão (Fist of Fury – 1972) como o lutador russo Petrov, tenha exposto estas cartas pessoais e comprometedoras de Bruce Lee (a seu próprio pai), décadas depois, apenas para ganhar alguns dólares e resolver, quem sabe, sua vida financeira. É sabido que Bruce Lee utilizava substâncias ilícitas como maconha, haxixe e pílulas desde o final da década de 1960, graças à influência dos seus amigos e celebridades de Hollywood, como Steve McQueen e James Coburn, principalmente. Depois que ele sofreu a terrível lesão nas costas em 1970, por conta de um exercício com pesos, ele também passou a usar aplicações diretas na coluna de cortisona para aliviar a dor que o atormentou até a morte. Sempre houve boatos sobre o seu consumo regular de bolinhos de haxixe e cigarros de maconha para eventualmente amenizar essas dores e o alto stress em Hong Kong por causa das pressões sofridas por conta das filmagens e desentendimentos com diretores e produtores e até ameaças sofridas por lutadores que o desafiavam na rua e sets de filmagens ou da máfia que queria aproveitar e explorar sua fama. Mas agora com todo aquele conteúdo explosivo das cartas guardadas por Bob Baker, volta-se a questionar fortemente sobre a morte de Bruce Lee ter sido causada por overdose de alguma substância ilícita, mas quem saberá ao certo?!? Há um filme de 1976, “Bruce Lee and I”, com Betty Ting Pei e Danny Lee em que se mostra os encontros amorosos de Bruce e sua amante Betty Ting Pei, onde rolava um consumo de drogas variadas, maconha, pílulas e cocaína e noitadas de sexo. Achei um filme oportunista e sensacionalista por parte de uma mulher que dizia amá-lo tanto e procurava preservar sua memória; mas agora me parece que tem algum fundo de verdade naquilo. As cartas em si, exibidas na internet, me parecem autênticas, a letra realmente parece com a de Lee e algumas cartas foram escritas em papel timbrado da academia de Jeet Kune Do, com sedes em Oakland (onde Bob Baker treinava), Seattle e Los Angeles. Acho que já foram reconhecidas e autenticadas, já que foram a leilão. Até agora não soube de nenhum pronunciamento da viúva Linda Lee, agora casada pela terceira vez ou de sua filha com Bruce, Shannon Lee, sobre isso. E provavelmente mãe e filha não vão se pronunciar para não fomentar ainda mais o escândalo. Aliás, as cartas comprometem até a própria Linda Lee por cooperação com o suposto tráfico de drogas dos EUA para Hong Kong. Já tenho algum material sobre o assunto, mas fiquei tão chocado com essa exposição desnecessária, covarde e oportunista que não sei se postarei algo a respeito, ainda. Vamos focar no legado de Bruce Lee, seus valores, filosofia e sua influência revolucionária para o mundo das artes marciais, pois acho nem essas cartas abalará a fidelidade de seus fãs mais fiéis. Abraço.

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    2. cara, faz um post sobre as cartas
      o assunto é muito interessante

      gosto de bruce, mas todo ser humano tem um lado negro - é natural, pois ninguem é perfeito

      fico imaginando o efeito das drogas no corpo de alguém como ele que se forçava demais o corpo com exercícios

      também é legal lembrar que nos anos 70, com hippies etc - usar drogas, sexo livre etc era moda entre os jovens

      dificilmente alguem com a mente aberta como bruce (estudante de filosofia, "fisiculturista", lutador, pegador de mulheres etc) não teria embarcado nessa moda em algum momento

      abs!

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    3. Olá, Scant. No momento estou trabalhando em outra postagem. Quem sabe eu resolva, mas no momento não. Abraço.

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  7. Esta semana, comprei a "Biografia Definitiva" de Bruce Lee diretamente no site da editora. Apenas dois dias depois, a remessa do livro já havia sido realizada.

    Parece que Matthew Polly, autor da biografia autorizada sobre Bruce Lee, vai ter que fazer um trabalho de revisão geral da sua obra posto que nem ele mesmo sabia da extensão desse problema com drogas envolvendo o mito Bruce Lee - e com o pleno aval da sua esposa, Linda Lee, agora Linda Emery.
    Mas, surpresa maior para Matt Polly (que, ressalta-se, passou mais de uma década entrevistando pessoas do círculo de convivência de Bruce Lee), foi saber que Bob Baker é quem era o maior fornecedor de drogas para ele.
    O autor de "Bruce Lee - Uma Vida" não sabia realmente do nível de seriedade do problema ou simplesmente preferiu omitir a realidade para não ser o detonador da gigantesca "bomba"?
    Mas, agora que a bomba explodiu, e a podridão já foi exposta, o biógrafo não tem problemas para tratar do assunto abertamente.

    Só a título de exemplo a respeito disso tudo, em março de 1973, Linda escreve para Bob Baker pedindo o fornecimento de U$500 de C (cocaína), e ainda ameniza a eventual preocupação de Baker dizendo que o seu marido não estava se excedendo ou exagerando.
    Ok. Afinal, 500 dólares em 1973 também já era uma quantia irrisória para se pagar por qualquer coisa, e Bruce Lee também nunca foi o tipo de homem capaz de se exceder em nada daquilo com que se envolvia!

    No antro de drogados que é Hollywood, seria muita surpresa alguém se misturar por ali e conseguir conviver com aquela gente sem ser contaminado de algum modo.
    Nesse cenário, Bruce Lee foi só outra vítima fácil dos seus "amigos" e alunos famosos fissurados por drogas, sexo e demais escândalos.

    Em resumo, nada disso será capaz de abalar o legado deixado por Bruce Lee. No máximo, apenas lança um pouco mais de luz e compreensão no lado frágil do ser humano que ele, assim como qualquer outro, também possuiu.

    Mais importante que a descoberta dessas várias cartas explosivas que fazem a alegria dos sensacionalistas é a famosa carta de "Dez Milhões de Dólares de Bruce Lee", escrita por ele e para ele próprio. As palavras nela contidas falam por si mesmo:


    MINHA PRINCIPAL META DEFINIDA

    Eu, Bruce Lee, serei o o primeiro e mais bem pago Superstar Oriental nos Estados Unidos. Em troca disso, farei as performances mais entusiasmadas, e vou entregar o melhor da minha qualidade como ator. Começando em 1970 atingirei fama mundial, e a partir daí até 1980 terei em minha posse 10 milhões de dólares. Viverei do jeito que eu quero e atingirei paz interna e felicidade.

    Bruce Lee, jan. 1969

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    1. Olá, Antonio Jorge.

      Pois é, foi comprovado que não existe “biografia definitiva”. Ainda mais se a personalidade focada, Bruce Lee, partiu precocemente e carregando a maioria de seus segredos consigo.
      E arrisco a dizer que Matthew Polly nem sonhava com a existência das cartas bomba. Mas as testemunhas e entrevistados do livro certamente desconversarão sobre o assunto, se procurados novamente.
      Bob Baker, até sua morte em 1993, foi extremamente fiel a Bruce Lee e nunca mencionou nada a respeito dos vícios em drogas de Bruce Lee em qualquer entrevista exclusiva ou em eventos promocionais. Só não entendo porque as guardou.
      As drogas com certeza não afetaram as performances de Lee, nem para melhor nem para pior. Suas proezas físicas eram fruto de árduo treinamento e se tornaram naturais. O consumo de material ilícito seria apenas para os momentos em que relaxava com Betty Ting-Pei ou outra amante, por exemplo, e talvez também para “turbinar” sua criatividade.
      E como você mencionou, tudo se deu em Hollywood. Bruce era apenas um jovem de 28 anos quando começou a se relacionar com as estrelas maiores de Hollywood, ditos “amigos”, como McQueen, Coburn e Polanski que se encaixavam naquele “modo de vida” dos anos de 1960 regrado a muita utopia, esoterismo, sexo, drogas e rock & roll.
      A filosofia zen budista e o Kung Fu chinês se encaixavam perfeitamente neste contexto utópico e psicodélico.
      Foi essa bagagem alucinante que Bruce trouxe de volta para a turbulenta Hong Kong nos últimos três anos de vida.
      Além disso, Lee sentia a necessidade de se impor e provar sua capacidade e competência em tudo que fazia, talvez impulsionado pelo preconceito racial, ainda que velado, que sofreu nos EUA.
      Uma coisa ficou claro para todos nós, ele era humano e não um ET, e sabia muito bem “mascarar” suas fraquezas e inseguranças através de seu forte carisma e grandes proezas físicas e cinematográficas.
      Sobre sua carta de “10 milhões de dólares”, vejo outro contraste na personalidade de Lee, pois seu “sonho americano” de querer ser reconhecido como grande estrela, viver do jeito que bem queria de posse de milhões de dólares achando que assim conquistaria a “paz interna” e a “felicidade”, mostra um pouco de sua ingenuidade para certos aspectos da vida, bem como uma certa distância de todo aquele discurso Zen de simplicidade, autocontrole e paz interior.
      A vida é ilusória, cruel e Bruce Lee descobriu tudo isso de uma forma intensa e meteórica.

      Abraço, amigo e obrigado por mais um rico comentário.

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    2. " uma certa distância de todo aquele discurso Zen de simplicidade, autocontrole e paz interior." parece bem distante tipo anos luz de distância.

      nesse trecho da carta ele parece materialista e obcecado por fama e sucesso

      fico imaginando até onde o discurso que ele pregava era realmente o que ele pensava e o que era "marketing" usando filosofia oriental

      as proezas físicas são indubitáveis, mas não vejo muitas "proezas" intelectuais, em especial ele pareceu ostentar um caráter duvidoso em seus últimos anos regado a amantes e drogas

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    3. Sem dúvidas, Lee era um homem de caráter, Scant. Ele era obstinado, traçou uma meta e não abriu mão de conquistá-la através de muito trabalho. Ele apenas se deixou levar por "más influências" e creio que depois daquele susto sofrido com a lesão nas costas, em 1970, que quase o anulou fisicamente, ele se perdeu no caminho abrindo mão de alguns valores pessoais ao prever a terrível possibilidade de um fracasso profissional. As drogas foram “muletas” que o ajudaram a se manter de pé. A filosofia do Jeet Kune Do é uma inegável criação, além de ser revolucionária, apesar de basicamente ser uma adaptação do pensamento de Jiddu Krishnamurti. Mas foi ele que o adaptou para as artes marciais. E sua vida e perseverança servem de exemplo para qualquer um, ainda que em alguns aspectos nada tem a ver com o modo de vida de um monge altamente espiritualizado. Quanto ao consumo de cocaína e outras drogas ilícitas, não creio que ele chegasse a perder o controle sobre isso, como muitos outros artistas de Hollywood e inúmeros artistas do rock conseguiram “levar” e até a superar essa dependência mais tarde. Se ele fosse tão viciado como especulam alguns, ele não teria realizado tamanhas proezas físicas ou mesmo intelectuais, como o fez, nestes intensos três últimos anos de sua vida. Abraço.

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    4. "susto sofrido com a lesão nas costas, em 1970" - talvez as drogas tenham ajudado a causar essa lesão. nunca saberei


      "Se ele fosse tão viciado como especulam alguns, ele não teria realizado tamanhas proezas físicas ou mesmo intelectuais, como o fez, nestes intensos três últimos anos de sua vida" talvez as últimas proezas tenham sido turbinadas com drogas

      tem um ditado: a luz que brilha duas vezes mais forte, queima na metade do tempo

      é comum quem usa drogas potentes ter algum mal estar relacionado
      pior ainda com drogas ilícitas, que simplesmente ficam foram da maioria das pesquisas científicas (se é ilícita, não há interesse farmacêutico em fabricar)

      "misturar" LSD, cocaina, haxixe e só Deus sabe mais o que além de cigarros, alcool no mesmo corpo não podia dar coisa boa

      soma-se a isso uma vida estressante nada saudável...

      quem quer o melhor do corpo, é obrigado a viver uma vida de "monge", regrada, com muito tempo de sono/descanso

      abusos normalmente geram doenças, quando não a morte

      no passado imagina que Bruce tinha sido envenenado pela máfia chinesa, agora sei que ele mesmo se envenenou


      abs!

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  8. Seu pensamento tem sentido, Scant. Com certeza o modo de vida que Lee levava não era nada saudável. Mas em relação à verdadeira causa de sua morte e o quanto as drogas contribuíram para isso, nunca saberemos ao certo. Obrigado pelo comentário, amigo. Abraço.

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  9. Em tempos de criação (e de divulgação) de falsos mitos, desmistificar também é bom - e muito prudente.
    Afinal, nem mesmo os Deuses das mitologias foram perfeitos:

    https://youtu.be/gcMto7Ne7HI

    Abraço !

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    1. Perfeito, Antonio Jorge. Quanto àquele vídeo de "Lee" rebatendo as bolinhas de ping pong, nunca me enganou. Eu rebati alguns que acreditavam ser Lee naquele suposto vídeo raro, mas a maioria ainda quis e ainda quer acreditar na farsa. Obrigado.

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