Bruce Lee

Bruce Lee
The Game of Death - JKD

sábado, 2 de maio de 2015

BRUCE LEE E SUA ROTINA DIÁRIA DE TREINAMENTO – Parte III


Dando prosseguimento às postagens anteriores, continuarei descrevendo os métodos de treinamento de Bruce Lee utilizados ainda nos Estados Unidos quando sua prioridade ainda era se desenvolver como artista marcial. Pouco depois ele retornaria para Hong Kong e se tornaria o maior astro dos filmes de artes marciais em todo o mundo. Nessa postagem apresento mais alguns aparelhos tradicionais, como outros específicos criados por Bruce Lee e que foram fabricados ou aperfeiçoados por seu parceiro, James Yimm Lee.

Bruce Lee socando o saco teto-chão 

O saco teto-chão ou saco de velocidade exigia velocidade e reflexos do praticante
O Saco Teto-Chão (Double end bag) conhecido também como o “antigo saco de velocidade” era considerado por Bruce Lee como um dos principais equipamentos para o desenvolvimento da precisão e velocidade. O saco, de forma arrendondada, é mantido por um suporte elástico em linha reta até o teto e por uma corda até o chão. O saco fica suspenso geralmente na altura dos ombros do usuário. Tal equipamento força o praticante a desenvolver a rapidez e precisão com as mãos, pois ao atingir o saco de forma correta, o equipamento retorna de forma imprevisível num movimento elástico e violento, o que é bom para aperfeiçoar o tempo correto (timing) para socar de volta, além de desenvolver o jogo de pernas, aprimorar a coordenação, pronta reação e combinação de socos. O saco teto-chão deve ser golpeado de forma direta e reta, como se estivesse mirando o nariz de um adversário.

O lendário Sugar Ray Robinson praticando no saco teto-chão
Bruce preferia esse tipo antigo ao moderno ou de plataforma fixa conhecido como Pêra (Speed bag), que funciona apenas para os exercícios rítmicos, não servindo para desenvolver o “timing”, apesar de trabalhar a resistência de mãos e braços na altura do rosto que proporciona ao praticante manter a guarda alta.

A pêra (à esquerda) e o saco teto-chão em detalhe

O campeão invicto dos pesos-pesados dos anos de 1950 , Rocky Marciano,  treinando
como saco de plataforma ou "pêra"
Bruce dizia: “Desde que ninguém lute assim, o saco de plataforma (ou Pêra) é somente útil para aguçar os olhos e manter as mãos elevadas. O  tipo antigo, de cordas elásticas, obriga o praticante a atingí-lo direta, viva e enquadramente e não a empurrá-lo apenas! Se você não o atingir de maneira correta, o saco não revidará, isto é, não rebaterá contra você. Usando o jogo de pernas, pode-se também golpeá-lo para cima. Outra função importante desse equipamento é que, após desferido o golpe, o saco volta instantaneamente e com enorme velocidade e isso ensina a estar alerta e a recobrar-se rapidamente.”
O saco teto-chão ainda permitia a utilização da combinação punho-cotovelo, ou seja, golpear com o punho e bloquear o “revide” com o cotovelo ou ante-braço. Uma observação importante no uso desse equipamento, é que ele não permite golpes de estilo clássico como os socos que partem do quadril, pois ao desferir o primeiro soco (partindo do quadril) o praticante seria atingido no rosto, já que sua mão não seria rápida o suficiente para defender a cabeça do retorno rápido e violento do saco.

Bruce Lee socando as manoplas sob o olhar do pequeno Brandon Lee
Bruce Lee socando as manoplas seguras por Dan Inosanto


O Coxim Redondo para Socos ou manoplas (Punch mitts), era outro equipamento versátil muito utilizado por Bruce Lee. Parecendo com o manguito usados pelos jogadores de baseball (uma espécie de luva acolchoada que usavam para amortecer as bolas lançadas), mas de forma chata, era usado para os mais variados tipos de socos. O treinamento funcionava do seguinte modo: um parceiro colocava o coxim e controlova a altura e a distância enquanto Bruce procurava atingir esse alvo móvel. O parceiro podia retirar o coxim (desviando-o para cima, para baixo ou para os lados) da mira de Bruce assim que percebesse sua intenção de desferir o soco, o que ensinava a Bruce não “telegrafar” os socos, além de procurar aumentar a velocidade e improvisar socos combinados com chutes. O treinamento com o coxim ainda permitia o desenvolvimento da explosão nos golpes, a mira, a coordenação e o distanciamento correto, fazendo com que o golpe chegasse ao alvo com o máximo de precisão e potência.

Manoplas ou coxim redondo, ontem e hoje
A Luva de Focus Acolchoada era uma variante do coxim redondo e tornou-se o protótipo de todas as luvas do mercado vistas até hoje em dia. Era muito usada por Bruce Lee para demonstrar o famoso Soco de 3 Polegadas, quando alguém de muita coragem a segurava firmente ao peito.

A luva de focus era também usada para testar o soco de um polegada
O Coxim para Estocadas era usado por Bruce Lee para o desenvolvimento da rapidez e potência nos jabs sem ferir os dedos.

O aparador de socos retangular em detalhe
Bruce Lee desferindo um direto de esquerda no aparador de socos retangular


O aparador de socos, de forma retangular, era mais utilizado para desenvolver o poder no soco, as combinações eram efetuadas com potência mas com pouca mobilidade.

A faixa de couro condicionava os dedos para estocadas
A Faixa de Couro presa nas extremidades servia também para o desenvolvimento da velocidade, penetração e técnica correta ao desferir os jabs com as pontas dos dedos (técnica de ataque aos olhos do adversário). O faixa de couro grosso servia também para condicionar os dedos.

A cabeça de boneco cedia com o impacto dos golpes
A Cabeça de Boneco com Molejo (Bouncing Head Dummy) era outro excelente equipamento para desenvolver as estocadas (ou jabs com as pontas dos dedos), pois cedia o suficiente quando era atingido, como também era resistente o suficiente para enrijecer os dedos. Era como uma espécie de “cabeça” que cedia para trás ao receber o jab e depois retornava à posição original. O movimento assemelhava-se ao movimento do pescoço de um adversário que dobrava-se ao ser atingido na cabeça. Tal equipamento era acolchoado e elástico para suportar golpes potentes.

O alvo de papel era o ideal para aperfeiçoar o timing 
Socando o alvo de papel desenvolvia o posicionamento e a precisão

O Alvo de Papel era simplesmente uma folha de papel geralmente com as medidas de 18 x 25 cm, suspensa por uma corrente ou corda na altura do rosto. A ação de golpear a folha ajudava a Bruce Lee desenvolver o movimento de rotação dos quadris para adquirir ímpeto e velocidade na utilização dos braços e pernas, o que acrescentava mais potência aos golpes de forma considerável. Além disso, ajudava no desenvolvimento do equilíbrio do corpo, na fluidez dos movimentos, na coordenação e controle do peso corporal  durante o deslocamento. A folha de papel era usada para desferir  jabs com os dedos, socos em gancho, chutes laterais e em gancho, etc. Era um ótimo treino para o aprimoramento da velocidade, do posicionamento correto do corpo para gerar o máximo de potência e a capacidade de calcular a distância correta para a aplicação exata do poder desferido contra um alvo. Em suma, o treino com o alvo de papel lhe proporcionava uma crescente precisão e explosão para ataque. Bruce declarou certa vez sobre esse treinamento: “A teoria é que se você disser a alguém para desferir com tudo que tem, 100 socos no alvo de papel, a pessoa deferirá 100 socos com tudo o que tiver. Mas não o fará na madeira (moodjong), pois depois de 20 socos seus punhos estarão machucados. A razão pela qual treino os alunos a atingirem a folha de papel é diminuir-lhes o temor de atingir algo. Depois, ao praticar na madeira, basta pensar que se trata da folha de papel e fazer do mesmo modo: a coisa se tornará uma reação natural. O praticante conseguirá mais explosividade nos socos e mais penetração (ao treinar com a folha de papel) do que se treinar na madeira.”

Bruce Lee e o almofadão de ar

Bob Baker voando com o almofadão de ar após ser atingindo por Bruce Lee
Cena de O Vôo do Dragão (The Way of the Dragon) onde Bruce desfere um potente chute lateral
no double que segurava um almofadão de ar


O Almofadão de Ar era usado para desenvolver a distância apropriada e penetração contra um alvo móvel ou estático. Assim, o parceiro de treino poderia recuar ao perceber o disparo do golpe ou permanecer parado segurando o almofadão que absorvia a pancada. Com o alvo estático procurava-se desenvolver o modo correto de desferir o chute e, com o alvo em movimento, procurava-se desenvolver a penetração. Tal treinamento era precioso para ambos parceiros, para quem golpeava e para quem segurava o almofadão. O que chutava aprendia a não telegrafar sua intenção de golpear e, quem recebia o chute, aprendia a antecipar o ataque do parceiro recuando.

Bruce utilizando um escudo pesado nos treinos com Linda Lee
O Escudo Pesado era uma variante do almofadão de ar que servia para o mesmo propósito. Podia ser utilizado como alvo estático ou móvel da mesma forma. A diferença entre os dois equipamentos era que o escudo era uma peça compacta, enquanto o almofadão tinha que ser preenchido com o ar. O escudo pesado não podia absorver totalmente o golpe como o almofadão de ar, obrigando a quem o segurasse mover-se para trás para facilitar o amortecimento da pancada. Mas graças à maior mobilidade porporcionada com o escudo pesado, podia-se desferir o golpe mais potente sem o receio de ferir o parceiro de treino.

O Bloqueador de Chutes desenvolvido por James Lee
O Bloqueador de Chutes (Foot Obstruction and Shin-kick Apparatus) era um equipamento desenvolvido por James Yimm Lee baseado numa concepção de Bruce Lee. O aparelho era utilizado para treinar chutes na altura da canela e bloqueio com os pés. Era uma espécie de perna metálica presa num suporte vertical por três grossas molas.
Na sequência de Bruce lee e sua Rotina Diária de Treinamento tratarei (na parte IV) da importância do treino com sparring e os equipamentos de proteção.

Por Eumário J. Teixeira