Bruce Lee

Bruce Lee
The Game of Death - JKD

sábado, 30 de novembro de 2019

BRUCE LEE APRENDEU A CHUTAR ALTO COM CHUCK NORRIS – VERDADE OU MENTIRA?


Dando prosseguimento à desmistificação de certas lendas, venho a tratar desta vez sobre mais um assunto polêmico que sempre circulou pela internet, revistas e até mesmo em debates e entrevistas na TV norte-americana. Estou me referindo à lenda de que Bruce Lee teria aprendido a chutar alto com o campeão de Karate point (ou esportivo) norte-americano, Chuck Norris.

Chuck Norris, campeão de karate esportivo e famoso por seus chutes,
afirma ter ensinado Bruce Lee a chutar alto. Será mesmo?
Antes, é bom frisar que há uma diferença entre enorme entre ser um Lutador de Karate Esportivo* (competição por pontos) como Chuck Norris, Bob Wall ou Louis Delgado; um Lutador de Full Contact ou Kick Boxing, como Joe Lewis, Bill Wallace ou Benny Urquidez; um Lutador de Vale Tudo, como Lyoto Machida, Royce Gracie ou Rickson Gracie; e um Lutador de Rua, como Bruce Lee.

(*) Na verdade, a maioria dos torneios na década de 1960 nos EUA, eram essencialmente de Taekwondo, conhecido na América como “Karate Coreano”, mas contava com participações de atletas de outras artes marciais como Karate e Kempô, sendo promovidos pelo mestres Henry Cho, Jhoon Rhee e Ed Parker. O próprio Chuck Norris praticava Tang Soo Do, um estilo precedente ou variação mais primitiva do Taekwondo esportivo, que tinha regras de competição semelhantes ao Karate japonês. Já outros lutadores também famosos e contemporâneos de Norris vinham do Karatê Shorin-Ryu, como Joe Lewis e Mike Stone ou do Karate Shotokan, como Louis Delgado.

Na primeira categoria, Karate Esportivo, as regras controlam o combate com restrições a golpes de mão no rosto (podendo apenas fintar), sendo proibido chutes baixos, projeções, estrangulamento, imobilizações e tirar sangue do adversário, permitindo chutar apenas no tronco e rosto.

Três representantes do Karate point ou esportivo nos anos de 1960.
Chuck Norris, Bob Wall e o lendário Louis Delgado.
Na segunda categoria, Kick Boxing ou Full Contact, já se pode chutar baixo (com exceção na virilha) atingindo pernas e coxas; socar o rosto; chutar alto e, em algumas competições, os golpes de cotovelo e joelhadas também são permitidos; mas preservando os pontos vitais.

Três representantes do Kick Boxing ou Full Contact, nos anos de 1970.
O pioneiro Joe Lewis (ex praticante do Karate point); o rei dos chutes, Bill Wallace;
 e o incrível Benny Urquidez.
Na terceira categoria, Vale Tudo ou M. M. A., também se pode chutar baixo (com exceção na virilha) atingindo pernas, canelas, coxas e joelhos; socar o rosto; dar cotoveladas e joelhadas; chutar alto; projetar; estrangular e imobilizar; mas sempre preservando os pontos vitais.

Três grandes campeões representantes brasileiros e mundiais do M. M. A. ou Vale tudo.
Lyoto Machida, Royce e Rickson Gracie.
Nas três primeiras opções, além do árbitro e das regras, os competidores são classificados em categorias por peso.

Na quarta via, a Briga de Rua, o combate não tem regras, portanto vale tudo, chutes altos e baixos; socos no rosto e corpo; dedos nos olhos; chutes e joelhadas na virilha; chutes na coxa, joelho e canela; cutilada na garganta; puxão de cabelo; mordidas; ou seja, tudo o que se tem direito. O objetivo da briga de rua é desacordar, incapacitar ou até mesmo matar o seu oponente.

O Jeet Kune Do de Bruce Lee era essencialmente para defesa pessoal,
uma espécie de método científico de briga de rua.
Essa é a realidade com a qual Bruce Lee esperava estar sempre preparado e por isso tanto treinava, estudava e considerava os prós e contras de todos os estilos de combate corpo a corpo conhecidos. Esse era o objetivo de seu Jeet Kune Do (O Caminho do Punho Interceptador), estar capacitado para as mais diversas situações diante dos mais improváveis e diferentes oponentes a qualquer hora do dia. E, é claro, lembro que não há divisões por peso na briga de rua, você poderá encarar um anão ou um gigante ou enfrentar um adversário franzino, musculoso ou obeso, que ainda podem estar armados com soqueiras, porretes, facas, correntes, etc.

Acreditar que os chutes altos não são eficientes e sim temerários numa situação de briga de rua, não o impede de saber utilizá-los de forma segura e eficiente. Bruce Lee era conhecido justamente pela sua rapidez, precisão e potência ao chutar. Considerar os riscos da utilização dos chutes altos em determinadas situações não restringe a nenhum artista marcial de procurar praticá-los em busca de sua perfeita aplicação. Mas você deve ter as condições físicas e técnicas necessárias para isso, e Bruce Lee as tinha de sobra.

Bruce Lee ficou conhecido em seus filmes justamente pelos seus chutes
rápidos e poderosos. Se destacando também sua capacidade de 
chutar alto.
Bruce Lee com seus 1,68m, saltando para alcançar o rosto de
Kareen Abdul Jabbar, nos seus 2,18m.
Foi o que ele procurou ainda na mocidade em Hong Kong, apesar de treinar basicamente o Wing Chun, que era um estilo do Sul da China conservador e enxuto, mas extremamente prático que limitava os seus poucos chutes na altura da cintura para baixo. Mas isso não o desencorajou a aprender chutes de outros estilos como do Kung Fu do Norte que oferecia uma variedade de chutes médios e altos que eram desferidos dos mais variados ângulos. Entretanto, quando a coisa apertava nas ruas ou nos terraços de Hong Kong, o que funcionava eram mesmo os chutes bloqueios abaixo da cintura e os socos manivela com o punho vertical característicos do estilo que consagrou o mestre Ip Man e também a utilização de técnicas de socos do boxe ocidental.
Deixando bem claro aqui as diferenças entre as mais diversas categorias de Lutadores, vamos ao assunto principal.

Chuck Norris, o proclamado multi campeão norte-americano de torneios de Karate nacionais e internacionais por pontos, no final da década de 1960, teria declarado várias vezes no passado e mesmo recentemente em várias entrevistas para revistas e canais de TV que ele teria ensinado Bruce Lee a chutar alto, já que este na época, Lee não “acreditava” em chutes acima da cintura.

Vamos analisar as declarações de Chuck Norris e tentar rebatê-las uma por uma.

Chuck Norris em vídeo insiste em dizer que realmente ensinou Bruce Lee
a chutar alto.

- Chuck Norris: “Eu ensinei Bruce Lee a chutar alto!” –
Nos últimos anos foi muito divulgado na internet e vídeos no youtube declarações de Chuck Norris para algumas emissoras de TV, onde o lutador e ator norte-americano afirma  que foi ele quem ensinou Bruce Lee a chutar alto.

Chuck Norris em mais uma entrevista, desconversando sobre a real
capacidade de Bruce Lee de chutar alto antes de conhecê-lo em  1968.
Segundo Chuck Norris, ele conheceu Bruce Lee em 1968, ocasião em que Norris se consagrou campeão internacional de Karate (por pontos) no Madison Square Garden, em Nova York. O Torneio foi promovido pelo mestre coreano de Taekwondo, Henry Cho.
Norris afirmou que a partir desse encontro, Bruce Lee treinou com ele por dois anos até retornar para Hong Kong, ou seja, no ano de 1970. Com essa afirmação, Norris quis dizer que graças ao “ensino especializado” dado por ele a Bruce Lee, pudemos desfrutar dos famosos chutes do Rei do Kung Fu exibidos em seus famosos filmes?

Chuck Norris foi seguidamente campeão de karate point  em 1967 e 1968.
Na foto, ele recebendo a premiação de Bruce Lee em 1968, no Madison Square Garde
n.
Para começar, Bruce Lee não treinou apenas com Chuck Norris, aliás Lee teve muito mais contato com o mestre coreano de Taekwondo, Jhoon Rhee, introdutor desta arte marcial nos EUA, do que com qualquer outro especialista em artes marciais coreanas.  Bruce na segunda metade da década de 1960, compartilhou seus treinamentos com diversos artistas marciais e os ditos profissionais de “karate” como Joe Lewis (aluno declarado de Lee), Louis Delgado (que frequentava regularmente a casa de Lee para treinar, em Bel Air); Bob Wall (que participou de três filmes de Lee), Mike Stone (famoso por ter “roubado” Priscila de Elvis Presley) e, é claro, Chuck Norris (que foi o lutador vilão no filme O Voo do Dragão). 

Louis Delgado, praticante de Karate Shotokan, treinou regularmente
com Bruce Lee em sua casa em Bel Air, na California.

Mike Stone, karateca, mais conhecido por "roubar" a esposa de Elvis, Priscila Presley.
Ele também mantinha contato com Bruce Lee nos anos de 1960.
Neste time seleto, Joe Lewis foi certamente o mais influenciado por Bruce Lee. Lewis era tão ou mais famoso que Norris no final da década dos anos de 1960 por ter conseguido vários títulos de campeão no karate esportivo (karate point), mas se desiludiu com isso, pois entendeu que a competição regulava em muito sua capacidade como lutador e partiu posteriormente para o Full Contact (ou Kick Boxing) onde se destacou ao lado de Bill Wallace, outro grande especialista em chutes.


Joe Lewis, lendário campeão de Karate point e grande rival de Chuck Norris nas
competições. Lewis abandonou a ilusão do Karate esportivo e se tornou
o pioneiro do Kick Boxing ou Full Contact nos EUA.

Um dos vários confrontos entre Joe Lewis e Chuck Norris nas competições de
Karate esportivo, no final da década de 1960. Raramente acontecia algum
knockout, devido às regras excessivamente protetivas.
Joe Lewis disse em entrevista que treinou particularmente com Bruce Lee e de forma regular a partir de 1967 (um ano antes de Bruce Lee conhecer Chuck Norris) e isso o fez desenvolver consideravelmente nas competições de karate esportivo. Mas a maior influência de Bruce Lee sobre Lewis foi sua concepção de combate real que fez com que Lewis, mais tarde, abandonasse o karate point e abraçasse de vez o Full Contact. Bruce Lee costumava convidar Joe Lewis para assistir filmes de lutas clássicas do Boxe de Jack Dempsey, Joe Louis, Willie Pep e Muhammad Ali. 


Bruce Lee convidava seu aluno campeão Joe Lewis para assistir filmes e
estudar os movimentos característicos de grandes boxeadores como Jack Dempsey,
Joe Louis, Willie Pep e Muhammad Ali. Isso levou Lewis a migrar mais tarde para o Kick Boxing.
Até hoje muitos consideram Joe Lewis como o pai do Kick Boxing norte-americano. Outra curiosidade é que o papel de “Colt”, o karateca americano que enfrentaria Tang Lung (Bruce Lee) no Coliseu Romano em O Voo do Dragão (The Way of the Dragon – 1972), seria de Joe Lewis, inicialmente. Mas foi dito que Lee e Lewis não entraram num acordo para o desfecho da luta no filme (Colt teria que ser morto por Lung) e, assim, o papel sobrou para Chuck Norris que não vacilou para aceitar essa grande oportunidade.

Tang Lung (Bruce Lee) mostra a Colt (Chuck Norris) como se chuta alto.
O papel de Colt era para ser de Joe Lewis, inicialmente.
Jhoon Rhee, mestre de Taekwondo, arte marcial coreana conhecida mundialmente pela sua variedade de chutes, sempre convidava a Bruce Lee para demonstrações em seus torneios, os quais promovia em parceria com Henry Cho e com o “pai do Karate americano” Ed Parker, no final da década de 1960. Esses torneios eram distribuídos para Nova York, sob o comando de Henry Cho; Washington, sob a tutela de Jhoon Rhee; e Long Beach, sob a direção de Ed Parker. Bruce Lee chegou a viajar com o amigo Jhoon Rhee para a República Dominicana para a promoção de uma rede de academias do mestre coreano ainda no final da década de 1960. Assim, podemos concluir que não apenas Chuck Norris, mas também Jhoon Rhee poderia ter passado muitas técnicas de chutes para Bruce Lee.


Mestre Jhoon Rhee, introdutor do Taekwondo, o "karate coreano", nos EUA,
era amigo e parceiro de treinamento de Bruce Lee.


Bruce Lee conheceu o mestre de Taekwondo Jhoon Rhee em 1964,
por ocasião do Torneio Internacional de Karate de Long Beach, na Califórnia.

Programa Oficial do Campeonato Internacional de Karate de Long Beach, 1964.



Na verdade Bruce Lee conheceu Jhoon Rhee em Agosto de 1964, por ocasião do Torneio Internacional de Karate de Long Beach, na California, onde Bruce Lee fez a histórica demonstração. Isso se deu há 4 anos antes de Bruce Lee conhecer Chuck Norris. Desde então, sempre mantiveram contanto. Jhoon Rhee chegou a lançar um livro com cartas trocadas entre ele e Bruce, ilustrado com muitas fotos interessantes que mostram Jhoon Rhee e Bruce Lee tocando técnicas à beira-mar em algum ponto da ensolarada Califórnia, participações de Lee em torneios promovidos por Rhee, Henry Cho e Ed Parker, e ainda registros da viagem dos dois à República Dominicana.

Bruce Lee e o amigo Jhoon Rhee trocando alguns chutes numa praia da Califórnia.

Na foto à esquerda, Bruce Lee e Jhoon Rhee por ocasião da viagem à
República Dominicana no final da década de 1960.
Na outra foto, Lee e Rhee em Hong Kong, em meados de 1970.

Capa do livro de Jhoon Rhee, "Bruce Lee and I", dedicado à amizade
entre os dois revolucionários artistas marciais.

Chuck Norris disse em entrevista que, em 1968, Bruce lhe teria confidenciado que acreditava apenas nos chutes abaixo da cintura. E que ele (Norris) rebateu dizendo que “você deve ser capaz de chutar em qualquer lugar”. Chuck então teria demonstrado a Bruce Lee diferentes chutes altos com o uso do calcanhar, chutes em salto e outras variações. Isso se deu na madrugada e nos corredores do hotel em que estavam hospedados depois da vitória de Norris pelo campeonato mundial de Karate por pontos em Nova York.

Em 1968, Bruce já tinha uma vasta experiência acumulada ao treinar com profissionais de Karate japonês, Taekwondo coreano, Judô, Jiu-Jitsu, Boxe, Wrestler e até mestres do Kung Fu do Norte onde se caracterizam o uso das pernas em chutes circulares e altos. Não creio que o que Chuck Norris teria mostrado a Lee o impressionasse tanto assim ou fosse, de alguma forma, novidade para o Pequeno Dragão.

Os quatro livros da série Bruce Lee's Fighting Method realizada em 1966
e só lançados em 1978,  por  M. Uehara e Linda Lee Cadwell.

Nos livros da série "Bruce Lee's Fighting Method" (1966), Bruce exibia
vários tipos de chutes altos e em giro, antes de conhecer Norris em 1968
.


Desde 1966, Bruce Lee já estava com o embrião do Jeet Kune Do formado e dentro desta sua visão tinha espaço para os chutes altos. Basta conferir os livros lançados por Linda Lee em 1978, em parceria com M. Uehara, a série Bruce Lee Fighting Method (em 4 volumes) em que se vê além dos chutes abaixo da cintura, muitos chutes altos e circulares. O material deste livro (texto e fotos) estava pronto desde 1966, mesmo ano em que a série de TV O Besouro Verde foi ao ar nos EUA, mas Bruce não permitiu que o livro fosse lançado na ocasião por recear que seus ensinamentos fossem mal utilizados na época.

O que Norris afirmou dá a entender que antes de 1968, Bruce Lee não sabia desferir chutes altos. Bem, vamos colocar isso a limpo com algumas fotos.

Na entrevista dada à 20th Century Fox como teste para participar de uma série de TV que viria a ser o Besouro Verde (The Green Hornet), em fevereiro de 1965, Bruce Lee exibe alguns golpes com velocidade, inclusive alguns chutes altos, característicos dos estilos de Kung Fu do Norte da China. Isso foi há três anos antes de Lee conhecer Norris.

Em entrevista para 20th Century Fox, em  1965, Lee demonstra alguns chutes
rápidos e altos, contrariando a afirmação de Norris.
Na série de TV O Besouro Verde (na temporada de 09/09/1966 a 17/03/1967), Bruce Lee representando o personagem Kato, raramente deixa de desferir algum chute alto ou em salto nos episódios. A série foi ao ar dois anos antes de Lee conhecer Norris.

O que deixou Bruce Lee e o seu personagem Kato famoso nos anos 1966/67?
Os chutes, principalmente os altos e em salto.

Kato saltando e chutando em um episódio de o Besouro Verde (1966/67).

Bruce Lee (Kato) deferindo um chute alto durante um intervalo
das filmagens da série de TV, em 1966.
Na edição do Torneio Internacional de Karate de Long Beach de 1967, onde Bruce Lee novamente foi novamente convidado pelo seu amigo Ed Parker, ele fez uma demonstração de sparring com seus alunos Taky Kimura e Ted Wong onde desferiu diversos chutes altos na altura da cabeça de seus adversários. Isso ocorreu um ano antes de Lee conhecer Norris.

Segunda participação de Bruce Lee no Campeonato de Karate de Long Beach.
Desta vez em 1967 e em demonstração de sparring, Bruce
 desfere chutes altos  contra a cabeça de seu oponente, Ted Wong.
Não acredito que Bruce Lee teve ao seu dispor um único especialista que o ensinou a chutar alto antes de alcançar o estrelato na Ásia, mas posso aceitar que poderiam ser vários instrutores. E os nomes mais prováveis seriam: Jhoon Rhee, Henry Cho, Joe Lewis, Louis Delgado, Mike Stone, Bob Wall e, é claro, Chuck Norris. Sem citar os nomes de alguns professores ou amigos anônimos de Kung Fu do estilo do Norte com quem ele também se relacionou em Hong Kong antes de partir para os EUA aos 19 anos e ou durante sua permanência nos EUA até retornar para Hong Kong em 1971 e conquistar a fama internacional.

Para o alto e para o infinito! Walk on!
Eumário J. Teixeira.

sábado, 5 de outubro de 2019

BRUCE LEE VS. TROVADOR RAMOS - FATO OU FARSA?


 


Bruce Lee foi considerado o maior Artista Marcial do século XX e atualmente já se aproximando o vigésimo ano do século XXI a maioria dos especialistas de todo o mundo ainda o venera como o maior expoente da arte do combate já surgido na era moderna. Mas mesmo assim, ele nunca foi unanimidade.


Enquanto viveu foram poucos os que atreveram a desafiá-lo para um combate para testá-lo em suas reais capacidades. Alguns destes confrontos foram testemunhados e vieram ao conhecimento do público anos depois de sua morte através de depoimentos das próprias pessoas que presenciaram estas raras disputas.

Nestes registros extremamente raros, Bruce Lee se saiu vencedor em todos, de acordo com os poucos presentes que confirmaram os resultados sempre a favor do Pequeno Dragão. Nada consta na história de Bruce Lee que ele saísse perdedor em algum destes poucos desafios relatados e testemunhados por um pequeno público seleto.

Um dos raros confrontos testemunhados entre Bruce Lee e um desafiante
no set de filmagem de Enter the Dragon em 1973.
Mas, décadas após a sua morte, surpreendentemente surge algumas histórias fantasiosas sobre mestres exóticos e pouco conhecidos que teriam sido desafiados por Bruce Lee (e não ao contrário do que sempre ocorreu) e o teriam derrotado até com certa facilidade. Para a sorte destes mestres falastrões Bruce Lee já não estava mais vivo para rebater suas histórias e o suposto grande número de testemunhas que teriam presenciado tais lutas não apareceram para confirmar ou negar tais confrontos.

O fato é que Bruce Lee até hoje continua ser o cara a ser vencido e se não conseguiram derrotá-lo em vida, o ciúme, o rancor, a inveja, o ódio e o oportunismo é o que ainda move algumas pessoas a insistir na destruição de sua imagem e seu legado através de filmes de qualidade duvidosa, falsas homenagens, ou depoimentos sem nenhuma credibilidade. A verdade que as artes marciais nunca mais foram as mesmas depois do surgimento e desaparecimento do Pequeno Dragão.

Trovador Ramos Sr., fundador do sistema de luta TRACMA
e auto nomeado 14º Dan, Faixa Vermelha.
Uma destas fantasias que mais circulam na internet ultimamente e que já está me incomodando a um tempo é sobre o tal mestre filipino Trovador Ramos. Bem, acho que chegou a hora de desmascarar mais um “grande mestre” do oriente que teria vencido o Rei do Kung Fu.

Mas quem então seria esse tal Trovador Ramos Sr.?

Trovador Ramos Sr.,  ainda jovem, nos anos de 1970.
Surge o Mestre Filipino DesconhecidoO que se sabe sobre Trovador Ramos Sr.? Na internet se acha pouca coisa.  Não se sabe onde e quando precisamente nasceu, a não ser que seria de origem filipina. Em algumas postagens consta que Ramos se iniciou no mundo das artes marciais por volta dos 6 anos de idade, em San Antonio, Zambales, nas Filipinas, onde teria aprendido Boxe, Arnis e Jiu-jitsu. Desde criança teria participado de competições de lutas na região onde vivia, sempre por alguns trocados. Era comum por lá as realizações de lutas tanto para adultos quanto para crianças. Ele só teria encarado seriamente as artes marciais após a Segunda Grande Guerra Mundial, quando teria recebido instruções de um mestre chinês e de outro japonês por volta da década de 1950. Em seguida, teria sido na antiga Base Naval da baía de Subic, em Olangapo, Filipinas, que Trovador Ramos trabalhou como instrutor de Artes Marciais para o Pessoal de Segurança do Comando Subic. Ele teria permanecido por lá por 17 anos ensinando artes marciais e tocando saxofone numa banda, que geralmente se apresentava no Clube dos Oficiais nesta instalação militar dos EUA.

Na sequência, o trabalho o trouxe para Cingapura, onde Trovador Ramos teria desenvolvido o sistema de luta que é conhecido como TRACMA.

O TRACMA foi “fundado” em 1957 com o nome IRCJK, que significa “International Real Combat Judo Karate” (Combate Real de Judo e Karate Internacional). Mais tarde em Cingapura, por volta de 1970, passou a ser chamado de TRACMA, que significa “Trovador Ramos Consolidated Martial Arts” (Artes Marciais Consolidadas de Trovador Ramos).

Trovador Ramos  (primeiro à esquerda) em entrevista.
Segundo relatos, foi em 1970 que Trovador Ramos teria  aceito um desafio público para uma luta em Cingapura, onde teria ficado famoso após vencer o embate. O ocorrido teria chegado ao conhecimento do primeiro-ministro de Cingapura, Lee Kua Yew, que convidou Trovador Ramos para ensinar à sua equipe de segurança seu método de luta. E assim Trovador passou a ser instrutor especial de artes marciais para os seguranças do líder maior de Cingapura. Dizem, que por volta de 1971, a fama de Trovador Ramos chegou à Hong Kong e consequentemente aos ouvidos de Bruce Lee, que já tinha filmado The Big Boss (O Dragão Chinês).

O Encontro entre Bruce Lee e Trovador Ramos Sr. Segundo depoimento do próprio Trovador Ramos, pouco antes de “O Dragão Chinês” (The Big Boss) começasse a ser exibido com estrondoso sucesso por toda a Ásia, Bruce estava procurando conhecer algum artista marcial de destaque em Cingapura para realizarem uma entrevista e demonstração juntos visando a promoção de seu primeiro filme. Os responsáveis pela divulgação do filme teriam escolhido justamente Trovador Ramos. Mas Bruce desistiu do evento na ocasião por ter surgido outro compromisso mais urgente em Hong Kong. Apesar da desistência de Bruce Lee, a promoção do filme se realizou em Cingapura com Trovador Ramos, que aproveitou a oportunidade para também divulgar seu sistema de luta, agora conhecido como TRACMA. Mas Ramos teria outra oportunidade de conhecer Bruce Lee pessoalmente quando mudou-se para Hong Kong no ano seguinte, onde também trabalhava como músico.

De acordo com as palavras do próprio Trovador Ramos assim aconteceu: “Um amigo em comum com quem eu tinha lutado e derrotado, pavimentou o caminho para o nosso primeiro encontro no Clube Filipino, na Willy Road, em Hong Kong. Esse amigo era Benny Liao (?), um mestre de artes marciais (?), que era conhecido como o ‘Filho mais Rápido de Hong Kong’.”
Os que defendem essa história sustentada por Trovador Ramos, dizem que foi Benny Liao que contou a Bruce Lee sobre um artista marcial de origem filipina de “técnica incomum e única”. Liao também teria recomendado a Bruce Lee para procurar lições de sparring com Trovador Ramos em Cingapura.

Bruce Lee em 1972, ano em que teria ocorrido o suposto encontro com Trovador Ramos.
Trovador Ramos sustenta que finalmente Bruce Lee veio assistir a uma apresentação de sua banda no clube noturno em Hong Kong (no fim de 1972) e logo após sua performance no palco teria se aproximado dele com um inesperado pedido de desculpas por não ter participado da exibição programada para a divulgação de The Big Boss em Cingapura. Ramos teria dito que não havia necessidade de desculpar-se pois compreendia o “status” de Lee e os compromissos de sua agenda concorrida.

A visita de Bruce Lee teria sido uma experiência inesquecível para Trovador Ramos, mas Bruce Lee queria uma outra coisa, desejava lutar com ele. “Ele me pediu para lutar com ele e para qualquer artista marcial a ser chamado por Bruce Lee para lutar, era um desafio que traria muita honra e prestígio”, lembrou Trovador Ramos. No entanto, Trovador Ramos sentiu que não poderia aceitar.

“Tinha certeza e estava confiante das minhas habilidade  como artista ‘multi-marcial’ (?), mas ao mesmo tempo, eu tinha tanto respeito por Bruce Lee, que lutar com ele significaria um desrespeito de minha parte”, lembrou Trovador Ramos.
Foi dito a Trovador Ramos que Bruce Lee frequentemente (?) procurava por desafiantes e escolheria a dedo àqueles que pudessem desafiá-lo. A ele foi dito que teve sorte por ter sido desafiado por Bruce Lee, mas ele recusou o desafio no entanto.

Na noite seguinte, Bruce Lee voltou a procurar Trovador Ramos no clube noturno. Recorda Ramos: “Dizer ‘não’ uma segunda vez também é uma forma de desrespeito a um colega das artes marciais, então eu finalmente aceitei o desafio. Afinal de contas, eu não fui desafiado por nenhum lutador comum, mas sim pelo ‘pelo maior lutador de artes marciais do mundo’”, acrescentou Ramos. Assim, Trovador Ramos entrou num carro onde estavam Bruce Lee e acompanhantes e se dirigiram para o local da luta.


O Duelo em Diamond Hill – Segundo relembra Trovador Ramos, nas primeiras horas da manhã, em uma arena particular de combate improvisada na sede da Golden Harvest Productions, localizada em Diamond Hill, Lee e Ramos ficaram frente a frente com centenas (?) de espectadores privilegiados aguardando o desfecho da luta entre o famoso artista marcial filipino contra o então considerado maior artista marcial do mundo.

A multidão aplaudia e os gritos ensurdeciam, mas ambos os lutadores estavam focados para somente testar a força e as habilidades um do outro. Mas o que se presenciou foi além de força e habilidade, mas de graça, estratégia e imaginação.

Segundo as memórias de Ramos, Bruce Lee foi rápido em suas investidas, mas foi surpreendido  pela tática usada pelo seu adversário filipino. Ramos teria uma imaginação perceptiva (?) e já teria estudado os movimentos de Bruce Lee (?) antes que ele desafiasse o mestre filipino.

Recorda Trovador Ramos: “Ele era rápido, mas eu usei o ritmo e muita imaginação. Antecipei seus movimentos e consegui superá-lo” (?).

Ramos teria vencido o maior lutador de artes marciais de todos os tempos, mas ele é o primeiro hoje a se recusar a chamar esse evento de sua vitória e de derrota de Bruce Lee. Ele justifica: “Foi uma luta de uma vida e nós dois usamos as disciplinas de artes marciais para as quais treinamos.”

Após a luta o que teria sido realmente ganho foi o respeito e admiração comuns de ambos os lados, selando um vínculo longo e duradouro entre Hong Kong e as Filipinas no campo das artes marciais.

O Faixa Vermelha, 14º Dan, fundador do estilo que reunia Karate e Judô para
combate real, Trovador Ramos.
Trovador Ramos Sr., de Fã à Instrutor de Bruce Lee?!? - Não muito depois dessa luta, Bruce pediu a Ramos que lhe ensinasse a disciplina TRACMA (?) e mostrasse a ele como era possível combinar todas as artes marciais em um único ritmo de movimentos de luta harmoniosos (?).
Esse evento de sucesso pavimentou  o caminho para a carreira (?) de Ramos como uma estrela (?) de ação desempenhando papéis coadjuvantes em filmes de artes marciais feito em Hong Kong produzidos pela Golden Harvest Productions, de Raymond Chow.

Trovador Ramos ainda afirma que estava previsto um projeto para um filme a ser filmado na Itália intitulado “O Homem Ritmo e o Dragão” (?) onde ele e Bruce Lee seriam os protagonistas principais. Mas a morte inesperada de Bruce Lee em julho de 1973, impediu que o projeto fosse adiante.

“Eu perdi um amigo, o maior lutador do mundo das artes marciais, e aquele que abriu as portas para outros artistas marciais asiáticos de nossa geração”, disse Ramos.

Seguidores de Trovador Ramos afirmam que Bruce Lee, impressionado com as habilidades marciais de Trovador Ramos, o teria convidado para participar de um de seus filmes, “Enter the Dragon” (Operação Dragão) ou “The Game of Death” (O Jogo da Morte), em que Ramos faria o papel de um lutador vilão que seria morto pelo personagem de Lee no filme. Ramos teria recusado o papel, pois a ideia não combinava com ele (?).

De Artista Marcial à Religioso de uma Seita Cristã – Nos anos de 1980, o ditador da Líbia Mauammar Khadafi teria mandado representantes à Manila, nas Filipinas, para convidar Trovador Ramos a se tornar instrutor de artes marciais de sua guarda pessoal. Ramos recusou o convite milionário sob conselho de um líder da sua igreja. Depois de aposentado como mestre de artes marciais (segundo ele mesmo, Faixa Vermelha de 14º Dan???) e músico, Trovador Ramos Sr. passou a viver de sua pensão com sua esposa e como cidadão permanente em Hong Kong. Ambos são membros ativos da Igreja NI CRISTO (Igreja de Cristo) fundada por um pastor filipino. A seita pseudo cristã tem milhares de seguidores pela Ásia. Ramos, já idoso, chegou a sofrer um enfarto, mas se recuperou e continuou a ensinar artes marciais até deixar definitivamente estas atividades para se dedicar à igreja. Atualmente ele está bastante debilitado numa cadeira de rodas, mas não se sabe exatamente sua idade, apesar de certamente estar próximo dos 80 anos. Mas a velhice não o impede de contar e imaginar histórias bastante criativas, ele ainda pretende escrever um livro sobre sua vida.

Trovador Ramos Sr., idoso e já aposentado relembrando em entrevista o
suposto duelo com Bruce Lee.
Uma Análise Crítica e Ponderada sobre a História contada por Trovador Ramos Sr. – Não há provas concretas, registros fotográficos, filmagens ou mesmo testemunhos críveis que comprovem ter ocorrido a luta entre Bruce Lee e Trovador Ramos. Das centenas de pessoas que supostamente testemunharam o suposto evento, nenhuma se manifestou até agora, 48 anos depois, para confirmar a luta ou o possível resultado da disputa. A única pessoa que confirma o ocorrido é o próprio Trovador Ramos, principal interessado. Bruce Lee está morto desde de 1973, e não consta nenhum comentário ou citação de sua parte sobre o confronto até a data de seu falecimento. Mesmo estando atualmente idoso, doente e fazendo parte de uma seita cristã, não é suficiente para que Trovador Ramos Sr. tenha alguma credibilidade em relação à suposta luta.

Vamos analisar alguns pontos:

- Primeiro:
Bruce Lee nunca teve o hábito de sair por aí procurando adversários capacitados para medir suas habilidades ou de desafiar abertamente algum “lutador rival”. Mas o contrário ocorreu várias vezes, principalmente na última fase de sua vida (1971 – 1973), após seu retorno à Hong Kong para realizar os filmes que lhe trouxeram fama internacional. Ele sim é quem era constantemente provocado e desafiado por lutadores anônimos e inexpressivos em lugares públicos e nos sets de filmagens. Nas raríssimas vezes em que Bruce Lee aceitou algum desafio (dos muitos que ocorreram) foi em algum lugar privativo com poucas testemunhas. Bruce saiu vitorioso em todos os confrontos.

Em menos de 1 ano, Bruce Lee se tornaria mega-star na Ásia
com o lançamento de seus primeiros dois filmes, The Big Boss e Fists of Fury.
De acordo com a história de Trovador Ramos, a luta ocorreu em uma arena de combate em Diamond Hill com centenas de pessoas assistindo, como se fosse um espetáculo programado, e Bruce Lee é que teria desafiado Ramos. Mas não consta nenhum testemunho ou relato em todas as biografias sérias de Bruce Lee em que é citado tal episódio ou que observe Bruce Lee desafiando alguém publicamente e com tantas pessoas assistindo. O fato é que Bruce Lee sempre evitou humilhar alguém que o desafiasse, não era seu modo de agir. No ano em que teria ocorrido a tal luta imaginada por Ramos, por volta de 1972, Bruce já havia filmado The Big Boss e Fists of Fury e já tinha uma fama crescente por toda a Ásia, assim não seria de forma alguma interessante para ele por sua reputação em risco num combate contra um desconhecido que seria assistido por centenas de testemunhas, por mera vaidade.


- Segundo:
Nunca se soube de uma única testemunha, das centenas que teriam assistido tal combate, que  relatasse à mídia o ocorrido naquela madrugada em Diamond Hill. Seria uma enorme tentação, não é mesmo? Já faz mais de 40 anos e ninguém apareceu para confirmar tal luta, a não ser Trovador Ramos Sr., que somente divulgou sua versão recentemente, depois de aposentado, doente, passando por dificuldades e idoso.
Ramos chegou a afirmar no passado que teria conhecido Bruce Lee em Hong Kong em meados de 1970, mas nunca tinha mencionado que teria lutado com ele e o derrotado.

A foto original (à esquerda) do encontro entre Bruce Lee e Trovador Ramos Sr., em 1972.
O clima parece bastante amistoso e descontraído entre Bruce e Betty (principalmente).
As imagens coloridas à direita são partes das fotos originais parcialmente divulgadas na internet. 

A foto registra um jantar onde estão reunidos na mesa Betty Ting-Pei, Bruce Lee,
Unicorn Chan, Trovador Ramos e dois desconhecidos, num restaurante em 1972.
É o único registro oficial do encontro entre Bruce Lee e Trovador Ramos.


Foto raríssima do registro do encontro entre Bruce Lee e Trovador Ramos Sr., em 1972.
Essa cópia parcial e colorida foi tirada provavelmente no clube de Hong Kong
onde Trovador Ramos se apresentava com sua banda.
De fato, há apenas uma fotografia raríssima e de péssima qualidade em que se vê reunidos, provavelmente num clube ou restaurante não identificado, Bruce Lee, seu amigo Unicorn Chan, Betty Ting-Pei, um sorridente Trovador Ramos Sr. e outra pessoa desconhecida. A foto deve ter sido tirada por volta do segundo semestre de 1972, por ocasião das filmagens de The Way of the Dragon (O Voo do Dragão), já que foi neste período que Bruce Lee foi apresentado à atriz Betty Ting-Pei, que se tornaria sua amante.

- Terceiro:
Parece ser bastante fantasioso por parte de Trovador Ramos afirmar que derrotou Bruce Lee guiado pelas batidas de sua música. Ramos disse que usou o ritmo e muita imaginação, antecipando os movimentos de Bruce Lee e assim conseguindo superá-lo. Ainda afirma que já tinha estudado seus movimentos muito antes do desafio. Como assim? Ele se baseou apenas nos filmes The Big Boss (1971) e Fists of Fury (1972)?
Ora, todo estudioso de Bruce Lee sabe que o que Lee demonstrava em seus filmes eram apenas técnicas plasticamente atrativas para as telas de cinema. Em combate real ele usaria táticas mais efetivas e diretas. A meu ver todos esses pseudo mestres que sutilmente questionavam a capacidade real de luta de Bruce Lee só enxergavam ou queriam superar o que viam nas telas, desconhecendo totalmente o que Bruce Lee poderia realizar em pleno combate sem regras.



Registros de Bruce Lee em treinamento.

Bruce Lee amaciando o saco de areia.

Bruce Lee praticando sparring com Ted Wong nos EUA, em 1968.

Temos disponíveis na internet inúmeros vídeos de Bruce Lee em demonstrações, treinamento e sparring com amigos e alunos, socando e chutando sacos de areia com velocidade e potência. Em contrapartida não se tem um único vídeo demonstrando alguma exibição real da capacidade de Trovador Ramos.

Demonstração do "soco de uma polegada" em Long Beach, 1967.

Bruce Lee no Torneio Internacional de Karate de Long Beach, 1967.


Bruce Lee instruindo no Jun Fan Gung Fu Institute no final dos anos de 1960.

Bruce Lee lecionando no Jun Fan Gung Fu Institute de Los Angeles.
Como não duvidar de um suposto mestre que não tem registro algum de seus feitos, a não ser da boca de seus seguidores, que creem realmente que ele teria derrotado Bruce Lee?

- Quarto:
Não podemos duvidar que Trovador Ramos Sr. existe, sim ele é real, mas por incrível que pareça, na era da internet nada consta sobre sua origem, carreira e trajetória que atestem sua história. A maioria dos resultados mostrados quando se busca algo sobre sua biografia é somente sobre sua suposta luta com Bruce Lee.
Alguns sites de procedência duvidosa ainda afirmam que o grande mestre filipino criador do sistema TRACMA recusou o convite de Bruce Lee para filmar Enter The Dragon (Operação Dragão - 1973), porque seu personagem seria derrotado por Lee no filme e ele não aceitaria perder uma luta, mesmo na ficção.
Ora, para quem não sabe, Trovador Ramos perdeu uma grande oportunidade de ficar famoso participando dos filmes de Bruce Lee (se é que ele foi mesmo convidado), como aconteceu com diversos lutadores profissionais e dublês que tiveram suas carreiras cinematográficas alavancadas como Chuck Norris, Bob Wall, Ji Han Jae, Whang (Wong) In Sik, Kareen Abdul Jabbar, John Saxon, Angela Mao, Jackie Chan, Yuen Wah, Sammo Hung e Yang Sze (Bolo Yeung).

Cartazes dos filmes em que Trovador Ramos participou apenas como coadjuvante.
A ironia é que após a morte de Bruce Lee, o mesmo Trovador Ramos que recusou o convite para participar dos filmes do Pequeno Dragão, atuou em pelo menos em cinco filmes sofríveis de artes marciais apenas como coadjuvante, interpretando lutadores a serviço dos vilões que sempre eram derrotados e mortos no final pelos heróis representados por atores/lutadores inexpressivos, salvo Angela Mao, atriz e lutadora de Hapkido, que já tinha participado de Enter the Dragon e outros filmes razoáveis. Os filmes em que se vê o mestre Trovador Ramos sempre como um dos capangas do vilão, são “A Tooth for a Tooth” (1973); “The Opium Trail/Deadly China Doll (1973, com Angela Mao); “Kung Fu King (1973); “Martial Arts” (1974) e “Gambling for Head” (1975). Em todos estes, as lutas em que Trovador Ramos participa como um lutador bandido, não vi nada de excepcional, aliás em algumas ele parece estar um pouco acima do peso, muito longe daquela condição atlética que Bruce Lee sempre exibiu em seus filmes. Suas performances foram apenas razoáveis e não percebi nenhuma técnica ímpar ou o emprego do “ritmo de sua música” nas suas atuações nas telas.

Trovador Ramos em dos filmes em que participou como um mero bandido a ser derrotado.
Notem que ele está um pouco além do peso ideal para um lutador vencedor.
Lembram-se daquela célebre luta entre Bruce Lee e Chuck Norris em The Way of the Dragon? Chuck Norris inúmeras vezes campeão de Karate profissional nos Estados Unidos contra Bruce Lee que não tinha nenhum título ou medalha em competições oficiais. Quem parecia ser o mestre campeão ao julgar pela performance de ambos no filme? Quem demonstrou ter mais domínio de seu corpo, velocidade estonteante, técnica ímpar e criativa, explosão e ritmo desconcertante na sua atuação? Precisa responder?

Bruce Lee vs. Chuck Norris em The Way of the Dragon ,  a superioridade
técnica e física de Bruce Lee era evidente.

- Quinto:
O único lutador de origem filipina que introduziu Bruce Lee às artes marciais de seu país de origem foi Dan Inosanto. Foi Inosanto foi quem ensinou Bruce Lee os fundamentos do manejo do nunchaku, bastões duplos curtos e ainda lhe repassou técnicas do Pencak Silat (Indonésia), Eskrima e Arnis ou Kali (Filipinos). Mas mesmo assim, Inosanto não era ainda considerado mestre destas distintas artes marciais. Em meados dos anos de 1960 quando conheceu Bruce Lee no Torneio de Karate Internacional de Long Beach, Inosanto era um lutador de Shorinji Kempo que buscava novidades para se desenvolver com artista marcial. Hoje, Inosanto é considerado “mestre” pelo seu conhecimento diverso das mais variadas artes marciais, incluindo o Jeet Kune Do, criado por Lee. Inosanto buscou se aprofundar ainda mais nas artes marciais filipinas após a morte do Pequeno Dragão.

O único filipino que deu instruções à Bruce Lee, seu amigo e
parceiro, Dan Inosanto.
Bruce Lee enfrenta Dan Inosanto em The Game of Death
no espetacular duelo de nunchaku.

Dan Inosanto, é reconhecido atualmente
como um mestre das artes marciais genuinamente filipinas.

Já estamos cansados de ver milhares de fotos de Inosanto com Bruce Lee antes e depois da fama do Pequeno Dragão, seja em treinamento nas academias nas quais ensinavam Jun Fan Gung Fu nos EUA, ou em filmes como “The Game of Death“ (1972/1978).
Bruce Lee que havia desenvolvido o Jeet Kune Do por volta de 1967/1968 se baseando principalmente nas técnicas efetivas do Boxe ocidental, Wing Chun Kung Fu e Esgrima ocidental, adicionando ainda elementos de Eskrima, Savate, Wrestler, Judô, Hapkidô, Taekwondo e alguns estilos de Kung Fu do Norte, precisaria das instruções regulares de um mestre filipino que tinha como base no seu sistema apenas Karate, Judô e o ritmo de sua música?
Entretanto, você já achou alguma foto de Bruce Lee com Trovador Ramos em algum centro de treinamento, set de filmagens ou em alguma outra situação, a não ser aquela do restaurante exibida neste post?

Benny Liao, o suposto amigo em comum de Bruce Lee e Trovador Ramos,
um personagem que certamente nunca existiu...

- Sexto:
Para finalizar o estudo, lamento informar aos seguidores de Trovador Ramos, que não há nenhuma informação disponível sobre o amigo em comum de Bruce Lee e Trovador Ramos, o suposto artista marcial de Hong Kong chamado Benny Liao.
Ramos afirmou que teria sido apresentado a Bruce Lee pelo misterioso Benny Liao.
Já foram feitas pesquisas no banco de dados em Hong Kong e não foi encontrada nenhuma pessoa conhecida como Benny Liao, o tal artista marcial tão conhecido e popular de Hong Kong parece nunca ter existido.

Sifu Bruce Lee, o grande Mestre das Artes Marciais.
Espero que esta postagem possa ajudar a acabar com mais uma polêmica que envolve o nome do maior artista marcial de todos os tempos, o Pequeno Dragão e Rei do Kung Fu, Bruce Lee; até hoje insubstituível e, por isso, tão combatido e contestado por alguns poucos que ainda teimam em denegrir sua imagem ou tirar proveito de sua fama e trajetória vencedora.

Por Eumário J. Teixeira.