quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

BRUCE LEE E O JUDÔ


Bruce Lee chegou aos Estados Unidos em 1959, aos 19 anos de idade. Em sua bagagem marcial constava mais ou menos quatro anos de treinamento de Wing Chun, sob a supervisão do lendário mestre Ip Man e incluindo aulas particulares com o aluno mais adiantado da escola, Wong Shun Leung. Não esquecendo sua curta experiência com o boxe amador intercolegial, já que ele acabou por vencer o tricampeão inglês, Gary Elm, se tornando o atual campeão representando o Colégio Saint Francisco Xavier, um ano antes.

Bruce ainda era um jovem imaturo quando chegou aos EUA, mas era corajoso e ambicioso, e tinha uma enorme sede de aprendizado. Não demorou muito para que procurasse as mais diversas formas de artes marciais disponíveis para expandir o seu conhecimento sobre o combate corpo a corpo. Ele tinha a consciência de que tudo o realizasse na nova terra, ele teria que fazê-lo melhor do que qualquer outro, pelo simples fato de ser estrangeiro e ser de descendência oriental.

Lee estava numa "terra de gigantes" e ele teria que enfrentá-los mais cedo ou mais tarde. Assim ele procurou se aproximar de todos os que tinham algum conhecimento prático para repassar e que, ao mesmo tempo, tinham disponibilidade para aprender.

Bruce Lee é Chen Chao-an em A Fúria do Dragão (1972). Ao fundo
e no alto pode se ver a imagem do fundador do Judô, mestre Jigoro Kano.

Uma das suas primeiras descobertas nos EUA, fora das tradicionais artes marciais chinesas, foi o Judô japonês. Suas amizades com Jesse Glover, Fred Sato, Shuzo Chris Kato, Hayward Nishioka, Wally Jay e Gene LeBell, contribuíram para que Bruce Lee absorvesse o que era útil e descartasse o que fosse inútil dessa arte marcial, criada pelo mestre Jigoro Kano.

Bruce Lee e sua rica biblioteca particular.

No detalhe, algumas obras sobre Judô na biblioteca de Bruce Lee.

Em sua biblioteca particular, Bruce Lee colecionava livros sobre as mais diversas artes marciais e dentre os que mais consultava, eram as obras sobre o Judô.

Bruce Lee arremessando um colega da faculdade de Washington, 
onde também treinou Judô, em meados de 1960.

Bruce Lee, de Judô gi, sendo arremessado desta vez.

Vamos então conhecer um pouco de cada um dos praticantes, professores e mestres de Judô que contribuíram para que Bruce Lee começasse a se desenvolver como um artista marcial dos mais completos e influentes até hoje.

- Jesse Glover (15/10/1935 - 27/06/2012) - O primeiro aluno de Bruce Lee nos EUA, foi o afro-americano, Jesse Glover. Através de Glover, na cidade de Seattle (Washington), Bruce Lee teve provavelmente o seu primeiro contato com a Suave Arte, ou Judô. Enquanto Bruce ensinava os princípios básicos do estilo exótico de Kung Fu, do Sul da China, conhecido como Wing Chun à Glover, este por retribuição, instruía Bruce Lee nos fundamentos do Judô, no qual tinha alguma experiência por  ter participado de competições inter colegiais. 

Bruce Lee e Jesse Glover em 1959. Glover foi seu primeiro aluno e
seu primeiro instrutor de Judô nos EUA.

Bruce Lee projeta Jesse Glover com um golpe de Judô.

Bruce Lee e Jesse Glover treinando Wing Chun Kung Fu.

Após a morte de Bruce Lee, Glover se manteve no ensinamento tradicional do Wing Chun aprendido com Lee, mas posteriormente desenvolveu seu próprio método a que chamou Gung Fu Non-Classical (Kung Fu Não Clássico). Glover nunca se considerou representante do Jeet Kune Do (Caminho do Punho Interceptador), o método criado por Bruce Lee.

- Fred Tatsuo Sato (19/09/1927 - 17/04/2017) - Fred Sato foi jogador, professor e treinador de futebol americano, além de lutador de Wrestling e faixa preta em Judô, em Seattle,  cidade onde nasceu. Sato se tornou um dos mais respeitados professores da Seattle Dojo a partir de 1953, quando começou a lecionar. 

Fred Sato é o segundo, ajoelhado, da esquerda para a direita.

A tradicional academia de Judô onde se formou Fred Sato, o Seattle Dojo.

A Seattle Dojo é uma escola tradicional fundada no início do século XX, por imigrantes japoneses. Bruce Lee veio a conhecer Fred Sato por intermédio de um dos seus alunos de Wing Chun, provavelmente Jesse Glover. Lee obteve algumas instruções de Judô por Fred Sato em meados da década de 1960.

- Shuzo Chris Kato (08/12/1926 - 07/02/2012) - Chris Kato era faixa preta de Judô 7º Dan e foi campeão nacional dos EUA, em 1957. Kato treinou Judô por 60 anos e ensinou por 43 anos. Nas fotos em que se vê Bruce Lee vestido com um kimono (Judô gi) e uma faixa preta na cintura, seriam da época em que ele treinava regularmente no clube da Universidade de Washington, em Seattle, onde cursava Filosofia e treinava Judô sob a instrução do professor Shuzo Chris Kato. 

Chris Kato é o terceiro ajoelhado, da esquerda para a direita.

Bruce Lee (portando uma faixa preta) em pé ao centro, ladeado à sua esquerda
 pelo professor de Judô do Clube da Universidade de Washington, em
Seattle, sensei Shuzo Chris Kato.

Shuzo Chris Kato na velhice.

Porém, não há uma confirmação oficial através de um diploma ou documento qualquer que comprove o 1º Dan de faixa preta em Judô de Bruce Lee. Mas creio que seria impossível o professor de Judô, Shuzo Chris Kato, permitir que ele ostentasse uma faixa preta sem merecer, para um registro fotográfico de seu dojô.

- Hayward Nishioka (Nascido em 1942) - Aprendeu a Suave Arte com seu padrasto, Dan Oka, a partir dos 13 anos. Foi campeão de Judô nos Jogos Pan-Americanos pelos EUA, em 1967, e ganhou cinco campeonatos nacionais consecutivos de 1965 a 1970, sendo também eleito como o melhor lutador e instrutor de Judô por duas vezes pela revista Black Belt.

O jovem campeão de Judô, Hayward Nishioka.

Sobre Bruce Lee, Nishioka disse: "Ele foi a pessoa mais rápida que já vi. Ele era um rei na área. E ele sabia disso. Ele (Bruce Lee) tinha a mesma coragem dos americanos. Os americanos diziam: sou arrogante e vou lhe mostrar por que eu posso fazer isso. Eu sou bom."

Bruce Lee e Hayward Nishioka na década de 1960.

Nishioka costumava ir à casa de Bruce Lee uma vez por mês para treinar, ensinar e aprender. Bruce Lee teria declarado certa vez a Nishioka: "O Judô é o mais próximo da coisa real, não como o Karatê e o Aikido. No Karatê não há contato e no Aikidô, todo o ataque é pré-arranjado. Mesmo que você se torne bom na arte, você realmente não sabe se a técnica funcionará ou não numa situação real. Sinto muito pelos alunos que treinam tanto por muitos anos, mas questionam sua eficácia em um verdadeiro confronto nas ruas."

Nishioka e Lee, amigos e parceiros de treino.

Continuava Bruce dizendo a Nishioka: "Mesmo que o Judô não tenha certas técnicas, como socar ou chutar, pelo menos ele tem bastante contato corporal. Quando você se atraca ou luta com um cara, você sabe que está funcionando. É isso que desenvolve sua confiança."

Hayward Nishioka na velhice.

Hayward Nishioka foi um dos raros lutadores que venceu Rickson Gracie numa luta não oficial de Judô aplicando um perfeito Uchi Mata, quando este foi visitá-lo em sua academia nos EUA em 1987. Nishioka estava com 47 anos e Rickson com 29 anos. Rickson Gracie, atualmente com 62 anos, nunca admitiu que fosse derrotado uma única vez.


- Wally Jay
(15/06/1917 - 29/05/2011) - Fundador da escola Small Circle Jujitsu, era 6º Dan em Judô e 10º em Jujutsu. Wally Jay foi indicado por duas vezes no Hall da Fama da revista Black Belt. Descendente de chineses, aos 11 anos começou a treinar boxe, e em 1935 iniciou seu aprendizado no Jujutsu e posteriormente se formou também em Judô. 

Wally Jay, descendente de chineses e mestre do
Jujutsu e Judô japoneses.

Bruce Lee recorreu as técnicas revolucionárias do 
Small Circle JuJitsu de Wally Jay.

Bruce Lee procurou por Jay em 1962, acompanhado de James Yimm Lee (seu discípulo), querendo aprender algumas técnicas do Small Circle Jujitsu e Judô para adicioná-las de modo efetivo ao Jeet Kune Do que seria desenvolvido futuramente. O princípio fundamental do Small Circle Jujitsu seria a ação do pulso "bidirecional". Em 1969, Wally Jay foi escolhido pela revista Black Belt, como o "Sensei do Ano".

- Gene Lebell (Nascido em 09  de outubro de 1932) - Artista marcial norte-americano polêmico, instrutor, lutador profissional, dublê e ator, nascido em Los Angeles, Califórnia. Gene Lebell, hoje aposentado, é 9º Dan em Jujitsu e Taihojutsu e 9º Dan em Judô. Quando criança começou a treinar wrestling e boxe sob influência da mãe, que era promotora de esportes de luta.

Após obter a sua primeira faixa preta no Judô nos EUA, foi ao Japão treinar no respeitado Kodokan. Em 1955, conquistou o Campeonato Nacional de Judô nos EUA, aos 22 anos.

O multi-campeão do Judô e vale-tudo,  o jovem Gene LeBell.

Em 1963, Lebell (30 anos) aceitou o desafio do boxeador profissional e campeão, Milo Savage (39 anos) que também tinha alguma experiência em wrestling amador, mas não sabia a diferença entre Karatê e Judô. Lebell (com 30 anos) o derrotou no quarto assalto aplicando um harai goshi e um mata-leão, fazendo seu adversário dormir. Conhecido também como "Judô LeBell" e "padrinho do grappling", ficou também famoso por competir com um kimono de tom rosa em um torneio no Japão.

Momento da luta entre Gene LeBell e o boxeador Milo Savage.
Foi fácil para Judô LeBell.

Grappling pode ser traduzido como "agarre", "apresamento" ou "captura". LeBell é diretamente responsável por popularizar o grappling nos círculos de luta profissional  e é considerado um dos precursores das artes marciais mistas modernas.

Gene Lebell chegou a ser desafiado pela família de lutadores do grande patriarca do Jiu-Jitsu brasileiro, Hélio Gracie. Os Gracie queriam uma luta entre Lebell e Rickson Gracie, que divulgava o Jiu-Jitsu brasileiro e desafiava lutadores de estilos variados nos EUA, na década de 1980/90. LeBell estava próximo dos 60 anos e Rickson Gracie aproximadamente com 27 anos. Uma grande diferença de idade. LeBell recusou a proposta de luta com Rickson, 33 anos mais jovem, mas propôs lutar com o mestre Hélio Gracie, que já estava com 80 anos. Os Gracie aceitaram desde que LeBell caísse de peso, de 90kg para 63,5kg, o peso de Hélio Gracie na ocasião. Para LeBell seria difícil, naquela altura, perder tanto peso. O interessante é que Hélio Gracie sempre se fez notar justamente por enfrentar lutadores mais altos, fortes e mais pesados. Assim a luta tão esperada não ocorreu.

Bruce Lee (Kato) desfere uma cutilada em Gene LeBell (gangster)  
em um episódio de O Besouro Verde (The Green Hornet, 1966-67).

Lebell trabalhou em mais de 1.000 filmes, programas de TV e comerciais como dublê ou como ator. Atuou como "bandido" em três filmes de Elvis Presley e em alguns capítulos da série de TV, O Besouro Verde (The Green Hornet - 1966--67), onde conheceu Bruce Lee que fazia o papel de Kato, o parceiro do Besouro Verde; e na série Ironside (1967), na qual Lee e Lebell participaram como convidados e se enfrentam (Judô vs Kung Fu).

Kato (Bruce Lee) golpeia o gangster (Gene Le Bell) pelas
costas em outro episódio de O Besouro Verde (The Green Hornet, 1966-67).

Durante a convivência no set de O Besouro Verde, inicialmente houve um estranhamento entre os dois, alguns relatos apontam um incidente em que LeBell "pega" Bruce Lee de surpresa e o levanta sobre os seus ombros. O jovem Bruce Lee teria ficado irado e ameaçou LeBell, que levou tudo na brincadeira. Logo após se tornaram grandes amigos e Bruce Lee passou a procurar LeBell para aprender as famosas técnicas de grappling.

Bruce Lee (Kung Fu) enfrenta Gene LeBell (Judô) num episódio da 
série de TV, Ironside, em 1967.

Aquela representação mal vista pelas fãs de Bruce Lee em "Era Uma Vez em Hollywood" de Quentin Tarantino, é entendida por muitos como uma versão do que teria ocorrido no incidente entre Bruce Lee (Mike Moh) e LeBell ou Cliff Both (Brad Pitt) no set de O Besouro Verde. Nunca saberemos, mas LeBell sempre elogiou e respeitou Bruce Lee e nunca quis desmerecer sua imagem. 

LeBell declarou certa vez em entrevista: "Bruce e eu tínhamos um vínculos com as artes marciais e reuníamos com frequência. Nós treinamos cera de 10 a 12 vezes na casa dele na Chinatow de Los Angeles e em minha casa. Embora ele parecesse interessado nas técnicas de grappling, ele acreditava que não eram comercialmente atraentes para as telas. Bruce era um sujeito divertido, conhecedor e muito bom no que fazia. As pessoas podem se perguntar o quão bom ele era como artista marcial, bem, como eu já disse, ele foi o melhor em seu tempo. Bruce desenvolveu e executou o seu próprio estilo de Kung Fu e muitos dos caras tradicionais não gostaram, porque ele rompeu com a tradição chinesa. Eu sei o que é isso porque tive o mesmo problema quando tentei melhorar diferentes artes marciais, mudando as coisas para melhor. Acredito que sempre que você puder ter uma mente aberta e aprender algo novo, adicionando-o ao seu repertório, é uma boa coisa. Isto tornará você e seus alunos mais capacitados."

Bruce Lee, o Judoka!

Espero que tenham gostado deste estudo sobre os principais professores e mestres de Judô que contribuíram para a evolução espantosa de Bruce Lee como artista marcial. Seu legado está mais vivo do que nunca, 47 anos após sua passagem. Walk On!

Eumário J. Teixeira.

9 comentários:

  1. Olá, Eumário. Parabéns por mais um brilhante texto sobre Lee. Seu conteúdo é sempre rico. Eu não esperava por menos.

    Gostaria de divulgar a você meu novo texto, caso se interesse. Não disserta sobre Lee. É um pequeno texto de agradecimento à Deus, ao Tao e aos meus leitores. Espero que você se interesse e goste.

    https://nicolas-rufino.medium.com/um-pequeno-texto-de-agradecimento-à-deus-ao-tao-e-aos-meus-leitores-d19f381b54a3

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    1. Alô, Nicolas. Estava sumido. Obrigado pelo comentário. Vou ler seu texto sim. Grato pela consideração. Abraço.

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    2. Sempre abro o seu blog para pesquisar sobre Lee. Meu inglês não é bom, então o seu blog é a ferramenta mais rica que conheço para ler sobre Bruce Lee. Não idolatro o Lee, mas tenho como uma inspiração de vida.

      Sempre leio o seu blog, embora não comente sempre.

      Parabéns pelos seus textos. Imagino que demandam muita pesquisa.

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    3. Olá, meu amigo. Li o seu texto de agradecimento no Medium e deixei um recado. São palavras serenas que realmente trazem paz para quem as ler. Quanto a Bruce Lee, também não o idolatro como se ele fosse um exemplo de vida perfeita a seguir. Bruce tinha defeitos, mas muitas virtudes também. Mas quem nessa Terra não errou, erra ou deixará de errar no futuro? Mas a vida de Bruce Lee, como você disse, também me inspirou bastante. Sua capacidade de lutar pelo que queria e superar os obstáculos que interpunham no seu caminho era empolgante. E por isso dedico esse blog à sua vida, mas de forma consciente sem me deixar levar por ilusões. Tudo que escrevo é baseado no que já conheço e boa parte, sem dúvidas, consigo através de pesquisas em sites e revistas estrangeiras. É uma forma de partilhar aos amigos do blog as informações que não tinha acesso na minha juventude. Abraço, Nicolas.

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  2. Excelente trabalho de pesquisa Parabéns

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  3. So, is this !!!

    Bruce Lee, judoca...

    Surpreendente ler sobre a trajetória da relação de Bruce Lee com a Arte do Caminho Suave - algo que é frequentemente omitido nas biografias a respeito do Pequeno Dragão.
    Normalmente, infere-se que Bruce Lee conhecia mais o Jiu-Jitsu do que propriamente o Judô. Isso fica sugerido, por exemplo, na sua entrevista quando dos testes para o papel de Kato, onde Bruce Lee faz uma ligeira referência ao Jiu-Jitsu - mas nenhuma ao Judô.
    O fato é que os filmes de Bruce Lee - assim como algumas de suas exibições - estão repletos de cenas em que ele demonstra técnicas predominantemente do Judô (ou mesmo do Jiu-Jitsu, posto serem estilos muito próximos e pouco distinguíveis).
    O exemplo menos sutil e mais evidente disto fica na cena de luta entre Lee e o seu roliço companheiro de demonstração em "Enter the Dragon", ocasião na qual este último é finalizado através de uma indefensável chave de braço.
    Aquilo é Judô, alguns diriam. Foi Jiu-Jitsu, diriam outros.

    Uma outra cena que poderia militar em favor do amplo conhecimento de Lee acerca do Judô está na parte final do combate entre seu personagem (Billy Lo) e o misterioso guardião do Templo, em Game of Death.
    Percebendo que o guardião é hipersensível à luz, Billy Lo se aproveita dessa peculiaridade e investe contra o misterioso gigante. No final, Hakim, o guardião, recebe uma técnica de estrangulamento (Kata Gatame) também usual dos praticantes do Judô e do Jiu-Jitsu. Antes disso, o próprio Hakim também havia aplicado um belo golpe de Judô em Billy Lo. E não fosse o "golpe" de furar as janelas, Billy Lo certamente teria partido para o mundo espiritual em pouco tempo.
    Também foi com um implacável golpe de estrangulamento que Colt (Chuck Norris) teve o pescoço partido no Coliseu diante de Tang Lung (Bruce Lee).

    Essas são apenas duas das muitas cenas onde se encontram exemplos notórios da maestria de Bruce Lee no Judô - e no Jiu-Jitsu.
    Como os golpes do Judô nos filmes de Bruce Lee são uma constante, não é difícil observá-los, assim como é fabuloso constatar a fenomenal perícia como ele os aplica.

    O depoimento de Nishioka com relação a preferência de Lee pelo Judô, em detrimento de outras artes marciais como o Karatê e o Aikidô, também é de surpreender, dado o caráter em geral que predomina nas cenas de luta dos filmes de Bruce Lee - com forte inclinação para os chutes e socos sem o característico contato diretamente necessário que é típico dos agarrões e torções peculiares às técnicas do Judô - e também do Jiu-Jitsu.

    Este artigo de certa forma desmistifica a falsa impressão de que, com base nas cenas de luta dos filmes em que Bruce Lee atuou, se poderia presumir que ele daria maior ênfase justamente para as técnicas de lutas de estilos como o Karatê, o Hapkidô ou mesmo as do mestre Morihei Ueshiba, contemporâneo de Jigoro Kano, e fundador do Aikidô - embora alguns digam que Morihei Ueshiba apenas plagiou aquilo que ele conseguiu aprender acerca do Ba Gua Zhang quando esteve na Manchúria (assunto extremamente polêmico e que rende inúmeros debates, tanto por parte dos proponentes em defesa dessa tese quanto dos seus ferrenhos opositores).

    Porque Bruce Lee parece ter sido um ardoroso adepto do Judô ?
    Mais do que aquilo que poderia servir como material de reflexão decisivo nesta escolha - e disponível em sua vasta biblioteca sobre Artes Marciais (tão lendária quanto o seu famoso saco de pancadas gigante) - deve ter sido mesmo o aprendizado que ele teve diretamente através de renomados praticantes do Judô lá nos Estados Unidos.
    Bons tempos eram aqueles !

    Paz, saúde e prosperidade.

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    1. Olá, Antonio Jorge.
      Como tento demonstrar no texto, Bruce Lee não pôde ignorar o Judô, porque essa arte marcial já lhe foi apresentada de imediato pelo seu primeiro aluno que já a praticava, Jesse Glover. Mas isso também não quer dizer que Bruce Lee desconhecia a "Arte Suave" ou o "Caminho da Suavidade", apenas presumo que ele não tinha experimentado essa arte marcial até chegar aos EUA, em 1959.
      Assim, Glover o apresentou ao Sensei Fred Sato, que por sua vez o recomendou para o Sensei Chris Kato (da Universidade de Washington), fazendo com que Lee descobrisse e valorizasse ainda mais a técnicas do combate corpo a corpo. O que o levou a se aproximar e manter uma amizade com o Sensei Hayward Nishioka, fazendo com seu círculo de relacionamentos com mestres experientes residentes nos EUA aumentasse cada vez mais, possibilitando sua aproximação do mestre de Judô e Jiu-jitsu, Wally Jay, criador do Small Circle Jujitsu e, finalmente, um intercambio dos mais valiosos com a "fera" invicta, Gene Lebell.
      Esse último com certeza levou Bruce Lee a perceber definitivamente o quão é importante o conhecimento da luta corpo a corpo através das técnicas do Judô, Jiu-jitsu e Wrestling, as quais LeBell dominava com maestria, com suas famosas chaves e apresamentos (grappling) tão temidos.
      Bruce Lee, o artista marcial, aprendeu que, na maioria das vezes, uma luta real ou briga de rua, terminaria no chão. A maioria das técnicas que ele exibia nos seus filmes, principalmente os chutes fantásticos, ainda que muito rápidos e poderosos, ele evitaria usar num confronto real por achar arriscado, mas ainda assim os explorava nas telas porque eram atrativos e de grande beleza plástica para o público.
      Ou seja, uma técnica vistosa talvez não seja efetiva numa situação real, ao contrário de outra quase imperceptível ou "feia" que geralmente poderia definir um combate.
      É o que eu tento mostrar, havia uma enorme abismo entre Bruce Lee, o "artista marcial" estudioso, criador e inovador, do Bruce Lee ator e incomparável performer de filmes de Kung Fu.
      Finalizando, apesar do Judô ser uma forma mais simplificada do Jiu-jitsu, pouco se percebe as diferenças em competições, a não ser que você comece a ver deste modo: o Judô procura projetar o adversário ao chão e o Jiu-Jitsu tenta imobilizar (ou finalizar) o oponente no chão. Na verdade o judô é uma versão "simplificada" do Jiu-jitsu original (que veio do Aiki-Jujutsu), como o Karate de Gichin Funakoshi foi uma versão mais branda do Karate dos mestres nativos de Okinawa.
      Quanto ao Aikido de Morihei Ueshiba (1883/1969), foi derivado também do Daito Ryu Aiki-jujutsu japonês (arte restrita aos nobres e divulgada por Sokaku Takeda (1859/1943), que por sua vez gerou um sistema adaptado às artes marciais coreanas, criado pelo mestre Choi Yong Sool (1904/1986), originando o moderno Hapkidô coreano, que foi oficializado pelo mestre Ji Han-Jae (o faixa dourada em "O Jogo Da Morte", hoje com 84 anos).
      Imagine a gama de conhecimentos absorvidos pelo jovem Bruce Lee à medida que avançava nos seus relacionamentos dentro do rico círculo marcial dos EUA, nos anos de 1960. Esse é o seu maior legado, não rejeitava nada que funcionasse e fosse prático, independentemente de sua origem, escola ou nacionalidade.
      Obrigado por mais um comentário robusto, Antonio Jorge. Paz, saúde e prosperidade para você e familiares. Abraço.

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    2. Este seu comentário complementou enormemente o texto da matéria - a qual, por si só, já me pareceu altamente esclarecedora, posto que revela um aspecto da arte e da vida de Bruce Lee (a ligação dele com o Judô) quase desconhecido aqui por essas paragens sul americanas.

      Bruce Lee, de fato, foi um pioneiro do MMA, incorporando tudo o que seria efetivo de outras Artes Marcias num combate real e descartando aquilo que não passasse de floreios.
      E estes seus apontamentos, Eumário, igualmente diretos e objetivos, foram simplesmente precisos e contundentes. Tal como sempre preconizava Bruce Lee.

      Um forte abraço !

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