quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

A ORIGEM DO DRAGÃO (BIRTH OF THE DRAGON), VERDADES E MENTIRAS - ANÁLISE CRÍTICA DO FILME


Antes de pontuar algumas falsas informações ou fatos fantasiosos exibidos no filme A Origem do Dragão,  desejo frisar que se o considerássemos  como mais um “filme de kung fu” seria até aceitável, já que eu mesmo o considerei um filme razoável de ação dentro dos padrões para filmes do gênero. Há poucos anos percebi que a indústria do cinema está empenhada em mistificar a imagem do homem Bruce Lee nas telonas, tentando transformá-lo numa espécie de super-herói da Marvel ou num semi deus das artes marciais. Quando se separa o artista marcial, ator, esposo e pai de família e ser humano de carne e osso falível dos personagens que ele “encarnou” nas telonas fica mais fácil de observar os exageros cometidos. Nestas produções se cometem absurdos retorcendo os fatos reais em benefício de um enredo mais romântico ou dramático. Datas  e acontecimentos relacionados com os personagens são apresentados totalmente fora da ordem cronológica e até mesmo fatos inverídicos são enxertados em filmes supostamente de conteúdo biográfico.

"Dragão - A História de Bruce Lee" decepcionou como um filme biográfico sobre o Pequeno Dragão.
Basta lembrar do famigerado filme “Dragon - The Story of Bruce Lee” (Dragão - A História de Bruce Lee – lançado em junho de 1993), que teria sido baseado no livro de Linda Lee (The Man Only I Knew) e mostrava fatos importantes da vida de Bruce Lee totalmente fora da ordem real dos acontecimentos. Por Exemplo: Em “Dragão – A História de Bruce Lee”, a versão da própria luta entre Lee e Wong é apresentada como uma rixa pessoal que geraria dois confrontos e que culminaria na grave lesão nas costas (graças a um golpe traiçoeiro de Wong) que deixaria Bruce Lee paralisado por 6 meses. Ora, quem conhece a biografia de Bruce Lee, sabe que a luta entre ele e Wong aconteceu no final do ano de 1964; e a lesão gravíssima que Bruce teve no 4º nervo sacro, ocorreu devido a um exercício mal feito com halteres com pesos, em 13 de agosto de 1970 (seis anos depois). Ainda neste filme fantasioso, um fictício irmão de Wong Jack Man em busca de vingança (anos depois do irmão ter sido derrotado no famoso confronto em Oakland), desafia Bruce Lee durante as filmagens de The Big Boss (O Dragão Chinês - 1971), na Tailândia e leva uma surra, é claro.
No mesmo filme, a causa da morte de Bruce Lee foi apontada como resultado de um coma misterioso, sugerindo ao longo história como uma consequência de uma maldição familiar, uma batalha contra demônios, que passou de pai para filho. Intencionalmente ou não, acabaram envolvendo até Brandon Lee nesta maldição hereditária, pois este morreria 03 de abril de 1993, pouco antes do lançamento de “Dragon – The Bruce Lee History” (em junho) e durante as filmagens de seu derradeiro filme intitulado “O Corvo”. E como seu pai, Brandon morreria também de forma suspeita, ao receber um tiro mortal num descuido da equipe técnica que municiava as armas de fogo com festim. De qualquer forma, toda essa série de meias-verdades e fantasias teve o aval e o  consentimento de Linda Lee. O interessante neste filme biográfico de Bruce Lee, é que Betty Ting Pei (considerada por muitos envolvida na morte de Lee) não é ao menos citada, já que é sabido que Lee entrou em estado de coma no apartamento da atriz chinesa.

The Legend of Bruce Lee teve grande produção, mas pecou por fantasiar demais.

Cenas da série de TV "The Legend of Bruce Lee" com Danny Chan.
Pouco depois viria a bem produzida série de TV “The Legend of Bruce Lee” (lançado em outubro de 2008) tendo Shannon Lee (filha de Bruce e Linda) como produtora executiva; onde dentre outras coisas duvidosas, se assistia em seus últimos capítulos, um Bruce Lee tão superior como lutador que seus adversários mal podiam tocá-lo ou perceber seus ataques quase que sobrenaturais. Na série, de 50 capítulos, Bruce Lee se torna campeão de um torneio de Artes Marciais nos EUA, exibindo orgulhoso seu troféu de campeão, sendo que na realidade, o único torneio em que Lee participou foi como convidado para demonstração em agosto de 1964 na cidade de Long Beach, na Califórnia (ele também marcaria presença no mesmo torneio, em 1967), um tradicional torneio internacional de “karate”, onde pôde demonstrar técnicas de Wing Chun (ainda não se falava em JKD) auxiliado por seus alunos e voluntários. Na mesma série ainda insistiram com fantasiosas lutas que nunca ocorreram na realidade, como Lee contra um mestre de Karate japonês, chamado Yamamoto;  contra um mestre de jiu-jitsu nos EUA que seria, supostamente, Wally Jay (este um personagem real); um mestre não identificado de Taekwondo; e uma luta contra um desafiante Lutador e campeão de Muay Thai, durante as filmagens de The Big Boss na Tailândia. Apesar de algumas testemunhas da época insistirem em dizer que existia um campeão de Muay Thai "infiltrado" na equipe de dublês tailandeses que participaram do filme. Bruce Lee teria "trocado" alguns golpes com o suposto Thai Boxer. Mas essa luta não foi confirmado pelo próprio diretor Lo Wei ou por atores coadjuvantes que sempre estavam circulando pelo set de filmagem.
Entretanto, o “tratamento” que a série daria para o confronto entre Bruce Lee Wong Jack Man foi especial. A luta com Wong Jack Man é demonstrada no filme como uma rivalidade pessoal que se iniciou na juventude de ambos em Hong Kong e que gerou 5 (cinco) confrontos ao longo da série. Isso mesmo, Wong Jack Man persegue Bruce Lee ao longo da história e vice-versa, até o final da série. E adivinhem, a causa da “famosa” lesão no 4º nervo sacro que deixaria Bruce Lee imobilizado por meses na cama e numa cadeira de rodas, foi graças a um ataque traiçoeiro de Wong Jack Man pelas costas enquanto Bruce Lee era declarado vencedor pelos árbitros da luta.

Versões de cartazes para "A Origem do Dragão" (Birth of the Dragon)
A Origem do Dragão – O Filme

Mas uma outra versão da famosa luta entre Lee e Wong foi montada para “A Origem do Dragão”, lançado em agosto de 2017. Só que desta vez parece que quiseram “arranhar” mais um pouco a imagem de “bom moço” de Bruce Lee, mostrando-o como um personagem secundário e quase vilão, de forte temperamento, ambicioso, calculista, arrogante e egoísta ao extremo. O protagonista principal neste suposto filme sobre Bruce Lee, seria na verdade Wong Jack Man, que ao contrário de Lee, tem todas as qualidades de um monge de Shaolin, sabedoria, paciência, auto-controle e maturidade, segundo a versão do filme. E ainda por cima, o “personagem” Wong Jack Man, se revela no final como o mestre que (ao procurar a reconciliação consigo mesmo, devido a um erro no passado) direciona e praticamente instrui (e não inspira ou provoca) Bruce Lee a desenvolver seu famoso método de luta, conhecido como Jeet Kune Do.
Percebe-se claramente que a intenção do filme é a promoção e resgate da figura obscurecida de Wong Jack Man. Então no meu entender o título apropriado do filme, poderia ser “Wong Jack Man, o Mestre Inspirador de Bruce Lee” ou “Wong Jack Man, o Monge que domou o Dragão”. Mas estes títulos são longos demais e fora do contexto do que realmente aconteceu.
Bem, chega de delongas e vamos aos pontos falhos que observei no filme e que não condizem com os fatos verídicos que fazem a história do Pequeno Dragão.

Verdades e Mentiras

A lendária luta entre Bruce Lee e Wong Jack Man ocorreu no outro lado da ponte, no
Lee Jun Fan Gung Fu Institute, em Oakland.
01 – A Luta entre Bruce Lee e Wong Jack Man ocorreu em Oakland, no Lee Jun Fan Gung Fu Institute, academia de Bruce Lee, no final de 1964. Na versão do filme, a luta ocorre numa área de depósito ou num armazém localizado cais de San Francisco.

O jovem praticante (e não mestre) de Kung Fu Shaolin do Norte, Wong Jack Man, por volta de 1964.
02 – Wong Jack Man na época, não era um mestre de Kung Fu e muito menos um monge de Shaolin da província de Henan, na China. Em 1964, Wong Jack Man era apenas um jovem praticante, de nível médio para bom, de Kung Fu Shaolin do Norte recém chegado a Hong Kong. Certamente poderia ter sido um bom executor do vasto currículo de katis com ou sem armas do Shaolin do Norte, mas isso não quer dizer que ele estaria apto para uma luta sem regras. Bruce Lee e vários de seus amigos foram, na segunda metade da década de 1950, alunos do mestre Ip Man, máxima autoridade de Wing Chun em Hong Kong e podemos citar alguns de seus colegas de aprendizado, tais como Wong Shun Leung, Leung Ting, Hawkins Cheung e William Cheung representando o Wing Chun; e os irmãos Vince e Dave Lacey (o Pantera Negra), representando o Choy Lay Fut. Todos eles se conheciam e viveram parte de sua mocidade em Hong Kong enfrentando desafios de alunos de outras escolas de Kung Fu rivais nas ruas e nos terraços dos prédios e nunca tinham ouvido falar de Wong Jack Man até o dia em que foi revelado o resultado do confronto de 1964 muito tempo após, nas comunidades chinesas de Oakland e San Francisco e mesmo em Hong Kong.

Da esquerda para a direita: Bruce Lee e Hawkins Cheung em Hong Kong na década
de 1950; Hawkins Cheung e Wong Shun Leung, nos anos de 1980; Bruce Lee e Wong Shun Leung
na década de 1950; e Wong Shun Leung e William Sheung, nos anos de 1970.


Da esquerda para a direita: Ip Man e Leung Ting; Ip Man e  Wong Shun Leung;
Ip Man e William Cheung; e Ip Man e Bruce Lee. na década de 1950.


Dave Lacey (o Pantera Negra) e seu irmão Vince, foram amigos de Bruce Lee na década de 1950, em
Hong Kong. Bruce admirava o estilo de Kung Fu adotado pelos Lacey, o Choy Lay Fut.

Flagrante de disputa entre alunos de diversas  escolas de Kung Fu nos terraços de
Hong Kong na década de 1950. Geralmente o Wing Chun levava vantagem.


03 – Como no filme, também se conta enganosamente na história oficial ou na versão romântica do livro de Linda Lee, viúva de Bruce, que Wong Jack Man foi desafiar a Bruce Lee pelo simples fato dele ensinar os “segredos” do Kung Fu aos não chineses em Oakland. Na verdade, segundo testemunhas confiáveis e próximas à Bruce Lee, o que levou ao desafio de Wong Jack Man foi outra coisa. O principal motivo seria que, em meados da década de 1960, Bruce Lee costumava “visitar” as academias tradicionais de Kung Fu nos bairros chineses de San Francisco questionando abertamente seus métodos de treinamento e até mesmo desafiando alguns instrutores locais para por à prova a efetividade de seus estilos em comparação ao Wing Chun, que ele considerava um estilo enxuto e mais eficiente. A audácia do jovem Bruce Lee despertou a ira de alguns mestres veteranos e de seus alunos de San Francisco, que escolheram o tímido e desconhecido lutador recém chegado de Hong Kong, Wong Jack Man, para desafiá-lo. Wong Jack Man tinha lá suas ambições pessoais, queria se firmar na comunidade chinesa como um bom e respeitado praticante de kung fu tradicional, e assim decidiu desafiar à Bruce Lee por influência de mestres veteranos da Chinatown de San Francisco.

No início da década de 1960, o jovem Bruce Lee basicamente ensinava
o Wing Chun Kung Fu nos EUA. Na foto, Bruce e James Yimm Lee no
Instituto de Oakland.


Aos poucos durante o decorrer dos anos de 1960, Bruce Lee
foi mesclando ao Wing Chun elementos de outros estilos de Kung Fu
 e de outras artes marciais orientais e ocidentais.


Bruce Lee recebe a visita ilustre de seu colega e instrutor de Wing Chun, Wong Shun Leung
no set de Operação Dragão (1973), na foto à esquerda. Na foto à direita, Bruce Lee e Wong Shun Leung
 na década de 1950. Na época Wong era um dos alunos mais experientes de Ip Man.
04 – Na ocasião do confronto, em 1964, Bruce Lee defendia o Wing Chun, um estilo prático e direto de origem no Sul da China e que tinha como autoridade máxima o mestre Ip Man, de Hong Kong. Bruce Lee ainda não tinha criado o Jeet Kune Do, seu conceito ou método de luta que ainda surgiria nos anos seguintes após a luta com Wong. Por sua vez, Wong Jack Man defendia o Shaolin do Norte, estilo que como diz o nome, tem a origem no Norte da China. Mas Wong Jack Man teria iniciado neste estilo em Hong Kong, onde nasceu e viveu até se mudar para os EUA. Ambos tinham 24 anos e tanto um como o outro não poderiam ser considerados professores e muito menos mestres de seus respectivos estilos. Bruce praticou Wing Chun sob a supervisão de Ip Man e teve aulas diretas com o aluno mais avançado Wong Shun Leung, de 1954 a 1958 aproximadamente. Desconheço qualquer informação sob a origem do aprendizado de Wong Jack Man, apesar de seus alunos e alguns seguidores baterem o pé em afirmar que o jovem Wong Jack Man, de 24 anos, já era grão-mestre de Shaolin do Norte quando enfrentou Bruce Lee. Sendo assim, o “grão-mestre” empatando a luta com um lutador não totalmente formado em Wing Chun, não pegaria bem; imagine então, perdendo a mesma luta para alguém que não poderia nem ser taxado de professor  ou “sifu”, oficialmente.

05 – Em 1964, Bruce Lee ainda não atuava em séries de TV e muito menos em filmes de Kung Fu (Ainda desconhecidos nos EUA) ou em filmes “caseiros” de ação, como foi demonstrado erroneamente no filme A Origem do Dragão. Na verdade, Bruce fotografava ou filmava seus próprios treinos ou aulas aos seus alunos no instituto ou ao ar livre. Dois anos após o confronto com Wong Jack Man e graças à sua primeira exibição no Torneio Internacional de Karate em Long Beach no mesmo ano, é que ele foi convidado à trabalhar na série o Besouro Verde (The Green Hornet – 1966-1967) fazendo o personagem Kato.

Bruce Lee (Philip Ng) e seus discípulos problemáticos, Mac e Vinnie.

06 – Não há registro algum que comprove que Bruce Lee teve algum discípulo caucasiano na academia de Oakland (no filme, San Francisco) chamado Steve (Mac) McKee e outro de origem chinesa de nome Vinnie (que seria viciado em jogos e que fosse perseguido pela máfia).

Segundo o filme, Wong Jack Man era um monge (cheio de contradições) à procura
de redenção ao mesmo mesmo que exercia a função de "inspetor" das artes marciais chinesas.
07- Wong Jack Man, como já foi citado, não veio de um Templo Shaolin na China para uma peregrinação na América com o intuito de inspecionar os instrutores de Kung Fu chineses que para lá emigraram, como se fosse uma autoridade fiscalizadora delegada pelos mestres Shaolin de Henan, conforme anunciado no jornal que circulou na Chinatown de San Francisco, segundo a versão do filme, é claro.

Quan  Xilulan, a linda namorada chinesa de Mac e escrava da máfia chinesa, que nunca existiu.
08 – Quan Xiulan, a namorada chinesa de Mac, o aluno rebelde e dissidente de Bruce Lee, nunca existiu, como o próprio Mac. No filme, a personagem fictícia era escrava da máfia chinesa e também perita em Do-In (massagem chinesa).

Steve McKee aluno dissidente de Bruce Lee (no filme), à procura de
mais emoções com Wong Jack Man, recém-chegado a San Francisco.
09 – O discípulo fictício de Bruce Lee, Steve McKee, nunca recepcionou Wong Jack Man em sua chegada a São Francisco, na Califórnia. No filme, Mac, insatisfeito com Bruce Lee e curioso com a fama (inexistente, na época) de Wong Jack Man, o procura para aprender o kung fu Shaolin do Norte. Como um jovem de 24 anos como Wong Jack Man, poderia ser considerado “uma lenda viva” e ser tão afamado tanto na China como em San Francisco?

10 – Não há registro por parte de familiares ou amigos próximos a Bruce Lee em que se menciona que dele era cobrado as “taxas de rua” pela máfia Tríades de Seattle, Oakland (no filme, San Francisco), ou Los Angeles, cidades onde morou nos EUA e onde Bruce abriu seus três institutos de Kung Fu.

Na verdade não foi Wong Jack Man que inspirou Bruce Lee filosoficamente para a formação
do conceito do Jeet Kune Do. O principal responsável por tudo foi o controverso filósofo e
guru indiano, Jiddu Krishnamurti, radicado na Califórnia.
11 – No filme, Bruce Lee é retratado como um ambicioso lutador de rua rebelde que desprezava a disciplina e as tradições  das escolas ortodoxas e, Wong Jack Man, como um mestre fiel às tradições disciplinares, hierárquicas e milenares do Kung Fu, sendo um monge de elevada consciência espiritual. É sabido que Bruce Lee em meados da década de 1960 discursava questionando todas as “armadilhas” e tradições das escolas ortodoxas que limitavam a expressão natural e a liberdade individual de criação do artista marcial, mas ele nunca menosprezou a disciplina, o trabalho sistemático para evoluir tanto fisicamente quanto tecnicamente sob supervisão dentro de um método de ensino que deveria ser acompanhado hierarquicamente no desenvolvimento da aprendizagem. Bruce Lee já estudava filosofia desde 1961 e se formaria em 1964, era um leitor voraz dessa matéria tanto nas suas vertentes orientais ou ocidentais, sempre procurando conciliar a filosofia com o ensino das artes marciais, já naquela época. E se houve alguém quem inspirou a Bruce Lee para formular sua filosofia e conceito sobre o Jeet Kune Do, foi o sábio indiano, Jiddu Krishnamurti (radicado nos Eua), que pregava naqueles anos de rebeldia social, sobre a necessidade do homem alcançar um nível de atenção individual para poder “enxergar” a verdadeira “realidade” das coisas sem julgamento ou conflitos, o que seria somente possível a partir do momento em que ele se libertasse dos dogmas, escolas e tradições que só fazem escravizar e trazer sofrimento. Bruce Lee “devorava” transcrições dos discursos de Krishnamurti e procurava transferir os conceitos filosóficos deste para a prática do Jeet Kune Do que essencialmente pregava a adaptabilidade e livre expressão para a luta. Sobre Wong Jack Man, não há nada que comprove toda aquela elevada espiritualidade destacada no filme, aliás ele era tido como muito tímido e de certa forma inseguro, segundo avaliaram as testemunhas da luta entre ele e Lee.

Bruce Lee  e seus alunos no instituto de San Francisco (deveria ser Oakland) na versão do filme.
12 – No filme se insinua que o aluno de Bruce Lee, de nome Mac, começa a se interessar pelas habilidades marciais de Wong Jack Man, pondo em segundo plano os ensinamentos de Bruce Lee. Mas sabemos que Mac é um personagem fictício tanto quanto as habilidades de Wong Jack Man, por ocasião da luta.

13 – A comparação filosófica entre o Kung Fu chinês e a bomba atômica norte-americana feita por Wong Jack Man no filme, beira o ridículo e nunca aconteceu. Foi a justificativa para o personagem reprovar o ensinamento dos “segredos” do Kung Fu aos não chineses, já que, da mesma forma, os norte-americanos nunca compartilhariam os da bomba atômica aos asiáticos. E filosoficamente, Wong diz que a Bomba simbolizaria a morte e, o Kung Fu, a vida.

14 – No filme Bruce Lee é taxado como uma vaidosa celebridade de TV e Wong Jack Man, um monge sábio e de alto nível espiritual que, em sua humilde tão evidente, se rebaixa a lavar pratos num restaurante. A verdade sobre o lavar pratos, é que Wong Jack Man, que nunca foi monge e também não era nenhum mestre de Kung Fu em 1964, apenas um praticante aplicado do Estilo Shaolin do Norte, levava pratos como forma de obter seu sustento e não para “pagar promessa” ou se redimir de uma falta demonstrando arrependimento e humildade nessa função, considerada indigna por muitos chineses. Da mesma forma fez Bruce Lee no restaurante de Ruby Chow, onde trabalhou como garçom e lavou pratos, logo que chegou aos EUA em 1959. E Bruce Lee na ocasião da luta com Wong Jack Man ainda não trabalhava para a TV ou cinema.

Bruce Lee não ganhou nenhum torneio lutando para valer nos EUA e muito menos
humilhou seus oponentes, como mostra o filme.

15 – Bruce Lee não humilhou e venceu num torneio de artes marciais em 1964, um campeão veterano de karate chamado Vince, usando contra ele seu famoso “soco de uma polegada”, antes da derradeira luta com Wong Jack Man. Na verdade, Bruce Lee participou como convidado fazendo demonstrações no Torneio Internacional de Long Beach, na Califórnia, em 1964. Lee teve como auxiliar de demonstração, seu aluno Taky Kimura. Lee exibiu algumas técnicas de Wing Chun, como o Chi Sao (mãos aderentes) e algumas formas de aplicar chutes e socos. Inclusive o “soco de uma polegada em demonstração com um voluntário. Ele não lutou para valer ou humilhou ninguém, na ocasião.

Bruce Lee com seu discípulo (que realmente existiu) Barney Scollan. A demonstração
se deu um dia antes do Torneio de Long Beach num hotel próximo ao local do evento internacional de

Karate, em 1964. No hotel estavam vários artistas marciais que participariam do campeonato.
Taky Kimura (discípulo de Lee) participa da demonstração no hotel.

Bruce Lee e Taky Kimura em apresentação no Torneio Internacional de Karate
de Long Beach, Califòrnia, em  agosto de 1964.

16 – Mais absurdo ainda é que, na versão do filme, durante o fictício torneio de San Francisco em que Bruce Lee teria sido campeão (segundo o filme), Wong Jack Man está presente e é desafiado por Lee, que ainda tenta desqualificá-lo e humilhá-lo perante o grande público.

17 – No filme se menciona que Bruce aprendeu os princípios de Kung Fu com seu pai. O que não é verdade. Bruce começou a aprender a lutar nas ruas de Hong Kong, e da mesma forma que batia, apanhava também. Assim seu pai o enviou a Ip Man, o mestre lendário de Wing Chun, para  que o filho fosse disciplinado através da prática das artes marciais. Algumas fontes apontam que, no máximo, Lee Hoi Chuen praticava Tai Chi Chuan e que teria “ensinado” alguns movimentos à Bruce que não teria se adaptado  à lentidão do Tai Chi.

Wong Jack Man, em fotos tiradas em meados de 1970. 
18 – Outro fato fantasioso do filme é que Wong Jack Man conheceria técnicas de chutes mortais, as mesmas que ele usou e teriam ferido gravemente um mestre de Tai Chi Chuan numa luta demonstração, ocorrida na China, num passado distante. Imaginem, um rapaz de 24 aos e já tinha um passado tão impressionante. Assim, ele teria vindo aos EUA para pagar penitência lavando pratos na chinatown de San Francisco (ao mesmo tempo em que fiscalizava as escolas?!?). Se insinua também, que ele teria evitado usar os mesmos golpes contra o impetuoso Bruce Lee, para não feri-lo ou mesmo matá-lo. Apesar de ter vencido claramente a peleja, na versão do filme.
Obs.: Alguns chutes de Shaolin do Norte ou de qualquer outro estilo de Kung Fu, Taekwondo ou Karate, seriam mesmo mortais, se fossem aplicados com eficiência em qualquer pessoa.

19 – Lembram-se de toda aquela filosofia de Bruce Lee sobre “ter nenhum limite como limite”? Pois na versão do filme, é Wong Jack Man que desperta em Bruce Lee a ideia da adaptabilidade ao lutar se libertando das tradições que limitam a livre expressão do artista marcial. Numa evidente contradição do filme, Wong Jack Man que representava as tradições das escolas de Kung Fu chinesas ortodoxas faz um discurso para o “imaturo” Bruce Lee lhe dizendo que “...a técnica é uma armadilha e o estilo uma prisão” e que “...o kung fu deveria libertar”.

20 – O filme claramente é dedicado ao resgate da imagem apagada e desprezada de Wong Jack Man pela história, que ficou lembrado internacionalmente como aquele lutador de Shaolin do Norte inexperiente que foi ousou desafiar Bruce Lee em seu próprio dojô e foi surrado por ele, em 1964. E após esse confronto, Wong desapareceu por décadas, pois são raras suas fotos, imagens e mesmo entrevistas ou depoimentos sobre o ocorrido, se é que existem. E mesmo após a morte de Lee, ele não ousou a desmentir ou a confirmar qualquer uma das versões, de sua derrota ou suposta vitória. Apenas alguns de seus seguidores o defendem até hoje. Mas o importante, é que Bruce não está mais aqui para rebater qualquer versão e aí fica mais fácil polemizar. Mas com o cara vivo, mesmo velhinho, seria diferente.

Wong Jack Man em fotos à esquerda e T. Y. Wong à direita. Wong foi ex-mestre de James Yimm Lee
que o abandonou por desavenças financeiras, se tornando em seguida discípulo e parceiro
de Bruce Lee. T. Y. Wong, provavelmente, teria sido o responsável pelo desafio de
Wong Jack Man à Bruce Lee.
21 – Outra inverdade do filme, para não dizer algo mais pesado, é que Wong Jack Man, no alto da sua superioridade, só aceita lutar com Bruce Lee porque McKee (personagem fictício) o implora para fazê-lo, já que a máfia Triads estaria interessado nas apostas da luta já anunciada por toda chinatown, garantindo assim a libertação de sua namorada do trabalho escravo. Na versão oficial, sabemos que Wong Jack Man foi escolhido pelos mestres de Kung Fu da chinatown de San Francisco para desafiar a Bruce e fechar a sua academia em Oakland, se este perdesse.

Bruce Lee no "boneco de madeira" treinando técnicas de Wing Chun
em Hong Kong, na década de 1950.

Bruce Lee no final da década de 1960. O Wing Chun seria agora apenas
a base do Jeet Kune Do.
22 – Na verdade, o confronto de Bruce Lee e Wong Jack Man não teve divulgação popular alguma na comunidade chinesa de San Francisco ou de Oakland. Foi um acordo fechado entre as partes para que mantivesse em segredo independentemente do resultado. Se Bruce perdesse, a sua academia em Oakland seria fechada; se ele ganhasse, permaneceria aberta. É sabido que Bruce Lee não fechou sua Academia. Ele tinha aberto o primeiro Lee Jun Fan Gung Fu Institute em Seattle com o auxílio de Taky Kimura; abriu o segundo instituto em Oakland com James Yimm Lee; e abriria o terceiro instituto em Los Angeles, com Dan Inosanto, pouco depois dessa luta com Wong Jack Man. A princípio, Bruce ensinava o Wing Chun puro que aprendeu em Hong Kong por 4 anos na escola de Ip Man, com alguns poucos elementos de outros estilos que lhe interessava como o Praying Mantis, Choy Lay Fut e técnicas e pernas dos estilos do Norte. O conceito de Jeet Kune Do (O Caminho de Interceptação com o Punho) viria por de de 1966/1967 com a adesão de técnicas de outros estilos de luta ocidental e oriental, como o boxe (de forma evidente), savate, wrestling, judô, jiu-jitsu, chin-na, aikidô, muay-thai, esgrima, taekwondo, hapkido, etc. Ainda sim, a base do Jeet Kune Do seria o Wing Chun, ainda que de forma mais discreta.

23 – A data do confronto entre Bruce Lee e Wong Jack Man no instituto de Bruce Lee em Oakland, e não num armazém situado no porto de San Francisco, segundo a versão do filme, ocorreu em 24 de novembro de 1964. Não há nada que confirme essa data nos registros oficiais com entrevistas ou depoimentos das testemunhas. O certo é que foi no final do ano de 1964, já no inverno, sendo que Linda Lee já estava no fina da gravidez de Brandon Lee. Pode ter ocorrido entre o final de novembro e a primeira quinzena de dezembro.

As únicas testemunhas de Bruce Lee durante o confronto com
Wong Jack Man, teriam sido Linda Lee e James Yimm Lee (abaixo).

Bruce Lee e James Yim Lee, trocando técnicas de Wing Chun em Oakland.

24 – Por falar em testemunhas, o personagem fictício Mckee, não estava lá no dia e local da luta. As testemunhas do lado de Bruce eram Linda Lee grávida e James Yimm Lee, parceiro e administrador do Lee Jun Fan Gung Fu Institute, de Oakland. As testemunhas por parte de Wong Jack não foram devidamente indentificadas, mas algumas fontes citam os ainda professores (e não mestres) de Tai Chi Chuan, David Chin e William Chen. Aliás, na realidade, foi David Chin que entregou a carta de desafio à Bruce Lee.

A luta no filme começou até bem e parecia seguir a realidade dos fatos, mas aí desandou para
a mitologia de Hollywood e dos filmes de Kung Fu made in Hong Kong.
25 – Coreografia da Luta no filme – A luta começa quase seguindo fielmente os depoimentos oficiais das testemunhas Linda Lee e James Yim Lee. Logo depois de se cumprimentarem, Bruce lança uma estocada de dedos em direção aos olhos de Wong Jack Man, que se desvia por pouco mas acaba com um arranhão na testa. Bruce continua avançando em linha reta com os socos diretos característicos do Wing Chun e lançando alguns chutes frontais em direção à    virilha de seu adversário. Segundo a versão oficial, Wong passa a dar às costas e a correr; Bruce não lhe permite espaço para tentar usar os chutes altos característicos do Shaolin do Norte; Bruce o persegue e tenta alcançá-lo socando sua nuca, até que Wong tropeça e cai. Bruce se debruça sobre ele e com o punho erguido apontando para o seu nariz, pergunta-lhe se já basta. Wong responde que sim. E assim teria sido. Nada de espetacular ou plástico. Mas no filme, após o bom início da luta, começam-se os saltos acrobáticos de Wong, a correria pela escada acima, os voos em câmara lenta, até que Bruce é imobilizado e claramente vencido. Wong o solta, Bruce aproveita a oportunidade e o derruba com um poderoso chute lateral. Mas no filme, Wong teria vencido facilmente, se quisesse. Nas duas versões das testemunhas de um lado ou outro, divergem os tempos de luta. Para o lado de Bruce a luta durou estressantes 3 minutos; para a turma de Wong, quase de 25 a 30 minutos. Isso, segundo David Chin e William Chen. Vai saber...

26 – No filme, fica acertado um empate técnico entre as partes. Os dois passam a se respeitar. Mas a máfia exige uma definição para lucrar com o dinheiro das apostas. O “orgulhoso” Bruce Lee não aceitaria a derrota de forma alguma, mesmo tendo perdido claramente.

Bruce Lee e Wong Jack Man, juntos contra a máfia...é brincadeira!!!
27 – E o último dos absurdos acontece, Bruce e Wong decidem se unir para enfrentar a máfia e libertar a namorada de McKee na base do kung fu mesmo. Invadem o local do cativeiro, quebram tudo inclusive os mafiosos, mas acabam por acordar com a chefona da máfia que Bruce Lee foi oficialmente o vencedor da luta com Wong Jack Man. A máfia assim não perde, Mckee recupera e liberta a namorada, Bruce Lee se sai bem e promovido na história, e só Wong Jack Man acaba se danando... Claro que não! Pois ele pagou todos os seus pecados e está livre para voltar para o mosteiro Shaolin em Henan, com sua dignidade restaurada e quem sabe, retornar algum dia para San Francisco ensinar o seu estiloso kung fu.

28 – Na verdade, Wong Jack Man nunca teria saído de San Francisco após a luta com Bruce Lee. Mas continuou no anonimato e quase foi esquecido pela história. Mas se ele é lembrado agora, pode ter certeza que foi graças à trajetória vencedora e inspiradora da vida Bruce Lee, de quem os fãs sempre se lembram e nunca esquecerão, mesmo após mais de quatro décadas de sua morte.

Wong Jack Man em 2017 e em foto nos anos de 1970.
O "rival" de Bruce Lee ressurge das cinzas e da obscuridade.

Wong Jack Man, setentão, ao lado do seu jovem oponente Bruce Lee, ou melhor, Philip Ng.
Em suma, das testemunhas da luta por parte de Bruce Lee, somente Linda Lee ainda está viva. E ainda há depoimentos em que afirmam, que ela teria se retirado para uma outra sala por estar grávida de 7 a 8 meses de Brandon e que, por temer passar mal, preferiu não assistir a luta. A outra testemunha de Bruce foi o fiel escudeiro, James Yimm Lee, que faleceu de câncer nos pulmões em dezembro de 1972. Bruce Lee morreria logo depois, em julho de 1973. Por parte de Wong Jack Man, ainda estão vivos os agora “mestres” de Tai Chi Chuan, David Chin e William Chen, além do “setentão” Wong Jack Man. Ou seja, o placar está de 3 x 1 para a versão de Wong Jack Man. 
Um Wong Jack Man “setentão” e orgulhoso aparece ao lado do ator Philip Ng (que interpretou Bruce Lee) na noite da premiere do filme, em 2017. Após décadas de silêncio e no esquecimento, Wong Jack Man aparece do nada para ajudar na promoção de mais um engodo da indústria do cinema. Ele teria sido o consultor técnico da luta principal do filme que ilustra o famoso combate entre ele e Bruce Lee em 1964. Não se surpreendam se surgirem novas aventuras de Wong Jack Man nas telonas, em breve.


Walk On, Pequeno Dragão!
Mas, doa a quem doer e independentemente das fantasias e mitologia dos filmes mal intencionados, Bruce Lee será para sempre o maior artista marcial que já viveu. Walk On, Pequeno Dragão, pois os heróis nunca morrem!
Espero que tenham aprovado esta “análise”. Até mais!

Vejam também: Bruce Lee e a Verdade sobre a Luta com Wong Jack Man e
Bruce Lee, Krishnamurti e a Fé no Deus da Bíblia

Por Eumário J. Teixeira.

9 comentários:

  1. Excelente artigo mais uma vez, Eumário.
    Este nebuloso episódio da luta entre Bruce Lee e Wong Jack Man, e toda a pirotecnia criada em torno do ocorrido, foi perfeitamente dissecado nesta sua análise impecável.
    Hollywood (e a indústria cinematográfica de modo geral) sempre foi especialista em procurar explorar ao máximo a tendência à mistificação das massas, pouco afeitas à realidade dos fatos - já que essa mesma realidade quase sempre foge dos nossos sonhos e desejos, vindo então a retratar apenas e somente a dura crueza da existência cotidiana.

    Este artigo não é somente sobre uma luta nebulosa - que certamente aconteceu e terminou simplesmente como vc descreveu ao remover os floreios e exageros que foram acrescentados ao episódio. Isso tudo serve, em última análise, para nos dar uma percepção sobre a nossa própria condição humana, muito inclinada, entre outras coisas, a apegar-se às conveniências que as nossas ilusões nos sugerem. E essencialmente, essa é a "mercadoria" que o Cinema (a indústria da ilusão, em todos os sentidos) explora e oferece ao seu público. Afinal, quase ninguém quer ver a realidade quando está diante das telas. Já basta a realidade que há lá fora e que, geralmente, nos decepciona.
    Muitas vezes, entretanto, essa decepção ocorre por culpa nossa mesmo.

    Abraços !

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  2. Agradeço por mais um comentário coerente, amigo Antonio Jorge. Você captou o que eu realmente queria transmitir. Já me incomodava algumas críticas favoráveis ao filme como se o mesmo fosse fiel à realidade dos fatos ocorridos em 1964. E como você mesmo discerniu, Hollywood sabe muito bem explorar os anseios da alma humana, que teima em não encarar a vida como ela é; para mim, uma sucessão de batalhas diárias duríssimas para quem se dedica à busca pela verdade. Grato pelo apoio.

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  3. Caro Eumario,

    Assisti o filme hoje, no Telecine.

    É até natural o Cinema distorcer os fatos para tornar a história mais bonita e vendavel.
    A chamada "liberdade artística" transforma pessoas que foram comuns (no sentido de que tinham qualidades e defeitos) em seres superiores, quase infalíveis.
    Spartacus e William Wallace (do filme Coração Valente), por exemplo, são mostrados por Hollywood como quase semi-deuses.

    Da mesma forma, em "A Origem do Dragão" o personagem Wong é mostrado como alguém com uma espiritualidade e sabedoria tão superiores que beiram ao surrealismo.
    Porém, como bem demonstrado em seu artigo, a pessoa real do Wong e o personagem idealizado pelo cinema são, por óbvio, seres bem diferentes.

    Obrigado por disponibilizar essa importante fonte de informação e parabéns pelo blog.

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    1. Olá Elder, obrigado pelo comentário. Fico satisfeito ao saber que tenha entendido a minha real intenção nesta crítica sobre o filme em questão. Spartacus e Coração Valente (sobre William Wallace) são bons exemplos de como Hollywood adora florear e romantizar a vida de personagens históricos reais. O que me incomoda é que a ficção acaba por encobrir (e de certa forma, menosprezar) a realidade da vida de um homem como Bruce Lee que teve em sua trajetória fatos muito mais interessantes do que um simples enredo de filme de ação ou aventura. Abraços.

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  4. Olá, meu nome é Paulo sou praticante do estilo de Kung fu Shuaijiao e tbm de Shaolin Norte
    Gostei muito do seu texto e da sua visão em transmitir estes conceitos sem o misticismo dos verdadeiros fatos.

    Acredito que exista mais um erro grande que o filme " origem do dragão" cometeu: no final do filme aparece uma legenda que diz que após a luta, Bruce Lee criou seu estilo jeet kune que depois foi o antecessor do MMA.
    O MMA nunca teve como base o jeet kune do, ele se deu origem ao Pride e com forte relação ao jiu jitsu do que ao Kung Fu, porém os próprios lutadores de MMA, com o passar do tempo foram se aprimorando e se adaptando a outras modalidades de luta e depois no conceito popular, muitos fãs relacionaram a filosofia proposta de Bruce Lee, com a adaptação que o MMA sofreu.
    O próprio Bruce Lee em seu livro " tao jeet kune do" diz que sua proposta nunca foi criar um estilo e sim uma filosofia em que ajudasse os praticante a se libertarem de conceitos que o sistema os aprosionavam assim como fiz Krishnamurti citado certamente em seu texto!

    Desde já agradeço a oportunidade e o espaço de expressar minha opinião.
    Um grande abraço

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    1. Olá,Paulo. Antes de mais nada fico muito agradecido pelo seu comentário, compreensão e aceitação do meu trabalho. Realmente há esse equívoco entre muitos fãs de Bruce Lee que o consideram "pai" do MMA baseando-se principalmente no livro "O Tao do Jeet Kune Do", que o próprio Lee, na verdade, não escreveu. A obra é uma coletânea catalogada por Linda Lee de seus esboços, desenhos, observações, pensamentos taoistas e budistas, e conceitos sobre diversos aspectos das mais variadas artes marciais ocidentais e orientais, considerando seus aspectos práticos para uma luta real.
      Considero o título "Pai do MMA" mais uma homenagem ao Rei das Artes Marciais e, particularmente, não tenho nada contra, apesar de também não concordar.
      Aquela primeira cena de luta de Operação Dragão (Enter the Dragon - 1973) com Sammo Hung, influenciou bastante para relacionarem Lee com o MMA.
      Mas, na verdade, os confrontos livres que certamente influenciaram a criação de MMA, já existiam muitas décadas atrás, pois há registros de lutas em locais com grande público em Hong Kong, entre representantes de diversos estilos de Kung Fu, na década de 1950; lembrando também de Carlos Gracie e seu Jiu-Jitsu nos anos de 1920 desafiando boxeadores e atletas de luta livre; Hélio Gracie nos anos de 1930/40/50, idem; Carlson Gracie na década de 1950, seguindo a tradição; como Waldemar Santana da Luta Livre e outros já faziam esses duelos nos ringues no Brasil, nos anos de 1950/60/70; o Judoka Masahiko Kimura na década de 1950/60, chegou a vencer Hélio Gracie; o judoka norte-americano, Gene Lebell, desafiava boxeadores e karatecas nos EUA na mesma época; e isso bem antes de ouvirmos falar de filmes de Kung Fu.
      O MMA apesar do contato total, se sujeita a regras e juízes, portanto não deixa de ser um esporte.
      O Jeet Kune Do, na minha opinião, nunca poderia ser considerado um estilo definido de luta ou arte marcial, porque sua filosofia defende o crescimento e adaptação constantes ao imprevisível e às circunstâncias da vida, descartando o que inútil e absorvendo o que é útil.
      Assim, discordo até das muitas academias e mestres de JKD espalhadas pelo mundo como se tivessem um caminho definido para ser ensinado ou transmitido, ou pior, com se Bruce Lee tivesse definido algum, pessoalmente.
      O próprio Bruce Lee temia que o seu ensino fosse comercializado e se tornasse o que ele mais temia, "uma bagunça organizada".
      Bruce dizia que o JKD estava mais para um "método científico de briga de rua", ou seja, muito distante do esportivo MMA. Já que numa briga de rua, a luta pode ser travada pela vida e não simplesmente por uma vitória por pontos ou nocaute. E quando o fator morte está presente, a preparação mental e emocional do lutador é tão ou mais importante que a condição física ou técnica.
      E pode-se dizer, também, que a filosofia de Jiddu Krishamurti foi uma das principais bases filosóficas para a criação do Caminho do Punho Interceptador.
      Até mais e continue explorando o blog, Paulo. Aceito sugestões e críticas, desde que construtivas e respeitosas. Abraço e "walk on"!

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  5. gostei muito da sua matéria ,ela é muito rica mais só que em uma entrevista muito rica em detalhes Bruce afirma não só ter treinado Steve McKee como outros grandes atores ,não estou respondendo por desrespeitoso apenas comunicando o que vi na entrevista e apenas querendo enriquecer o seu acervo ,caso tenha curiosidade de ver a entrevista segue o link https://www.youtube.com/watch?v=1uEOTeITY9A

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    1. Olá, Cleberkun. Obrigado pela participação. No filme "A Origem do Dragão", Steve McKee é um personagem fictício que supostamente seria baseado no ator Steve McQueen (morto em 1980), ele era uma das celebridades selecionadas de Hollywood que tiveram "aulas particulares" com Bruce Lee. Quanto ao que se mostra no filme entre os dois (Lee e McKee) é pura ficção. E sobre a entrevista de 1971, citada por você, todo fã estudioso de Bruce Lee deveria conhece-la. Abraço.

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