Na filme A
Fúria do Dragão (Fists of Fury – 1972) o personagem principal do filme, Chen Zhen
(interpretado por Bruce Lee), se dirige ao cemitério-parque de Xangai para visitar
o túmulo de seu mestre que morreu de forma misteriosa em sua própria casa. Ao
chegar ao portão de entrada, Chen é barrado pelo guardião do local que ainda
lhe mostra uma placa com os seguintes dizeres humilhantes: “Proibido a Entrada
de Cães e Chineses”. Em seguida o
guardião do portão, aparentemente origem indiana, permite a entrada de uma
senhora com seu cão de estimação para a perplexidade de Chen que o questiona irado.
Nesse instante chega um grupo de quatro ou mais japoneses (que faziam parte da
coligação internacional invasora) que percebendo a irritação de Chen, tentam
induzi-lo a rastejar tal a um cão como condição para ele adentrar no parque.
Bem, aí você pode imaginar o que aconteceu com os pobres japoneses. Após acabar
com eles na base de socos e chutes
fulminantes, Chen se volta para a placa fixada próximo ao portão de entrada,
salta e a arranca com um chute, e ainda no ar, num segundo movimento, despedaça
a placa humilhante com outro chute frontal destruidor. O recado estava dado aos
invasores da China e ao público chinês dos cinemas que aplaudiram e se
extasiaram com a performance explosiva do mais recente herói das telas de Hong
Kong e de toda Ásia, Bruce Lee!
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Chen chega aos portões do cemitério parque... |
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É barrado pelo guardião... |
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Questiona pela razão do impedimento... |
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Chen irado aguarda a resposta... |
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O aviso humilhante é mostrado... |
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Chegam os japoneses provocadores... |
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Tentam humilhar Chen... |
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E despertam a fúria do discípulo de Huo Yuanjia... |
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Resultado: Placa com aviso humilhante destruída |
A pergunta
é: A placa ofensiva e humilhante realmente existiu em algum momento da história
chinesa? Vamos por partes.
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"Proibida a Entrada de Cães e Chineses", esse aviso realmente existiu? |
O mestre
falecido de Chen Zhen se chamava Huo Yuanjia, ele realmente existiu e era muito
respeitado pelo povo chinês e mesmo pelos invasores estrangeiros pela sua nobre
educação, ética, intelectualidade, conhecimentos sobre ervas medicinais e artes
marciais. Huo Yuanjia adoeceu gravemente e faleceu em 14 de setembro de 1910,
em Xangai, onde comandava um centro de artes marciais chinesas. Ele tinha
apenas 42 anos. Sua morte foi considerada suspeita, cogitaram até a hipótese de
envenenamento gradual a mando de líderes invasores japoneses com a ajuda de
traidores chineses dentro da casa do próprio mestre.
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Mestre Huo Yuanjia foi realmente morto em 1910 aos 42 anos. Na cena, Chen (Bruce Lee) revoltado, não aceita a morte precoce do mestre (no retrato ao fundo) |
A China nessa época era
ocupada por uma colisão internacional integrada por ingleses, franceses,
japoneses e mais tarde norte-americanos. Os
invasores humilhavam o povo chinês e tentavam desmoralizar ou eliminar
seus heróis nacionais. Huo Yuanjia, possivelmente, era um alvo dos usurpadores.
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Chen Zhen realmente existiu? |
Chen Zhen,
segundo consta, realmente existiu, era um dos discípulos mais capacitados de
Huo Yuanjia que teria se revoltado com a morte precoce de seu mestre. Mas não
se sabe maiores detalhes sobre ele e qual foi seu destino, apenas especulações
e hipóteses não confirmadas que vão desde morte por fuzilamento até fuga
forçada de Xangai.
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A placa mítica usada para o filme |
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Brandon e Shannon (filhos de Bruce Lee) ainda crianças no intervalo das filmagens de A Fúria do Dragão (Fists of Fury - 1972) . Shannon exibe o aviso polêmico. |
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Bruce Lee dirigindo a famosa cena de luta nas portas do cemitério parque em Fists of Fury |
Sobre a
placa com os dizeres “Proibido a Entrada de Cães e Chineses” há controvérsias. Os
historiadores sérios dizem não haver nenhum registro fotográfico ou testemunho
registrado de alguém que viveu naqueles
anos que confirme a placa com essas palavras
ofensivas e humilhantes. A placa teria sido fixada na entrada do que é
atualmente o Huangpu Park, em Xangai, na China ocupada e fragilizada, por volta
de 1908 a 1910, alguns anos após a Guerra dos Boxers, segundo a lenda.
Alguns
afirmam que esse mito foi revivido na década de 1950 para a reunificação e reerguer
a moral do povo chinês do pós-guerra e acabou se tornando um folclore que nunca
foi desmentido.
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Fists of Fury (A Fúria do Dragão) consagrou definitivamente Bruce Lee como ídolo maior dos chineses em todo o mundo |
Oportunamente
tal fato ou simples lenda, foi devidamente explorada no filme “A Fúria do
Dragão” (Fists of Fury – 1972) pelo roteirista e pelo diretor do filme. Hong
Kong dos anos de 1970, ainda que independente da China Comunista, era uma
colônia britânica, e o povo chinês
carecia de auto-estima e ansiava por um herói com quem pudessem se
identificar, ainda que fosse um ator de
cinema. E o tiveram, só que o herói tão esperado não era realmente qualquer um,
era ator carismático e também um talentoso artista marcial que estava em plena
ascensão: Bruce Lee!
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A verdadeira placa de Huangpu Park, em Xangai, fixada em 1917 |
Historiadores
confirmam através de documentos e fotos que a placa afixada na época de Huo Yuanjia,
não tinha esses dizeres humilhantes e discriminatórios a chineses, apenas um
regulamento com dez itens e teria sido fixada por volta de 1917. Apesar disso,
houveram relatos de outros estudiosos confirmando que de fato os chineses eram
discriminados, humilhados e até mortos sob acusação de rebelião pelos
invasores.
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A cena de A Fúria do Dragão (Fists of Fury) de 1972, foi filmada na verdade em Macau, na entrada do parque Luis de Camões |
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A entrada do parque Luís de Camões praticamente permanece inalterada desde 1972 |
Outra
curiosidade sobre o assunto é que na verdade a famosa cena de A Fúria do Dragão
em que Chen (Bruce Lee) chuta a placa e
a despedaça no ar, não foi filmada no parque histórico de Xangai, mas em frente
dos portões do parque Luís de Camões, em Macau.
Macau, é um território composto pela península (que leva o
nome) e mais duas ilhas a 60 km de Hong Kong, na época (1972) era ainda um
território chinês administrado por Portugal, mas desde 1999 voltou a ser
controlado novamente pela China comunista. A escolha por Macau foi por causa
das dificuldades encontradas para filmar em Xangai, em plena China comunista e
além do mais, o parque de Macau lembrava, segundo alguns, o parque Huangpu. Sem
contar que já havia por lá estúdios para filmagens adquiridas anteriormente em
negócio pela produtora Concord de Hong Kong, o que facilitou em muito a redução
de gasto das filmagens.
O aviso
“Proibida a Entrada de Cães e Chineses” se foi inventada ou não com o propósito
de estimular a revolta e a auto-estima do povo chinês, ninguém saberá ao certo,
mas é evidente que a oportuna exploração do mito no filme A Fúria do Dragão fez
com que os chineses de Hong Kong no início da década de 1970 pudessem bradar ao
mundo que agora eles também tinham um
herói tão poderoso quanto os ídolos estrangeiros, um chinês explosivo de 1,68
m, chamado Bruce Lee, pouco depois conhecido como o Rei do Kung Fu.
Por Eumário
J. Teixeira.